Lamentável e inaceitável a campanha publicitária promovida pelo atual presidente do STF, patrocinando e “viabilizando” a implantação do chamado “juiz de garantia”.
E o STF passa por mais esse vexame de exaltação, pelo seu presidente, de uma norma infame que visa exatamente a “garantir” que nenhum corrupto, nenhum criminoso jamais seja condenado, sequer na primeira instância.
Não basta os criminosos, já condenados, não mais serem presos. Com a “lei da garantia”, nenhum criminoso será condenado, nem em 1ª instância, pois infindáveis recursos na fase instrutória da ação penal, a cargo de um 2º juiz, impedirão que o processo chegue à fase de sentença.
Ocorre que o presidente do STF sabe – ou deveria saber – que essa sórdida lei é direta, dupla e absolutamente inconstitucional.
Isso porque a Constituição Federal, no seu artigo 109, institui o princípio da unicidade do juízo, ao declarar que ao juiz compete PROCESSAR E JULGAR as causas sob sua jurisdição natural.
Assim, não pode haver a revogação dessa norma constitucional da unicidade do juízo, a não ser através de uma PEC.
E a iniciativa dessa Emenda é PRIVATIVA do Poder Judiciário.
O art. 96, II, da Constituição declara competir privativamente ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo a criação e a extinção de cargos de juízes e a alteração da organização judiciária.
Portanto, o “juiz de garantia” é um escabroso jabuti absolutamente inconstitucional jogado na Lei Anticrime, criando 2 instâncias na própria 1ª instância, para assim termos 5 instâncias
Assim levando os delinqüentes não para a cadeia mas para a prescrição dos seus crimes por ausência de qualquer sentença condenatória. Tudo isso com o objetivo de proteger os corruptos que infestam este país.
Todos sabemos que será perda de tempo ingressar com ações de inconstitucionalidade perante uma Corte Suprema cujo presidente está promovendo a “implantação” acelerada de mais essa regra pró-crime.
Mas, segundo o art. 97 da Constituição, tribunais regionais federais e estaduais têm o poder de declarar a inconstitucionalidade dessa norma imoral, recusando a sua aplicação no âmbito de suas jurisdições.
Motivo pelo qual o povo brasileiro deve apoiá-los para que o absurdo “juiz de garantia” seja o quanto antes removido de nosso ordenamento.
*Publicado originalmente no Facebook do autor.
A operação dos EUA que culminou na morte do general Qasem Soleimani, a principal liderança militar iraniana, em Bagdá, no Iraque, por meio de um ataque com Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) popularmente conhecido como drone, é uma demonstração de força do Presidente Donald Trump junto a seu eleitorado e aos norte-americanos em geral num mandato que vêm obtendo bons índices econômicos e algumas melhorias sociais e por esta razão, com chances de reeleição.
No entanto, faltava em seu currículo, a exemplo de seu antecessor, Barack Obama, a eliminação de um inimigo comum a segurança estadunidense que, nas últimas duas décadas, é uma rede terrorista extremista islâmica e suas lideranças como ocorreu com a Al Qaeda e mais recentemente com o ISIS.
Obviamente que esta comparação é inválida, pois embora apresentarem um mesmo padrão operacional de ataques e alvos, são questões bem diferentes. Osama Bin Laden e Abu Bakr Al Bagdadi eram líderes de grupos não reconhecidos internacionalmente como ligados a algum Estado soberano, portanto irregulares, e cujo uso da força e violência rompeu o monopólio destes próprios Estados, ou seja, ilegais e considerada crime por resolução da ONU.
O general Soleimani, a contrário sensu, representava uma força militar estatal, portanto legítima e agia sob a égide das lideranças políticas iranianas sob o regime dos Aiatolás, pelo menos até onde sabemos. Embora desigual e incomparável, este último episódio deverá ter boas repercussões como discurso político nas próximas eleições presidenciais previstas para novembro de 2020.
Tenho minhas dúvidas se os norte-americanos sabiam alguma coisa sobre Soleimani ou de seus planos de atacar alvos utilizando as milícias paramilitares iranianas, ou se foi o responsável por parcela dos últimos ataques contra alvos norte-americanos. Era uma figura conhecida apenas nos círculos governamentais da política externa e da inteligência.
