• Olavo de Carvalho
  • 21 Outubro 2016


(Publicado no Diário do Comércio, 29 de agosto de 2012, mas atualíssimo)


A mitologia infantil que a população consome sob o nome de “jornalismo” ensina que o Leitmotiv da história mundial desde o começo do século XX foi o conflito entre “socialismo” e “capitalismo”; conflito que teria chegado a um desenlace em 1990 com a queda da URSS. Desde então, reza a lenda, vivemos no “império do livre mercado” sob a hegemonia de um “poder unipolar”, a maldita civilização judaico-cristã personificada na aliança EUA-Israel, contra a qual se levantam todos os amantes da liberdade: Vladimir Putin, Fidel Castro, Hugo Chávez, Mahmud Ahmadinejad, a Fraternidade Muçulmana, o Partido dos Trabalhadores, a Marcha das Vadias e o Grupo Gay da Bahia.

            A dose de burrice necessária para acreditar nessa coisa não é mensurável por nenhum padrão humano. No entanto, não conheço um só jornal, noticiário de TV ou curso universitário, no Brasil, que transmita ao seu público alguma versão diferente. A história da carochinha tornou-se obrigatória não só como expressão da verdade dos fatos mas como medida de aferição da sanidade mental: contrariá-la é ser diagnosticado, no ato, como louco paranóico e “teórico da conspiração”.

            Como já me acostumei com esses rótulos e começo até a gostar deles, tomo a liberdade de passar ao leitor, em versão horrivelmente compacta, algumas informações básicas e arquiprovadas, mas, reconheço, difíceis de acomodar num cérebro preguiçoso:

            A suprema elite capitalista do Ocidente – os Morgans, os Rockefellers, gente desse calibre – jamais moveu uma palha em favor do “capitalismo liberal”. Ao contrário: tudo fez para promover três tipos de socialismo: o socialismo fabiano na Europa Ocidental e nos EUA, o socialismo marxista na URSS, na Europa Oriental e na China e o nacional-socialismo na Europa central. Gastou, nisso, rios de dinheiro. Criou o parque industrial soviético no tempo de Stálin, a indústria bélica do Führer e, mais recentemente, a potência econômico-militar da China. Nos conflitos entre os três socialismos, o fabiano saiu sempre ganhando, porque é o único que tem a seu serviço a tecnologia mais avançada, uma estratégia flexível para todas as situações e, melhor ainda, todo o tempo do mundo (o símbolo do fabianismo é uma tartaruga). O nazismo, cumprida sua missão de liquidar as potências europeias e dividir o mundo entre a elite ocidental e o movimento comunista (precisamente segundo o plano de Stálin), foi jogado na lata do lixo da História; do fim da II Guerra até o término da década de 80, só subsistiu sob a forma evanescente de “neonazismo”, um fantasma acionado pelos governos comunistas para assustar criancinhas e desviar atenções.

O fabianismo nunca foi inimigo do socialismo marxista: adora-o e cultiva-o, porque a economia marxista, incapaz de progresso tecnológico, lhe garante mercados cativos, e também porque sempre considerou o comunismo um instrumento da sua estratégia global. Os comunistas, é claro, respondem na mesma moeda, tentando usar o socialismo fabiano para seus próprios fins e infiltrando-se em todos os partidos socialistas democráticos do Ocidente. Os pontos de atrito inevitáveis são debitados na conta da “cobiça capitalista”, fortalecendo a autoridade moral dos comunistas ante os idiotas do Terceiro Mundo e, ao mesmo tempo, ajudando os fabianos a apertar os controles estatais sobre as economias do Ocidente, estrangulando o capitalismo a pretexto de salvá-lo. Os “verdadeiros crentes” do liberalismo econômico é que pagam o pato: sem poder suficiente para interferir nas grandes decisões mundiais, tornaram-se mera força auxiliar do socialismo fabiano e, em geral, nem mesmo o percebem, tão horrível é essa perspectiva para as suas almas sinceras.

