• Fernanda Barth
  • 02 Junho 2016

 

(Publicado originalmente em fernandabarth.com.br)

Elite contra pobres? Foi esta esquerda que está aí que fez aliança com as elites mais ultrapassadas do país, aquelas que remontam a Raimundo Faoro…banqueiros, empreiteiros, grandes latifundiários. Nenhum deles capitalista. Eles são patrimonialistas, clientelistas. Nenhum deles adepto ao livre mercado. Gostam de mesadas, financiamentos, benesses de governo. Não querem competir de igual para igual. É com esta gente, que perpetua a miséria para se manter no poder, que os novos coronéis, agora coronelismo político, dominam o país.

Brancos contra negros, homens contra mulheres, trabalhadores contra empregados? Esta esquerda que está aí, com este discurso ultrapassado, jogou muita gente para a direita. E aqui eu estou e não tenho vergonha. Direita em oposição à esquerda. Dentro do mundo dual e maniqueísta que só serve a eles, onde cada um de nós deve ser enquadrado em um rótulo ou molde. Fora dos moldes eles não compreendem a realidade. Defendem o arco-iris mas só enxergam em preto e branco. Contra isto eu me rebelo 100%. Enquanto perdemos tempo falando de bobagens, sobre se a mulher negra pode ou não ser de direita (claro que ela pode), quando as pessoas deveriam ter total liberdade de se manifestar da forma que quiserem, independente de cor, classe ou sexo, sem serem hostilizadas por não se enquadrarem no estereótipo que a esquerda lhes preparou (molde), eles vão construindo suas esferas de poder e manipulando os pobres para que acreditem que eles se importam.

Estou te propondo um olhar acima disto. Olhe para o indivíduos. Se eu prego o respeito a todos, eu não preciso de um respeito especifico para negros ou mulheres. Eu quero para todos. Eu quero educação de qualidade particular em todas as escolas públicas. Esta é a verdadeira igualdade de oportunidades. Nesta caso as cotas seriam irrelevantes. Mesmo porque hoje elas prejudicam o branco pobre.

Equidade? Eu sou pós-feminista. Sei que sou tão capaz quanto os homens de qualquer coisa. Os respeito como meus iguais. Não quero aposentadoria especial e nem qualquer outra coisa. Me fiz sozinha, sem pai rico ou ajuda de ninguém. Me sustento e sustento meu filho. Sou uma mulher livre e empoderada da minha vida. Ninguém me oprime e eu jamais o permitiria. A lógica da vítima não me caberia jamais. A maioria das mulheres que eu conheço, de várias classes sociais, pensa como eu.

Tenha seus direitos preservados – direito a tua segurança, direito a tua vida, direito a tua liberdade. Direito de ter uma escola de qualidade para sair nivelado com todos na busca por oportunidades. O Estado não deve dizer a ninguém como pensar ou agir. Nenhuma ideologia deve. Mas precisamos de respeito a cada um, sem ficarmos nos perdendo em debates de movimentos específicos, nos dividindo enquanto eles, que detém o poder, fazem o que querem. Para eles sempre será bom uma sociedade dividida, que gaste sua energia e foco em pautas pré-agendadas.

É preciso perceber que esta luta de classes tão apregoada pelas esquerdas é fogo fátuo, manobra diversionista, item número um na construção de um discurso manipulador. Isca para frustrados e incompetentes. Remonta a época da Revolução Industrial. Hoje estamos em plena Revolução Tecnológica. Estas teorias estão ultrapassadas, descontextualizadas. Falar em capitalismo opressor é uma grande mentira, pois só o capitalismo defende a liberdade e proporciona oportunidades. O capitalismo com mercado livre, com o verdadeiro liberalismo econômico, é que permite aos indivíduos buscarem sua felicidade. Só ele gera oportunidades, gera emprego e renda, produz riqueza, conhecimento e inovação. Somos nós, indivíduos, que movemos o mundo e não os governos, nunca os partidos, nunca as ideologias políticas. Vivemos um novo paradigma, um mundo globalizado onde o valor do que produzimos – seja bem, cultura ou serviço – é determinado pela utilidade e pela relevância. Vivemos tempos de economia compartilhada, de autogestão, de inovação e criatividade. Vivemos a nova economia onde um garoto em casa cria um aplicativo e pode ficar rico do dia para noite.