Provavelmente, tenha partido destes círculos a estimativa de que ele caminhava para se transformar em um grande estrategista em operações irregulares contra forças dos EUA na região do Oriente Médio em um futuro próximo, portanto, uma ameaça potencial.
Quanto a retaliação severa prometida pelos Aiatolás e a possibilidade de um conflito militar entre EUA e Irã, as probabilidades são baixas para não dizer nenhuma. Vale lembrar, que o ditador Saddam Hussein proferiu ameaças similares quando “a primeira bota de um militar da coalizão pisasse em território iraquiano”, durante a Guerra do Golfo em 1990, o que se comprovou, posteriormente, ser apenas bravata.
Tudo indica que a reação iraniana não terá a intensidade e amplitude como desejariam e Trump sabe disso, tanto que deu o primeiro xeque estratégico num jogo que não interessa a nenhuma das partes.
Todos sabemos que por mais armada, equipada e treinada, a Guarda Revolucionária Iraniana, a exemplo da Iraquiana, não tem poder para resistir a um conflito bélico com forças norte-americanas como ficou evidenciado em 2003.
A probabilidade maior recai em ataques de retaliação a alvos norte-americanos localizados na região, ao estilo das ações terroristas ou ainda, ataques cibernéticos massivos ao território dos EUA uma vez que o Irã figura entre os principais atores no cenário cibernético internacional com comprovada capacidade tecnológica para realizar tais ações.
Neste contexto, o aumento de tensões faz parte do jogo pois estimula os jogadores diretos e traz ansiedade a uma plateia assustada que aposta sem conhecer as regras.
*Analista de Assuntos Estratégicos
**Publicado originalmente em http://www.defesanet.com.br/gh/noticia/35335/Woloszyn---O-Impactos-da-Morte-de-SOLEIMANI/
A falta do senso das proporções é exatamente o mesmo que falta de inteligência moral. O Movimento pela Ética na Política de 1992 nasceu de um grupo de pessoas, que se reunia na UFRJ. Eram sindicalistas, universitários, militantes de partidos, pessoal das ONGs e dos direitos humanos. Dando “nome aos bois”, tínhamos desde ex-Presidente da OAB até Lula, Herbert de Souza (o Betinho), Marilena Chaui, José Dirceu, Genoino, Frei Betto, tutti quanti. Mas quem realmente coordenou o processo que culminou no impeachment de Fernando Collor foi o PT.
A “Campanha pela Ética”, liderada pelo PT, dava a genérica impressão de estar lutando pela “ética” no sentido geral e corrente, isto é, pelo bem e pela decência, combatendo todo e qualquer elemento corrupto na administração pública, firmando-se como paladino da honestidade nacional. As provas de corrupção no governo de Fernando Collor, suscitando fartas demonstrações de indignação moral, tornou a ficção do Movimento verossímil, permitindo que o moralismo atávico dos brasileiros fosse imediatamente canalizado para o colo da esquerda.
Mas será que o ilustre Partido dos Trabalhadores, cujos principais membros encontram-se atualmente condenados pela Justiça por inúmeros crimes, estava mesmo defendendo a “ética” relacionada à honestidade, moralidade, etc.? Evidentemente que não. Eles defendiam o “Estado Ético”, nada mais, politizando a “ética” e colocando à luta de classes acima do bem e do mal, o que, num futuro bem próximo, inverteria totalmente aquilo que pregavam.
Bem, a partir desse Movimento, o PT assumiu o papel de representante da probidade pública e social, impulsionando cada vez mais a campanha pela “ética” e “cidadania”, ascendendo, assim, à condição quase sacerdotal de condutor moral da nação.
No fim, toda a farsa da “ética” terminou por ser usada como instrumento para a “longa viagem da esquerda - do PT, para dentro do aparelho de Estado”. Pois bem, e depois? A ética foi finalmente implantada no Brasil, expurgando os “ratos que roem nossa bandeira nacional” e vivemos felizes para sempre? Como desgraça pouca é bobagem, descobrimos que, frente ao que estava porvir, o Brasil até que era bem ético.
Desde janeiro de 2003 a gestão petista e seus asseclas conviveram e apoiaram casos de corrupção no Brasil, que, resumidamente, totalizam 4.880 dias de escândalos, somando mais de R$ 47 bilhões. Da posse de Lula ao afastamento de Dilma, em maio de 2016, os escândalos políticos e casos de corrupção sempre estiveram presentes.