Mas às vezes a concorrência fraterna entre fabianos e comunistas desanda: com a queda da URSS, aqueles acharam que tinha chegado a hora de colher os lucros da sua longa colaboração com o comunismo, e caíram sobre a Rússia como abutres, comprando tudo a preço vil, inclusive as consciências dos velhos comunistas. O núcleo da elite soviética, porém, a KGB, não consentiu em amoldar-se ao papel secundário que agora lhe era destinado na nova etapa da revolução mundial. Admitiu a derrota do comunismo, mas não a sua própria. Levantou a cabeça, reagiu e criou do nada uma nova estratégia independente, o eurasianismo, mais hostil a todo o Ocidente do que o comunismo jamais foi. O fabianismo, que nunca foi de brigar com ninguém e sempre resolveu tudo na base da sedução e da acomodação (inclusive com Stálin e Mao), finalmente encontrou um oponente que não aceita negociar. A “Guerra Fria” foi, em grande parte, puro fingimento: a elite Ocidental concorria com o comunismo sem nada fazer para destruí-lo. Ao contrário, ajudava-o substancialmente. Putin não é um concorrente: é um inimigo de verdade, cheio de rancor e sonhos de vingança. A verdadeira “Guerra Fria” só agora está começando, e aliás já veio quente. A concorrência entre “capitalismo” e “socialismo” foi um véu ideológico para uso das multidões, mas a luta entre Oriente e Ocidente é para valer. Não por coincidência, o fiel da balança é o Oriente Médio, a meio caminho entre os dois blocos. Ali as nações muçulmanas terão de decidir se continuam servindo de instrumento dócil nas mãos dos russos, se aceitam a acomodação com a elite fabiana ou se querem mesmo fazer do mundo um vasto Califado. A elite Ocidental, que fala pela boca do sr. Barack Hussein Obama, parece decidida a fazê-las pender nesta última direção, por motivos que, de tão malignos e imbecis, escapam ao meu desejo de compreendê-los. Isso, caros leitores, é o que está acontecendo, e nada disso você lerá na Folha nem no Globo.
 

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  • João Luiz Mauad
  • 20 Outubro 2016

(Puiblicado originalmente em www.institutoliberal.org.br)

Antes da mais nada, gostaria de alertar para o fato de que o comentário abaixo não tem nada a ver com liberalismo, conservadorismo ou esquerdismo, mas com psicologia, sociologia, antropologia e biologia. Sim, eu sei que a ideologia de gênero é uma tese abraçada por alguns setores da esquerda, mas não é disso que pretende tratar esse texto.


O UOL publicou ontem uma matéria em que destaca um casal e seu filho (ou filhx, como alguns gostam de dizer) de dois anos, criado de acordo com a mais estrita igualdade de gênero. Segundo a matéria,

“Mica tem dois anos e apenas os cuidadores, como os seus pais biológicos preferem ser tratados, sabem o seu sexo. Um dia, a criança sai com um vestido rosa cheio de babados e, no seguinte, com um bermudão azul. Fora o visual, nem mesmo o nome de Mica entrega seu gênero de nascimento, porque a educadora Mariana Vieira Carvalho, 29, escolheu um nome que soasse neutro.
(…)
Mariana, ao lado de Raul Almeida Carvalho, 31, decidiu que a neutralidade tinha de vir desde o nome de registro. “Foi difícil porque não há muitas opções contemporâneas. E a gente teve o cuidado de não colocar nenhum nome que pudesse causar um constrangimento futuro.””

Para dar respaldo à matéria, a reportagem foi buscar a palavra do terapeuta sexual Breno Rosostolato, professor da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo. De acordo com o especialista, nomear uma criança com um termo que não entregue o sexo de nascimento ajuda a criar uma pessoa mais livre dos estereótipos de gênero, mas não é o bastante.

“A criança precisa ter condições de se representar do jeito que ela quiser e principalmente ter essa representação respeitada”.

