(Publicado originalmente no Midia Sem Máscara)
Ao afirmar que a História julgará Fidel Castro, Obama prova mais uma vez — tal como lemos em A Nova Era e a Revolução Cultural, de Olavo de Carvalho — que não passa de um reles politiqueiro revolucionário. Quando o sujeito é incapaz de reconhecer uma Causa Transcendente da realidade espaço-temporal, adere então, com unhas e dentes, ou ao espaço (discípulos da Nova Era e ambientalistas radicais) ou ao tempo (socialistas, comunistas e revolucionários políticos em geral), passando a adorá-los. Em vez de encarar a Criação como um caminho para Deus, adoram-na como um ídolo. E a História não é senão a "deusa" dos adoradores do tempo.
Por mais que acreditem estar comemorando a morte do indivíduo Fidel Castro, os cubanos exilados nos EUA, assim como seus descendentes, estão apenas comemorando o ocaso de um tirano: o povo sempre aguarda pela morte daquele que o oprime. O indivíduo Fidel Castro, parafraseando Fernando Pessoa, quando tentou tirar a máscara de tirano, notou que ela já lhe pregara à cara. Se é que tentou tirá-la... Fidel Castro, de fato, já estava morto como homem há muito tempo. A misericórdia divina alcança todos os recantos: mas Deus não é um ditador, não obriga ninguém a adorá-Lo e a caminhar com Ele. Os fuzilamentos, as prisões por crime de consciência, o encarceramento de todo um povo, a fome e a miséria... pesaram algum dia em sua consciência? Não vimos sinal disso. E, após a morte do corpo, haverá tempo para o arrependimento? É possível, mas talvez seja ainda mais difícil do que já é aqui. A crermos em C.S. Lewis e Swedenborg, o inferno há de ser a ilusão pura, a armadilha dos próprios desejos, um local onde revolucionários poderiam acreditar que a "luta continua"... eternamente, hasta la vitoria. Se eu acredito na imortalidade da alma? Como dizia Hilda Hilst: "Eu acredito na imortalidade da minha alma. Se você não parar de coçar o saco, talvez não tenha tempo para formar uma".
Com a declaração de Fernando Henrique Cardoso, também vemos quem nosso ex-presidente realmente é:
"A morte de Fidel faz recordar, especialmente a minha geração, o papel que ele e a revolução cubana tiveram na difusão do sentimento latino-americano e na importância para os países da região de se sentirem capazes de afirmar seus interesses.
"A luta simbolizada por Fidel dos ‘pequenos’ contra os poderosos teve uma função dinamizadora na vida política no Continente. O governo brasileiro se opôs a todas as medidas de cerceamento econômico da Ilha e, desde o governo Sarney até hoje as relações econômicas e políticas entre o Brasil e Cuba fluíram com normalidade.
"Estive várias vezes com Fidel, no Brasil, no Chile, em Portugal, na Argentina, em Costa Rica etc. O Fidel que eu conheci, dos anos noventa em diante, era um homem pessoalmente gentil, convicto de suas ideias, curioso e bom interlocutor.
"Os tempos são outros hoje. Do desprezo altaneiro aos Estados Unidos, Cuba passou a sentir que com Obama poderia romper seu isolamento. As nuvens carregadas de Trump não serão presenciadas por Fidel. Sua morte marca o fim de um ciclo, no qual, há que se dizer que, se Cuba conseguiu ampliar a inclusão social, não teve o mesmo sucesso para assegurar a tolerância política e as liberdades democráticas.
"Junto com meu pesar ao povo cubano pela morte de seu líder, quero expressar meus votos para que a transição pela qual a Ilha passa permita que a prosperidade aumente, mas que se preserve, num ambiente de liberdade, o sentimento de igualdade que ampliou acesso à educação e à saúde." (FHC)
Em suma: Fernando Henrique é outro adorador da História, isto é, da paródia do Reino de Deus que futuramente — tal como crê todo revolucionário — surgirá na Terra mediante o poder político. E, no entanto, não há como mudar a natureza das coisas. Por mais que tentem os revolucionários, o resultado haverá de ser sempre a morte, a dor, o sofrimento, o isolamento, a miséria...
E FHC, claro, atribui o obscurantismo a Trump, que não é senão um homem prático. Se o povo americano o elegeu, não foi por adorá-lo, não foi por "populismo". Sua vitória não foi sua vitória: foi o símbolo de que o senso comum ainda faz sentido para a maioria das pessoas — ora, é o senso (sentido) comum! — por mais ideologias loucas que os intelectuais, a imprensa e os políticos do mainstream tentem lhes impingir. E, como homem prático, Trump, até o momento, foi o único a se pronunciar sobre a morte do ditador Fidel como um verdadeiro estadista:
"O legado de Fidel Castro é de pelotões de fuzilamento, roubo, sofrimento inimaginável, pobreza e negação de direitos humanos fundamentais.
