• Sílvio Lopes
  • 03 Dezembro 2023

 

Sílvio Lopes

 

        Vivemos num mundo de paradoxos. Essa é a constatação que podemos confirmar em todas as áreas de nossa sociedade. Quem sabe até, arrisco afirmar, jamais tenhamos convivido e presenciado uma civilização tão paradoxal como a atual.

Gente que diz amar e destila ódio; afirma lealdade e trai a confiança do outro; promete e não cumpre o prometido, e por aí afora. Na política, então, o paradoxo tornou-se moeda corrente para sequestrar mentes e corações com baixo grau de discernimento intelectual. Nela há os que, paradoxalmente, iludem um povo inteiro ao garantir a defesa da democracia e as suas liberdades e, depois (eleitos), abraçam a mais cruel e tirânica ditadura. Intitulam-se "pai dos pobres", mas condenam seus "filhos" adotivos à eterna miserabilidade.

Neste caso, o Brasil é o exemplo clássico que nos envergonha e, ainda por cima, trava por completo todo sonho e esperança de sermos,  um dia, uma grande nação.

Diferente do paradoxo dos homens, que nos trazem tantos dissabores e frustrações, o paradoxo espiritual, inspirado no Reino de Deus, nos consola, edifica e dá poder para transformar o mundo e torná-lo um lugar menos tóxico de viver. Ei-lo, em sua essência: 1. Quer ser exaltado? Então, seja humilde; 2. Quer ser grande? Então, se faça pequeno; 3. Quer ser digno de ser servido? Então, você deve, primeiro, servir!

No dia em que, enfim, adotarmos o paradoxo espiritual como bússola a guiar nossa caminhada, a vida com certeza será muito mais doce e segura de se viver. Na palestra sobre " Economia Comportamental" o " conflito dos paradoxos" é um, entre outros, dos temas palpitantes dos quais tratamos.

*       O autor, Sílvio Lopes, é jornalista, economista e palestrante.

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  • Ismael de Oliveira Luz, em Burke Instituto
  • 30 Novembro 2023

 

 

Ismael de Oliveira Luz

 

         O intelecto humano, desde os primórdios da existência da espécie, só funciona devido a nossa capacidade de percepção do real. Aristóteles, filósofo grego, estava convicto de que nada está na mente humana sem que antes tenha passado pelos sentidos. Portanto, para ele, perceber os objetos do mundo é condição sine qua non para que haja a atividade mental tal qual nós a conhecemos. É a existência dos seres que possibilita a atividade psíquica, visto que sem a presença física dos objetos nada podemos pensar e muito menos dizer. Dessa maneira, evidenciamos que a percepção está em primeiro plano no aprendizado e antecede a qualquer pensamento, pois o mesmo só irá surgir a posteriori, ou seja, após o contato inicial com as coisas do mundo real e concreto. Aristóteles vai mais fundo e afirma que os humanos além de serem seres racionais são também seres fantásticos. A fantasia, segundo ele, é a composição de duas outras faculdades da mente: memória e imaginação. É por meio delas que registramos as impressões oriundas do mundo físico, sendo possível à pessoa normal acessar a essas imagens quando quiser, portanto, a mente possui a capacidade de simplificar e estabilizar tudo aquilo que os sentidos captam, e os aglutinam, condensando-os em símbolos, que só então poderão ser manipulados pelo raciocínio de forma lógica e conceitual. A cultura humana inteira, por sua vez, foi construída sobre um universo imaginativo complexo e sobremaneira denso de imagens, conceitos, símbolos e valores, e sem os quais seria impossível para as civilizações realizarem quaisquer tipos de progresso, uma vez que toda e qualquer comunicação só é eficaz quando adequada aos diversos contextos, quando é homogênea nos sons e nas formas e inteligível simbolicamente para todos os que fazem uso dela. A linguagem é a cultura humana por excelência.

