• Maria Lucia Victor Barbosa
  • 18 Outubro 2015

 

Quem pensa que o PT acabou está muito enganado. Quem subestima o inimigo perde a guerra. E não é impróprio usar o termo inimigo para classificar o partido que arruinou a economia, corrompeu as instituições, falsificou dados financeiros, mentiu aos eleitores, aniquilou valores e fez a opção pelo atraso que se evidencia na quebradeira da indústria, no descalabro da Saúde, na ruina da educação, na trava do comércio internacional com países que trariam vantagens e progresso ao País.

O mal foi entronizado pelos eleitores e está disseminado, empesteando a máquina administrativa com incompetentes que se agarram aos cargos com unhas e dentes. E o mal se avantajou e se fortificou pela inexistência de oposições, notadamente do PSDB sempre pronto a apoiar o PT, além da idolatria tucana por Lula da Silva.

Em outra vertente, na tentativa de recompor a fracassada experiência soviética e a derrocada do comunismo no mundo foi constituído o Foro de São Paulo, que congrega organizações de esquerda e dá diretrizes para a América Latina onde o atraso e a desigualdade social é terreno propício para as pregações de ditadorezinhos travestidos de socialistas, mas que vivem como nababos usufruindo das delicias do capitalismo.

Para exemplificar o caminho traçado pelo Foro de São Paulo tomemos a Venezuela ainda sob o comando de Hugo Chávez, outro que destruiu seu país e que mesmo morto continua a governar através de seu genérico, Nicolás Maduro. Chávez primeiro tentou um golpe. Não deu certo. Em outra etapa logrou se eleger. Posteriormente dominou o Legislativo, o Judiciário e as Forças Armadas. A partir daí fez uma constituição á sua imagem e semelhança e governou despoticamente até morrer, chamando-se de democrata.

Voltemos ao Brasil. No mensalão ficou evidente como é fácil comprar o Legislativo. E não só com dinheiro se adquire uma base para o PT chamar de sua. Cargos também servem. Rousseff tentou agora salvar-se do impeachment com sua desastrada reforma ministerial.

O Judiciário surpreendeu com o ministro Joaquim Barbosa, que logrou por na cadeia figurões do PT e pessoas endinheiradas. Outro destaque foi o juiz Sérgio Moro que desbaratou o cartel de empreiteiros e desmascarou diretores da Petrobras que recolhiam propinas para irrigar campanhas, notadamente as do PT. Eles foram presos e condenados pelo juiz.

Moro, porém, teve suas asas cortadas quando o Ministro do STF, Teori Zavascki, decidiu que ele só poderia atuar no âmbito da Petrobras, em que pese as mesmas quadrilhas agirem em outras entidades estatais.

No momento, as delações premiadas apontam para os crimes de várias autoridades do Executivo e do Legislativo, além Lula da Silva e sua família, mas parece haver só um grande corrupto da República: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Só ele tem contas na Suíça. Só ele recebeu propina. Destaque na imprensa que devassa suas contas e documentos ele está sob ataque seletivo do Procurador-Geral da República. O PSDB pede seu afastamento. Deputados valentes pedem sua cassação e já se falou até em prisão.

Por que só ele? Porque o presidente da Câmara é quem abre o processo de impeachment. E ele o fez. Contudo, os ministros Teori Zavascki e Rosa Weber, a pedido de fiéis emissários do PT, muito oportunamente concederam três liminares que suspenderam as regras de tramitação determinadas por Cunha e Rosa Weber, em “juridiquês”, impediu através de uma dessas liminares que o presidente da Câmara retomasse o rito do impeachment. Com isto o governo ganhou um tempo precioso para acabar com Eduardo Cunha. Sem ele cessa o perigo do impeachment, pois não se pode esperar nada da chamada oposição. Terá, então, havido uma ingerência entre Poderes? Um fato muito grave como o é um rompimento institucional?

Outro acontecimento dá o que pensar: Os comandantes das Forças Armadas tiveram seus poderes subtraídos e passados para o Ministro da Defesa. Isso foi feito por um decreto, cuja iniciativa partiu de uma senhora que é secretária geral do ministério da Defesa e que vem a ser mulher do segundo na hierarquia do MST. O atual ministro é o comunista Aldo Rebelo. Dizem que quando precisam de alguém muito incompetente o chamam.

