Percival Puggina

21/10/2024

 

Percival Puggina

          Mencionei em artigo anterior que meus colegas de esquerda nos anos 60 eram leitores ávidos de autores como Michel Foucault, Herbert Marcuse e Theodor Adorno. A iletrada juventude de esquerda radical, hoje militante no ambiente acadêmico, político e jurídico brasileiro, está chegando onde meus colegas agora octogenários haviam chegado em suas leituras dos anos 60. Como nada leram, surgem com esse enorme atraso querendo “empurrar a História” para o lado errado e fora de hora.

Em condições normais, o intelecto humano funciona movido pela curiosidade, com o objetivo de saber; funciona para resolver algo, espantar uma dúvida ou corrigir um erro. As perguntas que faço aos herdeiros de ideias antigas e sabidamente funestas: como vocês fazem para não saber o que aconteceu de lá para cá? Que espécie de conhecimento é esse, no qual as ideias se desconectam de suas aplicações ao mundo dos fatos e, portanto, da História?

Três anos antes do Maio de 1968 (rebelião iniciada pelos estudantes franceses na Universidade de Paris), o filósofo Herbert Marcuse escreveu um pequeno ensaio com o título “Tolerância Repressiva” (aqui). Em resumo, ele sustenta que a tolerância, como objetivo, exige intolerância. Diz assim o pensador alemão:

“Essa tolerância indiscriminada é justificada em debates inofensivos, em conversas, em discussões acadêmicas; é indispensável na empresa científica, na religião privada. Mas a sociedade não pode ser indiscriminatória onde a pacificação da existência, onde a sua liberdade e felicidade estão em jogo: aqui, certas coisas não podem ser ditas, certas ideias não podem ser expressas, certas orientações políticas não podem ser sugeridas, certos comportamentos não podem ser permitidos sem fazer da tolerância um instrumento para a manutenção da submissão abjeta”.

Um pouco adiante, Marcuse afirma: “Mais ainda, em intermináveis debates nos meios de comunicação, a opinião estúpida é tratada com o mesmo respeito que a inteligente, o mal informado pode falar tanto quanto o desinformado, a propaganda cavalga a par da educação, e a verdade, a par da falsidade”.

Na perspectiva de Marcuse, era indispensável à sociedade reprimir as ideias do sistema que ele considerava opressivo e favorecer as “progressistas”, que seriam efetiva e finalmente libertadoras... A leitura desse seu ensaio sobre a tolerância repressiva se revela útil para entender o processo em curso em nosso país, quando se observa a repressão às ideias conservadoras e os crescentes privilégios concedidos ao pensamento revolucionário e a seus protagonistas.

Vem daí, por exemplo, o empenho em controlar e o efetivo controle das redes sociais onde se fez óbvia a hegemonia dos conservadores. Vem daí o “politicamente correto” e o domínio da linguagem, como se observa na imposição da ideologia de gênero e na recentíssima adoção de “parturiente” em substituição a palavra “mãe”. Vem daí a recepção de calouros numa universidade por veteranos nus sendo acolhida como performance adequada; e vem daí, em viés oposto, a ação do MPPE contra alunos, de outra instituição, que rezam no intervalo entre aulas. Vem daí a construção acadêmica de narrativas para desconectar as ideias políticas do estrago que produziram na História. Vem daí o combate às escolas cívico-militares, a acepção de princípios e valores morais do pensamento conservador como discursos de ódio e a adoção generalizada das políticas de cancelamento de toda divergência e de todo divergente do pensamento esquerdista. Vem daí Lula presidente da República.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

15/10/2024

Percival Puggina

      

       Temos razões mais do que suficientes para entender o contrário quando os porta-vozes do lulopetismo dizem que seus péssimos resultados nas eleições municipais nada têm a ver com o pleito nacional de 2026. O grupo político que governa o país de modo cada vez menos compreensível nunca diz o que pensa. Sempre que se manifesta, conta uma narrativa montada em laboratório. Quando seus líderes afirmam: “Esses números de agora nada representam para 2026”, estão, na verdade, contando contos para burros tontos.

Mesmo com a força das redes sociais drasticamente reduzida pelas canetas do poder e pelo esquerdismo voluntário das plataformas, a maior força política brasileira não é a direita, mas o antipetismo onde esta se inclui. É ele, o antipetismo, que agrega a direita e boa parte do centro do arco ideológico. O centro a que me refiro não é o Centrão, esse grupo de siglas ocas e balofas que envergonham a simples ideia sobre o que seja partido político. Verdadeiras colchas de retalhos, parecem caleidoscópios sensíveis aos interesses de cada dia. São uma conversa contínua e nada meritória entre meios e fins. Corrijo-me: sobre meios sem fim. Quem vive de emendas não se emenda, nem se recomenda.