Deveríamos estar falando de defender a República contra o Populismo no Brasil. Este populismo clientelista e patrimonialista. Isto não é capitalismo. Nunca foi. O debate deveria ser em torno de políticas de resultado, com foco nas prioridades da população, transparência total no uso de recursos, respeito aos indivíduos, menos intervenção do Estado, menos impostos para desperdiçar e desviar. Infelizmente o liberalismo nunca existiu no Brasil, é uma grande mentira dizer que sim. Nunca tivemos um governo nem perto de ser liberal. Ninguém respeita mais os direitos individuais do que os liberais. Se tivéssemos a chance de ter um governo liberal, com o verdadeiro capitalismo de livre mercado, teríamos desenvolvimento sustentável, crescimento saudável, empregos, renda.

 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 31 Maio 2016

(Pontocritico.com)


DESEMPENHO ECONÔMICO E SOCIAL
Nas medições de desempenhos econômicos e sociais dos mais diversos países do nosso planeta, o nosso pobre país, desde o momento em que passou a ser governado (???) pelo PT, tudo aquilo que já não era bom passou a ficar pior, na comparação com os demais países analisados.

ESCANCARADO
Em alguns deles, que julgo mais importantes, a queda só não foi maior porque os concorrentes, pela forma e/ou sistemas de governo, são de baixíssimo nível. Mesmo assim, o que ficou bem escancarado é a grande disputa entre Brasil e Venezuela, para ver qual desses dois países ficaria na pior classificação.

PIOR POSIÇÃO DA SÉRIE
Vejam, por exemplo, que no ranking que avalia a COMPETITIVIDADE de 140 países, divulgado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, através do Relatório Global de Competitividade 2015-2016, o Brasil caiu 18 posições. Atingimos, portanto, para desespero dos -OTIMISTAS- a -PIOR POSIÇÃO DA SÉRIE HISTÓRICA-.

PONTOS PRINCIPAIS
Nesta última medição, sem qualquer surpresa, os pontos que mais contribuíram para a piora do nosso país são:
- CONFIANÇA NAS INSTITUIÇÕES;
- BALANÇO NAS CONTAS PÚBLICAS; e
- CAPACIDADE DE INOVAR E EDUCAR. Que tal?
Com isto ficamos abaixo não só de países emergentes, como México, Índia, África do Sul e Rússia, como também de economias menores, como é o caso do Uruguai, Peru, Vietnã e Hungria. Triste, não?

SEIS ANOS DE GOVERNO DILMA
Como bem informa Carlos Arruda, professor de Inovação e Competitividade da Fundação Dom Cabral, em 2010, Brasil estava na 38ª posição. Este ano, o Brasil está na 57ª. Ou seja, nos últimos SEIS ANOS DE GOVERNO DILMA só contabilizamos perdas. Pode?
Enquanto a Grécia consegue ser melhor do que o Brasil, quem vem atrás é a Croácia, Ucrânia, Mongólia e Venezuela.

GOLPE PETISTA
Pelo péssimo desempenho do Brasil nesses últimos anos vê-se, com absoluta clareza, que em termos de competitividade o Brasil sofreu um duro e premeditado GOLPE PETISTA. Esta não é uma conclusão exclusivamente minha.
Analistas de vários países entendem que o fato de cair tantas posições em tão pouco tempo não é culpa do acaso e muito menos da sempre comentada crise mundial. Até porque todos os países do mundo foram afetados pela crise econômica.

TAÇA - FORO DE SÃO PAULO -
Cada dia que passa mais me convenço de que o PT, desde que chegou ao Poder, tratou de medir forças, de fato, com a Venezuela. Ambos entraram na disputa, com total ardor e vontade, em busca da TAÇA -FORO DE SÃO PAULO-. O vencedor, pelo REGULAMENTO do FSP, deve ser aquele que quebra primeiro, levando para o túmulo a desgraça dos povos latinos que integram a ORGANIZAÇÃO COMUNISTA. Este, caros leitores, é o grande legado dos governos Lula/Dilma- PETISTAS.

