Artigos do Puggina
Percival Puggina
09/02/2027
Percival Puggina
Leio que alguns estados da federação, começando por Santa Catarina, estão debatendo leis para impedir que professores utilizem músicas ou vídeo clips que façam apologia ao crime, ao uso de drogas ou que contenham conteúdo sexual e erótico nas escolas públicas e privadas do estado. No caso catarinense, a lei já está em vigor e incide sobre educandários públicos e privados, com tratamentos diferentes. Na rede pública, envolve processo administrativo; na rede privada, advertência e multa. Só o ensino superior fica fora das referidas restrições.
Ou uma patologia afetou a pedagogia ou pedagogos enfermos buscaram as salas de aula para exercer militância. Não há outro motivo para que providências legislativas com esse teor se façam necessárias e para que pais interessados na educação dos filhos sejam vistos como intrusos no reino onde o toco de giz é cetro e a palavra do professor é lei. Há uma enfermidade muito perversa fazendo vítimas entre pessoas que abusam da nobre missão de ensinar nossos pequenos.
Quem quer controlar a sociedade e empurrar a história tem que controlar a Educação. Nos primeiros anos deste século, em todo o país, leis estaduais e municipais buscaram impedir a introdução nas escolas da tão pretensiosa quanto anticientífica ideologia de gênero. Acompanhei a votação aqui em Porto Alegre e vi o modo frenético como numeroso grupo de professores e professoras se empenhou em impedir a deliberação. Havia entre eles uma necessidade premente de conversar sobre sexualidade e sobre “gênero” com as crianças. Arre! Não admitiam a vedação que acabou caindo pelas mãos do STF, que se creditou com mais essa importante contribuição à educação nacional...
Enquanto muitas portas ainda estavam fechadas ao tema, ele entrou pela janela das salinhas de aula, de mãos dadas com esse estrupício pretensioso chamado linguagem de gênero neutro. Quem não vê artimanhas totalitárias nisso tudo? Por que agem sempre assim, ignorando as próprias trapalhadas na vida das sociedades? Engels explica: “Como Darwin descobriu as leis da evolução da natureza, Marx descobriu as leis de evolução da sociedade”.
Bingo! Estabelecido o dogma, as mentes marxistas se reconhecem titulares da profecia. Elas sabem onde tudo vai chegar e se desinteressam por qualquer roteiro de viagem que não empurre a história para o futuro idealizado. O sumário de todas as revoluções comunistas formais ou informais – como a que está em curso em nosso país – é o relato da certeza sobre um futuro que precisa das cartilhas e das salas de aula para ganhar continuidade e justificação. Abolir com a família tradicional, “burguesa” (adjetivo empregado por Marx), é parte nuclear da estratégia.
Pronto! A confusão, a insegurança e o sofrimento instalados em mentes de crianças e adolescentes só não são percebidos por quem não quer ver.
A intensa dedicação a esse desserviço levou muitas escolas confessionais, disfarçadas com nomes que são objeto de devoção religiosa, a lançar suas redes sobre as salas de aula. Como não se pode servir a dois senhores, o cristianismo deixa, ali, de ser religião para que o marxismo infunda fé em seus devotos. Esquecem as duríssimas palavras de Jesus dirigidas a quem “escandalizar um desses meus pequeninos...”.
A liberdade de expressão e de cátedra não se confunde com autorização para catequese política, ideológica ou moral. Se o uso do poder para assédio sexual é crime, não tem menor gravidade o seu emprego para assédio mental dos alunos.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
04/02/2025
Percival Puggina
Assim que se reconfigurou o centrão com os congressistas eleitos em 2022, viu-se que, na vida real, o bloco superava, em votos, tanto o governo quanto a oposição. O prato mais pesado da balança passou a ser aquele para onde iam os quatro partidos desse numeroso grupo. Quase sempre era o governo e quase sempre mediante votos conversíveis em emendas parlamentares, cargos etc.
Nestas eleições para as mesas do Senado e da Câmara, não houve aposta perdedora. Todas as cartas estavam na mesa, bastava lê-las para conhecer os resultados finais. Hugo Motta e Davi Alcolumbre presidirão e decidirão as pautas das duas casas até a posse do futuro presidente da República e dos congressistas que venham a ser eleitos em 2026. Será um tempo importante, estratégico, esse em que exercerão seus poderes.
Governo e oposição querem apoio do centrão para o próximo pleito presidencial. Com tais cartas, governo e oposição namorando esse “fiel da balança”, era óbvio que os votos dos dois blocos, antagônicos em tudo, se iriam somar para proporcionar uma quase unanimidade aos dois candidatos.