Em recente declaração à Folha de S. Paulo, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, disse ver risco de a atual crise virar uma “crise social” que afetaria a estabilidade do País. Segundo o general isso diria respeito ás Forças Armadas e cita a Constituição mostrando que as FFAA “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos Poderes constitucionais e, por inciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”, sob autoridade presidencial. Fiquei na dúvida se o general se preocupa em defender o povo ou a autoridade presidencial, em caso de crise social.

Com tanto poder o PT pode salvar Rousseff. Ela continuaria até fim do mandato ensacando vento e conduzindo o País ao agravamento da crise econômica, cujas dimensões dão medo aquilatar.

* Socióloga.

www.maluvibar.blogspot.com.br
 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 16 Outubro 2015

Originalmente publicadoa em www.pontocritico.com


GRAU DE CONHECIMENTO
É importante ter em mente que quando vai às urnas para eleger seus representantes e sistemas de governo, o povo brasileiro age como se estivesse prestando um EXAME que identifica o grau de conhecimento adquirido, na vida e, principalmente, nas escolas que frequenta ou já frequentou.

INGENUIDADE
Vejam que não é preciso olhar com demasiada atenção os resultados dos pleitos, para perceber o que a nossa DEMOCRACIA-ELEITORAL revela: além de ser muito baixo o nível de educação e compreensão do nosso povo, a maioria é dotada de enorme ingenuidade. O que explica a facilidade que o povo tem para ser enganado. Principalmente, por governantes populistas, sempre atentos e muito bem treinados.DEMOCRACIA

A democracia, como bem diz o pensador (Pensar+) Percival Puggina, "é um regime medíocre, que só conseguiria deixar de ser medíocre numa sociedade de homens bons e sábios. Fora isso ela será tão medíocre quanto a sociedade onde for adotada".
"O problema é que todos os outros regimes são piores, embora possam apresentar, pontualmente, indicadores de resultados positivos (caso Pinochet e China atual, por exemplos), em meio a condutas perversas e moralmente inaceitáveis".

TRAJETÓRIA
Este baixo grau de educação do povo, que muita gente já vê como política estratégica-governamental, explica muito bem a trajetória do nosso pobre país.
Vejam, por exemplo, que depois de se manter, com muito orgulho, como país de TERCEIRO MUNDO por mais de 450 anos, o povo, sem ser consultado, viu o Brasil passar para a categoria de EMERGENTE, com chances de chegar ao PRIMEIRO MUNDO.

VIAGEM DE RETORNO
Pois, para provar o quanto a educação dos brasileiros está caminhando, celeremente, no sentido da imbecilização, que o Brasil, com o comando do PT, carimbou o passaporte e decidiu que fazer uma viagem de retorno, sem escala, para que possamos conviver novamente com países de TERCEIRO E QUARTO MUNDO.

DEMOCRACIA MEDÍOCRE
Atenção: nada do que estou dizendo pode ser visto como surpresa. Afinal, quando a maioria dos eleitores fazem questão de manter o PT por tantos anos no Poder, sem dar a devida importância para a CORRUPÇÃO E MÁ ADMINISTRAÇÃO, é porque sabe muito bem o que quer e o que está fazendo.

O Brasil, infelizmente, aos olhos dos que ainda raciocinam com lógica, nada mais é do que uma DEMOCRACIA MEDÍOCRE.

 

 

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  • Demétrio Magnoli e Elaine Senise Barbosa
  • 16 Outubro 2015


A ordem do dia é esculpir um Brasil descontaminado de heranças europeias

Renato Janine, o Breve, transitou pela porta giratória do MEC em menos de seis meses. No curto reinado, antes da devolução do ministério a um “profissional da política”, teve tempo para proclamar a Base Nacional Comum (BNC), que equivale a um decreto ideológico de refundação do Brasil. Sob os auspícios do filósofo, a História foi abolida das escolas. No seu lugar, emerge uma sociologia do multiculturalismo destinada a apagar a lousa na qual gerações de professores ensinaram o processo histórico que conduziu à formação das modernas sociedades ocidentais, fundadas no princípio da igualdade dos indivíduos perante a lei.