Quando falo do centro do arco ideológico, penso principalmente nos cidadãos que sabem o que não querem (a esquerda, seus métodos e objetivos), mas não receberam informação suficiente e fundamentada sobre os meios para livrar o Brasil de seus males atuais. Por isso, dediquei um quarto de século de minha atividade partidária aqui no Rio Grande do Sul à formação de lideranças jovens que hoje exercem papel relevante na vida municipal, estadual e nacional. Partido que não faça isso é cartório, clube, lojinha. Tudo, menos partido político. Fora da vida partidária desde 2013, continuo a cuidar disso sempre que sento para escrever.

O antipetismo está em posição amplamente favorável para 2026 porque os dois primeiros anos do lulismo foram abundantes para reforçar sua rejeição pelos eleitores que, como admitiu Lula penitente – “ganham mais de dois salários mínimos e não querem mais votar na gente”. Até hoje, foi amplo o mostruário dos defeitos.

De um lado: incapacidade administrativa, uso sistemático dos recursos dos cidadãos para comprar apoio parlamentar, arcabouço fiscal perdulário para gastar dinheiro que não existe, perda de poder aquisitivo dos salários, aparelhamento da administração pública.

De outro, a máquina petista apoia e celebra a complacência do Congresso perante os já longos anos de sujeição da sociedade à crescente juristocracia e à perda de direitos fundamentais, censura, prisões políticas e exílio.

De outro ainda, foram anos de nanismo à dimensão internacional do Brasil, com persistentes apoios ao terrorismo, ditaduras, antissemitismo e à escória da política mundial.

Chavões e xingamentos, incongruências e narrativas, políticas de cancelamento da divergência e autolouvações já não resolvem o problema da esquerda.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

13/10/2024

 

Percival Puggina

 

         Com a realização neste fim de semana, em Roma, do Fórum Esfera Internacional, a pergunta acima frequentou os meios de comunicação e as redes sociais. Uma fatia robusta do bolo do poder nacional viajou a Roma para se encontrar com contrapartes italianos do setor público e privado. Não seria menos oneroso ao Brasil realizar alguns desses eventos internacionais aqui?

A ideia de reter os alegres viajantes brasileiros no Brasil e trazer os italianos para cá ativou-me a lembrança de uma crônica do admirável autor português, Eça de Queiroz (*). Por isso e graças a ele, escrevo estas linhas entre boas gargalhadas e reflexões sérias sobre nosso país. Eça publicou a coluna em questão em outubro de 1871 e aborda o interesse da “companhia dos caminhos de ferro” em trazer turistas espanhóis por ferrovia para Lisboa. Apesar de reconhecer as intenções “amáveis e civilizadoras” da referida companhia, ele rejeita enfaticamente a iniciativa, alegando – vejam bem! – não estarem os portugueses “em estado de receber visitas”. A torrente de ironias que dispara torna impossível conter o riso.

Impossível, também, malgrado meu pouco talento, não traçar analogias e alinhar motivos para recusar a sugestão de trazer lideranças estrangeiras a se recrear em nossas misérias jurídicas, sociais, políticas e econômicas. Que teríamos a ganhar mostrando-lhes a realidade nacional, os inquéritos finis mundi, a pequena liberdade que nos resta, o dilapidado arcabouço fiscal, nossos presos políticos, o pouco proveito do voto popular como fonte da representação e servir-lhes o sabor azedo das esperanças murchas transformadas em bagaço seco e inútil? Ouçam, pois, os ufanistas do poder nacional e não nos humilhem pondo os olhos na verdade e na realidade.

Na antiga União Soviética, ao tempo da “Cortina de Ferro”, os eventuais visitantes eram sempre acompanhados de seguranças. Eles não funcionavam para garantir o bem estar dos estrangeiros, mas para impedir seu contato com os infelizes cidadãos locais. Era preciso manter a lenda do comunismo bem sucedido. Era para o bem estar da imagem. Conversar com o porteiro do hotel valia por uma conspiração contra o regime.