Logo nos primeiros seis meses de gestão, o PT enfrentou a CPI do Banestado que envolvia dinheiro enviado ilegalmente para paraísos fiscais. Na época, o deputado José Mentor foi acusado de sabotar a CPI para proteger os petistas. Também em junho de 2003 veio à tona o esquema de corrupção no DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte) com desvio de R$ 32,3 milhões de recursos destinados à construção de estradas. O alvo das denúncias foi o ministro dos Transportes, Anderson Adauto.
Ainda em 2003, agora em setembro, outro escândalo. A ministra de Lula na Secretaria de Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, usou recursos públicos para custear passagens e hospedagens para Argentina e Nova Iorque, em compromissos pessoais. Ao todo, foram R$ 19 mil.
No início de 2004 surgiram as primeiras evidências do esquema do mensalão, maior escândalo do primeiro mandato de Lula. O mensalão era a propina que o governo pagava, com dinheiro público, a parlamentares para votar a favor das propostas petistas no Congresso. Segundo o STF, o articulador do mensalão foi José Dirceu, ministro da Casa Civil de Lula.
Em 2005, no mês de julho, tivemos outros grandes escândalos, agora envolvendo o ministro Romero Jucá (Previdência) que fez empréstimos de R$ 18 milhões de bancos públicos usando como garantia sete fazendas que não existiam. Na mesma época, estourou o esquema de corrupção apurado na CPI dos Bingos, que detectou um desvio superior a R$ 7 milhões de dinheiro público para políticos e empresários.
Para finalizar o primeiro mandato de Lula e da esquerda no poder, tivemos em 2006 o caso de corrupção de Luis Gushiken, ministro de Comunicações, com respingos do mensalão e também da CPI que investigou o desvio de R$ 11 milhões nos fundos de pensões de funcionários públicos.
A cenoura de burro das esperanças moralizantes da década de 90, que simulava “passar o Brasil a limpo”, mostrou-se um verdadeiro “Cavalo de Tróia”, cuja única preocupação era tomar o poder e fazer crescer o “Novo Príncipe” (ou o Partido, para Antônio Gramsci) por todos os meios amorais, imorais, mentirosos, cínicos, corruptos possíveis. Mas uma grande parcela do povo brasileiro resolveu validar, pelo voto, todos os escândalos petistas, reelegendo Lula. O inverossímil aconteceu!
Previsivelmente, em 2007, Lula iniciou o seu segundo mandato, após a reeleição, com novas suspeitas de corrupção. Na pasta do Trabalho, sob o comando do aliado Carlos Lupi, foi descoberta uma fraude envolvendo ONGs e fundos destinados a programas para desempregados que somaram R$ 18 milhões em desvios.
No ano de 2008, a ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, teve que deixar o cargo depois que descobriram gastos indevidos com cartões corporativos do governo no valor de R$ 171 mil. A denúncia levou a investigações de outras despesas ilegais do alto escalão petista.
Para serem beneficiadas com incentivos fiscais, em 2009, montadoras pagaram até R$ 36 milhões em propinas para o governo petista editar a medida provisória número 471. O esquema gerou um prejuízo de R$ 1,3 bilhões em impostos.
Bem, como diz o ditado popular “errar uma vez é humano, duas é burrice, na terceira você não tem vergonha na cara”. Mesmo frente aos escabrosos e contínuos escândalos de corrupção, julgados ao vivo e a cores, com larga divulgação pelos meios de comunicação, uma parcela de brasileiros manteve o PT no poder. Para mim, isso não só significou validar o que passou, mas também, implicitamente, autorizar sua continuidade.
E foi isso que Dilma Rousseff fez. Em 2013, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, foi acusado de envolvimento em fraudes de licitações que chegaram a R$ 1 bilhão. O dinheiro foi enviado para empresas que financiaram a campanha do PT. O final da história nós já conhecemos, a “Lava Jato” desnudou o rei petista e mandou para a cadeia toda a companheirada, responsável pelo maior esquema de corrupção e manutenção de poder da história brasileira, tornando-nos oficialmente uma cleptocracia.
O PT corrompeu com a autoridade moral de quem, ao arrogar-se os méritos de um futuro hipotético, já está absolvido de todos os delitos do presente; roubou com a tranquilidade e o destemor de quem pode usar licitamente de todos os meios, já que é o senhor absoluto de todos os fins. É o Partido Ético, sempre exaltado e defendido por uma parcela de brasileiros. A verdade se transformou em mentira e a mentira em verdade.