O terapeuta diz ainda que, aos cinco anos, uma pessoa já tem compreensão de si para se dizer homem ou mulher. “E se a criança cresce em um ambiente que respeita essa expressão dela por um gênero, isso dá forças para enfrentar preconceitos. A criança eventualmente vai sofrer, mas com o apoio dos pais tudo se torna mais fácil.”

Ora, independentemente de qualquer argumento científico e do wishfull thinking dos experts, é inegável que (ainda) vivemos numa sociedade repleta de padrões e vinculada a um sem número de tradições. Viver fora desses padrões ou desrespeitar certas tradições pode ser muito difícil, até doloroso, eu diria, principalmente para as crianças, que ainda não desenvolveram defesas suficientes contra o preconceito – principalmente o preconceito oriundo da convivência com outras crianças, as quais ainda não desenvolveram freios que impeçam a discriminação escancarada.

Portanto, o que os pais daquela criança estão fazendo é uma violência contra seu filho/filha, não importa quão bem intencionados estejam – sim, eu me recuso a pensar que estejam fazendo isso com aquela criança apenas para obter seus 15 minutos de fama, como afirmam alguns.

No mais, pesquisas científicas sérias (não citadas nem de raspão na matéria) comprovam que as escolhas individuais relacionadas a profissões, brincadeiras, etc. são influenciadas principalmente por aspectos biológicos (genéticos e hormonais), além da cultura e da educação. Quem tiver interesse em aprofundar-se no tema, sugiro que comece assistindo a este documentário, não por acaso produzido na Noruega, pátria mãe da chamada ideologia de gênero. Vale cada minuto.

Ademais, fica aqui o meu apelo: independentemente das suas certezas, pensem no sofrimento que vocês podem impor aos seus pequeninos quando resolverem educá-los muito fora dos padrões e tradições de determinado lugar.

* João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

 

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  • Augusto de Franco - ex-dirigente do PT
  • 20 Outubro 2016

 

O que está acontecendo com o PT não é um fenômeno isolado. Aconteceu com vários grupos da esquerda autocrática depois da queda do muro de Berlim. Sobretudo na América Latina, em que muitos dirigentes de organizações ditas revolucionárias enveredaram para o crime.

Conheci vários desses militantes que viraram bandidos. Daniel Ortega, da Frente Sandinista, hoje presidente da Nicarágua, foi um deles. Me lembro como se fosse hoje. Ele foi convidado de honra no I Congresso do PT (que coordenei), no final de 1991. Chegando lá, no Hotel Pampa, em São Bernardo, Daniel pediu logo ao tesoureiro do PT à época, se não podia arranjar umas prostitutas. Esse Daniel e seu irmão Humberto, eram teleguiados de Fidel, que lhes passava pitos, aos berros. Reuniões decisivas para o futuro da chamada revolução sandinista foram realizadas em Havana, sob o comando de Fidel. E enquanto as bases Petistas da Igreja idolatravam por aqui os sandinistas como expoentes de uma nova espiritualidade dos pobres, esses bandidos assaltavam patrimônio público (inclusive passavam para seus nomes propriedades imóveis) do Estado nicaraguense.

O mesmo ocorreu com gente da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional de El Salvador, que também está no governo. Aconteceu com o Mir (e com o Mir Militar) chileno, com alguns Tupamaros, com as FARC colombianas e, é claro, com a nova leva de bolivarianos, que não tinham tanta tradição de esquerda, como Chávez, Maduro e Cabello (mas aí já estamos falando de delinquentes da pior espécie, que inclusive chefiam o narcotráfico na região) e como Rafael Correa e Evo Morales. Bem, para resumir, aconteceu com boa parte das organizações e pessoas que frequentam as reuniões do Foro de São Paulo (fundado, não por acaso, um ano depois da queda do muro - e eu estava presente na reunião de fundação, no Hotel Danúbio).