Que segurança jurídica temos para mostrar na vida real, com o mau odor dos fatos, aos juristas italianos? Que democracia exibiremos onde não mais que um punhado de bravos preserva os ouvidos e as vozes da representação política? Que afirmação sobre estabilidade fiscal se manteria de pé ante os visitantes se os números da dívida pública crescente pudessem ser expostos a um contraditório? Que segurança pessoal e pública pode proporcionar um país onde se alastra o mau hábito de matar turistas para roubá-los?

“O país está atrasado, embrutecido, remendado, sujo, insípido e não pode, em sua honra, consentir que espanhóis o venham ver”.  “O país precisa fechar-se por dentro e correr as cortinas”, impiedoso, prossegue o juízo de Eça de Queiroz, enquanto se forma sofrido nó na garganta de seu leitor brasileiro, século e meio depois.

(*)         Publicado no primeiro volume de “Uma campanha alegre”, sob o número XL, Ed. Brasiliense, 1961.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

07/10/2024

 

Percival Puggina

 

         Poderia falar numa “vitória da direita” na eleição de ontem.  De fato, se compararmos o desempenho pífio do PT com o do PL, dois polos do confronto ideológico nacional, os resultados do PL foram muito superiores e se destacam, mesmo num contexto em que quase 30 partidos disputaram os votos municipais do país. No entanto, quem deve estar comemorando vitória com a voz das urnas são os partidos do Centrão.

É bom lembrar. Nas duas décadas subsequentes à Constituinte de 1988 o PMDB foi governo ininterruptamente, mas adotou um modo peculiar de ser – integrava o governo, saboreava os cargos e descartava os encargos quando incômodos. Abastecia-se nas emendas e atendia sua clientela.

A receita deu tão certo que novos partidos foram se juntando ao bloco que passou a responder pela maioria no plenário do Congresso Nacional. Partidos que compuseram durante bom tempo a base conservadora e liberal do país, como o extinto DEM (hoje União Brasil) e o PP (Progressistas), entraram de “mala e cuia”, no dizer gaúcho, para o clube das boas oportunidades e mandaram a ideologia às favas. Novos partidos surgiram e fizeram o mesmo. O PSD é um exemplo típico. Sem constrangimento algum, seu presidente, Gilberto Kassab, ao criá-lo, prometeu: “Não será de direita, nem de esquerda, nem de centro”.

Descaracterizados, os partidos chutaram seus programas e não promovem o menor esforço, seja em divulgá-los, seja em torná-los efetivos no exercício do poder de cujas sobras se nutrem. Sua atuação, dentro do Congresso, permite que vicejem e se tornem decisivos líderes como os atuais presidentes das duas Casas legislativas. Os fins explicam os meios.

Contados os votos de ontem, mediu-se o sucesso dessa mediocridade. A lista dos quatro partidos que elegeram maior número de prefeitos não inclui o partido do governo (PT), que é o 9º da lista, nem o que lidera a oposição, que é o 5º da lista. Os que beberam mais espumante, ontem à noite, foram PSD, MDB, PP e União Brasil. Também foram esses quatro partidos que elegeram maior número de vereadores, com inversão de ordem entre MDB e PSD. O PL é o quinto e o PT ficou em 11º lugar.

O sinal está vermelho piscante para o PT. Especialmente em virtude do que se tem, numa primeira análise ao menos, como maus resultados para a sigla de Lula nas regiões Norte e Nordeste do país. Gostaria de ter visto um sinal verde mais luminoso, realmente comprometido com liberais e conservadores no rumo do pleito de 2026.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

03/10/2024

 

Percival Puggina

 

         Homens ou ratos? Penso que essa pergunta deve estar na mente de cada eleitor no próximo dia 6 de outubro, quando devemos decidir se iremos comparecer à nossa seção de votação e em quem iremos votar quando lá formos. Pouco importa se estamos numa casinha de sapé no interior do sertão baiano ou no alto de um luxuoso edifício nos Jardins Paulistas. Ali onde estamos é um município e o chão que pisamos é solo brasileiro, sede da nossa cidadania.

Sendo cidadãos, nosso voto, mesmo na condição de munícipes, não pode desconhecer que somos afetados pelos acontecimentos nacionais numa condição inevitável e permanente. Por isso, nossas opções eleitorais para administrar o município e para compor a câmara de vereadores devem levar em conta, também, a situação nacional. São esses mesmos eleitores, sujeitos às mesmas condições, que irão, dentro de dois anos, formular suas escolhas para as eleições nacionais e estaduais. Uma eleição orienta a outra.

