• Dartagnan da Silva Zanela
  • 19 Outubro 2024

 

Dartagnan da Silva Zanela 

 

      O escritor Isaac Asimov, como todos nós sabemos, tem uma vastíssima obra. De todas elas, há uma que considero fascinante por ser tremendamente significativa. Refiro-me, especificamente, ao conto "A sensação de poder", escrito na década de 50 que, em resumidas contas, apresenta-nos a imagem de um futuro nada alvissareiro, onde a humanidade torna-se absurdamente dependente dos computadores, chegando ao ponto de não mais sermos capazes de realizar operações elementares de aritmética, de desenvolver raciocínios básicos sem o auxílio das traquitanas informáticas.

Hoje, todos nós, cada um ao seu modo, encontramo-nos rodeados de parafernálias desse naipe que não apenas resolvem para nós, de forma rápida, praticamente instantânea, cálculos matemáticos, mas também, realizam pesquisas para nós, nos guiam pelas estradas, corrigem nossos erros, alimentam nossos desejos por banalidades e, tudo isso, ao mero toque de um dedo numa tela lisa e fria feito um lâmina de gelo.

Não há como negar que tais ferramentas digitais facilitaram pra caramba incontáveis tarefas e agilizaram inúmeras outras, porém, ao nos brindarem com isso, de modo similar a um pacto mefistofélico, acabaram por exigir de nós um preço bastante elevado. Preço esse que, de um modo amplo e irrestrito, estamos pagando de bom grado, sem pestanejar, mesmo que às vezes nos coloquemos histericamente a espernear.

Mas e qual seria o preço desse "show da Xuxa"? Ora, se nós estamos abdicando do exercício de certas funções cognitivas para que essas sejam realizadas por uma entidade digital, não digo que elas irão atrofiar, mas, com toda certeza, nós iremos gradativamente nos tornando menos hábeis no seu manuseio, ao ponto de sentirmo-nos impotentes quando somos forçados pelas circunstâncias a ter que realizar algo que, rotineiramente, delegamos para um algoritmo, para um aplicativo, para uma inteligência artificial, ou para qualquer coisa desse naipe.

Diante do exposto, qualquer um de nós, que for minimamente sincero consigo mesmo, irá constatar que em alguma medida, nossa capacidade de atenção, juntamente com o nosso potencial de concentração, tiveram uma queda brusca nos últimos anos e, consequentemente, acabamos nos tornando mais impacientes, afobados e, é claro, um tanto ansiosos e, tudo isso, junto e misturado, acabou impactando de forma significativa o nosso discernimento, o nosso entendimento e, inevitavelmente, de alguma maneira terminou por refletir na potência da nossa inteligência.

Penso que, para constatar essa obviedade ululante, não seja necessário apontar as inúmeras advertências que atualmente nos são apresentadas pelo médico Miguel Nicolelis a respeito das implicações das mídias digitais, e outros bichos hi-tec, em nossas potencialidades cognitivas, muito menos rememorar as broncas, lúcidas e bem humoradas, que nos eram dadas pelo professor Pierluigi Piazzi, em seus livros e palestras sobre como nós deveríamos estudar para podermos, realmente, maximizar esse dom que Deus nos deu, que é a inteligência, tendo em vista que, praticamente, todo indivíduo, com um pingo de bom-senso, percebe que o excesso do uso de telas e tutti quanti, não está nos fazendo bem. Não apenas para nós, adultos, mas também e principalmente, para as tenras gerações.

Constata-se, infelizmente, que na atualidade se estabeleceu uma grande confusão, onde a massiva quantidade de informações, facilmente acessível, passou a ser encarada como sinônimo de ampliação da capacidade de compreensão dos indivíduos, como se o simples fato de termos a possibilidade de ter acesso a infindáveis informações fosse a garantia de que todos iríamos ter um elevado gabarito na formulação de hipóteses e na resolução de todo e qualquer tipo de problema, como se os entreveros da educação, ou da falta dela, pudessem ser resolvidos com um clique numa plataforma digital.

