Alex Pipkin, PhD
Em terras vermelho, verde-amarelas, dormimos e acordamos incomodados. Você está sentido que está sendo enganado? Que trabalha cada vez mais e leva cada vez menos? Que o Estado está te vigiando, te cobrando e te punindo? Você está certo. E mais, você não está sozinho.
Há um ponto de ruptura em toda sociedade que se pretende livre, mas que, dia após dia, vai sufocando seus melhores indivíduos. Não acontece de forma abrupta. É sempre gradual, imperceptível, até que já não se pode mais respirar sem pedir permissão. Hayek chamou isso de “O Caminho da Servidão”. Estamos, mais uma vez, trilhando esse caminho, passo a passo, decreto a decreto.
A tragédia da liberdade moderna não está na tirania declarada, mas na servidão disfarçada de democracia. Os liberticidas de hoje não usam fardas, usam gravatas. Não apontam armas, apontam dedos. Roubam, censuram e controlam em nome do povo. E o povo, muitas vezes enfeitiçado por slogans e esmolas, e/ou desprovido de conhecimento e discernimento, aplaude sua própria escravidão. Aldous Huxley já prenunciava tal situação em seu romance Admirável Mundo Novo.
Por sua vez, Hayek alertou com precisão cirúrgica que “a democracia ilimitada é tão perigosa quanto qualquer ditadura”. Quando o voto serve para legitimar o saque, a imposição, o privilégio, a mentira, já não se está mais numa república de indivíduos livres, mas num hospício em que os parasitas escrevem as regras e os criadores de riqueza são punidos.
Antes dele, Frédéric Bastiat já havia desmascarado a grande perversão do direito, ou seja, quando a lei, em vez de proteger, se torna instrumento de roubo legalizado. Quando ela deixa de ser o escudo do indivíduo contra o Estado para se tornar a arma do Estado contra o indivíduo. Para ele, “a lei é pervertida quando ela viola a propriedade, em vez de protegê-la”. Nesta direção, o que é o Estado brasileiro hoje senão uma máquina de expropriação, que confisca pelo imposto, controla pela regulação e oprime pelo discurso?
No século XIX, Alexis de Tocqueville, alertava sobre esse “despotismo suave” das democracias modernas. Há um governo que não oprime com brutalidade, mas com “uma rede de pequenas regras”, até reduzir o cidadão a um animal tímido, domesticado por benesses e tutelas estatais.
Quando os produtores passam a pedir permissão para existir, quando quem investe e cria precisa justificar-se diante de quem nada constrói, a moral da sociedade foi virada do avesso. E não adianta pintar isso com as cores da “justiça social”. Aquilo que precisa destruir a liberdade para se afirmar, não é justiça: é tirania emocional travestida de virtude.
Em The God of the Machine, Isabel Paterson foi clara: “nenhuma autoridade pode criar. Só pode consumir”. O Estado vive do que toma, não há Estado forte sem cidadão explorado. Não se pode mais aceitar tal circunstância. Não se pode aceitar o roubo como política pública. A censura como proteção, e a servidão como solidariedade.
Quando o indivíduo perde sua liberdade, ele também perde sua dignidade, tornando-se servo do Estado. Sua vontade é atrofiada, seu senso de responsabilidade substituído por obediência. Todos nós, de alguma forma, dependemos do Estado, mas é preciso não deixar que essa dependência silencie o espírito de liberdade, fazendo-nos comportar como um sapo fervido. O único contrato legítimo é aquele que reconhece o indivíduo como fim em si mesmo, não como ferramenta de uma massa amorfa chamada “sociedade”.
A sagrada liberdade, é fundamentalmente dependente das ideias que orientam os indivíduos.
Uma vez que o Estado toma sua renda a fórceps, ele está tomando seu trabalho e sua liberdade. Não há justiça nisso, somente escravidão moderna com verniz legal. É preciso rechaçar esse “status quo”. O que fazer?
Indignar-se com essa pseudo-democracia. Romper com as utopias, mentiras e falácias do coletivismo. É necessário se organizar. Estudar. Falar. Escrever. Reagir. Espalhar ideias. Defender os valores do indivíduo acima das fantasias de massa.
Não há mais tempo de espera. A liberdade é o nosso bem maior. Ela só floresce onde o indivíduo não se curva diante de pretensos donos da verdade, de políticos disfarçados de juízes que vestem toga preta.