 

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  • Gustavo Franco
  • 31 Maio 2016


(Publicado originalmente no Estadão)

Fez muito bem o Ministro da Fazenda, na verdade o presidente Michel Temer, em propor ao Congresso a alteração da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de modo a refletir as cores exatas do cenário econômico e fiscal que recebeu de Dilma Rousseff. É importante ter claro o legado da presidente afastada, inclusive para se acrescentar elementos aos julgamentos no Senado e diante da História.

O superlativo número de R$ 170 bilhões para o déficit primário no exercício de 2016, conforme aprovado na semana que passou, foi chocante e surpreendente para muitos. Mas é só um pedaço da história, e pequeno.

Note-se, para começar, que este número não é bem uma meta, mas uma estimativa realista do que ocorrerá uma vez mantidas as coisas como estão. É certo que as autoridades têm o dever de buscar um número bem menor, mas é importante estabelecer com clareza o ponto de partida, e também que há muita coisa que não entra nessa conta.

Vale lembrar que durante os dez anos anteriores a 2008 o resultado primário médio foi um superávit maior que 3% do PIB. Esta lembrança é importante para afastar a ideia que a Constituição de 1988 teria sido culpada da deterioração fiscal recente. E também para que se tenha muito claro que foi Dilma Rousseff quem transformou um resultado positivo médio da ordem de R$ 190 bilhões (3% do PIB de 2016) em um negativo de R$ 170 bilhões.

A deterioração fiscal comandada por Dilma Rousseff foi, portanto, de R$ 360 bilhões, sendo este o tamanho do esforço fiscal que teria de ser feito hoje para colocar o país de volta na situação onde estava no período 1998-2007, quando houve crescimento, austeridade (ao menos quando medida por superávits primários) e melhoria na distribuição de renda.

São R$ 360 bilhões morro acima, só para arrumar o resultado primário. Se colocarmos na conta os juros, os números se tornam ainda mais perturbadores.

No ano de 2015, o Brasil foi o país cujo Tesouro Nacional mais pagou juros no mundo: 8,5% do PIB, contra 4,62% na Índia, 4,11% em Portugal, 4,02% na Itália e 3,61% na Grécia.

Em moeda corrente, estamos falando de R$ 502 bilhões em juros em 2015, quando o déficit primário (o resultado sem contar juros) foi de 1,88% do PIB, equivalente a R$ 111 bilhões. Assim, neste ano, o déficit total do setor público foi de 10,38% do PIB ou de R$ 613 bilhões.
A mesma lei que recém alterou a LDO estimou o déficit nominal para 2016 em 8,96% do PIB, ou seja, R$ 579 bilhões, dentro dos quais estão os R$ 170 bilhões de que falamos logo acima. Estima-se que a conta de juros neste ano fique parecida com a do ano passado. A ver.

Tudo considerado, com este déficit nominal, a projeção para a dívida pública bruta ao final de 2016 é de 73,4% do PIB, uma alucinação. E não pense que foi só isso.

Mesmo com o Tesouro entrando fortemente no vermelho, o governo resolveu fazer outros gastos fora do orçamento, e que não entram nas contas acima. Para tanto, transferiu cerca de R$ 500 bilhões para o BNDES em títulos, em várias operações. Como se a sua empresa estivesse dando prejuízo e você resolvesse se endividar para emprestar um valor correspondente a metade do seu faturamento a uma subsidiária.

Nesta semana que passou, um pedaço desse dinheiro foi devolvido, vamos ver quanto vai custar para regularizar essa operação.
Além disso, temos também as operações "anticíclicas" da Caixa e do Banco do Brasil, ordenadas explicitamente pelo governo. A quem pertencerá o prejuízo decorrente dessas atuações? Que tamanho tem essa conta? E as operações feitas com o dinheiro do FGTS?
Não seria bom ter um corte e uma análise circunstanciada do estado dessas instituições nesse momento de transição e reflexão?