Prefeitos e vereadores se tornam líderes naturais de suas comunidades. Um bom líder conduz a tomada de boas decisões. Ele não se omite no enfrentamento do mal e do erro. Ele não só conhece a realidade do município como está sempre pronto para dialogar sobre as soluções. E enfatizo de modo especial: o bom vereador acompanha a realidade nacional perante a qual tampouco se omite pois sabe o quanto o bem de todos estará em jogo na eleição de 2026.

Um dos grandes problemas nacionais é a falta de líderes! E pronuncio essa palavra, enquanto escrevo, destacando o plural. Não estou falando de que nos falta um líder que venha a galope em seu cavalo branco resgatar a débil nação do domínio de algum reizinho malvado. O que nos falta são líderes, muitos líderes, milhares deles, para formar opinião em suas comunidades sobre as questões locais e nacionais, de um modo continuado e competente.

Isso significa ampliar o leque de nossas escolhas. O cidadão brasileiro, por ruptura da representatividade inerente ao regime democrático, tornou-se sujeito passivo de decisões que o contrariam. Somos ratos de laboratório submetidos a restrições de direitos enquanto nossas liberdades se esvaem. Fora dos bastidores, dos acordos e “arreglos” há um punhado de bons congressistas a quem, muito provavelmente, saudamos com a expressão “Esse me representa!”, mas é um grupo minoritário.

Vote em líderes! A nação está polarizada e tem eleição no dia 6. Líderes com mandato e representatividade obtida nas urnas precisam estar preparados para cumprir o urgente e indispensável papel de formadores de opinião no debate local, com os olhos postos no pleito de 2026. Isso significa ter opinião formada sobre liberdade, democracia, estado de direito, valores morais, família, direito à vida desde a concepção, amor à pátria, direito de propriedade, sistema de votação, voto distrital, educação sem doutrinação e que viabilize o desenvolvimento das potencialidades dos estudantes.

Pode o leitor ter certeza de que a extrema esquerda que nos governa escolhe os seus com uma plataforma oposta a essa e os instrui de modo permanente, durante o mandato, sobre os temas nacionais.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

28/09/2024

 

Percival Puggina

 

          “Bets” é o novo nome do jogo.  Todos sabem que o jogo só enriquece a empresa que o promove. A casa sempre ganha e o apostador, primeiro perde; depois, na tentativa infrutífera de recuperar o que perdeu, se endivida. Mesmo assim, continua jogando porque, em pouco tempo, o corpo do jogador passa a exigir doses crescentes daqueles hormônios que valem mais do que o dinheiro perdido.

Escandalizou-se o governo ao saber que, aos bilhões, a grana do Bolsa Família estava indo para as bets. Aborreceram-se bem menos os meios de comunicação que recebiam afetuosamente o dinheiro dos anúncios. Espantaram-se os defensores da liberdade sem freios. Alarmaram-se os empreendedores, os produtores de bens e serviços que sentiram a queda da demanda por redução de recursos antes disponíveis à subsistência das pessoas.

Quem poderia antever algo tão inusitado quanto seres humanos presumivelmente racionais abrindo mão do alimento pelos prazeres de um vício, não é mesmo? Até parece que nunca viram um dependente químico vender a comida da geladeira e a geladeira para adquirir a dose urgente de uma droga qualquer. Onde foi parar a liberdade? A utopia, sabe-se, é outra droga!

Males existem e evitá-los é conduta sábia. Com muitos, somos obrigados a aprender a conviver porque se arraigaram no ambiente social. Burrice é buscar males que não temos, abrir-lhes as portas, dar-lhes espaços publicitários, entremeá-los com atividades esportivas e esperar que o estrago causado não seja percebido. 

O jogo de azar é uma atividade econômica predatória. Drena os recursos que a sociedade produz e que, em mãos prudentes, seriam orientados para seu consumo e bem estar.  E o que entrega o jogo aos imprudentes? Emoções enfermiças, desarranjos psicológicos, frustração e miséria.

Nem a vida é um modo de jogar, nem o jogo é um modo de viver. Disse alguém: "Apresenta-me um jogador e eu te apresentarei um perdedor”.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

25/09/2024

 

Percival Puggina

 

         Nos últimos anos, parcela expressiva da sociedade brasileira tem atribuído o ativismo e o transbordamento dos poderes do STF e do TSE a uma obstinada e caprichosa omissão do Senado Federal. É sabido que a Constituição estabelece o controle recíproco dos dois poderes (Senado e STF) – um de olho no outro. Só o Senado tem legitimidade constitucional para agir contra excessos do Supremo. Parcela expressiva da opinião pública e muitos senadores experientes entendem que essa reciprocidade tem efeito oposto ao desejado pelos constituintes. Como os senadores preferem não contrariar os ministros que têm o poder de julgá-los, e vice-versa, o mecanismo de “freios e contrapesos” previsto na Constituição perde eficácia.