Ou, como diria o próprio Isaac Asimov, o mundo contemporâneo conquista cada vez mais novos domínios do conhecimento, numa velocidade muito maior do que as pessoas e as sociedades são capazes de assimilá-los e, deste modo, crescer em sabedoria.

Parêntese: o fato de não sabermos diferenciar com clareza informação de conhecimento, e estes dois da tal da sabedoria, por si só já é um mau sinal. Um mau sinal terrificante. Fecha parêntese.

E conhecimento aos borbotões, nas mãos de pessoas obtusas e de sociedades tacanhas, cedo ou tarde termina por se transformar em estultice maquiavélica e isso, como todos nós podemos muito bem imaginar, é perigoso pra caramba, para dizer o mínimo, porque não se educa um ser humano com um simulacro de humanidade, da mesma forma que não se aprender a superar problemas transferindo a resolução dos mesmos para uma entidade digital.

Enfim, admitamos ou não, estamos muito mais perto do cenário descrito por Isaac Asimov do que gostaríamos de imaginar, muito mais próximos do que gostaríamos de estar.

*       O autor é professor, "escrevinhador e bebedor de café". Autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.

 

Continue lendo
  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 19 Outubro 2024

Gilberto Simões Pires

PLANTAÇÃO E COLHEITA

A LEI DA SEMEADURA é um princípio geral que ensina que todos COLHEM AQUILO QUE SEMEIAM. Exemplificando: ao plantar sementes de FEIJÃO, a possibilidade de se colher TRIGO é NULA. Esse PRINCÍPIO, mais do que sabido, não se aplica apenas à agricultura: se faz presente, de forma geral e direta, no nosso dia a dia, nas decisões que tomamos e/ou nas atividades que desenvolvemos.

PLANTANDO DÉFICITS FISCAIS

 

Pois, por incrível que possa parecer, Lula, seus postes, Fernando Taxadd, Simone Tebet e seus péssimos e fiéis seguidores (incluindo aí boa parte da mídia) seguem absolutamente convencidos de que a farta PLANTAÇÃO de DÉFICITS FISCAIS vai levar o Brasil a COLHER CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. Pode? 

FRUTO INDIGESTO

 

Por mais que muitos brasileiros se agarrem ao OTIMISMO SEM CAUSA, do tipo de que acreditam em MILAGRES, me apresso em lembrar que essa mágica não se aplica na ECONOMIA. Portanto, para que fique bem claro: o fruto -INDIGESTO- que resulta do PLANTIO DE DÉFICITS FISCAIS, assim como as tentativas de fraudar e/ou mascarar o ORÇAMENTO, com tempo bom ou ruim é conhecido mundo afora como RECESSÃO ECONÔMICA.  

MARCA HORRIPILANTE

 

Some-se aí, como consequência ainda mais funesta o fato de que neste momento as estatais brasileiras projetam um ROMBO DE R$ 7,2 BILHÕES EM 2024, o maior DÉFICIT EM 22 ANOS. Esse número é pra lá de preocupante, pois marca uma reversão em relação aos superávits recentes. Mais: segundo o Banco Central, nos oito primeiros meses deste ano, o SETOR PÚBLICO consolidado registrou DÉFICIT PRIMÁRIO na ordem de R$ 86,222 bilhões. Em 12 meses – encerrados em agosto – as contas acumulam DÉFICIT PRIMÁRIO de R$ 256,337 bilhões, o que corresponde a 2,26% do PIB. E o DÉFICIT NOMINAL acumulado nos últimos 12 meses (até agosto) atingiu a horripilante marca de R$ 1,12 trilhão, o que corresponde a 10,02% do PIB. Que tal? 

 

Continue lendo
  • Dartagnan da Silva Zanela
  • 16 Outubro 2024

 

Dartagnan da Silva Zanela

 

      Na grande maioria das cidades, deste Brasil brasileiro, o pleito eleitoral findou; noutras tantas, não muitas, teremos uma segunda rodada da roleta da democracia brazuca. Enfim, seja como for, a essa altura do campeonato, podemos dizer que, de certo modo, ele, o ano eleitoral, já está de partida.