O ensino de História, oficializado pelo Estado-Nação no século XIX, fixou o paradigma da narrativa histórica baseado no esquema temporal clássico: Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna, Idade Contemporânea. A crítica historiográfica contesta esse paradigma, impregnado de positivismo, evolucionismo e eurocentrismo, desde os anos 60. Mas o MEC joga fora o nenê junto com a água do banho, eliminando o que caracteriza o ensino de História: uma narrativa que se organiza na perspectiva temporal. Segundo a BNC, no 6º ano do ensino fundamental, alunos de 11 anos são convidados a “problematizar” o “modelo quadripartite francês”, que nunca mais reaparecerá. Muito depois, no ensino médio, aquilo que se chamava História Geral surgirá sob a forma fragmentária do estudo dos “mundos ameríndios, africanos e afro-brasileiros” (1º ano), dos “mundos americanos” (2º ano) e dos “mundos europeus e asiáticos” (3º ano).

O esquema temporal clássico reconhecia que a mundialização da história humana derivou da expansão dos estados europeus, num processo ritmado pelas Navegações, pelo Iluminismo, pela Revolução Industrial e pelo imperialismo. A tradição greco-romana, o cristianismo, o comércio, as tecnologias modernas e o advento da ideia de cidadania difundiram-se nesse amplo movimento que enlaçou, diferenciadamente, o mundo inteiro. A BNC rasga todas essas páginas, para inaugurar o ensino de histórias paralelas de povos separados pela muralha da “cultura”. Os educadores do multiculturalismo que a elaboraram compartilham com os neoconservadores o paradigma do “choque de civilizações”, apenas invertendo os sinais de positividade e negatividade.

A ordem do dia é esculpir um Brasil descontaminado de heranças europeias. Na cartilha da BNC, o Brasil situa-se na intersecção dos “mundos ameríndios” com os “mundos afro-brasileiros”, sendo a Conquista, exclusivamente, uma irrupção genocida contra os povos autóctones e os povos africanos deslocados para a América Portuguesa. A mesma cartilha, com a finalidade de negar legitimidade às histórias nacionais, figura os “mundos americanos” como uma coleção das diásporas africana, indígena, asiática e europeia, “entre os séculos 16 e 21”. O conceito de nação deve ser derrubado para ceder espaço a uma história de grupos étnicos e culturais encaixados, pela força, na moldura das fronteiras políticas contemporâneas.

A historiografia liberal articula-se em torno do indivíduo e da política. A historiografia marxista organiza-se ao redor das classes sociais e da economia. Nas suas diferenças, ambas valorizam a historicidade, o movimento, a sucessão de “causas” e “consequências”. Já a Sociologia do Multiculturalismo é uma revolta reacionária contra a escritura da História. Seus sujeitos históricos são grupos etnoculturais sempre iguais a si mesmos, fechados na concha da tradição, que percorrem como cometas solitários o vazio do tempo. Na História da BNC, o que existe é, apenas, um recorrente cotejo moralista entre algoz e vítima, perfeito para o discurso de professores convertidos em doutrinadores.

Na BNC, não há menção à Grécia Clássica: sem a Ágora, os alunos nunca ouvirão falar das raízes do conceito de cidadania. Igualmente, inexistem referências sobre o medievo das catedrais, das cidades e do comércio: sem elas, nossas escolas cancelam o ensino do “império da Igreja” e das rupturas que originaram a modernidade. O MEC também decidiu excluir da narrativa histórica o Absolutismo e o Iluminismo, cancelando o estudo da formação do Estado-Nação. A Revolução Francesa, por sua vez, surge apenas de passagem, no 8º ano, como apêndice da análise das “incorporações do pensamento liberal no Brasil”.

Sob o sólido silêncio de nossas universidades, o MEC endossa propostas pedagógicas avessas à melhor produção universitária, que geram professores “obsoletos” em seus conhecimentos e métodos. Marc Bloch disse que “a História é a ciência dos homens no tempo”. Suas obras consagradas, bem como as de tantos outros, como Peter Burke, Jules Michelet, Perry Anderson, Maurice Dobb, Eric Hobsbawm, Joseph Ki-Zerbo, Marc Ferro, Albert Hourani, Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Holanda e José Murilo de Carvalho, não servem mais como fontes de inspiração para o nosso ensino. A partir de agora, em linha com o decreto firmado pelo ministro antes da defenestração, os professores devem curvar-se a autores obscuros, que ganharão selos de autenticidade política emitidos pelo MEC.