“Enquanto Cuba continua sendo uma ilha totalitária, é minha esperança que hoje marque um afastamento dos horrores suportados por muito tempo, para um futuro em que o maravilhoso povo cubano possa finalmente viver em liberdade.
“Embora as tragédias, mortes e dores provocadas por Fidel Castro não possam ser apagadas, nossa administração fará tudo o que puder para garantir que o povo cubano possa finalmente iniciar sua jornada em direção à prosperidade e à liberdade.” (TRUMP)
Ninguém elegeu Trump como quem elege um salvador comunista, um Lula, uma Dilma, um Maduro, um Correa, isto é, alguém que possa salvar o povo da dureza da realidade, da lei da escassez, do suor na testa... Trump foi, sim, eleito para salvar o povo dessa gente revolucionária — porque o "mundo melhor" só existe se criado por cada um em sua vida particular, com sua família, com aqueles que ama. E o Estado não tem de interferir nisso. "Ah, mas e as injustiças do mundo?" Já foi respondido: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos." (Mt 5. 6)
NOTA DO EDITOR: Estou postando este artigo, apesar de alguma imprecisão na descrição dos ritos processuais e de certas expressões, porque o autor externa uma hipótese a merecer reflexão: terá sido a "delação do fim do mundo" uma manobra astuciosa para tumultuar a Operação Lava Jato e os trabalhos do STF, transformando o Petrolão num processo quase impossível de ser levado ao fim? Em textos meus, venho alertando para que o julgamento de autoridades com prerrogativa de foro, notadamente membros do Congresso Nacional, deve ser prioridade do Supremo. Será prejudicial ao país que a Frente Parlamentar do Crime retorne ao parlamento brasileiro em 2018, reeleita por não ter sido julgada. Toda força à Operação Lava Jato, à sua força-tarefa e ao juiz Sérgio Moro!
Percival Puggina
Maceió - Marcelo Odebrecht, presidente licenciado da empreiteira, montou uma estratégia prodigiosa que pode livrar ele da cadeia e mais os seus 70 diretores que também fizeram deleção premiada em troca de penas menores ou do perdão pelos crimes da Lava Jato. Ao denunciar mais de 200 pessoas, dos quais mais de 100 políticos, como cúmplices da sua empresa nos atos de corrupção das estatais brasileiras, Marcelo pretende travar o processo, pois sabe que o STF vai demorar muito tempo para julgar os acusados.
Ora, se a principal Corte do país precisa de anos para analisar o processo de apenas um político é de se supor que outras dezenas de anos deverão ser necessários para que o tribunal comece a julgar o primeiro da lista dos delatados pela Odebrecht. Desde o dia 31 de dezembro de 2015, primeiro ano da Lava Jato, já existem na mesa de Teori Zavascki, 7.423 processos. E em todo tribunal dormem outros 61.962. Os mais de 100 advogados da empreiteira já entregaram a defesa dos seus executivos aos procuradores em pendrive. Convertido em outra montanha de papeis, os processos vão se acumular nos porões do STF.
Ao oferecer ao Ministério Público a delação premiada de todos os diretores da sua empresa, Marcelo pretende engabelar os procuradores que não terão como estabelecer o critério de prioridade para ir fundo nas investigações tal a quantidade de informações recebidas. Apelidada de "Delação do fim do mundo", esse processo da Odebrecht corre o risco de ficar na gaveta do STF até prescrever e os saqueadores das empresas públicas impunes, a exemplo de outros que estão por lá até hoje.
A papelada vai ocupar salas e mais salas do tribunal e exigir do ministro Teori Zavascki um esforço hercúleo para oferecer denúncias aos mais de 100 políticos envolvidos na caixinha da empreiteira. Antes, porém, terá que começar a ouvir as testemunhas de acusação e de defesa. Como todos conhecem a leniência do STF, é de se imaginar o longo caminho que percorrerá esse processo a ter o seu desfecho final.
Os procuradores, que acharam estar diante da maior delação do mundo, não imaginaram o tamanho do abacaxi ao aceitar que Marcelo incluísse na sua delação premiada todos os diretores da sua empresa. A esmola era grande e o cego não desconfiou. Assim, diante de tantos nomes revelados pela Odebrecht como envolvidos no esquema, é difícil saber por onde o STF deverá começar a operação do desmonte da gigantesca delação.