E com o fim do som estridente da sinfonia das máquinas de pirlimpimpim, vemos, faceiros da vida, os vencedores, comemorando a conquista e agradecendo aos cidadãos a confiança que lhes foi depositada. Se eles foram uma escolha acertada, saberemos disso daqui a quatro anos, porém, uma coisa é certa: os eleitos foram, sem dúvida alguma, os mais tarimbados no carteado do jogo das cadeiras do poder.

Agora, aqueles que não foram laureados, por certo e por óbvio, não estão festejando. Entretanto, muitos, de forma honrada, já se manifestaram nas redes sociais, nas rádios, enfim, nos meios de comunicação, para agradecer aos cidadãos que confiaram neles e que, mesmo não tendo logrado êxito, são gratos pelo apoio recebido, mesmo que esse tenha sido pouco expressivo.

Aliás, como bem nos ensina Tancredo Neves, com sua mineira sabedoria política, as derrotas nunca devem ser recebidas com amargura e revolta. Elas devem ser compreendidas como parte do jogo político e, muitas vezes, as benditas são necessárias para compreendermos melhor determinadas circunstâncias para que, deste modo, possamos conquistar algo muito mais importante que o poder por si só. No caso, seria a conquista do amadurecimento político.

Se soubermos acolhê-las com humildade, seremos regalados com uma compreensão muito mais ampla da sociedade e um entendimento mais profundo do jogo do poder.

Vale lembrar que o mesmo pode ser dito a respeito das vitórias.

Vitórias e derrotas, todas elas, cada uma ao seu modo, nos apresentam mensagens que nos são dadas pela conjuntura política da sociedade e que devem ser devidamente ponderadas por aqueles que as sofreram.

Não apenas isso. Tanto as primeiras quanto as segundas nos apresentam dados importantíssimos para todos, principalmente para nós, reles cidadãos, para podermos melhor refletir a quantas anda a nossa cidade, independente das tretas que rolam a nível Federal e no plano Estadual, pois, como todos nós sabemos, é na arena municipal que a vida de todos nós acontece.

Digam o que quiserem a respeito da democracia brasileira, mas em boa parte dos municípios do nosso país, do Oiapoque ao Chuí, ainda impera de maneira sensível o velho e trágico mandonismo, tão bem descrito por Victor Nunes Leal, em seu livro "Coronelismo – Enxada e voto", e devidamente analisado por José Osvaldo de Meira Penna, em sua obra "Em berço esplêndido".

O coronelismo pode ter findado, mas os caciques políticos, os clãs partidários, as práticas patrimonialistas, o Estado cartorial e tutti quanti, continuam ainda presentes e muito bem instalados em incontáveis municípios desta pátria de chuteiras.

Por essa razão, infelizmente, não são poucos os indivíduos que têm uma série de interesses nada republicanos no jogo eleitoral municipal, interesses esses que se apresentam indevidamente fantasiados com toda ordem de "preocupações sociais" que, de sociais, só tem o nome.

Além destes, há também uma penca de negócios, que estão a milhas de distância do decoro cívico, cuja subsistência depende do velho "capitalismo de compadrio" que, de capitalismo, tem muito pouco, pra não dizer nada.

Por isso, Ortega y Gasset nos lembra que é de fundamental importância que todos reflitamos sobre a forma como nós encaramos a vida política; é imprescindível que reflitamos a respeito dos valores que norteiam as nossas ações num pleito eleitoral e, principalmente, que ponderemos, de forma serena, sobre aquilo que nós consideramos como boa política porque, a resposta que for apresentada por nós a essas questões revelará, de forma indelével, o naipe da nossa cidadania que, por sua deixa, poderá, inclusive, ter uma feição tão abjeta quanto a das figuras públicas que nós rejeitamos com todas as forças do nosso ser.