E as necessidades de capitalização da Petrobras decorrentes da devastação a que foi submetida em consequência das insanidades heterodoxo-nacionalistas adotadas pelo governo afastado, e pela pilhagem engendrada pela quadrilha que ali se instalou?
A dívida de Petrobras cresceu a tal ponto que o fluxo de caixa descontado da empresa para o horizonte relevante de avaliação está zerado, ou pior, a depender do preço do petróleo nos próximos anos. Basta olhar os relatórios de analistas externos da empresa, todos acordes nesse terrível diagnóstico.

Isso mesmo, você não entendeu mal, a empresa está tecnicamente quebrada, funcionando da mão para a boca, um dia de cada vez, terrivelmente necessitada de um aumento de capital, ou da venda de ativos, de cortes dramáticos e providências difíceis. Uma empresa deste tamanho, ainda mais estatal, não pode entrar em recuperação judicial, não sem provocar um problema sistêmico.

Mas, antes de pensar no conserto, que se registre a façanha: poucos anos depois do apogeu representado pela descoberta do pré-sal e do aumento de capital em Nova York em 2010, quando a companhia captou US$ 70 bilhões na maior operação da espécie jamais registrada neste planeta, Dilma Rousseff conseguiu colocar a Petrobras a meio centímetro da recuperação judicial. Que portento em matéria de incompetência administrativa, imprevidência estratégica e desonestidade mesmo, esta última, inclusive, reconhecida oficialmente no balanço.

Fará bem o novo presidente da Petrobras em ter muito claras as condições da empresa no momento em que assumir as suas responsabilidades.

A mesma recomendação vale para a presidente do BNDES, para o qual já se decidiu devolver R$ 100 bilhões dos R$ 500 bilhões que recebeu do Tesouro. O banco deve ser capaz de demonstrar onde foram os recursos, e talvez mesmo pagar o Tesouro com esses ativos. E, se houver prejuízo, que seja declarado e explicado para que as culpas pertençam a quem de direito.

Como foi acontecer uma tragédia deste tamanho?
É claro que temos de refletir muito sobre as brechas na Lei de Responsabilidade Fiscal, e sobre o mau uso das empresas estatais, seja para propósitos políticos, para a corrupção, ou para simplesmente financiar e acobertar o populismo fiscal.

Mas nem por um segundo devemos esquecer que a responsabilidade pela catástrofe possui nome e sobrenome e que o Senado não estará se debruçando apenas sobre "pedaladas", "jeitinhos" ou decretos feitos por assessores descuidados, mas sobre o maior descalabro fiscal que a história econômica brasileira registra desde, possivelmente, quando Dom João VI abandonou o país em 1821 e rapou o ouro que havia no Banco do Brasil.

E não por acidente as quedas no PIB do biênio 2015 e 2016, que se espera que atinjam 3,8% e 3,8%, ultrapassam o que se observou nos anos da Grande Depressão, 1930-31, quando as quedas foram de 2,1% e 3,3%.

É fundamental que se tenha clara a exata natureza e extensão da herança, para que as dores inerentes ao árduo trabalho de reconstrução financeira e fiscal do crédito público sejam associadas a quem produziu a doença, e não ao médico.

 

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  • Josias Souza
  • 30 Maio 2016

(Publicado originalmente em http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/)

Os historiadores fascinarão os brasileiros do futuro quando puderem se pronunciar sobre os dias atuais sem se preocupar em saber o que vai sobrar depois que a turma da Odebrecht começar a suar o dedo. O relato sobre o apocalipse do PT no poder encontrará a exatidão no exagero. Buscará paralelos na dramaturgia grega ao relatar como o petismo saiu da História para cair na vida.

No início desta semana, o PT imaginou que poderia reescrever a história a partir da gravação de uma conversa em que Romero Jucá insinua para Sérgio Machado que a queda de Dilma e a ascensão de Temer poderia resultar num "pacto" para "estancar a sangria" da Lava Jato. Está confirmado o golpe, alardearam Dilma e os petistas.

Passaram-se os dias. Sobrevieram as gravações dos diálogos que Machado travou com Renan Calheiros e José Sarney. Veio à luz a delação do ex-deputado Pedro Corrêa, do PP.

Antes que pudesse comemorar uma mudança dos ventos, o PT viu-se enredado num redemoinho que o devolveu rapidamente à defensiva.