Não é incompetência, mas projeto político. Num parecer do Conselho Nacional de Educação de 2004, está escrito que o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana “deve orientar para o esclarecimento de equívocos quanto a uma identidade humana universal”. Equívocos! No altar de uma educação ideológica, voltada para promover a “cultura”, a etnia e a raça, o MEC imolava o universalismo, incinerando a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A trajetória iniciada por meio daquele parecer conclui-se com uma BNC que descarta a historicidade para ocultar os princípios originários da democracia.

Doutrinação escolar? A intenção é essa, mas o verdadeiro resultado da abolição da História será um novo e brutal retrocesso nos indicadores de aprendizagem.

Demétrio Magnoli é sociólogo e Elaine Senise Barbosa é historiadora
 

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  • David Amato
  • 12 Outubro 2015


A guerra mais importante é, sempre foi e sempre será a cultural. A maior prova disso é que, valendo-se da falta de escudos morais dos alheios, o movimento revolucionário irá repor as peças gastas por outras velharias com ares de novidade. Duvida? Então analise o seguinte:

O PSOL já está consolidado e trabalha com a juventude, aproveitando a faixa etária de favelados mentais que estão na fase de se identificar com grupos, e não com a família e correlatos, ou seja, farão qualquer coisa pelo partido e seus ideais.

O REDE já existe, sendo a mais nova aposta do Diálogo Interamericano e demais movimentos globalistas de fachada ambientalista como o Clube de Roma, além de metacapitalistas como George Soros.

Lula já trabalha para substituir o Foro de São Paulo, que foi um sucesso, de modo a criar uma nova organização ainda mais coesa e poderosa, uma vez que até mesmo as contradições não-antagônicas presentes no Foro deverão ser eliminadas. A máfia, que já possui o poder, agora lutará para mantê-lo, custe o que custar.

O Projeto Eurasiano possui o poder de cooptar muitos conservadores, que são maioria no Brasil, através de um pseudo-conservadorismo que de quebra reduziria a agenda globalista a pó. Em um mundo de poderes nuclearizados e armados até os dentes, as novas guerras serão bastante diferentes da Primeira e Segunda Guerra, do contrário não sobrará nada nem ninguém.

O Islam continua agindo silenciosa e eficazmente e, para uma boa parcela de crentes desprovidos de qualquer senso crítico e guiados por charlatões, fazer uma manobra de conversão seria questão de dois toques, além da capacidade que o Islam possui de "botar ordem na casa", o que muito agradaria pessoas sufocadas pela criminalidade, principalmente em favelas, a.k.a. "comunidades".

A Igreja está tomada pelos três esquemas imperialistas e a maioria dos fiéis está mais preocupada em passar a mão na cabeça de Francisco, que é um Office-boy da ONU e do Clube de Roma, do que no mínimo expor e boicotar as partes envolvidas. A CNBB, cria da KGB, reina no Brasil, sendo o maior sustentáculo da quadrilha petista.
O NOVO, se não tomado por dentro por uma ala conservadora ou liberal provida de astúcia, não oferecerá qualquer resistência ao globalismo, porque é cria do próprio, doa a quem doer. Sem um ferrenho combate cultural, o NOVO será um PSDB 2.0 a serviço dos socialistas fabianos.

Então, em meio a tudo isso, temos libertários que não oferecem qualquer resistência aos esquemas de poder com seu eterno combate ao Estado, coisa que jamais conseguirão eliminar, principalmente porque a NOM será sustentada por uma tecnocracia, sendo o Estado apenas uma fachada que cobrirá o verdadeiro esquema de governo mundial, que é científico e lastreado por mais de um século de estudos sobre a mente e o comportamento humano.

Temos liberais que só falam de economia, esquecendo-se que a esquerda ensinou sua economia, que é a arte do impossível e cuja síntese é o roubo, através da vertente cultural, e por isso mesmo as pessoas a praticam de maneira cíclica sem nunca ligar os pontos e entender porque vivem em meio à convulsão econômica e social.

Por fim, a ala conservadora dificilmente consegue estabelecer unidade, principalmente porque diferentes núcleos ficam brigando pelo posto de arautos da cristandade enquanto tudo ao redor desmorona.

Esses apontamentos não possuem nenhum alvo em especifico. São apenas um convite para que todas as partes comecem a entender quais são os times em jogo e suas estratégias, de modo a jogar também, e não fazer parte da ala espectadora, ou pior que isso, da torcida, seja qual for.
Entenda que VOCÊ é a bola, e que será chutada tantas vezes quanto for necessário até que o gol seja feito.