Fim.

*     O autor, Dartagnan da Silva Zanela, é professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.

Continue lendo
  • Alex Pipkin, PhD
  • 16 Outubro 2024

 

Alex Pipkin, PhD

       É mesmo funesta a cegueira ideológica do desgoverno petista, e a esquizofrênica transa fiel e “angelical” de marxistas de carteirinha com o caminho da servidão. Não há fatos e argumentos que os façam deixar de sonhar, prejudicar e oprimir, em função da ideologia do fracasso.

Noite após noite, esses dormem com a insânia, a burrice e o autoritarismo.

O pior é que apesar dos sistemáticos e risíveis “abortos da natureza”, eles dobram a aposta. A retórica petista era a de recolocar o país de volta ao mais alto nível da diplomacia global. Os fatos são conhecidos: o inseparável romance com à ditadura venezuelana do “amigo do meu amigo” Maduro. Pois não só com o ditador Maduro, como também com os amigos sanguinários e doentes mentais, os líderes sectários religiosos do Irã.

 Esse governo ideológico e incompetente, colocou o Brasil na lata do lixo diplomático, apoiando terroristas do Hamas, do Hezbolah, da Jihad Islâmica, entre outros, deixando cair as máscaras, e declarando abertamente sua postura esquerdista antissemita, demente e autoritária.

No campo econômico, o pai dos pobres, de modo populista, entoava o canto da sereia do estômago verde-amarelo, por via das almejadas cervejinha e picanha. Os fatos são para lá de conhecidos: um desgoverno perdulário e insano, que se casa com o déficit público nababesco e demolidor, a demonstração mais pura de sua preocupação zero com a disciplina fiscal. O notório roubo das carteiras verde-amarelas, penoso, em especial, para os descamisados, que tais ideológicos do desastre alegam defender, através da transparente sanha taxativa, abocanhando de tudo e de todos, por meio de impostos cada vez mais altos e indiscriminados.

A regra ideológica é clara: o engrandecimento “ad aeternum” do Estado, inchando uma máquina pública ineficiente, com o aumento do funcionalismo, que não funciona. A experiência econômica honesta e comprovada adverte sobre a incapacidade do poder estatal controlar à economia e, portanto, de impulsionar a geração de empregos, de renda e de riqueza.

Crescimento e dinamismo econômico, de verdade, advém da liderança e dos investimentos do setor privado! Para tanto, são pré-requisitos essenciais a desregulamentação, o não abissal e absurdo intervencionismo estatal, à aplicação de impostos mais baixos, e de um planejamento econômico claro, simples e, de fato, objetivo.

Políticas nacional-desenvolvimentistas fracassadas, política industrial retrograda e alinhada aos interesses espúrios dos amigos do compadrio e do corporativismo, são o elixir mortal para o mundo real dos negócios. Não há nada que não possa ficar pior. O consórcio “do bem”, com a concessão de uma “mãozinha” da sempre parceira suprema pequena corte, ao cabo, legisla sobre a vida terrena pública e, horrenda e similarmente, sobre à privada.

Deveriam imperar mercados mais livres e abertos, aqueles em que se estabelecem relacionamentos colaborativos voluntários entre os agentes econômicos. Não há como reinventar a roda - que factualmente gira e produz. É por aí que se estimulam a mentalidade, os investimentos e a correspondente ação humana empreendedora, geradora do “mágico” processo de destruição criativa, que produz ideias e inovações úteis, agregando maior produtividade, que resulta em uma maior criação de empregos, de renda, de riqueza, e de bem-estar para os brasileiros de todas às cores e credos.

Porém, o fanatismo ideológico, doentio e insensato, faz o desgoverno se mover pela esburacada estrada da tragédia anunciada. Esses semideuses vermelhos de barro, pensam que são seres superiores, intelectual e moralmente. É da veia do sangue marxista vermelho.