Se me agrada essa dependência do centrão? Claro que não! Ela se adapta à juristocracia. Ela paralisa o Congresso em pautas importantes para a cidadania. Ela sustenta e aprofunda a gastança do Estado. Ela é corresponsável pelo empobrecimento da população brasileira, coisa que se vê nas ruas. Os preços cada vez mais caros para nós são baratos para os argentinos que invadem, como nunca, as formosas praias de Santa Catarina. Eles têm Milei; nós, Lula, o PT e o centrão. Não bastassem estas evidências, ainda carregamos os custos de um déficit democrático, de um déficit de liberdade, de justiça e de apreço à verdade e ao bem.
Por isso, louvo os candidatos que se apresentaram como alternativa, entre eles o meu jovem conterrâneo Marcel Van Hattem. Por terem sido candidatos e usarem seus tempos na tribuna foram sinais de contradição ante o quadro político, institucional, econômico e social brasileiro. Alguém precisava dizer que aquela não era a melhor festa de uma democracia. Alguém precisava atirar um punhado de verdades ao palco daquele teatro em que se converteu a política no coração da República.
No entanto, não reprovo a conduta da oposição. Como escrevi, na semana passada, no artigo “Por uma Oposição+”, ela precisará do centrão, se quiser vencer em 2026. Sim, para salvar o Brasil tem que obter isso, demonstrando a eleitores e lideranças do centrão que Lula e o petismo representam chumbo nos pés para a futura corrida eleitoral.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
01/02/2025
Percival Puggina
É assombrosa a capacidade do jornalismo oficial para manter em pauta um não assunto. Sim, sim, porque o assunto deveria ser outro, comojá veremos.
De quanto entendi, os “golpistas” operaram desde 2019 uma organização criminosa com o intuito de acabar com a democracia no Brasil no dia 8 de janeiro de 2023. De comércio de joias à Covid, de reunião com embaixadores a discurso em 7 de Setembro, passando, talvez, pelo assédio à baleia e pelo atestado de vacina, tudo serviu ou serviria para a direita demolir o estado de direito que vinha andando bem direitinho. Tão direitinho, que Lula, por culpas em cartório, foi preso no dia 7 de abril de 2018, três dias após o STF ter negado por 6 a 5 o derradeiro habeas corpus preventivo apresentado por sua defesa. Sim, o STF fez isso.
Na minha perspectiva, a ascensão de Bolsonaro no processo eleitoral de 2018, contraposto ao precipício em que o PSDB despencou, viraram a chave dentro do Supremo. Alckmin fez apenas 4% dos votos naquele pleito. Começou, ali, a “vertiginosa” ascensão institucional e política da corte e do TSE. Se quem não tem cão caça com gato, só Lula e o PT restaram para o establishment.
O trecho vazado da colaboração premiada de Mauro Cid deixa claro que os editores do relatório da PF cuidaram de obter dele nomes aos quais atribuir envolvimento com o suposto golpe. Vou fazer de conta que não vejo um queijo suíço cheio de buracos em toda essa narrativa e analisar o que me parece importante. (Do que está em sigilo e desconheço não tenho como falar).
Naqueles dias, se algum serviço secreto colocasse escuta em qualquer banco de praça, parada de ônibus, mesa de bar ou sala de espera, iria ouvir conversas sobre o ambiente político nacional e capturar opiniões como as que aparecem no depoimento relatado pela PF. Assim eram as coisas, no Brasil, de modo especial nos dois meses imediatamente posteriores ao pleito de 2022. As inconformidades de milhões de brasileiros eram muitas e incluíam, principalmente, o resgate de Lula da carceragem da PF de Curitiba, a condução do processo eleitoral e a falta de transparência da apuração. Os ministros do STF parecem não entender que uma coisa é a confiabilidade das urnas; outra é a transparência da apuração aos olhos da sociedade. O povo vê que o povo não vê. O sigilo e a censura também são ruidosos.
Em tal ambiente, seria inimaginável, impensável – diria mais: civicamente irresponsável e inadmissível – que pessoas próximas ao presidente não tratassem desses assuntos com ele, externando as próprias opiniões. Até aí, coisa alguma é crime, pois não passa de cogitação, de desejo, de anseio, de medo do que viria e veio, que simultaneamente estavam na alma e se expressavam nas vozes de milhões de cidadãos de bem e que merecem respeito, mesmo que sua liberdade de expressão pareçam deixar de o merecer.
Não se salva a democracia com menos democracia, nem o estado de direito com menos direito, nem a liberdade com menos liberdade. Esse é o assunto.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
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