A estratégia de Marcelo foi traçada meticulosamente com seus advogados. Ele sabe que se entregasse apenas a cabeça dos ex-presidentes da república envolvidos na maracutaia e as dos políticos mais importantes, ainda atuantes no país, sua empresa e ele próprio estariam mais vulneráveis a retaliações, pois muitos deles não só tem mandatos como ainda dão as cartas no país. Assim é que ele decidiu embaralhar o jogo. Apresentou uma lista com centenas de nomes para dar a todos eles o mesmo peso na denúncia e distanciar também os notáveis dos julgamentos já que todos fazem parte dessa lista quilométrica.
O plano de Marcelo deu certo. Condenado a 19 anos de prisão, a sua pena deverá ser reduzida e ele irá para casa onde se submeterá a atos disciplinares até sair livremente às ruas. Pelo acordo, seus diretores não serão punidos. E muitos deles ainda receberão milhões de reais da empresa como compensação indenizatórias pela delação a pretexto de se protegerem do desemprego.
Enquanto isso, no STF, todos os processos da Lava Jato vão se acumulando até os fatos caírem no esquecimento da opinião pública. Não seria exagero dizer aqui que o processo da Lava Jato vai passar de mãos em mãos por anos a fio quando então os atuais ministros já teriam deixado o tribunal pela compulsória. Muitos dos réus jamais serão julgados, pois alguns serão beneficiados pela idade, outros pela prescrição de pena e a maioria terá seus processos arquivados.
Assim, os procuradores e o juiz Sérgio Moro, tão eficientes nas investigações da Lava Jato, um dia contarão aos seus netos que tentaram colocar o Brasil nos eixos, mas certamente esconderão dessa história a parte em que foram ludibriados por um tal Marcelo que os envolveu em um plano diabólico para transformar a operação Lava Jato em um amontoado de papeis inúteis e obsoletos.
*Jornalista e cineasta
(Publicado originalmente no Estadão)
Se o presidente Michel Temer for incapaz de cuidar do próprio governo, poderá resgatar o Brasil da pior crise econômica em muitas décadas, talvez a maior da História da República? Ele demorou perigosamente para demitir o ministro Geddel Vieira Lima e liquidar o impasse mais grave, até agora, de seu mandato. A demissão diminui o risco de avançar qualquer ação legal contra o presidente, mas ele obviamente incorreu em alguns erros de avaliação. Subestimou a importância política do escândalo, superestimou a importância de um auxiliar perigoso e deu pouco peso à imagem de um governo supostamente empenhado na recuperação dos padrões da administração. Pode-se esperar, com algum otimismo, um efeito positivo do susto, mas qualquer correção dependerá de um balanço realista dos erros cometidos no Palácio do Planalto. Alguns são graves e, se repetidos, poderão comprometer os objetivos mais importantes do governo.
Bom senso e competência são pelo menos tão importantes quanto a moralidade, quando se trata de governar. Mesmo sem roubalheira, a administração da presidente Dilma Rousseff teria enterrado o País apenas por sua coleção de erros. Equívocos fatais podem ser técnicos ou políticos. Há poucos dias o presidente Michel Temer foi acusado de uma bobagem quase inimaginável: ter pressionado o ministro da Cultura, Marcelo Calero, em favor do interesse do secretário de Governo, ministro Geddel Vieira Lima. Verdadeira ou falsa, essa acusação foi a pior notícia da semana – mais assustadora que a perda de 74.748 empregos formais em outubro ou que o desperdício de 22,9 milhões de trabalhadores por desemprego ou subutilização. Muito mais afetados que o Brasil pela crise de 2008, outros países voltaram a crescer, já há alguns anos, com geração de postos de trabalho. Houve erros e ainda há insegurança, mas em nenhum desses países o governo ficou tropeçando nos próprios pés.
O presidente Michel Temer talvez nunca tenha cometido uma tolice tão grande quanto a citada na imprensa – a tal interferência a favor de um interesse particular. Mas, apesar de sua fama de astuto e prudente, deixou-se envolver num escândalo tão evitável quanto grotesco, desperdiçando energia e capital político essenciais para a nova estratégia econômica.
Nem seria preciso saber, para condená-lo, se o ministro Vieira Lima de fato pressionou seu colega da Cultura para liberar a construção de um edifício em Salvador. A mera conversa sobre um negócio particular já seria, como ensinavam as mães em outros tempos, muito inconveniente. Mas o presidente preferiu preservar seu secretário, considerado indispensável, segundo os aliados, como articulador e negociador político. É difícil, para quem vive fora das jogadas de Brasília, entender a importância de um negociador capaz de expor o governo a uma situação tão constrangedora. Para ser, apesar de tudo, indispensável, uma figura desse tipo deve ter talentos extraordinários.