A “grande visão” desse desgoverno petista, seguramente, não só hipoteca apoio e solidariedade a ditadores e terroristas sanguinários e patológicos, como também, e mais uma vez, penhora o futuro de gerações de brasileiros. Triste, mas somos desgovernados por aqueles que acham que sabem mais e melhor.

Com os ideólogos do coletivismo destruidor, o Brasil será sempre a terra do futuro, que nunca chega. É patético, mas, desafortunadamente, é real.

Continue lendo
  • Valdemar Munaro
  • 13 Outubro 2024

 

Valdemar Munaro


          Disfarçado de retidão e justiça, o ex-mandatário argentino, Alberto Fernández, aliado e amigo de Lula, vivia de aparências mentirosas enlameadas na hipocrisia e devassidão. Enquanto governava o país, era soberbo no apoio ao feminismo e aos direitos humanos. Porém, desligados os holofotes, agredia a esposa, Fabíola Yanez e era pródigo com dinheiro público para orgias e festas. A Casa Rosada converteu-se em prostíbulo: a dedo ou a esmo, como Calígula, Alberto se encontrava com mulheres furtivas para vícios e diversões. A 'companheirada' kirchnerista, por sua vez, era a corroboração das malandragens do presidente. Enquanto isso, compatriotas minguavam na pobreza e na miséria.

O político esquerdista ostentava um ministério exclusivo às mulheres. Vergonhosa hipocrisia. Por trás das cortinas, o que era dito não se fazia, o que se fazia não era dito. As imoralidades vicejavam. Na pandemia, ao povo encontros e reuniões eram proibidos e participações em enterros de entes queridos, punidas. A Casa de Olivos, porém, promovia banquetes e aglomerações. Argentinos estupefactos, descobriram-se enganados por espertalhões e parasitas.

Fabíola, feminista pusilânime e humilhada, pediu ajuda ao ministério dedicado às mulheres; silenciada e reclusa, precisou se resignar. Alberto, no entanto, trombeteava moralidades fingidas num reino de velhacarias, vícios sexuais, bebidas alcoólicas e ideologias. Provavelmente aprendeu de Juan Domingos de Perón (reiterado abusador de adolescentes e apreciador de prostitutas), a arte de mentir e enganar.

Os episódios envolvendo o ex-presidente argentino se assemelham aos divulgados assédios sexuais do ex-ministro brasileiro Sílvio Almeida. Sílvio, como Alberto, apresentava-se como bom moralista, professor e intelectual, versado em questões ligadas ao direito e ao racismo. Condutas privadas de Sílvio, no entanto, mostram a alma de um pavão: palavreado fino e artístico nas aparências, mas por trás das cortinas, o time que joga é outro. Sílvio, um combatente do racismo e da injustiça, se mostrou um moralista de cuecas, um rei nu, mentiroso e hipócrita. A hipocrisia marxista lhe forneceu lentes poderosas para enxergar pecados alheios e lentes fraquíssimas para ver os próprios. Moralistas de plantão são exatamente assim: observam argutamente o argueiro no olho do semelhante e pessimamente a trave que está no próprio (Lc 6, 41). É uma astuta malandragem do racismo estrutural ver mal o mal, pois vê o mal pendurado unicamente nas estruturas.

A hipocrisia, desde Adão e Eva, tem sua onipotência: mina a vida cívica, os negócios e as relações fraternas. Onde reina a mentira, o amor fenece, a fé esfria, a esperança esmorece. Prima irmã da mentira, quando espraiada, produz frutos devastadores de ceticismo e desconfiança. Onde não há confiança, os vínculos sociais e afetivos ficam degringolados. As desonestidades intelectuais, por sua vez, estão nas raízes desse mal, e, por serem consequentes, produzem enfermidades comportamentais. As ideias, segundo Isaiah Berlin, têm força; corrompidas, geram ações imorais. Não basta, portanto, pensar; é preciso pensar reta e honestamente.

