• Pedro Henrique Mancini de Azevedo
  • 22 Maio 2016


"Os subsídios governamentais podem ser analisados criticamente de acordo com um princípio simples: Você é mais esperto do que o governo, então, quando o governo lhe paga para fazer algo que você não faria por conta própria, está quase sempre pagando para você fazer algo estúpido."(P.J. O'Rourke)


Após a queda de Dilma, finalmente podemos voltar a falar sobre o futuro do nosso país. Denunciar tudo que o PT vinha fazendo era importante, mas convenhamos, estávamos parados no tempo. Não discutíamos mais sobre economia, sobre políticas públicas, sobre nada. O inimigo era maior do que tudo isso e precisava ser vencido. Por isso, a prioridade era tirar o PT do poder, e isso foi feito. Agora podemos seguir em frente.

Achei simplesmente fantástica a formação da equipe econômica do governo Temer. Com certeza é o ponto mais forte do atual governo. Henrique Meirelles é extremamente competente, e compará-lo a seus antecessores Guido Mantega e Nelson Barbosa é o mesmo que comparar uma Ferrari a um Fusca. Também gostei bastante da indicação de Mansueto Almeida como Secretario de Acompanhamento Econômico. E para fechar a ótima equipe, ainda temos a ortodoxa Maria Silvia Marques a frente do BNDES. Mas apesar da boa equipe, acho que Temer começou cometendo um erro que eu sinceramente espero que não continue sendo cometido.

Em praticamente seu primeiro ato, o presidente em exercício convocou as centrais sindicais para debater sobre os problemas e mudanças a serem propostos na reforma da Previdência. Quando vi essa notícia, a única coisa que me passou pela cabeça foi perguntar: porque? Será que ainda não deu para entender que não há como debater mudanças com pessoas que claramente não as querem, pois seus privilégios pessoais serão afetados? E porque precisamos pedir a benção a centrais sindicais para discutir um assunto de interesse nacional? Quem elegeu esses pelegos para isso? Eu estava sob a impressão de que vivíamos em um regime de democracia representativa, onde elegemos vereadores, deputados e senadores, para que estes nos representem. Eu nunca fui a nenhuma eleição para eleger um representante sindical. Então a quem eles estão representando senão a si próprios e uma minoria organizada que quer viver a vida toda mamando nas tetas do governo?

Se há uma primeira crítica que já faço ao governo Temer é essa. Nós não podemos ficar mais reféns de uma minoria gritante que visa seus interesses pessoais alegando interesse público. Chega! Temer não pode ser reformista e ao mesmo tempo pusilânime como Fernando Henrique foi. Sinto muito, mas um lado tem que ser escolhido. Tentar agradar a todos só vai fazer com que um outro PT volte ao poder futuramente. Não dá mais para aceitar reformas meia boca. Se é para privatizar, privatize; se é para reformar a previdência e as leis trabalhistas, reforme; se é para reduzir gastos e o tamanho do Estado, reduza; e se é para formar uma equipe sem mulheres e negros, forme!

O impeachment de Dilma foi um grito por mudanças e elas precisam ocorrer. Do contrário, sinto dizer que esse governo não terá êxito, e temo inclusive, que sofra um retrocesso em um futuro bem próximo. Não podemos mais ceder a pressões imbecis como de não ter mulheres e negros a frente de um ministério. Essa agenda "progressista" cabia ao governo do PT...que foi demitido! Não tem cabimento continuar seguindo a mesma linha.