Numa das conversas colecionadas por Machado, Sarney declarou que a própria Dilma pediu dinheiro à Odebrecht para nutrir a caixa registradora de sua campanha e remunerar o marqueteiro João Santana. Previu que madame será abatida numa confissão da turma da empreiteira, "metralhadora ponto 50".

Em sua delação, Corrêa iluminou o submundo em que Lula se meteu para comprar apoio congressual com dinheiro roubado da Petrobras. Estilhaçou a retórica do "eu não sabia" ao relatar reuniões em que o morubixaba do PT apartou brigas dos aliados por dinheiro ilegal e ordenou a nomeação de diretores larápios para a estatal petroleira.

Quando puder relatar à posteridade tudo o que sucedeu, a História descreverá uma fantástica sequência de fatos extraordinários acontecidos com pessoas ordinárias —em todos os sentidos. E concluirá que houve, de fato, um golpe no Brasil. Um golpe do PT e da quadrilha que gravitou ao seu redor contra o erário.

 

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  • Dora Kramer - Estadão
  • 30 Maio 2016

 

(Publicado originalmente no Estadão)
Na mais recente turbulência política provocada pela divulgação de conversas para lá de embaraçosas de três "capas-pretas" do PMDB, um detalhe chama especial atenção: nenhum dos personagens estimulados a dizer o que não deveriam ao gravador de Sérgio Machado se animou a reclamar em público pelo fato de terem servido de cobaias na coleta de material para uma delação premiada.

Romero Jucá, José Sarney e Renan Calheiros aludiram à inadequação do "contexto" dos trechos divulgados, negaram intenções escusas por trás das palavras obscuras, mas não impuseram reparos nem qualificaram como traiçoeiro o ato do ex-presidente da Transpetro ali sustentado pelo partido por 12 anos consecutivos. Com a anuência e o aval do PT, o dono da bola nesse período.

Ao menos os três tiveram o bom senso de não invocar o argumento da perseguição política, da conspiração ou coisa que valha. Escolados e escaldados preferiram por ora aguardar os acontecimentos sem maiores precipitações. Não cutucaram a fera ferida nem fizeram acusações aos investigadores, aos promotores que negociaram a troca de informações ou ao ministro Teori Zavascki que homologou a delação.

Nisso, se diferenciaram (sem ilações de que nisso resida mérito, por favor) dos petistas, cuja prática de atacar o mensageiro equivale a sistemáticas assinaturas de recibos, além de levá-los a desmentir as próprias versões. Um exemplo foi a reação de Dilma Rousseff à conversa em que Romero Jucá sugere que o impeachment da presidente daria conta de "estancar essa sangria".

Dilma e os companheiros de partido de imediato atribuíram ao diálogo a condição de "prova" da conspiração para derrubá-la, que nada teria a ver com o crime de responsabilidade ora em exame na comissão especial do Senado. Quer dizer, a mandatária afastada não respeita delator, mas tem o maior respeito pelas gravações feitas por Sérgio Machado na busca de sua delação. Do mesmo modo, o PT desqualifica o teor de gravações e depoimentos que implicam seus correligionários, mas qualifica o método quando o atingido é o adversário.

E cessam por aí as diferenças, pois algo mais forte os iguala: o desejo de que a operação fosse lavada da face da terra. O pitoresco da história é que as urdiduras dos referidos poderosos resultam em rigorosamente nada. Tão influentes e, ao mesmo tempo tão impotentes diante de um cenário que desconheciam, embora já tivessem tido dele uma amostra na CPI dos Correios que sustentou a denúncia da Procuradoria-Geral da República, que virou processo no Supremo Tribunal Federal e resultou na condenação de gente que se imaginava diferenciada.

Desde então, e agora mais do que nunca, o ambiente exige respeito, já dizia Billy Blanco em seu Estatuto da Gafieira. As gravações, por enquanto, não expuseram crimes. Não foram, porém, sem efeito. Mostraram ao país a discrepância entre o que dizem em público nossas autoridades e o que falam no recôndito da privacidade. Oficialmente todos eles são defensores da Lava Jato. No paralelo, contudo, revelam horror ao cumprimento da lei e à independência dos Poderes. Nutrem especial repúdio à conduta correta de servidores. Ao ponto de um ex-presidente da República, como José Sarney, considerar que o Brasil vive uma "ditadura da Justiça". No mínimo uma contradição em termos.