Há 200 anos, o poder legislativo brasileiro é bicameral, modelo frequente entre países extensos e/ou muito populosos. No Brasil, a Câmara dos Deputados representa o povo em sua diversidade e o Senado representa os estados. Vi muito projeto bom deixar de ser aprovado por divergência entre Senado e Câmara. E vi muito projeto inconveniente morrer na praia de uma das Casas por discordância com a outra. A simplificação do sistema, com adoção do legislativo unicameral, seria uma das ideias mais inviáveis que alguém poderia apresentar. Afinal, nenhum político ou partido teria interesse em cerrar as portas do ambicionado paraíso senatorial, com suas regalias usufruídas em confortáveis mandatos de oito anos.

Se observarmos como se distribuem regionalmente as cadeiras do Senado, veremos que:

Região Sul                     3 estados                       09 senadores

Região Sudeste              4 estados                       12 senadores

Região Centro-Oeste      3 estados                       09 senadores

+ D.  Federal                                                         03 senadores

Região Nordeste            9 estados                       27 senadores

Região Norte                 7 estados                       21 senadores

Isso significa que um terço dos 81 senadores são eleitos no Nordeste e que mais da metade dos membros daquela Casa (59%) procedem do Norte e do Nordeste do país, apesar de essas duas regiões representarem apenas 32% da população nacional. Inevitavelmente, o perfil político do Senado será bem diferente do perfil da Câmara dos Deputados.

Como fazer gol nessa defesa? Como superar essa hegemonia, ampliada pela convergência de interesses e autoproteção? Não será fácil reverter o cenário atual. Os partidos políticos que enfrentam a máquina de extrema esquerda operada nos últimos anos pelos donos do poder precisam compreender a importância de levar o enfrentamento político ao Norte e ao Nordeste do país. É preciso quebrar, na persuasão e no voto, uma hegemonia que tem servido para explicar muito do que acontece no país.

O saneamento político do Brasil não se faz sem Educação e jamais a teremos enquanto for utensílio de um grupo cujo principal líder declarou ter pleno conhecimento de que perde poder e influência na medida em que os cidadãos prosperam (aqui).

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

19/09/2024

 

Percival Puggina

        

        Já não falo nas liberdades perdidas nem na privacidade entregue à rabugice de uns e à sabujice de outros. Já não falo das leis construídas longe da representatividade dos parlamentos nem dos parlamentos flácidos de uma sociedade exangue. Falo de uma nação que, consciente da falta de alternativas, parece aceitar seu destino, capturada por uma rede como lambari de córrego. Já não se comove nem move. E como já sequer lembra o que foi, sequer sabe o que é.

Comecei este texto assim, falando do que me vai na alma, para chegar à falta de representatividade que asfixiou a democracia brasileira, cujas “décadas de estabilidade” contadas da Constituinte de 1989 são festejadas pelos senhores que manejam a rede.   

A “democracia brasileira” é uma democracia de palanques e encenações com convidados, coquetéis e jantares, privilégios, sortilégios e sacrilégios. Tem mais partidos do que ideias, mais cargos do que funções. É sem povo porque o povo está na avenida e a avenida está tarrafeada. No Brasil desta década triste, o povo não tem querer e fala a ouvidos surdos. É a democracia da amnésia, do olvido – o eleitor esquece em quem votou e o eleito esquece os deveres que tem e quem o elegeu. Mandato tornou-se patrimônio político amplamente conversível em patrimônio material. O sistema de votação exige um ato de fé em quem suscita mais temor que confiança. De onde vier um sopro de esperança, ali aparece a rede.

Capturado, o eleitor olha súplice para o Congresso Nacional. Ali, pouco mais de uma centena de bravos encara com coragem as malhas que a tudo envolvem. A situação é curiosa pois o governo e a oposição são minoritários.  O centrão faz a maioria para onde soam as moedas. Cada caso tem sua cotação e a nação paga por acordos que não resgatam sua liberdade.