O atual governo deve ter a percepção que estamos diante de uma oportunidade histórica. Esses grupinhos organizados estão totalmente enfraquecidos. É hora de fazermos as mudanças necessárias que o país tanto precisa. Todos os fatos corroboram contra eles. O exemplo mais recente que podemos citar é o da minoria de "artistas" encabeçados por petistas de carteirinha como Marieta Severo, Caetano Veloso e Wagner Moura, que decidiram se rebelar contra a fusão do Ministério da Cultura com o Ministério da Educação, alegando que isso seria um retrocesso. Ora, que retrocesso seria esse? Quantos foram os grandes filmes nacionais feitos nos últimos anos? Quantos foram os grammys vencidos por artistas brasileiros nos últimos anos? Dá para contar em uma mão e ainda sobram dedos. E mais, se não fosse a imposição de uma lei, quantas pessoas aceitariam ter os maravilhosos canais nacionais no pacote da sua TV a cabo? A única coisa que cresceu durante todos esses anos foi o número de artistas que defendem o governo. Então, que retrocesso é esse que estamos sofrendo? O certo mesmo seria a extinção total desse ministério e da sua nefasta Lei Rouanet.

Sendo assim, Temer não pode ser inocente ao pregar diálogo com essa turminha. Eles não quiseram diálogo por 14 anos, porque iriam querer agora? A esquerda voltará a fazer o que ela sempre fez: gritar, espernear e atrapalhar. Eles são como aquele cachorro que late e corre atrás do carro, mas quando o carro para, ele não sabe mais o que fazer. Os últimos 14 anos de governo foram assim. O PT é o cachorro que não soube o que fazer, por isso vimos um governo tão desastroso. O que Temer precisa fazer é entrar dentro desse carro, engatar a primeira marcha e ignorar os cachorros latindo atrás dele. Afinal, cão que ladra, não morde. O Brasil clama por mudanças. Vamos fazê-las!

PS.: O patético "protesto" dos artistas engajadinhos no festival de Cannes só mostra o quanto a nossa classe artística está infestada de esquerdistas sedentos por boquinhas. O PT fez o Brasil sofrer o maior escândalo de corrupção da história, o maior déficit orçamentário da história, deixou mais de 11 milhões de pessoas desempregadas, fez a pobreza voltar há 10 anos atrás, e esses imbecis nunca falaram nada. Mas quando a boquinha acaba, aí sai de baixo. Ou Wagner Moura e sua trupe acharam que ninguém iria descobrir que o filmeco deles recebeu R$2,9 milhões da Lei de Audiovisual?

Pedro Henrique Mancini de Azevedo, MBA, PMP

Continue lendo
  • Almir Pazzianoto Pinto
  • 22 Maio 2016

(Publicado originalmente em Diário do Poder)

O tumultuado e inconcluso processo de impeachment da presidente Dilma Roussef remeteu ao segundo plano campanhas municipais prestes a serem colocadas nas ruas, em 5.570 municípios, envolvendo mais de 142 milhões de eleitores.

Sem desmerecer os demais estados, São Paulo é que atrai as atenções do País. Considera-se o prefeito paulistano o terceiro político de maior importância no Brasil, superado pelo governador do Estado e pelo presidente da República.

O diferencial da disputa, em 2016, residirá na escassez de dinheiro. Quem não dispuser de recursos estará em posição de inferioridade, salvo se compensar a falta de meios próprios com excesso de popularidade. Mesmo quem dispõe de caixa não poderá gastar além dos limites, para não ser acusado de abuso de poder econômico.

Refletindo sobre o cenário que se aproxima, percebemos que o Partido dos Trabalhadores, após anos de hegemonia se esfarelou atingido por ações penais que enviaram à prisão alguns dos principais quadros. Luís Inácio Lula da Silva perdeu a liderança que infundia temor aos adversários. Voltou a ser a pessoa comum que se tornou conhecida na década de 70, mas hoje acossado por graves acusações. O apoio que eventualmente oferecer aos candidatos do PT provavelmente surtirá efeito adverso. Dilma Roussef, a presidente afastada pelo Senado, não tem como fazer campanha. Empregará o tempo que lhe resta para se defender.

O PMDB, com o Dr. Michel Temer na presidência da República e importantes ministérios, dependerá das medidas que adotar na esfera social, onde se encaixam questões de previdência, saúde, educação, desemprego. Tornou-se, por vontade própria, herdeiro de trágica realidade. Se nos próximos dias a economia não der sinais claros de reaquecimento, e a falta de trabalho persistir, com 12 milhões de desesperados nas ruas, o discurso peemedebista terá dificuldades para angariar o apoio das urnas. Não há nada tão leviano quanto o voto. Quem vive de salários mudará de rumo de acordo com as condições do bolso, e a eloquência de algum demagogo.