Não dando certo a revolução pela insurreição, pelo foquismo ou pela guerra popular prolongada, essa galera chegou à conclusão de que seria preciso fazer a revolução pela corrupção. Bastaria adotar a via eleitoral contra a democracia e depois assaltar o Estado para financiar um esquema de poder de longo prazo. O plano era simples: conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido. O objetivo era claro: chegar ao governo pela via eleitoral, tomar o poder e nunca mais sair do governo. Para isso, entretanto, era necessário, além do tradicional caixa 2, fazer um caixa 3, encarregado de custear ações legais e ilegais, ostensivas e clandestinas, para controlar as instituições, comprar aliados, remover ou neutralizar obstáculos...

Afinal, pensaram eles: as elites não fizeram sempre assim? Para jogar o jogo duro do poder não se pode ter escrúpulos. Foi essa a conclusão de Lula, Dirceu e dos dirigentes Petistas que tomaram o mesmo caminho. É claro que, como ninguém é de ferro e como não se pode amarrar a boca do boi que debulha, alguma compensação em vida esses bravos revolucionários mereciam ter. E foi assim que enriqueceram, abriram contas secretas no exterior para guardar os frutos dos seus crimes, adquiriram bens móveis e imóveis em nome próprio ou de terceiros e foram levando a vida numa boa enquanto o paraíso comunista não chegava.

O ano de 1989 foi decisivo para essa degeneração política e moral da esquerda. Mas o que aconteceu não foi um resultado do somatório de desvios individuais. Não! Eles viram que seria muito difícil conquistar o mundo e assumir o comando de seus próprios países, contrapondo um bloco a outro bloco. O bloco dito comunista se desfez. A União Soviética derreteu em 1991. Ruiu tudo. E agora? Bem, agora - pensaram eles - seria necessário ter uma nova estratégia. E eis que surgiu uma ideologia pervertida, baseada numa fusão escrota de maquiavelismo (realpolitik exacerbada) com Gramscismo. Eles, como operadores políticos, conduziriam a realpolitik sem o menor pudor, enquanto que pediriam ajuda aos universitários para dar tratos à bola do Gramscismo (e reproduzir mais militantes nas madrassas em que se transformaram as universidades).

No Brasil, porém, parece que erraram no timing. Precisariam de mais uns três ou quatro anos para ter tudo dominado, dos tribunais superiores, passando pelo Congresso, pelo movimento sindical e pelos fundos de pensão, pelos (falsos) movimentos sociais que atuam como correias de transmissão do partido, pela academia colonizada, pelas ONGs que se transformaram em organizações neo-governamentais, por uma blogosfera suja financiada com dinheiro de estatais e por grandes empresas (com destaque para as empreiteiras, atraídas pela promessa de lucros incessantes quase eternos se estivessem aliadas a um sólido projeto de poder de longo prazo).

Não deu tempo. O plano foi descoberto antes que as instituições fossem completamente degeneradas. E chegamos então a este agosto de 2015, ano em que alguns desses dirigentes vão começar a assistir, de seus camarotes na prisão, o desmoronamento do esquema maléfico que urdiram.

NOTA: Me afastei do PT no final de 1993. Portanto, há mais de 20 anos. Até aquela época não era muito visível a estratégia da "revolução pela corrupção" que descrevi acima, nem mesmo para vários dirigentes nacionais do PT que, como eu, não pertenciam à corrente majoritária de Lula e Dirceu. Mas desde aquela época não acredito mais em partidos.

Augusto de Franco

 

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  • José Nêumanne
  • 20 Outubro 2016

 

(Publicado originalmente no Estadão)

A manchete do Estadão de domingo – Dezoito ex-ministros de Lula e Dilma são alvo de investigação por desvios – é a constatação factual do principal pecado do chamado "presidencialismo de coalizão" e da distinção entre a corrupção corriqueira de antes e o saque sistemático e completo de todos os cofres disponíveis da República.

O pacto da "governabilidade", eufemismo caridoso para justificar a ocupação dos ministérios por grupos de políticos profissionais que controlam o Congresso Nacional, não resulta de uma parceria de programas partidários para uma gestão de qualidade, atendendo a interesses republicanos, mero pretexto retórico. Mas, sim, da divisão de verbas orçamentárias para subvencionar interesses grupais e paroquiais de chefões de legendas, interessados apenas na permanência no poder, nos melhores casos, ou no enriquecimento pessoal, nos mais deletérios deles.