Quem, de fato, ama a liberdade, precisa lutar por ela. Aguerridamente, com a mente, com a voz e com a ação.
Gilberto Simões Pires
DOENÇA GRAVÍSSIMA
Antes de tudo não é preciso ser iniciado em ECONOMIA, FINANÇAS e muito menos em CONTAS PÚBLICAS, para entender o quanto o nosso empobrecido Brasil sofre de uma DOENÇA GRAVÍSSIMA provocada por sistemáticos PROBLEMAS ORÇAMENTÁRIOS causados por crescimento -sem fim- das DESPESAS OBRIGATÓRIAS e DISCRICIONÁRIAS. Para agravar ainda mais este GRAVE ESTADO DOENTIO, nem mesmo o AUMENTO NOJENTO, ESCANDALOSO, INJUSTO E CORROSIVO DA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA tem se mostrado capaz de promover o importante EQUILÍBRIO FISCAL.
ARMÍNIO FRAGA
A situação está tão séria e preocupante, que até os economistas que declaradamente votaram em Lula deram um legítimo -BASTA ATRASADO- e resolveram se manifestar. É o caso, por exemplo, do ex-presidente do BC, Armínio Fraga, e, mais recentemente, do ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nobrega. Vejam que Fraga, dando clara impressão de que nutre um mórbido sentimento de INVEJA de Paulo Guedes, propôs, como tábua de salvação das CONTAS PÚBLICAS, congelar o salário-mínimo por 6 anos. -A medida seria fundamental para melhorar as contas da Previdência Social, que pioram de forma assustadora. Mais: afirmou que as prioridades do GASTO PÚBLICO no Brasil estão “completamente erradas” e que a conta da Previdência Social, responsável pelo pagamento de aposentadorias e pensões dos brasileiros, está piorando “assustadoramente”.
Fraga, dando clara impressão de que está perdido e sem fôlego, não mencionou a necessidade ÓBVIA de -DESINDEXAR, DESVINCULAR e DESOBRIGAR TODAS AS DESPESAS DE TODOS OS ENTES FEDERATIVOS-. Muito menos disse que se faz necessário PRIVATIZAR TODAS AS ESTATAIS.
MAILSON DA NÓBREGA
Por sua vez, Maílson da Nóbrega, como se acordasse de um sonho profundo, afirmou -alto e bom tom- que o Brasil tem um -ENCONTRO MARCADO COM A CRISE ECONÔMICA- a qual, inevitavelmente, VAI CAIR NO COLO do presidente Lula ou VAI CAIR NO COLO do próximo presidente logo no início do futuro governo. Ou seja, a CRISE DIFICILMENTE vai passar dos 2 próximos anos”, arrematou o economista-bidu.
MAIS: o agora desperto Nóbrega se deu conta de que o ARCABOUÇO FISCAL é -LETRA MORTA-. “Você só pode conter os gastos, para evitar que eles cresçam em termos reais, se um grupo de despesas não crescer mais do que a média. Como os gastos previdenciários, de saúde e de educação crescem a um ritmo superior ao das demais despesas, o gasto obrigatório vai ocupando espaço.
Dagoberto Lima Godoy
Chega a ser bizarro como, no Brasil de hoje, a palavra democracia é repetida qual um mantra — como se a mera repetição bastasse para garantir sua existência. Mas será preciso cegueira ideológica ou cumplicidade interesseira para não enxergar como a democracia está sendo esvaziada por dentro, substituída, pouco a pouco, por um sistema de controle cada vez mais rígido, embora travestido de legalidade.
A tirania moderna não se instala com tanques nas ruas, mas com narrativas oficiais, decisões extravagantes de altas cortes e uma justiça que escolhe a quem punir e a quem proteger. Mantêm-se as eleições, os partidos, os rituais — mas faltam meios eficazes de conferência dos votos. Quem não se curva à narrativa dominante é calado, desmonetizado, preso ou deslegitimado publicamente. Tudo isso em nome da “defesa da democracia”, como se esta fosse um valor absoluto, mas válido apenas para quem adere ou se rende à facção dominante..