O PSDB é o que já se conhece. Adquiriu a fama de elitista. Jamais buscou popularidade e, aparentemente, nunca se preocupou com isso. Acredita no capital eleitoral dos integrantes da cúpula. Reside aí, entretanto, seriíssimo problema, pois pelo menos três aspiram a candidatura à presidência em 2018, e lutarão para consegui-la. Veja-se o acontecido em São Paulo, onde os tucanos mais uma vez se encontram divididos.

As demais legendas pouco acrescentam. Algumas são idôneas, dirigidas por pessoas sérias, mas sem recursos e compactas massas eleitorais, que lhes permitam ir à luta de maneira independente. Dependem de precárias alianças. Outras são casas comerciais. Vendem a quem pagar mais. A ruidosa extrema esquerda mais uma vez concorrerá sem chance de vitória. É vítima de teimosia que a impede de entender que pertence a passado morto e sepultado.

As campanhas municipais se desenvolverão em torno de dois eixos: o compromisso de combate à corrupção que tomou conta do País, e a luta contra o desemprego. Conforme alguém escreveu, “Os trabalhadores têm que comer tenham ou não colocação. Há a alternativa de deixar morrer de fome os desempregados, mas isto é mais duro do que tolerariam os propugnadores de finanças seguras, portanto advogam que se sustentem os desempregados mediante subsídios, em que eles não produzem nada, em vez de lhes dar uma ocupação profícua em que acrescentarão diretamente ao rendimento nacional. É a divergência entre os princípios da economia social e particular que fornece a chave das inconsistências das finanças ditas seguras”.

O presidente Michel Temer está no comando. A escolha de banqueiros para a recuperação das finanças tem algum significado. Espero que a questão do desemprego seja encarada como tragédia social, e não mera estatística divulgada pelo IBGE. Afinal, o desempregado deve comer diariamente, e prover o sustento da família. São necessidades que não podem esperar. A miséria, como se sabe, não é a melhor conselheira.

 

Continue lendo
  • Merval Pereira - O Globo
  • 20 Maio 2016

(Publicado originalmente em O Globo de 20/15/2016)


Nada como uma derrota para revelar as verdades escondidas do poder que predominou nos últimos 13 anos. Além dos imensos buracos na contabilidade pública que serão denunciados pelo próprio presidente Temer, temos agora revelados em nota oficial alguns objetivos prioritários do partido.

Aproveitando-se da democracia, o partido sempre tentou avançar em decisões autoritárias para controlar setores fundamentais do Estado. Quando denunciado, recuava e negava segundas intenções, como nas inúmeras vezes em que tentou aprovar projetos de controle dos meios de comunicação, com diversos nomes e variadas desculpas.

Agora, afinal, o próprio Diretório Nacional do PT solta uma nota oficial, à guisa de autocrítica, que revela os planos mais recônditos. Esses comentários irritaram setores das Forças Armadas, por exemplo, e confirmam que o partido sempre pensou em controlar o Ministério Público e a Polícia Federal, além de reafirmar o objetivo de controlar os meios de comunicação através da manipulação das verbas publicitárias.

Diz a certa altura o documento do PT: "Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação."

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, segundo a jornalista Eliane Cantanhede do Estado de S. Paulo, reagiu com irritação à Resolução do Diretório Nacional do PT sobre Conjuntura. "Com esse tipo de coisa, estão plantando um forte antipetismo no Exército", disse o comandante, considerando que os termos da resolução petista de maneira geral "remetem para as décadas de 1960 e de 1970? e têm um tom "bolivariano", ou seja, semelhante ao usado pelos regimes de Hugo Chávez e agora de Nicolás Maduro na Venezuela e também por outros países da América do Sul, como Bolívia e Equador.