Na embriaguez da popularidade inesperada, o primeiro presidente eleito pelo povo depois da ditadura, Fernando Collor, confrontou esse paradigma e deu com os burros n'água por não aceitar dividir com os dirigentes partidários o butim dos cofres da "viúva", chegando a perder a Presidência na metade do mandato. Seu vice e sucessor, Itamar Franco, beneficiário de um acordão multipartidário, saiu de seu mandato-tampão ileso e ilibado, já que impôs a um Gabinete dos que apoiaram o impeachment do titular da chapa a execução de uma gestão austera dos negócios de Estado. Se não o fizesse, não teria deixado para a posteridade a maior revolução social da História, o Plano Real, baseado na responsabilidade fiscal. Esta não resistiria à dilapidação patrimonial da poupança pública, lema que elegeu o ministro da Fazenda que a planejou e realizou, Fernando Henrique Cardoso, para dois mandatos, legitimados por vitórias no primeiro turno. Mas ele perdeu a legitimidade ao forçar a barra da aliança parlamentar formada para gerir a gestão compartilhada na luta, eivada de suspeitas de corrupção, para obter a reeleição.

O desgaste causado pelas dúvidas sobre o segundo mandato ajudou a alçar o Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder. Nele ex-dirigentes sindicais, "padres de passeata", "freiras de minissaia" (apud Nelson Rodrigues) e ex-guerrilheiros, doutrinados por Marx a desafiar a ganância capitalista, justificando a "apropriação" da "mais-valia", aproveitaram-se das vantagens do acesso aos cofres da República. A propina dos corruptos de antanho foi, então, substituída pelo método do saque, mais premeditado e planejado do que propriamente organizado, do patrimônio público. Para realizar essa mudança contaram com uma oposição omissa, a prerrogativa de foro e a camaradagem no Supremo Tribunal Federal.

Nenhum tipo de corrupção deve ser perdoado. Se a denúncia do empreiteiro da Engevix José Antunes Sobrinho à Advocacia-Geral da União (AGU) for comprovada, os receptadores de comissões nas gestões estaduais paulistas dos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin receberão com justiça tratamento penal igual ao dado a réus da Lava Jato. A notícia, publicada pela revista Época, revela o acerto da distinção feita no parágrafo anterior e põe por terra o mantra, exaurido pela esquerda pilhada em flagrante delito de furto, de que há delação premiada seletiva contra seus larápios de estimação. Da mesma forma, se não é aceitável a ladainha usada pelo PT e seus aliados de que as gorjetas dadas aos partidos configuram doações legais consignadas na lei eleitoral, idêntica desculpa amarelada não serve para tucanos de mãos leves pilhados.
Como também as citações de dirigentes do PSDB (o morto Sérgio Guerra e o vivo Aécio Neves) na Lava Jato não podem servir de pretexto para a fanfarra parlamentar, militante ou acadêmica da esquerda "delinquentófila" usá-las como justificativa para a ação deletéria de seus ícones do socialismo, cujos delitos causaram a maior crise da História do País.

Há defensores de pobres e oprimidos que falam e agem como cúmplices dos gatunos. A Associação dos Engenheiros da Petrobrás e os sindicatos do setor nada disseramcontra o desmanche da estatal pelo superfaturamento de contratos em troca de "adjutórios" para petroleiros, políticos e legendas receptadoras de doações.
Nenhum sindicato de bancários cobrou explicações sobre os financiamentos bilionários, investigados na brasileira Lava Jato e na Operação Marquês, portuguesa, para a obra da hidrelétrica de Cambambe, na Angola do ditador comunista José Eduardo dos Santos, pai de Isabel dos Santos, a mulher mais rica da África. Aliás, a juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga, da 4.ª Vara Criminal paulista, processou o ex-presidente da cooperativa dos bancários (Bancoop) João Vaccari Neto por ter usado o patrimônio da entidade para financiar o PT e bancar apartamentos na praia para petistas ilustres, entre eles Lula. E a Central Única dos Trabalhadores (CUT) não deu um pio em contrário.