O que esperar de um Congresso que se omite ou cujos parlamentares se deixam cooptar em troca de cargos e emendas discricionárias, tornando-se cúmplices do governo, por mais incompetente e ardiloso que ele seja? Ou de um Senado que aceita passivamente a supremacia de um STF que não se limita ao papel de intérprete da Constituição, mas acumula funções do Legislativo, da Polícia e da Promotoria. Um tribunal que decide, sem debate ou contraditório, o que pode ou não ser criticado ou tão somente dito? Uma Corte que se desmanda em Investigações sem crime definido, inquéritos sem fim, censura prévia de postagens e bloqueios de redes sociais — medidas típicas de regimes autoritários, aplicadas com o selo do “Estado Democrático de Direito”?
Enquanto isso, a mídia tradicional se comporta como sócia do poder — seja por alinhamento ideológico, seja por dependência financeira. Os veículos cooptados ecoam as versões oficiais, atacam vozes dissidentes e ajudam a moldar uma realidade onde a verdade foi abolida, substituída pela narrativa (conforme a receita prescrita ao Foro de São Paulo, lembram?)
A todas essas, uma parte da população ainda acredita que tudo está normal — afinal, as urnas funcionam, há debates na TV e campanhas nas ruas —, enquanto outra parte percebe o avanço do autoritarismo, mas tem medo de reagir. Afinal, quem ousa levantar a voz contra o sistema corre o risco de ser rotulado como “facista”, “golpista” ou promotor de “fake news”.
Impossível ocultar o fato de que está em curso não um golpe no sentido clássico, mas um processo contínuo de desfiguração da democracia, imposto em nome dela própria. É a substituição do Estado Democrático por um Estado de Exceção com aparência legal. É a institucionalização do arbítrio por meios técnicos, burocráticos e sofisticados.
Mas a história ensina: nenhuma tirania é eterna. Ela se sustenta enquanto a mentira for eficaz e o medo, dominante. Quando a verdade rompe o cerco e a coragem supera o receio, o jogo começa a virar. A resistência, neste cenário, não exige armas — exige coragem, firmeza de valores e disposição para não se anular como cidadão.
Como escreveu o poeta Yevtushenko:
“Quando a verdade é substituída pelo silêncio, o silêncio se torna mentira.”
E o Brasil, mais do que nunca, precisa de vozes que recusem a mentira e afirmem, sem medo, a liberdade, a justiça e a verdade.
Valterlucio Bessa Campelo
Apesar de ter conseguido as assinaturas necessárias para que o presidente da Câmara Federal dispense as comissões e leve o projeto da anistia diretamente ao plenário, os parlamentares estão enfrentando seriíssimas dificuldades para que o objetivo seja alcançado. É que executivo e judiciário, através de ministros que exacerbam livremente sua função, estão “em campo” ligando para os deputados e chantageando-os no sentido de que retirem a assinatura. Cargos e processos estão na mesa. De outra parte, já dão declarações de que, no caso de votação e aprovação, o STF o julgará inconstitucional. É aperto de todo lado, utilizando-se a justiça para coagir e derrotar o adversário comum. Isso tem nome, chama-se lawfare.
Se, contra o Jair Bolsonaro e a direita de modo geral, temos um lawfare feroz, a favor do lulopetismo e da esquerda verifica-se o uso estratégico da lei para prejudicar agindo de forma benevolente com ilegalidades e negligente com a apuração de crimes.
Em primeiro lugar, saibamos que a palavra lawfare combina (em inglês) duas – law (lei) e warfare que, no contexto, adquire o sentido de jornada, campanha, estratégia de guerra. Enfim, o termo se refere à utilização do sistema jurídico e das próprias leis como numa guerra política, é uma estratégia de persecução legal do adversário. Pense no que fazem com a direita no Brasil, mormente com seu principal líder, o Jair Bolsonaro. Pois é isso mesmo e podemos identificá-lo percebendo:
Quando o judiciário perde as estribeiras e toma o papel de fazedor de leis, ou seja, quando se dispõe a um ativismo fácil e encontra aliados para, na imprensa, no executivo e no próprio parlamento, suportar o desequilíbrio entre os três poderes com o argumento fajuto de combater a inação ou fazer avançar a agenda da sociedade, ou mover a civilização como já disseram nossos ministros, estamos encalacrados em um lawfare clássico. É o judiciário dando passos maiores do que as pernas e adentrando ao perigoso terreno do autoritarismo.
Por outro lado, as mesmas estruturas são frequentemente usadas para facilitar a vida dos membros de um partido ou, mais extensivamente, de uma tendência política. Sendo de esquerda, o criminoso será compulsoriamente julgado pelos favores da lei. Há uma espécie de acolhimento que vai do garantismo ao engavetamento.