O historiador Leszek Kolakowski mostrou a ousadia intelectual dos que laboram como inimigos do intelecto realizando a mais demoníaca das ações: corromper a luz da alma racional. Infestadas de 'paralaxes cognitivas', muitas atividades intelectuais parecem ser feitas justamente para perverter o raciocínio e enganar os aprendizes. É proposital o fato de muitos moralistas e ensinantes, excluírem-se da responsabilidade de se comprometer com o que ensinam. São os que "dizem, mas não fazem, atam pesados e esmagadores fardos aos outros, enquanto eles mesmos, não querem movê-los sequer com o dedo" (cfr. Mt 23).

N. Maquiavel (1469 - 1527), vestia-se elegante à noite para entabular colóquios com sábios pretéritos. Achava indigno estar com os taberneiros florentinos durante o dia e julgava ser mais sábio estar com os mortos durante a noite. Sua obra é uma sutil bajulação endereçada a governantes com o objetivo de angariar benefícios pecuniários e políticos para si. A ciência política maquiavélica, portanto, foi tragada pelo lamento sub-reptício embutido nos salamaleques dirigidos aos Médici. Por isso, são escritos ocos ou vazios de honestidades intelectuais. Se os princípios maquiavélicos fossem aplicados ao próprio Maquiavel, este teria sido catapultado da história. Sua doutrina pretensamente aplicada aos outros, não tinha valor para ele mesmo.

Jean J. Rousseau (1712 - 1778), abastecido por carcaças românticas lamuriosas, fez-se francês e desenvolveu queixosas pedagogias repletas de armadilhas políticas e morais. Os conselhos dados aos pais e educadores, não valiam para ele mesmo, pois os filhos que gerou foram despejados em orfanatos. Choramingando narcisismos e incompreensões, Rousseau depositou sobre os ombros da inteira humanidade as culpas das próprias aflições. Sua obra trata os infortúnios como provindos só da exterioridade. As responsabilidades pelas infelicidades pessoais foram espertamente derramadas no 'tecido social'. Rousseau é o pai do vitimismo avassalador contemporâneo. A solução psicológica que deu aos problemas éticos é uma obra demoníaca astuta que, simultaneamente, culpabiliza e inocenta todo mundo, sem responsabilizar, nem redimir ninguém.

Mentiroso, igualmente, foi Maximilien Robespierre (1758 - 1794), insignificante e medíocre advogado provinciano que esbravejava oposição ferrenha à pena de morte para quem quer que fosse. Alçado ao naco de poder que a presidência da Convenção Nacional lhe deu, mudou de personalidade e suas convicções converteram-se em algozes tiranias revolucionárias. Achando-se juiz de vivos e mortos, mandou ao cadafalso Luís XVI, Maria Antonieta, delfins e infinidades de homens e mulheres sob seu arbítrio. A desonestidade demoníaca encheu e inchou sua alma de hipocrisia.

Esquisito e mentiroso foi o filósofo prussiano e iluminista, Immanuel Kant (1724 - 1804), para quem as religiões se definem como bengalas de incapacitados racionais. Pondo a ideia de Deus no ralo da teoria, resgatou-a para envernizar sua impotente doutrina ética com cores divinas. Os chamados 'imperativos morais', não conseguem ser imperativos quanto pensava, por isso usou a religião desprezada como socorro ou suporte para seu edifício ético. A doutrina que elaborou mostrou-se impotente na condução e persuasão de homens e mulheres à prática das virtudes. Assim, o princípio religioso se tornou um escabelo de sua escada moral.

Mentiroso foi G. W. F. Hegel (1770 - 1831), arquiteto do idealismo dialético mais despudorado da história, que menospreza o bom senso e estraçalha a obediência e o respeito que devemos ter pelo princípio de não contradição. O hegelianismo que, simultaneamente, absolutiza e relativiza tudo o que pensamos, enlouquece a inteligência de quem age e a ação de quem intelige. O 'saber absoluto', seu projeto megalomaníaco e totalitário, é um espelho da monstruosa filosofia que destroi a lógica e o raciocínio humanos.