Dos 18 ex-ministros de Lula e Dilma citados neste jornal no domingo, dois foram da Fazenda. Um, Guido Mantega, é acusado de ter achacado empresários no gabinete. E Paulo Bernardo responde por ter cobrado propina de servidores do Ministério do Planejamento, sob seu comando, que pediram empréstimos consignados. Algum socialista reclamou?

Que nada! O PT, a defesa de Lula e parte daintelligentsia comparam Sergio Moro, da Lava Jato, ao dominicano Savonarola e dizem que, por ser moralista e intolerante, ele "persegue" o três vezes réu. Só que este também responde por corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e organização criminosa, e não por crime político, a outro juiz, Vallisney Oliveira, de Brasília.

Nunca antes na História houve nada igual. É hora de aceitar a realidade, processar e punir os responsáveis. E sanar as distorções que desempregaram ou subocuparam 16,4 milhões de brasileiros (16% da força de trabalho). Não dá mais para perdoar ignomínias desse jaez.
 

 

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  • Michael James Nazir-Ali
  • 19 Outubro 2016

 

(Publicado originalmente em midiasemmascara.org)

A verdade é que a Europa precisa recuperar sua grande narrativa pela qual deva viver, pela qual deva determinar o que é verdadeiro, bom e benéfico para seu povo.

O grande número de pessoas desembarcando no litoral da Europa - sejam refugiados, sejam imigrantes em busca de melhores condições financeiras - assim como o maléfico advento do Estado Islâmico e de outros grupos extremistas muçulmanos, levou o historiador Niall Ferguson a comparar, no jornal britânico The Sunday Times, o estado atual da Europa com o da época da chegada das tribos germânicas e dos hunos da Ásia Central às portas de Roma, no século V.

Certamente existem pontos em comum entre a situação do então Império Romano do Ocidente e a da Europa de hoje. Nós possuímos a mesma cultura popular decadente e superficial, em que tudo é permitido e o "pão e o circo" mantém a população anestesiada com uma saraivada de esportes, entretenimento e jogos de azar sem fim. Em comum entre as duas épocas também há o cinismo em relação à fé e aos valores que dela advém, assim como a mesma acídia ou cansaço de culturas decrépitas. Mas devemos tomar cuidado em não sermos anacrônicos e atribuir a Roma todos os nossos vícios e todas as nossas virtudes. É impressionante como alguns, ao invés de enxergarem o Cristianismo como parte da resposta para as tribulações da Europa, estão aproveitando a oportunidade para caluniar a religião em geral, sejam quais forem os fatos da história.

É particularmente incorreto tomar o livro de teor extremamente anti-clerical "Declínio e Queda do Império Romano", de Edward Gibbon, como uma referência confiável na comparação do papel do Cristianismo no Império Romano e a chegada de extremistas islâmicos em nosso meio agora. Como Larry Siedentrop bem mostrou na obra "A invenção do Indivíduo", não houve culturas "seculares" na Antiguidade. Tudo o que havia eram religiões da família, tribo, cidade ou império, e Roma não era exceção. Desta forma, César, tal qual muitos governantes antigos, se considerava divino e, na época do surgimento do Cristianismo, foi denominado "Dominus et Deus".

Foi isso o que causou tantos problemas para a Igreja em seus primórdios. A Igreja podia honrá-lo como imperador, mas tinha que recusar prestar-lhe o culto divino. É totalmente errado alegar que a força da Roma "secular" foi sabotada pelo advento do Cristianismo monoteísta. Também é bastante enganoso comparar o Cristianismo em sua fase inicial com o ISIS e outros grupos terroristas islâmicos. Mais importante, o Cristianismo substituiu os cultos corporativos da família, da tribo e da cidade por uma espiritualidade profundamente pessoal e pela possibilidade de se pertencer a uma comunidade universal sem classes. Como Siedentop afirma, foi o Cristianismo que nos deu a idéia da "pessoa", da sua liberdade e do seu valor. Se os cristãos nem sempre foram fiéis a essa visão, não há motivo para fazer falsas comparações com um sistema totalitário, tal como o Islamismo radical, onde há pouco espaço para a liberdade pessoal e quase nenhum para o exame interior da consciência. Siedentop também demonstra que o reino secular surgiu a partir de idéias cristãs, como o respeito pela consciência, e da natureza não-coercitiva do Cristianismo primordial, e não de supostos antecedentes pagãos tão amados pelos intelectuais que o odeiam.