Com a oficialização do Rede Sustentabilidade, que já carrega no próprio nome uma histeria fomentada pelo malthusiano Clube de Roma, Marina Silva, a melancia (verde por fora, vermelha por dentro), poderá exercer melhor o papel de Office-boy de figuras como George Soros.

Todavia, caso algum favelado mental, daqueles que dizem que PSDB é de direita, ousar falar que o Rede é "de oposição", tenha sempre este link, mostrando para quem quiser ver que Marina é membro do Diálogo Interamericano ( https://archive.is/Pq2ui ) , ou seja, é uma serviçal da turma socialista fabiana.

Fim de conversa.
 

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  • Francisco Ferraz
  • 12 Outubro 2015

(Pubicado originalmente em O Estado de São Paulo)


Há algumas semanas, em artigo neste espaço, afirmei que o sistema político brasileiro não está preparado para lidar com uma crise da magnitude e complexidade da que vivemos. Se há uma marca típica desta crise, é a absoluta predominância dos interesses pessoais e partidários que se sobrepõem despudoradamente sobre os interesses nacionais.

Entre outras perdas que este processo de crises acumuladas acarreta, encontra-se a inviabilização do exercício da função de substituição institucional. Essa função, atributo de democracias estáveis, é invariavelmente ausente em democracias instáveis. Ela consiste na capacidade de uma instituição de assumir a defesa de valores ou funções indispensáveis à vida social organizada, que as organizações responsáveis por eles deixaram de proteger, por motivos políticos.

Karl Polanyi, na sua obra clássica The GreatTransformation, analisa, de maneira notavelmente original, a revolução industrial na Inglaterra detalhando como se deu esse processo ao longo do século 19. Quem defende a sociedade e os segmentos populacionais dos desajustes sociais gerados pela industrialização, quando as organizações que deveriam defendê-los se revelam incapazes de ou desinteressadas em fazê-lo?

Em situações como essas, pode acontecer que outros segmentos da população ou mesmo outras organizações protejam – por interesse ou por motivos políticos – aqueles que não dispõem dos meios para se defender das consequências do processo social em curso. Foi o que aconteceu na Inglaterra, quando diferentes setores da sociedade e da política inglesa assumiram a responsabilidade pela proteção dos fundamentos da nação britânica, impondo limites de social, econômica e política às tendências tirânicas do mercado, na primeira fase da revolução industrial.

“O ser humano, tratado como força de trabalho, a natureza tratada exclusivamente como terra, eram concebidos apenas como bens à venda no mercado. Entretanto, tratar o ser humano e a natureza pela ficção da ‘commodity’ desconsiderava o fato de que entregar o destino do solo e das pessoas ligadas à sua exploração ao mercado equivalia a aniquilá-los” (Polanyi, op. cit.).

Em consequência, a contramedida defensiva destinada a conter a ação socialmente desagregadora do mercado exigia alguma forma de intervencionismo que, por definição não poderia vir do mercado. A Lei Speenhamland foi o muro erguido para defender as organizações rurais tradicionais.

Coube, então, aos senhores rurais da Inglaterra, que ainda detinham o poder político – por interesse ou por inclinação –, proteger a agricultura e a vida dos agricultores do impacto avassalador das mudanças que varriam a sociedade rural e transformavam a agricultura numa precária atividade industrial. Por um período crítico de 40 anos essa ação retardou o progresso econômico industrial e quando, em 1834, o Parlamento da reforma eleitoral (1832) aboliu Spenhamland, os nobres ingleses mudaram o foco de sua resistência ao mercado extremado para as leis fabris.

Interesses políticos, econômicos e nacionais de enorme importância estavam também em jogo. Politicamente tratava-se também de proteger as bases rurais da sociedade inglesa do avanço da crescentemente poderosa burguesia, assegurando a sobrevivência da aristocracia numa sociedade urbana e industrial na qual, em tese, ela não mais exerceria função socialmente necessária.

O interesse próprio, arejadamente entendido, levou então a aristocracia a unir-se politicamente primeiro aos trabalhadores rurais e a partir da segunda metade do século 19 aos operários industriais (torysocialism), em ambos os casos contra a burguesia, o inimigo comum.