Ainda que as inconfidências de suas excelências não venham a lhes render punições mais graves, já serviram para pôr abaixo a pose de distinção que assumem diante de um microfone e a inconsistência das bravatas cometidas nos conchavos. E de novo recorrendo a Billy Blanco, desta vez com A Banca do Distinto, encerremos: A vaidade é assim/ põe o bobo no alto e retira a escada/ mas fica por perto esperando sentada/ mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão.

 

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  • Ives Gandra Da Silva Martins
  • 29 Maio 2016

(Publicado originalmente em O Globo)


Li, com muita preocupação, a "Resolução sobre a conjuntura" do PT, análise ideológica, com nítido viés bolivariano, sobre os erros cometidos pelo partido por não ter implantado no Brasil uma "democracia cubana".

Em determinado trecho, lê-se:

"Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação".

De rigor, a ideia do partido era transformar o Estado brasileiro num feudo petista, com reforma do Estado pro domo sua e subordinação a seus interesses e correligionários, as Forças Armadas, o Ministério Público, a Polícia Federal e a imprensa.

O que mais impressiona é que o desventrar da podridão dos porões do governo petista deveu-se, fundamentalmente, às três instituições, ou seja, imprensa, Ministério Público e Polícia Federal, que, por sua autonomia, independência e seriedade, não estão sujeitos ao controle dos detentores do poder.

Ao Ministério Público é outorgada total autonomia, pelos artigos 127 a 132 da Lei Suprema, e as polícias funcionam como órgãos de segurança do Estado e não são instrumentos ideológicos, conforme determina o artigo 144, da Carta da República. A Constituição Federal, por outro lado, no artigo 220, garante a absoluta liberdade aos meios de comunicação.

Por fim, as Forças Armadas, como instituição do Estado, e não do governo, só devem intervir, com base do artigo 142 da Constituição, em caso de conflito entre os poderes para restabelecimento da lei e da ordem.

É de se lembrar que, tiveram, durante a crise política deflagrada pelo mar de lama que invadiu as estruturas do governo, comportamento exemplar, mantendo-se à distância como observadoras, permitindo o fluir dos instrumentos democráticos para estancarem a desfiguração crescente da República brasileira.
Controlar a Polícia Federal, que descobriu o assalto aos cofres públicos? Manietar o Ministério Público, que tem denunciado os saqueadores do dinheiro dos contribuintes? Calar a imprensa, que permitiu à sociedade conhecer os profundos desmandos do governo por 13 anos? É isto o compromisso "democrático e nacionalista" do PT?

Modificar os currículos das academias militares para formar oficiais com ideologia bolivariana, a fim de servir ao governo, e não ao Estado, seria transformar as Forças Armadas em órgão de repressão, como ocorre com os exércitos de Maduro ou dos Castros.

Embora tenha muitos amigos no PT, sempre divergi das convicções políticas dos governantes ora alijados da Presidência, mas sempre entendi que sua intenção era a de respeitar as regras democráticas. Desiludi-me, profundamente, ao constatar que os maiores defensores da ética, como se apresentavam quando na oposição, protagonizaram o governo mais corrupto da história do mundo.

Pretenderem agora, em mea-culpa, arrependerem-se por não terem transfigurado o Brasil numa Cuba ou numa Venezuela é ter a certeza de que nunca desejaram viver, no país, uma autêntica democracia.

Penso mesmo que a presidente Dilma, que foi guerrilheira, como José Dirceu, intentando aqui implantar um regime marxista, durante o regime de exceção dos militares, jamais abandonou o objetivo daquela luta.

Após a leitura da "Resolução da Conjuntura", minhas dúvidas foram dissipadas. A democracia verdadeira nunca foi um ideal petista.

Ives Gandra da Silva Martins é Professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo e Unifmu, do CIEE/'O Estado de S. Paulo, da Eceme, da ESG e da Escola da Magistratura do Tribunal Regional Federal - 1ª região
Artigo publiucado originalmente no jornal O Globo.

 

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