O sucesso da revolução cultural do PT foi tão avassalador que - mesmo cientes de toda mentira, corrupção e imoralidade praticada pela esquerda -, a parcela de brasileiros apoiadora dessa aberração política passa de sua cegueira voluntária a sacerdote da “ética na política” para acusar e julgar seus opositores, equiparando “rachadinhas” de gabinete com a corrupção da própria democracia e implantação de uma hegemonia totalitária. Porca miseria!
*Advogado e Jornalista
Em 31/12/2019
O fato de termos somente cinco enormes Bancos é somente parte do problema.
Problema maior é que são cinco Bancos com culturas administrativamente totalmente diferentes, feudos individuais por assim dizer.
Sendo assim, não há como uma inovação administrativa ou técnica bem-sucedida em um desses Bancos migrar para os demais.
O Itaú não contrata funcionários do Bradesco, e vice-versa.
O Bradesco somente promove de dentro, justamente porque quer preservar a cultura criada por Amador Aguiar.
Banco do Brasil idem, é a cultura do estatismo, do governismo.
Santander é espanhol, segue também a sua cultura de origem e os valores compartilhados da matriz espanhola.
Por que isso é grave?
Porque não temos uma cultura administrativa compartilhada por todos, Bancos e administradores financeiros.
Os poucos administradores financeiros que temos precisam se adaptar ao Itaú ou ao Bradesco ou ao BB, uma insanidade, mutuamente exclusivas.
Por isso sequer temos no Brasil um “School of Banking” ou uma Escola de Administração Bancária, como o Baruch School of Banking de Nova York.
Pior, nenhum intelectual brasileiro, que vive criticando o sistema bancário, se dá conta disso. Nem ninguém percebe a falta de uma escola que ensine banqueiros a administrar com eficiência.
Mas o problema fica pior.
Nossos Bancos inovam somente adotando teorias acadêmicas tiradas da literatura internacional, como agora todos interessados no Blockchain.
A pouca inovação que houve nesses 60 anos veio da contratação de jovens direto das universidades.
E mesmo assim contratam as pessoas erradas.
No caso do Itaú, Santander e Citi, contrataram não Analistas de Crédito ou Administradores Financeiros, treinados para as funções necessárias.
Contrataram justamente profissionais nada treinados nessas áreas, Engenheiros Civis, Engenheiros Mecânicos e Engenheiros de Produção da Politécnica de São Paulo, alma mater de seu fundador, também engenheiro.
Como Engenheiros, fizeram aquilo que foram treinados a fazer, trocar seres humanos por máquinas aumentando a “produtividade”.
Foi o que permitiu a Revolução Industrial, não estou aqui criticando essa nobre função do Engenheiro.
Mas isso não se faz no setor de Serviços, onde o relacionamento humano é a essência do negócio.
Hoje quem empresta não é mais o Gerente, acabaram com a essência da atividade bancária, Relationship Banking.
O Gerente só administra os formulários para alimentar os computadores, as máquinas dos Bancos.
Relationship Banking que criamos ao longo de 400 anos, e que foi jogado fora em 10 anos.
Li no Valor que a solução é outra. “O acesso ao crédito só deve melhorar em 2020 com a vinda do open banking, fintechs e startups.”
Esquecer Bancos não é a solução, precisamos administrá-los melhor como profissionais do ramo.
Ou seja, continuaremos a fazer os diagnósticos equivocados, e numa Reforma Bancária por vir iremos mais uma vez para trás, por nem nos preocuparmos em formar profissionais preparados para financiar esse país.
* Publicado originalmente em http://blog.kanitz.com.br/tragico-setor-bancario/
30/ 12/ 2019
APOSTANDO NA DÉCADA
O ano de 2019, depois de muitos anos de comprovada AMARGURA ECONÔMICA, pelo grau de confiança e esperança que habita os ambientes daqueles com os quais mais me relaciono, está chegando ao fim em clima de elevado ALTO ASTRAL. Este sentimento dá a dimensão correta do quanto boa parte do povo brasileiro está apostando, não apenas em 2020, mas na década 2020/2030 que começa dentro de dois dias.