Foi essa ação política lúcida que preservou a monarquia e a aristocracia para os séculos 20 e 21, evitou as traumáticas revoluções sociais e políticas, incorporou um protecionismo seletivo do Estado como instrumento de defesa do próprio sistema de mercado, aparou por meio da legislação social as arestas mais desumanizadoras da revolução industrial, tornou viável o sindicato como mecanismo de autoproteção do trabalhador e criou as condições para o surgimento do partido trabalhista.

Como assinala Polanyi, “enquanto a ruína da agricultura era postergada na Inglaterra por uma geração, os nobres conservadores impuseram novas técnicas de convivência numa sociedade industrial de mercado. A lei das 10 horas de trabalho de 1847, que Marx equivocadamente saudou como a primeira vitória do socialismo, foi obra de reacionários inteligentes”.

Também nos EUA o princípio da substituição institucional tem desativado crises e resolvido problemas quando outras instituições se revelaram incapacitadas. Exemplo emblemático foi a ação da Suprema Corte na década de 1960, quando, numa sucessão de decisões históricas, se desincumbiu da tarefa de defesa e promoção dos direitos civis dos negros, substituindo o Executivo e Legislativos politicamente bloqueados.

O Brasil hoje se encontra num impasse. Excetuados a força-tarefa comandada pelo juiz Sergio Moro e algumas personalidades notáveis do Legislativo e do Judiciário, a maioria da elite institucional do País alinha-se com interesses particulares e partidários; a Nação, já desiludida, aguarda em vão um desfecho exemplar para a oceânica corrupção que nos cerca; as organizações aparelhadas pelo partido no poder há 12 anos dedicam-se a bloquear os caminhos para as soluções da crise; a oposição cultiva a cautela ao limite da paralisia; a Nação, dividida pela propaganda do nós contra eles, corteja os riscos do ódio político.

Dificilmente se encontraria hoje exemplo mais eloquente da fragilidade de uma democracia instável do que a situação de múltiplas crises em que nos encontramos. Daqui a alguns anos talvez olhemos para trás e, constrangidos, nos perguntemos: como foi possível chegar ao nível degradante a que chegamos?

 Francisco Ferraz é Professor de Ciência Política e Ex-Reitor da Ufrgs, Pós-Graduado em Princeton, É diretor do site politicaparapoliticos.com.br

 

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  • Fernando Donate Ochoa
  • 11 Outubro 2015

"Estas pessoas haviam desaparecido".

Holguín, Cuba - Dentro dos preparativos para a visita do Papa Francisco a Holguín, foram realizadas obras de restauração em estradas e em fachadas de casas.

Essa melhoria na imagem da cidade também incluiu o recolhimento de pessoas que vagueiam pedindo esmola ou que ficam deitadas em papelões em qualquer lugar no centro da cidade.

"Ficamos surpresos, de um dia para o outro esses pobres desapareceram como que por magia", disse Enrique Dominguez, um atendente da popular cafeteria "La Cubita".

Tania Cantillo, que trabalha por conta própria, interpretou o recolhimento dos desabrigados para a visita papal como "um ato lamentável de limpeza social para dar ao Papa Francisco, e ao mundo, a falsa imagem de uma Holguín próspera e sem pobres".

O engenheiro Camilo Consuegra notou que, no dia seguinte ao da partida do Papa, tudo voltou à normalidade, e "os desabrigados invadiram as ruas de Holguín".

De acordo com Omar Quiroga, vizinho da rua Aguilera, esquina Maceo, nota-se que a cada dia aumenta a quantidade de desabrigados em Holguín.

"É vergonhoso para nós que moramos nesta cidade ver tantos pobres que te importunam pedindo dinheiro".

Um trabalhador do Departamento Provincial de Saúde, que preferiu o anonimato, confirmou que os desabrigados foram recolhidos dias antes à visita papal e "foram levados a uma instalação conhecida popularmente como ITH, onde permaneceram, contra a sua vontade, até que o Papa Francisco deixou Cuba".

"O aumento do número de indigentes em Holguín, homens, mulheres e jovens, é resultado da crise econômica do país e da incapacidade governamental de dar uma solução a este problema", disse.

 [https://www.cubanet.org/noticias/gobierno-devuelve-a-las-calles-a-menesterosos-recogidos-durante-la-visita-del-papa/].
Tradução. Bruno Braga.
 

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