Também esse ponto é inquietante. Será tão difícil, para o presidente Michel Temer, encontrar e recrutar negociadores competentes e preocupados com o decoro? A qualidade de seu Ministério, desde a interinidade, sempre foi preocupante. Com exceção de uns poucos nomes, na maior parte ligados a assuntos econômicos, a equipe tropeçou desde o começo. Alguns ministros ainda se notabilizaram por fazer declarações inconvenientes e, além disso, por escolherem os piores momentos para se manifestar. Tentando aparecer em lances individuais, logo evidenciaram a dificuldade do presidente para montar e conduzir um jogo de equipe.
Como a agenda econômica é a mais complicada, bastaria ao governo, conforme muitos devem ter imaginado, uma equipe qualificada para cuidar das contas públicas, da inflação, do investimento oficial e do programa de reformas. Quem fez essa avaliação errou.
Todos esses temas envolvem muito mais que desafios técnicos e administrativos. Muitas ações, como a criação de um teto para despesa pública, dependem do Legislativo. Algumas, como a reforma da Previdência e as mudanças trabalhistas, forçarão o governo a se entender também com sindicatos e outras organizações. Qualquer reforma tributária mais ou menos séria terá de passar por um difícil entendimento com os 27 governadores. Se o governo cumprir com sucesso, até 2018, apenas uma parte dessa pauta, com prioridade para a arrumação fiscal, terá realizado um belo trabalho e deixará aberto o caminho para a etapa seguinte.
Para isso um apoio seguro no Parlamento é uma necessidade evidente. Competência jurídica para evitar tropeços legais tem sido e continuará sendo indispensável. Mas também é muito importante a presença de um bom articulador político, no mínimo para garantir os votos necessários no Congresso. Até agora, curiosamente, o político Michel Temer tem mostrado mais discernimento na agenda econômica do que na avaliação dos desafios e riscos políticos.
De toda forma, a semana terminou com duas notícias positivas. Uma delas foi o afastamento, depois de um perigoso atraso, do ministro Geddel Vieira Lima. A outra foi a edição da Medida Provisória (MP) 752/2016, para reativação do programa de concessões. Polêmica em alguns pontos, a MP abre espaço para a renovação antecipada de algumas concessões na área de transportes e para a relicitação de outras. Houve críticas e o governo terá de enfrentar a resistência de concessionários encrencados. Mas foi consumado o lance inicial para reativação do programa de infraestrutura, e esse é um dado animador.
Se der tudo certo, disso poderá surgir o empurrão inicial para a retomada do investimento e a reanimação da economia, depois de uma longa e profunda recessão. Além disso, os cidadãos têm o direito de esperar um presidente, a partir de agora, menos leniente em suas avaliações políticas.
(Publicado originalmente em https://pt.gatestoneinstitute.org)
Quanto mais os jovens estiverem integrados maior a chance deles se radicalizarem. Esta hipótese é sustentada por uma série de evidências". — De um relatório realizado por pesquisadores da Universidade Erasmus em Roterdã.
? "A proporção de administradores (do Estado Islâmico) e também de combatentes suicidas aumenta com o grau educacional", segundo o relatório do Banco Mundial. "Além disso, aqueles que se propunham se tornar homens-bomba se situavam, em média, no ranking do grupo mais educado".
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? O MI5 da Grã-Bretanha revelou que "dois terços dos suspeitos britânicos têm um perfil de classe média e aqueles que querem se tornar homens-bomba são muitas vezes os mais educados".
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? Os pesquisadores descobriram que "quanto mais ricos forem os países maior a probabilidade deles fornecerem mais recrutas estrangeiros ao grupo terrorista (ISIS)".
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? O Ocidente parece ter dificuldade em aceitar que os terroristas não são movidos pela desigualdade e sim pelo ódio à civilização ocidental e aos valores judaico-cristãos do Ocidente.
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? Para os nazistas a "raça inferior" (judeus) não merecia existir, para os stalinistas os "inimigos do povo" não tinham direito de continuar vivendo, para os islamistas é o próprio Ocidente que não merece existir.
? Foi o antissemitismo, não a pobreza, que levou a Autoridade Palestina a dar o nome de Abu Daoud, arquiteto do massacre de atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique, a uma escola.
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"Há uma convicção preconcebida de que os jovens da Europa que deixam o continente para irem para a Síria são vítimas de uma sociedade que não os aceita e não lhes oferece suficientes oportunidades... Outra convicção preconcebida muito comum em curso na Bélgica é a de que, apesar das pesquisas que refutam isso, a radicalização ainda é muito frequentemente, de forma equivocada, interpretada como um processo resultante da malograda integração... Por esta razão, ouso dizer que quanto mais os jovens estiverem integrados, maior a chance deles se radicalizarem. Esta hipótese é sustentada por uma série de evidências".