O fato é que Roma foi salva dos piores excessos dos vândalos e dos hunos pelo papa Leão I e, como lembra o filósofo Alasdair MacIntyre, as luzes do conhecimento foram mantidas acesas na Idade Média pelos beneditinos e por outras congregações religiosas. Nós certamente precisamos de estadistas como Konrad Adenauer e Robert Schuman, que viram a necessidade de uma base moral cristã para a integração da Europa do pós-guerra. Nós precisamos também de um João Paulo II, cujo papel na libertação de países da Europa Central e do Leste de outra ideologia antagônica (comunismo) não precisa sequer ser mencionado. Certamente existem trevas crescentes e que se aproximam, mas o Cristianismo é a luz que pode brilhar sobre elas e dispersá-las. Com certeza, devemos rezar por um Bento ou Wojtyla, mas quem iria querer outro Nero ou Domiciano?

Ferguson acertadamente observa o vazio da cultura do entretenimento e dos shopping centers. Porém, ele não menciona o estado caótico da vida familiar que foi criado após ter se confundido liberdade com libertarianismo. A isso ele poderia acrescentar o simbolismo empobrecido daqueles que tentam lamentar uma atrocidade horrenda, mas sem ter uma referência ou um sistema de crenças, possuindo apenas uma compreensão opaca de qualquer coisa que seja transcendente. Como John Henry Newman descreveu nas palavras do Apóstolo: "sem esperança e sem Deus no mundo". Por que a secular Quinta República tem de realizar o memorial em homenagem às 130 vítimas dos ataques feitos por terroristas do ISIS (o artigo foi publicado uma semana após os ataques de 13 novembro de 2015, em Paris – nota do tradutor), na gloriosa catedral de Notre-Dame, e não fazê-lo no completamente secular e sem graça Centro Pompidou? Pode isso ser um indício do papel que a fé cristã pode desempenhar em ajudar a Europa a despertar de sua letargia e se acalmar, e também a assisti-la na sua renovação espiritual e moral?

A verdade é que a Europa precisa recuperar sua grande narrativa pela qual deva viver, pela qual deva determinar o que é verdadeiro, bom e benéfico para seu povo. O marxismo e o fascismo trouxeram sofrimentos terríveis para os europeus. Agora, outra ideologia totalitária os ameaça. Um espaço plural real só pode ser garantido pelas idéias intrinsecamente cristãs da dignidade da pessoa humana, do respeito pela consciência, da igualdade de pessoas e da liberdade não apenas de crer, mas de manifestar nossas crenças em público, sem discriminação ou violência contra aqueles que não as compartilham. A autogratificação imediata e o entretenimento sem fim não irão mais contribuir para a sobrevivência da Europa contemporânea do que o fizeram para a da Roma Antiga. O que é necessário é uma ética de serviço, uma abnegação e um sacrifício em nome do bem comum. Muitos reconhecerão nisso os ensinamentos do Mestre da Galiléia, e não de um paganismo qualquer, antigo ou moderno, nem de qualquer ideologia secular ou religiosa.

Não existem coisas como a neutralidade ou o processo gratuito nessas questões. O extremistas decidiram quais são seus valores e de onde eles vêm. Possuímos nós algo para se opor a isso? As instituições, a cultura, as realizações, os valores da Europa podem ser entendidos com referências à tradição judaico-cristã, seus ensinamentos com relação ao valor da pessoa, ao bem comum e principalmente à necessidade de auto-crítica e renovação. Essa é a hora de se reapropriar dela, no seu sentido mais amplo, como a fonte de nossos valores; celebrá-la e oferecê-la a todos os de boa vontade como uma base para trabalharmos juntos por uma Europa aberta, mas unida. Alguém possui outras alternativas viáveis?