Uma guerra se caracteriza pelo fato de que as partes beligerantes procuram atacar-se mutuamente até que seja possível a uma delas neutralizar as ações do inimigo, de modo que reste apenas um lado capaz de conduzir os acontecimentos até o fim, atingindo seu objetivo estratégico, e sobrepondo-se em força sobre os demais. Quando se trata de uma guerra cultural vencerá aquele que conseguir neutralizar a cultura do inimigo, e isso só é possível quando se substitui uma cultura por outra que seja capaz de cumprir com o papel de fecundar a memória e a imaginação das pessoas por meio de novos símbolos, conceitos e valores e de tal modo que consiga manter a coesão e as relações sociais, garantindo a unidade do processo histórico. A cultura ocidental está sob o ataque de incontáveis inimigos e em inúmeras frentes de batalha e por meio do controle da linguagem, da subversão de conceitos fundamentais como o de família, pátria e religião vai se remodelando o imaginário coletivo sem que a sociedade perceba que pouco a pouco vai cedendo a essa infiltração lenta e constante de novas ideias, costumes e valores que se cristalizam e fundamentam uma nova civilização, que pretende sobrepujar a atual, primeiro no campo psicológico e por conseguinte, no campo político e econômico, sem que haja condições de se contestar e muito menos reconduzir o percurso temporal, restando apenas a aceitação da modificação do estado de coisas.

A maneira como nos expressamos por meio da fala revela em partes o nosso campo psíquico, portanto, para analisar a “forma mentes” das pessoas basta analisar minuciosamente o vocabulário utilizado, as construções semânticas, os juízos de valores e padrões linguísticos. E é justamente ai que a guerra cultural é travada de forma profunda, pois tudo o que pensamos só é possível por meio de palavras previamente consolidadas no aparato mental, oriundas dos conceitos condensados no intelecto e que posteriormente serão articulados pelo raciocínio segundo os padrões da lógica elementar. Uma grande cultura é necessariamente aquela que devido à força de suas criações simbólico-culturais penetram nas camadas mais profundas da mente humana expandindo a sua consciência e potencializando cognitivamente e moralmente todo o nosso ser. Como exemplo disso, mencionamos a grande e densa criação da cristandade, que desde o advento do Cristo, produziu elementos que transcendem o mero campo do discurso ideológico e se impregnam na alma humana, obras tais como: o novo testamento, as músicas e orações, as liturgias e os dogmas, pinturas, esculturas, livros, encíclicas, sumas teológicas, catedrais e outros tantos e sofisticados recursos simbólicos que servem como uma grande e densa matriz de intelecções que apontam para o Deus criador e sua criação.

O movimento revolucionário, também representado pelos movimentos socialistas nacionais e internacionais, é um dos poderosos inimigos do Ocidente, pois ele possui, assim como o seu adversário, elementos culturais suficientemente capazes de penetrar no âmago da sociedade, transformando-a desde dentro. Conceitos como, “justiça social”, “luta de classes”, “igualdade de gênero”, “minorias oprimidas”, “sociedade patriarcal”, “liberdade sexual”, entre outros, já começam a fazer parte do vocabulário coletivo, já estão nos cinemas, televisão, revistas, músicas, editoriais jornalísticos e se manifestam nas rodas de conversas escolares e vão até os círculos mais elevados de poder do país, fazendo parte do debate público e ocultando os verdadeiros problemas sociais que assolam o país como, a má administração pública, o desvio de verbas, a corrupção, o crime organizado, políticas internacionais desruptivas, os planos globalistas para a destruição das soberanias nacionais e sobretudo a ausência de uma classe intelectual que tem o papel fundamental e urgente de influenciar a população desde as classes mais elevadas até o povo mais simples e carente de informações verdadeiras e necessárias para a manutenção da vida cotidiana. Para vencermos os nossos inimigos teremos que combater no campo estratégico de maior impacto psicológico, usando as armas adequadas e fortalecendo a cultura ocidental nos seus aspectos mais basilares: A língua nacional, a religião cristã e sua elite intelectual, pois é por meio da capacidade linguística que o ser humano consegue materializar suas ideias, visto que aquilo que não é pensado não pode ser executado e pensamos por meio da língua pátria, já a religião tem o papel exclusivo de nos conduzir até Deus por meio da purificação da alma, e por fim a formação da elite intelectual possibilitará que o debate de ideias se torne público e se liberte das cátedras universitárias, do jornalismo arrivista e da militância orgânica que hoje em dia estão à serviço dos movimentos partidários revolucionários.