Bebum da doutrina hegeliana foi K. Marx (1818 - 1883), outro mentiroso, bajulador de proletários virtuais e artífice dos ideais surrealistas impossíveis de serem vividos, pois ele mesmo não os viveu. Os 'trabalhadores do mundo', com os quais se entreteve teoricamente, nunca os conheceu, nem os beneficiou, exceto a proletária de sua alçada, Helene Demuth, empregada doméstica com quem flertou e teve um filho, Frederick Demuth, jamais reconhecido nem amado por ele. Frederick foi, ainda bebê, afastado da família e da mesa marxiana. A justiça, exigência moral e revolucionária que a filosofia marxista apregoa, não foi praticada pelo próprio Marx.

Mentiroso foi o industrial mais socialista da história, F. Engels (1820 - 1895), amigo de Marx, defensor de um comunismo que não conseguiu implementar dentro de sua própria tenda existencial. A fábrica herdada do seu pai em Manchester, foi para si e para Marx sustento e conforto econômico para suas vidas inteiras. Ao invés de administrá-la de modo socialista, Engels a vendeu, pois a experiência industrial exigia compromissos sociais e uma capacidade para lidar com percalços econômicos inerentes a qualquer administração. A filosofia ensinada por Engels não teve nenhuma serventia para si mesmo nem para seus negócios.

Grande mentiroso e farsante foi Walter Duranty (1884 - 1957), jornalista e correspondente norte americano enfeitiçado pelo comunismo stalinista, em Moscou. Vivendo capitalística e luxuosamente protegido pelo ditador comunista, Duranty escondia de propósito as atrocidades vividas pelos russos nos tempos pós-revolucionários. Ao invés de denunciar os crimes e a fome provocada em Holomodor, por exemplo, na Ucrânia, o jornalista bajulava o regime, obtendo segurança e conforto para si. Dentre as hipocrisias jornalísticas, a de Doranty foi a mais escandalosa e criminosa do século XX.

Os exemplos podem se estender longamente, mas, pode-se afirmar que a maior mentira se encontra no interior das teorias cunhadas por Marx acerca da história, da economia e da sociedade. Por causa disso, praticamente se tornou impossível encontrar intelectuais marxistas guiados pela honestidade e consequentes. Todos, absolutamente todos os seus pensadores, movem-se numa lógica imoral e insensata. É só ler e estudar com atenção autores aos moldes hegelianos como Karl Marx, F. Engels, K. Kautsky, Rosa de Luxemburgo, Antonio Labriola, Antonio Gramsci, Georges Sorel, Plekhanov, V. Lenin, L. Trotsky, J. Stalin, E. Bernstein, Gyorgy Lukács, K. Korch, L. Goldmann, Ernst Bloch, H. Marcuse, Louis Althusser, etc., etc.... Todos, absolutamente todos, enrustidos ou declarados hegelianos, incorrem nas bastardas incursões militantes sem se envergonhar, nem se ruborizar com suas contradições e seus surrealismos.

Urge, pois, restaurar a sanidade nas ciências, nas religiões, nas filosofias cultivadas e difundidas por toda parte. Urge recuperar o elo que nos vincula ao mundo real tal como é, não fictício, no qual mãos e pés debilitados, mentes e corações desesperançosos, fé e confiança feridas possam se apoiar e se reconstruir.

Hipocrisia é fingimento. O hipócrita (do grego hypócriton, comediante), sofre a afetação de virtudes que não possui, por isso é capaz de mostrar a alma mentirosa que não tem e esconder a verdadeira que tem. Mentirosos são os que transformam personalidades em personagens e personagens em personalidades. Disfarçando o que escondem, desdenham a verdade e mostram o que lhes convém numa façanha que é a esperteza dos demônios. Quão saudável seria uma reviravolta moral no nosso país: que políticos que nos governam e intelectuais que nos ensinam não mentissem!