Esse foi o resultado de uma pesquisa holandesa, de extrema importância, conduzida por um grupo de acadêmicos da Universidade Erasmus, em Roterdã. Os terroristas parecem ser modelos de integração bem sucedida, por exemplo: Mohammed Bouyeri, o terrorista marroquino-holandês que em 2004 baleou e matou o cineasta Theo van Gogh e em seguida o esfaqueou e cortou sua garganta. "Ele (Bouyeri) era um cara educado, com boas perspectivas de vida", salientou Job Cohen, prefeito do Partido Trabalhista de Amsterdã.
O levantamento holandês foi seguido por outro realizado na França, aumentando ainda mais as evidências que sustentam a tese que vai contra a crença liberal segundo a qual para derrotar o terrorismo a Europa precisa investir em oportunidades econômicas e em integração social. Dounia Bouzar, diretora do Centro de Prevenção, Desradicalização e Acompanhamento Individualizado (CPDSI), uma organização francesa especializada em radicalismo islâmico, estudou os casos de 160 famílias cujos filhos tinham deixado a França para lutar na Síria. Dois terços pertenciam à classe média.
Estas constatações desmantelam o mito do proletariado do terror. De acordo com um novorelatório do Banco Mundial "recrutas do Estado islâmico são mais educados do que seus compatriotas".
Pobreza e privação não são, segundo ressaltou John Kerry, "as causas fundamentais do terrorismo". Estudando os perfis de 331 recrutas de um banco de dados do Estado Islâmico, o Banco Mundial constatou que 69% pelo menos concluíram o ensino médio, ao passo que um quarto é formado em uma faculdade. A grande maioria desses terroristas tinha um emprego ou profissão antes de se juntar à organização islamista. "A proporção de administradores e também de combatentes suicidas aumenta com o grau educacional", segundo o relatório do Banco Mundial. "Além disso, aqueles que se propunham se tornar homens-bomba se situavam, em média, no ranking do grupo mais educado".
Menos de 2% dos terroristas são analfabetos. O estudo também aponta para os países que abastecem o ISIS com o maior número de recrutas: Arábia Saudita, Tunísia, Marrocos, Turquia e Egito. Ao analisar a situação econômica desses países, os pesquisadores descobriram que "quanto mais ricos forem os países maior a probabilidade deles fornecerem mais recrutas estrangeiros ao grupo terrorista".
Outro relatório explica que "os países mais pobres do mundo não têm níveis excepcionais de terrorismo".
Apesar das evidências, um mantra progressivo vive repetindo que o terrorismo islâmico é o resultado da injustiça, miséria, depressão econômica e agitação social. Esta afirmação não tem absolutamente nada a ver com a realidade. A tese de que a miséria gera terrorismo é muito difundida hoje no Ocidente, desde o economista francês Thomas Piketty ao Papa Francisco. Ela é provavelmente tão popular porque cai como uma luva no sentimento coletivo de culpa do Ocidente, buscando racionalizar o que o Ocidente parece ter dificuldade em aceitar: que os terroristas não são movidos pela desigualdade e sim pelo ódio à civilização ocidental e aos valores judaico-cristãos do Ocidente. Quanto a Israel isso significa: o que os judeus estão fazendo na terra que - embora por 3.000 anos vem sendo chamada Judeia - nós achamos deve ser dada aos terroristas palestinos? Os terroristas provavelmente perguntam a si mesmos porque deveriam negociar se podem ter tudo o que quiserem sem oferecer nada em troca.
Para os nazistas a "raça inferior" (judeus) não merecia existir, mas devia ser morta nas câmaras de gás, para os stalinistas os "inimigos do povo" não tinham direito de continuar vivendo e tinham que morrer no trabalho forçado e frio do Gulag, para os islamistas é o próprio Ocidente que não merece existir e tem que ser explodido.
Foi o antissemitismo, não a pobreza, que levou a Autoridade Palestina a dar o nome de Abu Daoud , arquiteto do massacre de atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique, a uma escola.
Os atentados de Paris, cujo aniversário foi lembrado há poucos dias na França, foi um golpe desencadeado por uma ideologia que não procura lutar contra a pobreza e sim conquistar o poder através do terrorismo. É a mesma ideologia islamista que massacrou os jornalistas da revista Charlie Hebdo e policiais que estavam em serviço para protegê-los, que forçou o escritor britânico Salman Rushdie a se esconder por uma década, que cortou a garganta do Padre Jacques Hamel, que massacrou passageiros em Londres, Bruxelas e Madrid, que assassinou centenas de judeus israelenses em ônibus e restaurantes, que matou 3.000 pessoas nos Estados Unidos no 11 de setembro, que assassinou Theo Van Gogh em uma rua de Amsterdã por ele ter feito um filme, que cometeu estupros em massa na Europa e massacres nas cidades e desertos da Síria e do Iraque, que explodiu 132 crianças em Peshawar e que mata normalmente tantos nigerianos que ninguém mais presta nenhuma atenção a isso.