Uma guerra cultural não é simplesmente um conflito entre discursos ideológicos, não se trata de saber quem tem ou não tem razão argumentativa. A guerra cultural é a conquista total e absoluta do campo psicológico, imaginativo, intelectual e espiritual e somente por meio de uma elevada estrutura simbólica e artística que seja capaz de permear e preencher a alma humana nos seus mais profundos recônditos é que uma cultura se sobrepõe e absorve uma outra de menor valor simbólico. Uma guerra cultural é o “bom combate” mencionado pelo apóstolo Paulo, aquele que se vence pela manifestação tácita da luz.

*        Publicado originalmente no excelente site de Burke Instituto Conservador, em https://www.burkeinstituto.com/blog/guerra-cultural/o-que-e-guerra-cultural/

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 29 Novembro 2023

 

 

Alex Pipkin, PhD


         O filósofo e economista político, Francis Fukuyama, em seu seminal artigo “O Fim da História”, em tese, foi certeiro, diria metálico.

Ele diagnosticou, perfeitamente, que os trágicos sistemas coletivistas e autoritários do fascismo e do comunismo/socialismo deveriam estar na sepultura, e que, portanto, a democracia liberal ocidental prevaleceria como modelo político, sendo a economia de mercado a melhor forma de organização econômica.

No entanto, pelos inquestionáveis fatos e dados da realidade objetiva, seu “fim da história”, realmente estava completamente equivocado, tristemente.

As ideologias do coletivismo, ou melhor, do fracasso, e do correspondente autoritarismo, embalado modernamente como bom-mocismo, tiveram um passado glorioso - e matador - e, peçonhentamente, têm um futuro promissor.

O que se enxerga a olhos nus - e o que não se vê -, é a genuína corrupção dos valores fundamentais de liberdade e de justiça, valores esses sempre enunciados em tom solene por autoridades estatais “podres”, a fim de enganar, mentir, perverter, deturpar e seduzir pobres e desesperados incautos.

Não é suficiente e esclarecedor o rastro de barbárie, de mortes, e de pobreza e de miséria - inclusive, e desesperadamente- moral, que os engodos coletivistas deixaram como saldo vermelho para as populações mundiais. Eles nunca deram certo em lugar algum, tampouco darão.

A cegueira coletiva é, cada vez mais, maior. Coletivistas atuando, especialmente, nos campos universitários e culturais, com seus ungidos, intelectuais de araque, reais militantes sectários ideológicos, assim como acadêmicos, artistas e jornalistas, negligenciam e pervertem a história real, ignorando a verdade dos fatos, e destruindo a ponte e os pilares econômicos e culturais que nos conectam com o passado virtuoso.

A “progressista e cool”, espúria estratégia coletivista, é ganhar as mentes e os corações culposos de homens, mulheres e assemelhados, sobre as mazelas do passado, a fim de derrubar os valores virtuosos que edificaram a civilização ocidental. Tais valores acarretaram em menos pobreza e miséria - comprovadamente - e mais desenvolvimento e progresso.

É o sempre enganador papinho morfético da luta contra a opressão, do homem como mercadoria, e o correspondente e surrado marxismo da mais valia. Eles nunca cansarão!

Continua na moda horrenda, em especial na de jovens acéfalos, ser transgressor por qualquer causa, até mesmo a da barbárie e do terrorismo assassino.

A destruição civilizacional segue corroendo o tecido social, aniquilando a confiança, e demolindo os “velhos” valores morais e éticos, da dignidade humana, da civilidade e da responsabilidade individual, por exemplo.

Vejam agora a transformação do nazismo em luta contra a opressão do povo palestino, a “resistência”. Horror. Terroristas são glorificados com combatentes pela “justiça social”. Onde chegamos?!

A maior crise da humanidade, indubitavelmente, é a moral!

Essa foi deflagrada por coletivistas ávidos pelo poder, que logram ainda convencer pobres almas culpadas, muitas delas interesseiras e outras ingênuas, a ponto de desconhecerem que estão demolindo os sustentáculos da vida e do efetivo progresso, no presente e no futuro.

