Artigos do Puggina
Percival Puggina
28/10/2024
Percival Puggina
Quantas vezes na vida você ouviu esse bordão? No debate político e na gestão pública ele é uma espécie de chá de erva-doce. Serve para tudo e traz, consigo, a fórmula do bem estar. As três palavras podem ser associadas a uma penca de demandas: Educação, Saúde, Transporte, e por aí vai, pela avenida, o bloco da esquerda delirante.
Dito isso, a título de preâmbulo, eu o convido, amigo leitor, a pensar sobre onde já topou com algo público, gratuito e de qualidade. Como diria o saudoso Padre Quevedo: “Isso non ecziste!”, é lenda. Realmente não pode existir pois, para haver algo assim necessário voluntariado e doações que, não por acaso, só existem no setor privado.
O que o setor público realmente quer é dinheiro – privado, suado, e em quantidade. Tudo que ele oferece é custeado por robusto conjunto de taxas, impostos, multas e “contribuições” compulsórias que compõem o emaranhado fiscal do país. Tudo que ele entrega vem marcado por deficiências qualitativas e encarecido por médias salariais superiores aos padrões das atividades privadas.
O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) examina a educação básica de 81 países. No PISA de 2023, os estudantes brasileiros obtiveram o 65º lugar em Matemática, 52º em Leitura e 62º em Ciências. É assim que estamos no ponto de partida para o acesso a esse bem tão indispensável ao desenvolvimento humano e à realização, tão plena quanto possível, das potencialidades individuais. O Índice de Capital Humano do Banco Mundial mede o potencial econômico dos cidadãos de 157 países. O Brasil ficou (2020) no lugar 91º, empatado com Samoa e El Salvador. O setor público atende 72% da demanda nacional por ensino fundamental, 83% do ensino médio e 26% do ensino superior.
Sindicatos de professores disponibilizam muita informação para explicar que o mau desempenho de nossos alunos tem a ver com a falta de recursos e os baixos salários, gerando resultados que alimentam preconceitos contra os educadores nacionais. Essas avaliações esquecem que o Brasil, apesar de alternar entre o 8º e o 9º lugar entre as maiores economias do mundo, é um país pobre porque a riqueza não é medida pelo Produto Interno Bruto total, mas pelo quociente entre o PIB total e a população. Aí, no PIB per capita, o Brasil vai para a 76ª posição.
A maior riqueza de um país é seu capital humano, é a riqueza “instalada” nas pessoas em forma de saber, competências, habilidades, experiências, etc. Por isso, quando um governo decide acabar com as escolas cívico-militares porque o “foco na disciplina inibe a consciência crítica e a criatividade” eu sinto vontade de gritar aos ouvidos paulofreireanos do mundo acadêmico nacional: “Entre 20países do ranking da OCDE que mede criatividade dos estudantes (uma área específica do programa PISA), ficamos em 49ª posição!” Esse é o nível da “criatividade” da escola pública convencional, que não é nem cívico nem militar...
Os dados sobre desempenho dos alunos nessas escolas são ditos “inconclusivos”, pelos sindicalistas, embora até eles reconheçam que esse modelo proporciona ganhos significativos em segurança externa, redução das formas internas de violência e evasão escolar. Alegam, no entanto, que elas não são compatíveis com a “gestão democrática”. Como não, se são uma decisão da própria comunidade? Democrático, então, senhores litigantes de má fé, é rejeitar uma livre decisão amplamente majoritária das comunidades escolares sobre a educação de suas crianças num ambiente com maior segurança, menor violência, mais foco no aprendizado e menor evasão escolar?
Se a cobrança de disciplina e bons hábitos fosse um mal, o que explicaria a criatividade do povo do Japão, onde até a limpeza de muitas escolas é imposta aos estudantes?
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
21/10/2024
Percival Puggina
Mencionei em artigo anterior que meus colegas de esquerda nos anos 60 eram leitores ávidos de autores como Michel Foucault, Herbert Marcuse e Theodor Adorno. A iletrada juventude de esquerda radical, hoje militante no ambiente acadêmico, político e jurídico brasileiro, está chegando onde meus colegas agora octogenários haviam chegado em suas leituras dos anos 60. Como nada leram, surgem com esse enorme atraso querendo “empurrar a História” para o lado errado e fora de hora.
Em condições normais, o intelecto humano funciona movido pela curiosidade, com o objetivo de saber; funciona para resolver algo, espantar uma dúvida ou corrigir um erro. As perguntas que faço aos herdeiros de ideias antigas e sabidamente funestas: como vocês fazem para não saber o que aconteceu de lá para cá? Que espécie de conhecimento é esse, no qual as ideias se desconectam de suas aplicações ao mundo dos fatos e, portanto, da História?
Três anos antes do Maio de 1968 (rebelião iniciada pelos estudantes franceses na Universidade de Paris), o filósofo Herbert Marcuse escreveu um pequeno ensaio com o título “Tolerância Repressiva” (aqui). Em resumo, ele sustenta que a tolerância, como objetivo, exige intolerância. Diz assim o pensador alemão:
“Essa tolerância indiscriminada é justificada em debates inofensivos, em conversas, em discussões acadêmicas; é indispensável na empresa científica, na religião privada. Mas a sociedade não pode ser indiscriminatória onde a pacificação da existência, onde a sua liberdade e felicidade estão em jogo: aqui, certas coisas não podem ser ditas, certas ideias não podem ser expressas, certas orientações políticas não podem ser sugeridas, certos comportamentos não podem ser permitidos sem fazer da tolerância um instrumento para a manutenção da submissão abjeta”.