REFLEXÕES E PROJEÇÕES
Aproveitando o momento, que se presta, tanto para as devidas reflexões daquilo que foi possível colher ao longo do ano que se encerra quanto para fazer projeções responsáveis e/ou cabíveis no espectro da ilimitada e eterna ESPERANÇA, eis aí a análise feita pelo pensador e economista Paulo Rabello de Castro - 2020: O QUE NÃO ESTÁ GARANTIDO - :
ESPERANÇAS RENOVADAS
Há esperanças renovadas em torno de 2020. Recente levantamento do LIDE - Grupo de Líderes Empresariais - indica que as expectativas do setor privado voltaram a encostar no nível de 2010, último ano realmente muito bom nos últimos dez anos.
As vendas e o emprego têm condição de surpreender acima do que hoje preveem os principais analistas. A razão é bem simples: não há nada de errado com a ECONOMIA PRODUTIVA. A inflação é baixa, o câmbio é muito competitivo e, pela primeira vez, o Banco Central se permitiu ajustar os juros para seu nível normal. O ano de 2020 espelhará todos esses aspectos favoráveis - alguns inéditos - conjugados para permitir um salto no crédito.
PRÓXIMO DE ZERO
A economia brasileira poderia crescer mais de 5% em 2020. Em parte, seria mera reação estatística aos níveis deprimidos de produção e emprego, na década que agora se encerra. Se o PIB de 2020 crescer na faixa esperada de 2,5%, ainda assim o crescimento médio do período de 2014 até 2020 será um número próximo a zero.
O País perdeu mais uma década e nenhuma investigação a fundo questionou isso. Portanto, se a economia surpreender com até 5%, será mais por reação de um corpo saudável brigando contra uma doença do que por mérito especial da terapia. Esta continua onde sempre esteve.
INVESTIMENTO BAIXO
O governo governa os outros mas se governa bastante mal. O rigor que aplica ao setor privado com impostos e burocracia não encontra paralelo na complacência que aplica a seu próprio déficit fiscal primário, fonte da incapacidade do governo de investir e de repactuar as dívidas da Federação. O baixíssimo investimento federal e a inapetência do governo de chamar os Estados para um acerto definitivo do seu endividamento são os fatores impeditivos de uma retomada produtiva em grande escala do Brasil.
DÉFICIT PÚBLICO
O apelo às privatizações tampouco funcionou este ano para tapar o buraco das contas públicas. A venda da riqueza do pré-sal apenas amenizou o rombo federal em 2019. Mas não houve ataque frontal a nenhum problema público de maior gravidade, nem mesmo o da Previdência, cujo déficit continuará agravado em 2020, apesar de toda promessa de uma economia multibilionária em anos futuros.
A RAIZ
Na raiz de tudo está uma coisa só: o governo continua sendo o extrator de recursos dos segmentos produtivos, seja empresas ou famílias, que pagam o preço amargo de sustentar a máquina mortífera em que se transformou o Estado brasileiro. O remédio, portanto, não é privatizar esta ou aquela estatal, mas questionar toda e qualquer despesa mal feita ou fora do lugar. O Estado não tem mecanismos para isso. O governo, embora de orientação liberal, ainda não soube lidar com essa questão de como combater a máquina pública que trabalha para si mesma e não para benefício da expansão dos empregos e oportunidades produtivas.
O impasse dentro do governo esteve estampado na sua dificuldade de definir e empurrar para frente a reforma das reformas, ou seja, a reforma dos impostos. Isso não é por acaso. Dentro do ventre do governo há uma resistência poderosa contra qualquer suposta ameaça às receitas públicas que sustentam a máquina. O governo invisível não ajuda o ministro Guedes a definir qual reforma tributária se quer aprovar, afinal. Nisso, o Congresso e os governos estaduais parecem mais dispostos a enfrentar os riscos naturais de uma mudança fiscal para valer. O governo invisível em Brasília não topa arriscar nada. Por isso se fala de novo numa reforma tributária fatiada em quatro etapas, a perder de vista. É o mesmo papo da era Dilma e Temer repetido - por incrível que pareça - pelo grupo político que se diz a encarnação de seu oposto total. Mas não há surpresa nisso. É a máquina funcionando por trás do governo Bolsonaro da mesma forma que decidia por Dilma ou Temer, e seus ministros. É o mesmo Brasil, ano após ano, a nos recordar que somos um país dominado pelos grupos que dominam o Estado para garantir seus próprios soldos e vantagens. Idem, em maior ou menor grau, nos Estados da Federação. Este é o problema nacional intocado. O resto é consequência.