Sem ser jurista, penso que há razões para propor que temos no Brasil atualmente, uma novidade, um “underlawfare” que descreveria uma situação em que a lei é intencionalmente subaplicada, ignorada, ou a fiscalização é deliberadamente negligenciada para obter algum tipo de vantagem ou favorecer certos grupos ou indivíduos. Atrevo-me a propor aqui algumas características do "underlawfare".
Pode-se dizer, então, que, enquanto o "lawfare" usa a lei como uma arma ofensiva, o "underlawfare" usa a não aplicação da lei como uma forma de proteção ou favorecimento estratégico. O Sistema atua como um leão contra a direita e mia como um gatinho contra a esquerda. Ambos distorcem o propósito fundamental do sistema legal. A vítima maior é a democracia, conspurcada por uma danação jurídica que se soltou de seu propósito constitucional.
* O autor, Valterlucio Bessa Campelo, escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.
Alex Pipkin
Sempre fui um opinador compulsivo - desses que escrevem como quem respira, movido pela urgência de dizer o que muitos apenas pensam em silêncio. Escrevi inúmeros textos expressando minha crescente desilusão com a juventude. Não por falta de empatia, mas pelo incômodo em vê-la entregue, quase sem resistência, ao teatro decadente do progressismo do atraso. Jovens manipulados por slogans ocos, por pautas identitárias fabricadas em laboratório, por líderes que instrumentalizam sonhos legítimos em prol de agendas autoritárias. Mas algo tem mudado. Ainda é névoa, mas há nela um brilho. Vejo surgir, mesmo que timidamente, uma nova mentalidade. Uma fresta. Uma luz no fim do túnel.
Meu ceticismo não é de conveniência, que ensaia dúvida como performance intelectual. Observo pela lógica da realidade e uma dose de desalento o papel da juventude no teatro político contemporâneo. Vi jovens tomados por uma estética de revolução pronta para consumo, mobilizados mais pela fantasia do que pela realidade, encantados por causas que, ao fim e ao cabo, servem como biombo para os interesses de sempre: poder, controle, aparelhamento.
O lulopetismo é, nesse sentido, um exemplo acabado da farsa revolucionária que se traveste de esperança. Sob o pretexto de justiça social e emancipação dos povos, o que se vê - e o que não se vê - é a defesa sistemática de regimes autoritários, movimentos armados e ditaduras ideológicas. Quando o Hamas, reconhecidamente um grupo terrorista, promoveu um massacre brutal contra civis israelenses, o descondenado e comedor de “s”, presidente Luiz da Silva, não apenas deixou de condenar o crime. Pior! Ele comparou a legítima defesa de Israel à barbárie nazista contra os judeus no Holocausto. Um escárnio histórico e moral. Um delírio ofensivo que só revela o que de fato está por trás desse progressismo de fancaria: simpatia pelas sombras, desprezo pela verdade e um vício incurável pelo jogo sujo do poder.
Por muito tempo, acreditei que essa juventude estivesse perdida. Que fosse uma geração resignada a repetir os erros dos velhos com slogans novos. Mas algo inesperado começou a surgir.
Mesmo diante desse cenário de degradação moral e ideológica, meu ceticismo arrefeceu. Percebo uma juventude que começa a rejeitar essa encenação grotesca. Uma juventude menos encantada com a pirotecnia retórica dos extremos e mais interessada em algo banal, quase revolucionário: a entrega pragmática. A política como instrumento de soluções reais, não como espetáculo ou palco de cruzadas culturais intermináveis. Eles querem saúde de verdade, não lacração sobre o SUS no TikTok. Querem segurança no ir e vir, não discursos sociológicos para justificar o caos urbano. Querem um emprego digno, não um ministério para “juventudes” recheado de cargos e promessas.
Há uma espécie de nova névoa reveladora e alvissareira. A juventude anseia por uma mudança marcante na forma como a política é praticada, com evidências claras de entrega prática. Eles querem que a política seja focada na entrega tangível e concreta de necessidades básicas: salários mais altos, melhores empregos, moradias acessíveis, mais segurança, mais saúde, entre outras demandas. Não querem mais ser empurrados para narrativas ideológicas. A juventude quer que o básico funcione.