*        Santa Maria, 11/10/2024 

**       O autor é professor de Filosofia

Continue lendo
  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 11 Outubro 2024

Nota do editor de Liberais e Conservadores

Hoje, o site Ponto Crítico, assinado pelo amigo Gilberto Simões Pires, completa 23 de atuação com foco na Liberdade. Na condição de leitor fiel e divulgador de milhares de conteúdos produzidos por ele nesse importante canal ao longo dos últimos 20 anos, associo-me às comemorações da data.

Gilberto Simões Pires

ALICERCE

Hoje, 11 de outubro de 2024, o -PONTOCRITICO.COM - completa 23 anos. Vale destacar que nesta longa trajetória de tempo, iniciada lá em 2001, exatos 5980 EDITORIAIS foram publicados. Mais: todos, sem tirar nem pôr, sempre alicerçados em DOIS PONTOS FUNDAMENTAIS: 1- A DEFESA DA LIBERDADE; e, 2- A EFETIVA RELAÇÃO -CAUSA/EFEITO- das propostas e decisões governamentais, em todos os níveis. 

 DECÁLOGO LIBERAL

Levando em boa conta que resolvi dar vida ao PONTOCRÍTICO em homenagem a Roberto Campos, cujo falecimento completou 23 anos no dia 9/11, nada melhor do que publicar o sempre atual -DECÁLOGO LIBERAL- costumeiramente lembrado pelo saudoso economista:  

1- O BRASIL PRECISA PARAR DE ADMIRAR O QUE NÃO DEU CERTO. (Tom Jobim)

2- O GOVERNO NADA PODE DAR AO POVO O QUE PRIMEIRO DELE NÃO TENHA SIDO TIRADO. (Richard Nixon)

3- NÃO SE DEVE CONFUNDIR ESTADO FORTE COM ESTADO FRAUDE. PARA SER FORTE O ESTADO PRECISA SER HONESTO. 

4- NO ESTADO BRASILEIRO, OS ASSISTENTES SE DÃO MELHOR DO QUE OS ASSISTIDOS.

5- O ESTADO É MELHOR COMO JARDINEIRO QUE DEIXA AS PLANTAS CRESCEREM DO QUE COMO ENGENHEIRO QUE FAZ AS PLANTAS ERRADAS.

6- AS RIQUEZAS ARTIFICIAS -EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA- SÃO MAIS IMPORTANTES QUE AS RIQUEZAS NATURAIS.

7- OS NACIONALISTAS GASTAM TANTO TEMPO ODIANDO OS OUTROS PAÍSES, QUE NÃO TÊM TEMPO PARA AMAR O SEU PRÓPRIO PAÍS.

8- O ERRO DOS MILITARES FOI NÃO TEREM FEITO A ABERTURA ECONÔMICA ANTES DA ABERTURA POLÍTICA; E O ERRO DOS CIVIS FOI FAZER O FECHAMENTO ECONÔMICO DEPOIS DA ABERTURA POLÍTICA. 

9- O MAIOR INSUMO DO PROGRESSO É A LIBERDADE ECONÔMICA NUM MERCADO COMPETITIVO.

10- OS QUE CRÊEM QUE A CULPA DOS NOSSOS MALES ESTÁ NAS ESTRELAS E NÃO EM NÓS MESMOS FICAM PERDIDOS QUANDO AS NUVENS ENCOBREM O CÉU.

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Junto com a importante homenagem a Roberto Campos vai aí o meu agradecimento especial aos parceiros de PRIMEIRA HORA, Gelson Castellan e Mateus Corradi, da Fábrica de Móveis Florense; e Airton Zaffari, da Cia Zaffari de Supermercados, que desde a PRIMEIRA EDIÇÃO, EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO, assinam embaixo os 5980 conteúdos publicados ao longo desses 23 anos. 

LEITORES

Aos leitores/assinantes, testemunhas vivas de que os meus editoriais, agradando ou não, sempre foram coerentes com o pensamento CRÍTICO LIBERAL. Assim, podem ter total certeza de que esta minha postura seguirá na mesma direção, observando, como sempre a importante e necessária RELAÇÃO CAUSA/EFEITO. 

 

Continue lendo