Embora improvável, esperamos ser surpreendidos por um 2020 em que, por primeira vez, não sejamos governados pelas consequências. Essa surpresa é a única parte do cenário 2020 que pode, de fato, representar novidade. É a única parte, aliás, que não está garantida.
A resposta à questão do aborto depende inteiramente de duas perguntas.
A primeira é: O feto no ventre da mãe é um ser humano ou não?
Se não é, então ele tem de se tornar um ser humano em algum momento da gestação. Há duas classes de imbecis que apostam nesta hipótese absurda.
Os imbecis espiritualistas acreditam que isso acontece no instante que a alma "entra" no corpo. Mas a alma não é uma "coisa" alheia ao corpo: é a própria vida do corpo. Para que ela entrasse num corpo já existente seria preciso que o corpo, até esse instante, não tivesse vida. Neste caso, é preciso admitir que o feto, nas primeiras semanas depois de gerado, está mortinho da silva. Já viu coisa mais doida?
Os imbecis materialistas alegam que um feto de três meses não se distingue, na aparência, de um feto de macaco – um argumento que é pura macaquice. Pablo Picasso, bem examinado, é mais parecido com o homem de Neanderthal do que com Tom Cruise.
Toda tentativa de provar que o feto não é humano esbarra em contra-sensos intransponíveis. Mas negar que o outro seja humano é a mais velha desculpa de quem deseja matá-lo. A ciência nazista provava, com argumentos parecidos, que os judeus não eram gente.
Afastada a hipótese maluca de que o feto não seja humano, surge então a segunda pergunta decisiva: Existe alguma diferença substancial entre matar um ser humano no ventre da mãe e matá-lo depois que saiu?
Os aborteiros procuram enganar as mulheres com lisonjas, assegurando que tudo que está dentro do corpo delas é delas, e que podem fazer o que bem entendem com o que é delas. Este raciocínio subentende que o feto é um órgão do corpo da mulher, e não um ser humano independente. Mas, mesmo que o feto fosse um órgão, que é um órgão? É, por definição, algo que não pode ser retirado sem dano para o corpo. Então como alegar, em apoio de retirar o feto, o argumento de que é um órgão? Se é um órgão, retirá-lo é mutilar o corpo. E, uma vez aceito o direito à automutilação, seria uma odiosa discriminação concedê-lo a quem desejasse cortar o dedão do próprio pé e negá-lo a quem pretendesse algo mais requintado, como cortar a própria cabeça, ou cortar o restante do corpo e sair por aí só com a cabeça flutuando no ar.
Excluída, por absurda, a hipótese de que o feto seja um órgão, resta saber se, mesmo sendo alguma outra coisa, ele pertence à mulher que o carrega no ventre. A resposta é não, porque não é feito só de óvulo, mas também de esperma. O esperma não é produzido pelo corpo da mãe, mas pelo do pai, que apenas o deposita no corpo da mãe. A mãe não é portanto dona do feto inteiro, mas apenas de uma parte; da outra parte, que veio do pai, é apenas depositária – e tem tanto direito de jogar o feto no lixo quanto um banco tem o direito de jogar no lixo o dinheiro dos nossos depósitos.
A rejeição categórica do direito ao aborto decorre de evidências cristalinas, que só uma mentalidade torpe pode negar. Mas o mal não está nas mulheres que abortam, enganadas pelo desespero. Está no defensor do aborto, que com fala mansa pretende induzi-las a tornar-se homicidas. Caso aceitem a proposta, das duas uma: ou estarão criando ainda mais um motivo de culpa, sofrimento e desespero, ou então terão de sufocar no seu coração todo sentimento de culpa, tornado-se frias e desumanas como seu pérfido conselheiro.
Faço um apelo à mulher pobre e desesperada, que tem medo de por um filho no mundo: não creia nesses falsos amigos. Quando ouvir um deputado, um senador, um intelectual bem situado na vida dizer que defende o aborto porque tem pena das mulheres pobres, pergunte a ele:
– Mas, doutor, se o senhor é tão bom e generoso que se oferece para ajudar a matar o meu filhinho, por que não pode me dar algum dinheiro para ajudá-lo a viver?
*Publicado originalmente em Radio Imprensa, 4 de dezembro de 1996