O relativismo moral destrói tudo o que vê pela frente, em todos os campos; não se tem mais o certo e o errado, o belo e o feio, o bem e o mal. Se tudo é relativo, nada é, somente os desejos e os interesses de coletivistas apologistas da matança civilizacional.

Na incessante e deletéria busca pelo alcance de poder, vale tudo, é selva. Vale até transformar jovens em mortos-vivos, esses que experenciam existências medíocres, abdicando de suas vidas individuais, de suas mentes e de seus esforços, a fim de serem recompensados pelos seus próprios méritos no alcance de seus amplos e distintos objetivos pessoais.

O coletivismo os torna escravos do gigantesco e poderoso Estado, que incute em mentes vazias a brutal cultura da dependência. O Estado, de fato, é escravocrata e autoritário.

Nunca foi tão exposto e translúcido o nefasto objetivo desses coletivistas “benevolentes”. Só desejam alcançar mais poder para si e suas castas, levando a máxima potência o comportamento "rent-seeking", ou seja, sugando por meio de incentivos invertidos, a renda dos criadores de riqueza, e alocando os recursos escassos de maneira ideológica, ao invés de pelo mercado.

O grande Fukuyama falhou, enganou-se e/ou foi engrupido.

Qualquer cego enxerga que não há democracia liberal, por aqui e acolá.

O que impera, factualmente, é um coletivismo escancarado, que se denomina social-democracia, um eufemismo de coletivismo nato. É esse o mesmo que burla e exerce, abertamente, novas e velhas fórmulas ditatoriais na sua constante busca pelo poder.

?O corolário de tudo isso, desta “moderna democracia cleptomaníaca” devastadora, do abjeto relativismo moral, é a ignorância, a nefasta inversão de valores, a barbárie, o caos e o anti-progresso.

Onde chegamos?! Tudo isso incentivado pelas ideias coletivistas, do Estado do bem-estar, esse embusteiro e ardil.

O pior disso, é que tudo isso está, quase que absolutamente, normatizado.

Atormentador. Pois quem são os defensores, nesta luta draconiana, da liberdade, da prosperidade e da própria civilização?

 

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  • Dartagnan da Silva Zanela
  • 29 Novembro 2023