* Michael James Nazir-Ali é um bispo anglicano nascido no Paquistão e naturalizado inglês.
Artigo foi publicado originalmente na revista Catholic Herald.
Tradução: Alexandre Cegalla
 

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  • Luis Milman
  • 18 Outubro 2016

 

A resolução aprovada no dia 13 passado pela Unesco, com o voto do Brasil, escancara a modalidade de antissemitismo contemporâneo que circula com naturalidade em meios políticos e universitários, sendo apregoada pelos países árabes e recepcionada, em especial, pelo universo esquerdista. Trata-se do antissemitismo nacional, que nega aos judeus o direito de autodeterminação política. Esta modalidade de ódio aos judeus sucede ao antissemitismo religioso, característico do medievo ocidental cristão e presente também na orbe muçulmana, e à modalidade da perseguição racial nazista, que resultou no Holocausto. A resolução da Unesco revela, mais uma vez, que as instâncias de representação internacionais são dominadas pelo novo pensamento antissemita. Para os palestinos, cuja perspectiva, estampada no artigo 20 de seu Pacto Nacional originário, de 1968, é acolhida pela mentalidade de esquerda, Israel deve ser visto como uma não-nação e o nacionalismo judeu (o sionismo) como um fenômeno falso, artificial e reacionário. Em 1996, este artigo e os demais que negavam a Israel o direito de existência, foram considerados nulos pelo Conselho Nacional Palestino, em atendimento às demandas israelenses de implementar os Acordos de Oslo, que se fundamentavam no reconhecimento dos direitos nacionais recíprocos. Entretanto, a revogação não impactou a vida política palestina, que continua sendo balizada perla propaganda antissionista.

Esta posição já provocou repercussão internacional grave Em 1975, depois da vitória de Israel na Guerrado Yom Kipur, em 1973, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução 3379, proposta pelos países árabes, que afirmava que o sionismo é uma forma de racismo e discriminação racial. O Brasil, então sob regime militar, apoiou a resolução. Somente em 1991, a Assembleia Geral da ONU, com a resolução 4686, revogou a decisão. Na época, estava sendo organizada a Conferência de Paz de Madrid, logo após a primeira guerra do Iraque, e Israel havia exigido a revogação da resolução 3379 como condição para que participasse das negociações.

Em 2001, no entanto, as discussões realizadas na Conferência da ONU sobre Racismo, em Durban, África do Sul, voltaram a assumir um tom marcadamente anti-israelense, o que fez com as delegações dos EUA e de Israel abandonassem o encontro. Devido aos esforços da diplomacia norte-americana e israelense, no entanto, o texto final da Declaração de Durban não apresentou ataques a Israel.

As correntes políticas de esquerda fartam-se em utilizar o exemplo destes fóruns como demonstração de que Israel patrocina um sistema de apartheid contra os palestinos. Trata-se de uma fantasia. No Brasil, partidos como o PT, o PSOL, o PC do B, o PSTU, o PCO, o Pátria Livre (ex-MR8) e grupelhos comunistas e anarquistas disseminados pelos campi universitários, sucessivamente repetem acusações viciosas contra o Estado Judeu, satanizando sua existência e patrocinado um festival delirante de antissemitismo nacional, cuja matriz pode ser rastreada na propaganda da extinta União Soviética dos anos 50 em diante, dos países árabes e dos palestinos. Estas correntes ideológicas assumem abertamente suas posições antissemitas, propondo revisões históricas insanas e descarregadas na forma de um antissionismo, que é a designação aceitável atualmente para a propagação do ódio aos judeus. O episódio da última semana da UNESCO é apenas mais um desta campanha, para a qual as forças políticas liberais e conservadoras devem estar sempre atentas.

 

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