É a ideologia islamista que impulsiona o terrorismo, não a pobreza, a corrupção ou o desespero. São eles (terroristas), não nós.
Toda a história do terror político é marcada por fanáticos com educação avançada que declararam guerra contra suas próprias sociedades. O genocídio comunista do Khmer Vermelho no Camboja saiu das salas de aula da Sorbonne em Paris, onde seu líder Pol Pot, estudou os textos dos comunistas europeus. As Brigadas Vermelhas na Itália eram um projeto de meninas e meninos privilegiados e ricos da classe média. Entre 1969 e 1985 o terrorismo na Itália matou 428 pessoas. Fusako Shigenobu, o líder do grupo terrorista japonês Exército Vermelho, tinha um elevado nível de formação em literatura. Abimael Guzman, Fundador do Sendero Luminoso no Peru, um dos grupos guerrilheiros mais cruéis da história, lecionou na Universidade de Ayacucho onde concebeu uma guerra contra "a democracia das barrigas vazias." "Carlos, o Chacal, "o terrorista mais famoso da década de 1970, era filho de um dos advogados mais ricos da Venezuela, José Altagracia Ramirez. Mikel Albizu Iriarte, líder dos terroristas bascos do ETA, veio de uma família rica de San Sebastián. Sabri al-Banna, o terrorista palestino conhecido mundialmente como "Abu Nidal", era filho de um rico comerciante natural de Jaffa.
Alguns dos terroristas britânicos que se juntaram ao Estado Islâmico vêm de famílias ricas e estudaram nas escolas de maior prestígio do Reino Unido. Abdul Waheed Majid fez a longa viagem desde a cidade inglesa de Crawley à Aleppo, na Síria, onde detonou uma bomba presa ao corpo. Ahmed Omar Saeed Sheikh, arquiteto do sequestro e assassinato do jornalista americano Daniel Pearl, era graduado pela London School of Economics. Kafeel Ahmed que entrou com um jipe repleto de explosivos no aeroporto de Glasgow, havia sido presidente da Sociedade Islâmica da Queen's University. Faisal Shahzad, o terrorista fracassado de Times Square, em Nova Iorque, era filho de um alto funcionário do exército paquistanês. Zacarias Moussaoui, o vigésimo homem dos ataques do 11 de setembro, era Ph.D em Economia Internacional da Universidade de South Bank de Londres. Saajid Badat, que queria explodir um voo comercial, estudou optometria na Universidade de Londres. Azahari Husin, o terrorista que preparou as bombas em Bali, estudou na Universidade de Reading.
O MI5 da Grã-Bretanha revelou que "dois terços dos suspeitos britânicos têm perfil de classe média e aqueles que querem se tornar homens-bomba são muitas vezes os mais educados". A maioria dos terroristas britânicos também tinha esposa e filhos, ridicularizando a falsidade de outro mito, o de que terroristas são vítimas da sociedade. Mohammad Sidique Khan, um dos homens-bomba do 7 de julho de 2005, estudou na Leeds Metropolitan University. Omar Khan Sharif tinha uma bolsa de estudos no King's College antes de realizar um atentado suicida no calçadão da orla marítima de Tel Aviv em 2003. Sharif não estava procurando redenção econômica e sim o massacre do maior número de judeus possível.
Praticamente todos os chefes de grupos terroristas internacionais são filhos do privilégio, que levaram vidas douradas antes de se juntarem às fileiras terroristas. Quinze dos dezenove terroristas suicidas do 11 de Setembro vieram de famílias proeminentes do Oriente Médio. Mohammed Atta era filho de um advogado no Cairo. Ziad Jarrah, que derrubou o voo 93 na Pensilvânia, pertencia a uma das famílias libaneses mais ricas do país.
Nasra Hassan, que retratou um brilhante perfil dos homens-bomba palestinos para a revistaThe New Yorker, explicou que "dos 250 homens-bomba nenhum era analfabeto, miserável ou deprimido". Os desempregados, ao que parece, são sempre os menos propensos a apoiarem ataques terroristas.