Segundo Cantanhede, o general Villas Boas disse que as Forças Armadas, "atravessaram todo esse momento de crises cumprindo estritamente seu papel constitucional e profissional, sem se manifestar e muito menos sem tentar interferir na vida política do país" e esperam, no mínimo, reciprocidade.

Já o General Rego Barros, do Centro de Comunicação Social do Exército, me enviou uma mensagem em que afirma que "a recente resolução sobre conjuntura do PT apresenta alguns percepções equivocadas e ideologizadas sobre as Forças Armadas e a destinação das instituições que servem de esteio ao Estado".

Para Rego Barros, "a nossa postura, sempre equilibrada, mostra porque é essencial continuarmos balizando nossas ações com base nos três pilares defendidos pelo comandante: estabilidade - legalidade – legitimidade".

A questão mais sensível do ponto de vista das Forças Armadas é a interferência nos currículos das escolas militares, tema que já deu problemas anteriormente. A presidente Dilma assinou um decreto em setembro de 2015 transferindo para o ministério da Defesa poderes dos comandantes militares, aparentemente apenas burocráticos, mas que dariam margem justamente à interferência nos currículos das escolas militares.

Quem levou o decreto à presidente foi a secretária-geral do ministério, a petista Eva Maria Chiavon, sem consultar o ministro interino, o Comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que apareceu no Diário Oficial como tendo assinado o decreto, mas garantiu que nunca o fez.

Eva Maria Chiavon é casada com Francisco Dalchiavon, o principal executivo do MST, número 2 de João Pedro Stedile, encarregado de negociar a produção das cooperativas. O Art. 4º do decreto revoga o Decreto nº 62.104, de 11 de janeiro de 1968, que delegava "competência aos ministros de Estado da Marinha, do Exército e da Aeronáutica para aprovar, em caráter final, os regulamentos das escolas e centros de formação e aperfeiçoamento respectivamente da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica militar".

Ao revogar o decreto de 1968, essa função passaria automaticamente para o ministério da Defesa. Ao identificar que o ensino e a formação dos militares poderiam ser enfeixados nas mãos do ministro da Defesa, começou a paranóia de que a esquerda petista estaria tentando avançar sobre a formação de oficiais. O decreto foi neutralizado por outro, mas a nota do Diretório Nacional do PT mostra que realmente o partido tinha entre suas prioridades o aparelhamento do ensino nas escolas e centros de formação militares.
 

Continue lendo
  • Genaro Faria
  • 18 Maio 2016

O estamento político que Raymundo Faoro identificou como um patrimônio de famílias privilegiadas, donatárias do poder, foi terceirizado. Quase não se lê mais os sobrenomes daqueles que figuravam nas mais altas instâncias da política. O que se vê é esse estamento deixar de brilhar nas colunas sociais. E ganhar as manchetes das crônicas policiais. A política fixou seu domicílio nas páginas que eram frequentadas pelo crime, pelo submundo. Ser político passou a ser o antônimo de homem público. E sinônimo de cafajeste.

E não foi à toa. O capítulo da nossa história que os políticos escreveram no presente não merece que o futuro lhe dedique um livro que nos orgulhe. Ao contrário, sobre ele nossos estudiosos vão se debruçar perplexos e envergonhados.

Mas não será assim que nós aprendemos, com os nossos erros?

A História não economiza essa lição nem é de outro modo que nós deixamos infância e a adolescência.

Muito menos a Biologia. O útero é o órgão de músculos mais poderosos do ser humano, muito mais que o coração, porque é do ventre da mulher que a vida rompe a escuridão para se iluminar. E essa a primeira e mais misteriosa revolução que experimentamos.

É de uma revolução assim que nosso país está carente. Para a vida. Que ao mesmo tempo é drama, aprendiz de seus tantos tropeços,dos amores desfeitos em cicatrizes que lhe penduram um retrato da pessoa amada na parede da alma. E nos acalma. Porque a vida é amor. E o amor não se extingue.