Agora mesmo, a presidência da Câmara dos Deputados, onde quem sentar preservará o poder de decidir sobre o que será votado e o que será engavetado, tem três candidatos viáveis – dois baianos e um paraibano. Você entendeu, não? Nenhum candidato do sudeste, do centro-oeste ou do sul terá votos necessários para substituir o alagoano Arthur Lira. Esta é outra face da hegemonia.  

No Senado, será diferente? Muito improvável. Rodrigo Pacheco, ao reassumir em 2023, disse, a quem quisesse ouvir: “Um Senado que se subjuga é um Senado covarde. Não permitiremos. Nós devemos cumprir nosso papel de solucionar problemas através da nossa capacidade e dever de legislar.” Foi o que não se viu. Agora, dentro de poucos meses, salvo surpresa, Pacheco devolverá a Davi Alcolumbre, senador pelo Amapá, a cadeira e as gavetas que dele recebeu em 2021.

Rogo aos céus que em 6 de outubro o eleitor tenha em mente a situação nacional ao atribuir poder político a 5.570 prefeitos e a 60.300 vereadores. E que os eleitos cumpram seu papel como líderes de suas comunidades amantes da Liberdade, da Democracia e do bom Estado de Direito.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

16/09/2024

 

Percival Puggina

 

         Com frequência me perguntam o que se pode fazer para dar um jeito no Brasil antes da vaca ir para o brejo. Alegam, com razão, que o tempo é curto e o bicho parece ter pressa.

O fato é que não existe solução vapt-vupt. Aliás, existe, sim, mas muitos daqueles que a podem adotar no Congresso Nacional têm estranhas motivações para não o fazer. Nos parlamentos, não deliberar é uma deliberação. 

Independentemente dessas condicionantes, impostas pelo lado esquerdo do estado de direito que cuida de si e dos seus, há algo que podemos fazer já agora, durante as próximas três semanas. Se tal passo não for dado nestes dias, se ficarmos parados sobre o pé canhoto, o passo consecutivo, com o pé direito, só poderá ser dado daqui a quatro anos.

Explico. Dentro de três semanas, no dia 6 de outubro, o Brasil elege 5.570 prefeitos e 60.300 vereadores. A escolha dos prefeitos se faz por eleição majoritária (vence o mais votado) dentro de um número pequeno de opções. Nesse caso, o primeiro filtro é o do caráter, da honradez; o segundo nos leva a votar em quem for mais capaz de derrotar o lulopetismo, o candidato do sistema de poder instalado no país. Ponto. Obviedades dispensam explicações: uma administração municipal nas mãos da esquerda é um aparelho a serviço dos adversários da nossa liberdade.

É principalmente sobre a escolha dos vereadores que desejo falar. Essa é uma eleição proporcional. Um quarto de século de intensa vida partidária até o ano de 2013, me ensinou que as comunidades não atribuem o devido valor a tão importantes mandatos num país que precisa desesperadamente de lideranças (ditas assim, no plural). Em eleições municipais, a nação tem deixado à margem líderes de verdade, líderes positivos, capazes de propagar as boas ideias e combater as más, cumprindo uma função pedagógica em suas comunidades.

Perdoem-me os tipos populares, com visão apenas local. Isso é o mínimo obrigatório, mas fica muito aquém do que a cidadania exige nesta hora: líderes formadores de opinião.

Assim como todo cidadão vive num município, todo munícipe é um cidadão brasileiro e sofre as consequências da marcha da vaca rumo ao brejo.   

Todo cidadão se angustia com a liberdade que perde e com a injustiça que testemunha. Todo cidadão percebe o direito de opinião lhe ser suprimido, a informação lhe ser negada, os recursos lhe serem tomados, o direito à propriedade sendo ameaçado, a justiça se afastando da virtude, o poder cada vez mais se concentrando em Brasília. Todo cidadão sabe o quanto a educação padrão Paulo Freire vulnerabiliza a nação. E por aí vai a vaca.

Qual a opinião do candidato em quem você pretende votar sobre o que está acontecendo ao Brasil no lulopetismo? Seu candidato assina, entre outras fontes, a Gazeta do Povo? A Revista Oeste? É membro do Brasil Paralelo? Assiste o programa Oeste sem Filtro? A Rádio + Brasil? Ou se “informa” pela Globo e suas subsidiárias?

Aproveitemos a oportunidade de uma eleição local, onde as pessoas se conhecem, para proporcionar espaço, mandato e projeção a líderes autênticos, formadores de opinião, que percebam o andar da vaca e ajudem a sustar sua marcha para o brejo.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.