A Europa e os Estados Unidos deram tudo a estes terroristas: oportunidades de educação e emprego, entretenimento popular e prazeres sexuais, salários e bem-estar social e liberdade religiosa. Esses terroristas, como o "homem-bomba da cueca", Umar Farouk Abulmutallab, filho de um banqueiro, não viu um dia de pobreza em sua vida. Os terroristas de Paris rejeitaram os valores seculares de Liberté, Egalité, Fraternité, os jihadistas britânicos que cometeram atentados em Londres e agora combatem ao lado do Califado rejeitaram o multiculturalismo, o islamista que matou Theo van Gogh em Amsterdã repudiou o relativismo holandês e Omar Mateen o soldado do ISIS que transformou o Pulse Club de Orlando em um matadouro, disse que queria purgar o que ele achava ser libertinagem e, ao que tudo indica,seus próprios desejos homofóbicos.
Se o Ocidente não entender a verdadeira origem desse ódio e sucumbir a falsos pretextos como a pobreza, não irá vencer essa guerra que está sendo travada contra nós.
Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.
Nota: para acessar todas as fontes deste texto, leia-o aqui: https://pt.gatestoneinstitute.org/9417/terroristas-pobreza-desespero
"A força mais enérgica não chega perto da energia com que alguns defendem suas fraquezas", disse com sua fina ironia Karl Kraus. O mundo é mesmo repleto de pessoas que acumulam verdadeiras fortunas e concentram absurdo poder apenas em cima de suas fraquezas declaradas. Ou explorando a miséria alheia, claro, que se tornou um gigantesco e lucrativo negócio.
É aquilo que Guilherme Fiuza tem chamado, em suas colunas, de "império do oprimido". E esse é justamente o título que deu ao seu novo livro, um romance que prova que a arte, muitas vezes, imita a vida. Trata-se de uma história fascinante de uma jovem bonita e rica que rompe o relacionamento com os pais assim que um partido de esquerda chega ao poder.
Ela decide que quer participar dessa revolução progressista. Numa idade em que é normal detonar os pais mesmo, Luana resolve radicalizar: abandona a vida de princesa e vai vagar pelo mundo, até parar numa ONG voltada para a assistência social. Lá se encanta com a ideologia socialista, e galga degraus até chegar ao topo do poder, no epicentro do novo governo.
Fiuza desenvolve essa história com maestria no ambiente da era lulopetista. Os ilustres personagens estão todos lá, facilmente identificáveis: Lula, Dirceu, Marcos Valério, Marcelo Freixo, Palocci, Márcio Thomas Bastos, JEC etc. A quadrilha chega ao poder com um discurso populista e encanta a população, com a ajuda inestimável dos artistas e "intelectuais" formadores de opinião, muitos sob recebimento de mesadas, como prostitutas.
Inúmeros fatos assombrosos dos últimos anos entram na narrativa, de uma forma muito criativa. Estão lá o mensalão, o petrolão, o assassinato de Celso Daniel, a casa das prostitutas em Brasília, os black blocs, o Mais Médicos, a tentativa de censurar a imprensa e muito mais. Tudo sob o controle indireto do Guia, o intocável, santificado pelas massas, identificado como o homem do povo que chegara para fazer justiça, acabar com a exploração centenária pelas elites.
Tudo balela, naturalmente. E Fiuza entra dentro da mente desses vilões, com a liberdade que só um livro de ficção permite, mostrando como o poder rapidamente sobe à cabeça ou, mais precisamente, como bandidos gananciosos exploram o discurso altruísta para chegar ao poder e por lá permanecer, ficando milionários no processo.
A forma pela qual uma jovem rica e mimada acaba sendo seduzida pelos "progressistas" também é retratada com perfeição. Sufocada pelas regras morais burguesas, pela hipocrisia que enxerga no mundo real quando suas fantasias infantis desmoronam, Luana era o alvo perfeito dos "gigolôs da bondade", que conseguem colocá-la contra o próprio pai. O encanto pelo professor esquerdista descolado ajuda bastante.
"Governo de uma gente cada vez mais poderosa, rica e coitada. É o crime perfeito", constata um dos personagens. Basta ver como mesmo depois de toda a podridão que veio à tona essa turma continua bancando a vítima para verificar como o fenômeno é impressionante. E foi um crime impune por muitos anos, com a conivência de muita gente, o silêncio cúmplice de vários, que surfavam na onda do mesmo populismo.
Fiuza dissecou o período mais nefasto da história de nossa democracia, e fez isso de uma forma muito divertida. O livro, com final surpreendente que não posso revelar, daria um baita filme, destino que outras obras do autor já tiveram. É leitura simplesmente imperdível, uma espécie de doce vingança de alguém que tentava alertar desde o início, quase sozinho, sobre o sonambulismo da população brasileira, vivendo sob o "império do oprimido" e aplaudindo a própria desgraça, reverenciando aquele que era seu maior algoz. E que, para revolta de muitos, continua solto, longe da prisão, seu destino merecido.
*Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.
(Publicado originalmente em http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/)
Na segunda-feira, o PSOL protocolará na Câmara um pedido de impechment contra Michel Temer. Em nota, o partido informou que “a peça terá como base as denúncias do ex-ministro Marcelo Calero, nas quais ele afirma que o presidente da República interveio em favor dos interesses do ministro Geddel Vieira Lima, para liberar uma obra em Salvador”. A iniciativa do PSOL é natimorta. A principal dificuldade do governo não está no Congresso. O que ameaça Temer é o mesmo fenômeno que fez dele presidente da República: a oposição extraparlamentar.
Destinatário do pedido do PSOL, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, avisa que não tem vocação para Eduardo Cunha. Mas ainda que Maia quisesse tocar fogo no circo dirigido por Temer, o impedimento do substituto constitucional de Dilma Rousseff seria sufocado pela maioria parlamentar que acaba de aprovar na Câmara a emenda constitucional do teto dos gastos. Dilma cutucava o Legislativo com o pé para ver se os congressistas mordiam. Temer se jacta de tocar um governo semiparlamentarista.
Em setembro de 2015, quando começou a se insinuar como candidato ao trono, o então “vice-presidente decorativo” Michel Temer declarou que ''ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo'' de 7% de aprovação. Antes, ele já havia afirmado que o Brasil precisava de alguém que tivesse “a capacidade de reunificar a todos''. Dilma, de fato, não sobreviveu à revolta provocada pela junção de duas crises: a ética e a econômica. Hoje, Temer é um presidente impopular. Mas dá de ombros: “Não estou preocupado com popularidade.”
Temer resume assim o seu sonho de ex-presidente: “O povo olhar pra mim e dizer: ‘Esse sujeito aí colocou o Brasil nos trilhos. Não transformou na segunda economia do mundo, mas colocou nos trilhos’.” Para atingir o sonho, Temer oferece aos brasileiros um pesadelo. Decidido a restabelecer a racionalidade econômica, afirma que o Brasil não sairá da “recessão profunda” em que se afundou com a adoção de “medidas doces”.
O presidente tem razão. Mas a tese da socialização dos sacrifícios perde o nexo no instante em que as principais autoridades da República, entre elas o próprio Temer, transformam a vista milionária de um apartamento de luxo de um ministro palaciano em prioridade do governo. De resto, a aceitação de remédios amargos fica mais difícil quando a plateia percebe que o pedaço político do gabinete de Temer vai virando farelo na usina de processamento de desvios éticos da Lava Jato.
Temer compôs um ministério paradoxal. Na área econômica, técnicos respeitados. Na seara política, amigos e aliados contestados. O tapete da administração peemedebista revela-se tão grande quanto o da gestão petista. O problema com as coisas varridas para baixo do tapete é que os presidentes continuam governando em cima do tapete. E os acobertados cheiram mal e se mexem muito. Descobertos, desmoralizam a presunção dos governantes de que comandam uma nação de idiotas.
O brasileiro nunca se importou com a imbecilidade. Mas já não admite ser tratado como imbecil. Sob Dilma, reaprendeu o caminho da rua. Esbaldou-se. Sob Temer, as ruas voltaram para casa. Mas começam a entrar em ebulição. Agendam para o dia 4 de dezembro um ronco contra a corrupção. Hoje, qualquer cidadão com um computador pode fazer chegar a sua raiva aos destinatários. Um ministro de Temer contou ao blog que sente diariamente o hálito quente da internet.
Na trincheira virtual, relatou o ministro, o combate é implacável e desleal. Escondidos atrás de pseudônimos, os descontentes lançam mão de toda a retórica capaz de insultar o interlocutor. O ministro é frequentemente mandado para lugares desagradáveis. Mandam-no, por exemplo, à presença da pessoa que, tendo exercido a profissão de prostituta, lhe deu à luz.
A oposição extraparlamentar não é ideológica. Para esse opositor que grita rente ao meio-fio ou xinga atrás da tela do computador, o problema não é de esquerda ou de direita. O problema é a sensação de que, seja quem for o presidente, haverá sempre meia dúzia por cima, prescrevendo remédios amargos, e milhões por baixo, tendo que engolir o purgante na marra.
Ou Michel Temer enxerga esse novo ator da política ou sua impopularidade será tão intensa que logo começarão a surgir os traidores no Congresso. Se quiser, o presidente pode emitir um sinal de que acordou ao nomear o substituto de Geddel Vieira Lima. Basta que examine bem as circunstâncias, para não confundir um certo homem com um homem certo.