Sim, o Brasil está carente de uma revolução. Precisamos fazer com que os políticos sejam homens públicos. Que eles nos representem. Que façam o jogo do poder com competência – o que envolve artes e artimanhas necessariamente – mas com o objetivo de defender seus mandatários. E não sejam como advogados que traem os interesses de seus clientes.

Está claro que o Brasil precisa mesmo de uma revolução. E como está! Uma revolução em que os intelectuais, artistas, jornalistas e juízes resistam ao poder estatal descomunal em face um simples cidadão marginalizado pela arrogância de governantes que desprezam a lei. Estamos carentes dessa elite que, historicamente, arrostou o poder. E triunfou, conquistando, assim, o carinho e a admiração que transcendem seu talento excepcional.

Por último, mas não por menos, ao contrário, principalmente, o Brasil precisa recuperar a maior revolução de todos os tempos. A revolução que precisou sacrificar-se na cruz para nos dar à luz o que nosso intelecto não pode nos revelar. Um espelho da nossa imagem que se reflete no infinito.

Essa revolução é que nos trará de volta a dignidade humana que os ilusionistas solaparam e, por fim, sabotaram de nossa cidadania. E roeram o patrimônio nacional como um queijo que o Brasil esqueceu-se de guardar. Pois ninguém se levantou para afugentar os ratos.

Ora, um assalto assim não se pratica à luz do dia impunemente. Muito menos com louvores aos assaltantes. Nem mesmo numa democracia mais formal do que real. Como a nossa.

Neste ponto de exclamação é que concluo: O Brasil carece muito de uma revolução. Uma revolução em que o Estado, nossa criatura, esteja ao nosso serviço, seu criador. Que os políticos sejam nossos servidores e nós não sejamos seus serviçais. Que os intelectuais escrutinem nossa realidade e nos esclareçam, ao invés de pretender nos submeter à ideologia que toldam seu descortino. E que os artistas honrem a tradição libertária que rejeite qualquer moldura que possa cortar suas asas.

E como o sonho é um território comum a todo ser humano, não me esquivo de dizer que só faltaria ao Brasil voltar a ter uma Igreja católica, apostólica e romana. Não, cubana.
 

Continue lendo
  • Francisco Ferraz
  • 18 Maio 2016

Da série "Antes que me esqueça..." nº06

Lula tem motivos de sobra para aparecer abatido, deprimido, preocupado, como atestam as fotos feitas na área externa do palácio do Planalto, por ocasião da saída de Dilma.

O rastreamento de suas pegadas pela operação Lava Jato, a aprovação do impeachment e as nuvens ameaçadoras que pairam no seu horizonte político e no seu partido são motivos de sobra para seu estado de espírito.

Creio, entretanto que há outras razões e, provavelmente mais graves e difíceis de lidar, que passam despercebidas.

Refiro-me às relações de Lula e Dilma e, curiosamente, às condições políticas do criador e da criatura no futuro próximo.

Dilma, por uma daquelas situações imprevistas que se constituem na política, ganhou com o impeachment uma liberdade que antes não tinha: não precisa mais fazer o que não sabe e, ainda por cima, fingindo que sabe - governar.

Não corre mais o risco de presidir o país em meio ao caos econômico e político. O jogo do poder empurrou-a para a guerrilha política novamente, talvez a única forma de política que sabe jogar, restabelecendo uma continuidade que fora rompida na década de 70.

Por guerrilha política entenda-se um conflito político (não militar) feito de escaramuças pontuais para desgastar o inimigo, enfraquecê-lo e conquistar o poder.

Atente-se para o que ela ganhou com o afastamento compulsório provocado pelo processo de impeachment.

Ganhou um inimigo – Temer e seu governo; ganhou os meios de combate – veículos, casas, recursos para viajar dentro do país e no exterior, acesso aos meios de comunicação, auxiliares pagos; ganhou uma causa – lutar contra o golpe em nome da democracia que ela não precisa justificar; ganhou também um tema emocional para mobilizar apoio – sua vitimização; ganhou ainda aliados no Brasil e no exterior, o suficiente para produzir fatos, notícias e declarações; ganhou uma condição mais protegida que Lula em relação à ameaça da operação Lava Jato; e ganhou um partido que, goste ou não, terá que fazer dela a sua bandeira.