Um pouco adiante, Marcuse afirma: “Mais ainda, em intermináveis debates nos meios de comunicação, a opinião estúpida é tratada com o mesmo respeito que a inteligente, o mal informado pode falar tanto quanto o desinformado, a propaganda cavalga a par da educação, e a verdade, a par da falsidade”.
Na perspectiva de Marcuse, era indispensável à sociedade reprimir as ideias do sistema que ele considerava opressivo e favorecer as “progressistas”, que seriam efetiva e finalmente libertadoras... A leitura desse seu ensaio sobre a tolerância repressiva se revela útil para entender o processo em curso em nosso país, quando se observa a repressão às ideias conservadoras e os crescentes privilégios concedidos ao pensamento revolucionário e a seus protagonistas.
Vem daí, por exemplo, o empenho em controlar e o efetivo controle das redes sociais onde se fez óbvia a hegemonia dos conservadores. Vem daí o “politicamente correto” e o domínio da linguagem, como se observa na imposição da ideologia de gênero e na recentíssima adoção de “parturiente” em substituição a palavra “mãe”. Vem daí a recepção de calouros numa universidade por veteranos nus sendo acolhida como performance adequada; e vem daí, em viés oposto, a ação do MPPE contra alunos, de outra instituição, que rezam no intervalo entre aulas. Vem daí a construção acadêmica de narrativas para desconectar as ideias políticas do estrago que produziram na História. Vem daí o combate às escolas cívico-militares, a acepção de princípios e valores morais do pensamento conservador como discursos de ódio e a adoção generalizada das políticas de cancelamento de toda divergência e de todo divergente do pensamento esquerdista. Vem daí Lula presidente da República.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
15/10/2024Percival Puggina
Temos razões mais do que suficientes para entender o contrário quando os porta-vozes do lulopetismo dizem que seus péssimos resultados nas eleições municipais nada têm a ver com o pleito nacional de 2026. O grupo político que governa o país de modo cada vez menos compreensível nunca diz o que pensa. Sempre que se manifesta, conta uma narrativa montada em laboratório. Quando seus líderes afirmam: “Esses números de agora nada representam para 2026”, estão, na verdade, contando contos para burros tontos.
Mesmo com a força das redes sociais drasticamente reduzida pelas canetas do poder e pelo esquerdismo voluntário das plataformas, a maior força política brasileira não é a direita, mas o antipetismo onde esta se inclui. É ele, o antipetismo, que agrega a direita e boa parte do centro do arco ideológico. O centro a que me refiro não é o Centrão, esse grupo de siglas ocas e balofas que envergonham a simples ideia sobre o que seja partido político. Verdadeiras colchas de retalhos, parecem caleidoscópios sensíveis aos interesses de cada dia. São uma conversa contínua e nada meritória entre meios e fins. Corrijo-me: sobre meios sem fim. Quem vive de emendas não se emenda, nem se recomenda.
Quando falo do centro do arco ideológico, penso principalmente nos cidadãos que sabem o que não querem (a esquerda, seus métodos e objetivos), mas não receberam informação suficiente e fundamentada sobre os meios para livrar o Brasil de seus males atuais. Por isso, dediquei um quarto de século de minha atividade partidária aqui no Rio Grande do Sul à formação de lideranças jovens que hoje exercem papel relevante na vida municipal, estadual e nacional. Partido que não faça isso é cartório, clube, lojinha. Tudo, menos partido político. Fora da vida partidária desde 2013, continuo a cuidar disso sempre que sento para escrever.
O antipetismo está em posição amplamente favorável para 2026 porque os dois primeiros anos do lulismo foram abundantes para reforçar sua rejeição pelos eleitores que, como admitiu Lula penitente – “ganham mais de dois salários mínimos e não querem mais votar na gente”. Até hoje, foi amplo o mostruário dos defeitos.
De um lado: incapacidade administrativa, uso sistemático dos recursos dos cidadãos para comprar apoio parlamentar, arcabouço fiscal perdulário para gastar dinheiro que não existe, perda de poder aquisitivo dos salários, aparelhamento da administração pública.
De outro, a máquina petista apoia e celebra a complacência do Congresso perante os já longos anos de sujeição da sociedade à crescente juristocracia e à perda de direitos fundamentais, censura, prisões políticas e exílio.
De outro ainda, foram anos de nanismo à dimensão internacional do Brasil, com persistentes apoios ao terrorismo, ditaduras, antissemitismo e à escória da política mundial.
Chavões e xingamentos, incongruências e narrativas, políticas de cancelamento da divergência e autolouvações já não resolvem o problema da esquerda.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Outros Autores
Um texto do filósofo marxista Marcuse (1965) propõe exatamente o que está acontecendo no Brasil. Chama-se "Tolerância Repressiva".
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