Essa mudança não é massiva, tampouco plenamente consciente, mas é perceptível. E talvez esteja aí o eco de uma frase que, dita em tom irônico por Cazuza em 1988, se transforma hoje em retrato de uma rejeição madura: “Ideologia, eu quero uma pra viver”. Não era um lamento, era uma denúncia. Um grito disfarçado de poesia, que desmascarava a farsa de quem usava sonhos como trampolim para o poder. Cazuza viu antes que muitos a falência das utopias vendidas em panfletos. Agora os jovens - que muitos julgavam eternamente capturados pelas causas identitárias e pela militância cega, como eu - começam a se levantar com uma pauta singela. Eles querem viver melhor. Desejam menos narrativa ideológica e mais realidade.
Essa virada de mentalidade ainda é tênue, mas real. Aponta uma ruptura possível com os modelos falidos da política contemporânea, tanto o progressismo do atraso, quanto o extremismo autoritário da direita que se vende como antídoto, mas oferece apenas o veneno com sinal trocado. É como se a nova geração dissesse, ainda sem gritar: “Chega de fingimento. Façam o básico. Entreguem”. Repito: mais entrega, menos ideologia.
Mantenho meu ceticismo, pois ainda há muito fingimento em volta, muita tentativa de reaparelhar o sistema com novas tintas. Mas também sou honesto o bastante para admitir quando há uma fresta de luz. E ela está ali, na juventude que rejeita a paleta maniqueísta das ideologias podres, que não quer o extremismo do lulopetismo nem a caricatura autoritária da direita que finge combatê-lo. Querem, simplesmente, viver melhor. Ter oportunidades. Respirar liberdade. Trabalhar, construir, realizar. Sem serem usados como figurantes de narrativas alheias.
Talvez seja pouco. Talvez. Porém, depois de tantos anos de narrativas e farsas, talvez seja justamente isso o que nos devolve algum fiapo de esperança.
A luz no fim do túnel pode ser, afinal, o clarão do despertar. Que não se apague.
Dartagnan da Silva Zanela
Estamos todos, cada um com seu passo, no seu ritmo, rumando para alguma direção que acreditamos ser a mais apropriada para realizarmos os nossos anseios, pouco importando quais sejam eles. E, independentemente das razões que fazem o nosso coração bater mais acelerado, impelindo o nosso caminhar, há uma coisa todos nós temos em comum: estamos todos, como nos lembra Martin Heidegger, rumando em direção à morte.
Sim, Cristo venceu a morte carregando o pesado fardo dos nossos pecados, mas Ele rumou na direção dela, abraçou-a, aceitou-a com mansidão, ensinando-nos a fazer o mesmo com a nossa vida.
Eu sei, todos nós sabemos, que é uma obviedade ululante que um dia teremos de encarar esse momento; estamos todos cientes dessa realidade, mas não queremos nem saber de tomar consciência disso.
Por isso, muitas e muitas vezes, vivemos a nossa vida como se não houvesse amanhã. Corremos atrás da realização de planos e projetos, muitas vezes de caráter duvidoso, como se a vida pudesse ser resumida na satisfação dos nossos desejos; como se não existissem consequências que estão para além da efemeridade da vida temporal.
De forma tola, incontáveis vezes ignoramos a morte, como se tal atitude desdenhosa fizesse com que ela, num passe de mágica, desaparecesse.
É por essa razão que Sêneca, e incontáveis outros sábios, afirmavam categoricamente que filosofar é meditar sobre a morte, porque é apenas diante dela que temos a real dimensão da vida humana e do sentido da existência.
Seguindo pelo mesmo trilho, Santo Afonso de Ligório ensina-nos que todo cristão deveria meditar e refletir sobre a sua própria morte, porque é diante do seu limiar que poderemos ter um vislumbre claro e inequívoco daquilo que iremos reverberar pela eternidade.
Por isso, quando estamos próximos da Paixão de Cristo, temos uma ocasião propícia para refletirmos sobre a nossa vida; reflexão essa que deve ser feita à luz da imagem de Nosso Senhor crucificado; meditação essa que deve partir das dores vilmente impingidas a Jesus Cristo, diante dos agônicos olhos de sua Santíssima Mãe.
Ao fazermos isso, ao nos colocarmos em nosso devido lugar diante do Infinito e frente ao Eterno, quem sabe, enfim, aprendamos que não são os nossos caprichos que devem ocupar o centro da nossa vida.
* O autor, Dartagnan Silva Zanela, é professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.