Lula, contrariamente à Dilma, será obrigado a “jogar na defensiva” e a ofensiva que lhe restará será apoiar Dilma...

Apoiar Dilma é o que ele tem feito, contrariando seus desejos e ambições. Apoiou de mau grado – segundo se diz - na eleição que desejava disputar; apoiou ao oferecer seus auxiliares mais próximos (Wagner, Berzoini) para ajudá-la no governo, apoiou ao aceitar tornar-se chefe da casa civil do seu governo – uma nítida posição de inferioridade – e apoiou ao se instalar no Hotel Royal Tulip para conseguir votos para ela na Câmara e no Senado.

Ao aceitar a posição subalterna e ao pôr sua reputação, prestígio e esforço à serviço da luta contra o impeachment, Lula deu-lhe o reforço de legitimidade – dentro do PT e na esquerda – com o qual ela poderá removê-lo da liderança do partido.

Se Dilma conseguir evitar o impeachment (o que até agora parece pouco provável) não precisará mais de Lula ao seu lado e, ao contrário, Lula talvez seja então um peso a carregar. Ela terá ocupado o espaço do comando do PT, por ter logrado uma vitória em condições muito difíceis e, mais ainda, poderá herdar de Temer um Brasil certamente melhor, no rumo do crescimento e da estabilização.

Se non è vero, forze è bene trovato.
      

Continue lendo
  • Jayme Eduardo Machado
  • 17 Maio 2016



Cidadãos eleitores, em regra somos seduzidos pelos pensamentos mágicos dos candidatos. O poder de enganar dos magos da política é irresistível. O impossível é o seu objetivo, o imediatismo é o seu tempo. Enfim, abrem caminho pelo atalho cego da irracionalidade que percorremos na sofreguidão da pressa, porque tudo “urge”. Sequer a sucessão de frustrações parece ser suficiente à constatação de que invariavelmente ele – o tempo - se vinga das coisas feitas sem a sua colaboração. Na política tem sido assim: ou tarde nos damos conta, ou cedo nos desenganamos. Lidamos mal com o tempo.

Foi tarde quando percebemos que servíamos de experimento ao “pensamento mágico” apregoado pelos arautos da adaptação bolivarianista do socialismo do Século XXI. Nada além da réplica de um modelo fora de linha, enjambrado com o material reciclado do muro de Berlin - parece que ideologias que ficam velhinhas lá fora, encontram aqui o derradeiro asilo - . Enfim, pensar bem, mas executar mal, sem aprender com o tempo, é traço nosso.

Pois agora mesmo já constatamos que a alternativa resultante da estranha decisão que garantiu à presidente afastada a possibilidade de conspirar contra o governo interino na sua própria Casa, também é falsa. Pensaram bem os que apoiaram a saída de quem aceitou ser devorada no ritual autofágico da corrupção. Mas pensou mal quem imaginou pudéssemos ser salvos pelo núcleo duro dos ex-condôminos do Planalto. Se acham essa verdade frágil é só porque nem eu nem ninguém gostaria de ouvi-la. Mas, na real, estamos trocando a parte de um governo devedor de honestidade e eficiência que tarde afastamos – outubro de 2014 era o limite – pelos então fiadores do caos que juntos provocaram.

Mas ainda há um repertório de “pensamentos mágicos” em que apostar. Em uma dentre as centenas de gavetas emperradas no STF, guarda-se há mais de 20 anos o processo que se relaciona com uma bem-vinda emenda parlamentarista. E há outra, no TSE que, se aberta, será capaz de cassar a “chapa do presidencialismo de coalizão”. Como se percebe, ainda há mágicas em que acreditar, mas o diabo é a desconfiança nos mágicos.
 

Continue lendo