Dartagnan da Silva Zanela

          Não faz muito, estava lendo o livro "Israel em Abril", de Érico Veríssimo, onde o mesmo relata as peripécias vividas por ele no período que esteve no Estado Hebreu nos anos sessenta. Uma obra similar ao livro "Gato preto em campo de neve", do mesmo autor.
Bem, lembro da referida obra porque, logo nas primeiras páginas, Érico Veríssimo nos chama a atenção para a forma como a nossa memória, toda melindrosa, trabalha.
Ele nos diz que, quando menino, havia encontrado uma edição da revista "Leitura para todos" e nela havia uma fotografia do palácio de Vosges, que lhe encantou. Quarenta anos depois ele visitou Paris e, a primeira coisa que ele fez, foi conhecer a paisagem que, quando menino, havia visto em uma fotografia estampada nas páginas da dita-cuja da revista.
No entanto, quando ele voltou para o Brasil, para o seu espanto, a imagem que lhe vinha à mente, quando lembrava do referido palácio, não era a da experiência que ele teve ao visitar a cidade luz, mas sim, a imagem da fotografia que ele havia visto em sua infância numa página impressa. Pois é, vejam só como a nossa memória é cheia de manhas.
Ao ler isso, lembrei-me das considerações feitas por Marshall Mcluhan, em seu livro "Os meios de Comunicação como extensões do homem", onde o autor canadense nos chama a atenção para as transformações que foram causadas pelas fotografias em nosso campo de percepção da realidade e, consequentemente, em nossa maneira de viver a vida e de rememorá-la.
Mcluhan nos chama a atenção para a forma como as pessoas viam as paisagens do mundo, antes e depois do surgimento das máquinas fotográficas.
Antes do aparecimento delas, quando íamos viajar para um lugar pela primeira vez, tínhamos em nossa memória apenas representações esquemáticas que nos eram transmitidas por pinturas, gravuras e descrições, orais ou escritas, feitas por pessoas que lá estiveram antes de nós.
Bem, com as máquinas fotográficas, tudo mudou. Essa experiência de espanto, de desnudamento, de encantamento causado pela primeira vista, perdeu-se de vez.
Antes, as pessoas quando iam para um determinado lugar, seria a primeira vez que elas iriam, de fato, ver aquela paisagem. Após a fotografia, e demais mídias de registro visual, nós passamos a reconhecer os lugares, confrontando-os com as imagens que temos no armário de lembranças da nossa alma. Lembranças de filmes que assistimos, que tinham aquela paisagem como cenário, ou de algum acontecimento que foi noticiado pela imprensa e assim por diante.
Além disso, há outro elemento, muito discreto, que é a forma como os registros fotográficos passaram a afetar a nossa capacidade de apreensão da realidade e de descrição do mundo à nossa volta.
Antes do seu aparecimento, quando íamos para algum lugar, ou quando testemunhávamos algo, para podermos comunicar aos demais, precisávamos ser capazes de descrever, com riqueza de detalhes, o que as meninas de nossos olhos viram e, para tanto, era imprescindível que nós fôssemos habilidosos no manuseio das palavras e, principalmente, que nossa atenção realmente estivesse presente por inteiro aos acontecimentos para realizarmos bem essa tarefa.
Agora, com o advento do registro fotográfico e similares, ficamos mais distraídos. Ao invés de nos esforçarmos para descrever o que os nossos olhos viram, apenas mostramos o que foi capturado pelas lentes e, por conta disso, não mais prestamos tanta atenção assim naquilo que estamos vendo, ouvindo e vivendo.
E se isso foi sendo gestado, lentamente, com o advento das fotografias, com toda certeza, não parou nelas. Por isso, penso que devemos nos perguntar, com serenidade: o que uma sociedade monstruosamente midiatizada como a nossa está fazendo com a nossa humanidade? O quanto as novas mídias, o quanto as plataformas digitais e demais traquitanas do gênero, tem contribuído para a dissolução de nossa capacidade de atenção, para a fragmentação e para o empobrecimento da nossa memória?
Sobre esse ponto, o filósofo Byung-Chul Han, em seu livro "Do Desaparecimento dos rituais", nos faz uma terrificante advertência, lembrando-nos que o déficit de atenção que hoje pesa sobre nós - sobre todos nós - é o resultado da abusiva intensificação daquilo que poderíamos chamar de "percepção serial" que, nada mais seria que uma visão bulímica e extensiva da vida.
Antes das mídias modernosas, nossa atenção era convidada a concentração, a manter-se intensa naquilo que estávamos realizando. Dito de outro modo, cultivar a atenção em algo é sinônimo de parar, de demorar-se em alguma coisa e, ao fazermos isso, estávamos dando-lhe a devida importância por reconhecer nela algo de valor.
Na "percepção serial" não. Segundo Byung-Chul Han nossa atenção tem seu foco furtado pelo fluxo de novidades, levando-nos a correr de uma informação para outra, de uma experiência para outra, de uma sensação para outra, sem fazer nada direito, sem compreender nada em profundidade, sem terminar nada com zelo e responsabilidade.
Não paramos mais diante de algo. Apenas passamos por tudo, lembrando de quase nada e aprendendo muito pouco. Mas sempre estamos nos atualizando, não é mesmo? Estamos atualizando nossos aplicativos, estamos sempre de olho no fluxo sem fim de notícias, no correr frenético do feed de nossas redes sociais, e sempre seguindo a onda serial que nos é apresentada pela grande mídia, que jura de pés juntos, que aí está para nos "informar", mas nunca, nunquinha, paramos para nos demorar em algo para aprofundar nosso conhecimento.
Detalhe importante: quando falamos da perda de concentração, estamos falando de pessoas que têm uma atenção menor que a capacidade de foco de um peixinho de aquário.
Isso mesmo! Segundo estudos, em 2013, a capacidade média de atenção da galera era de oito segundos, ou seja, menor que a capacidade de atenção de um peixinho dourado e, algo me diz, que esses números não melhoraram nos últimos 10 anos e, infelizmente, não há nada que indique que irão melhorar nos próximos dez, tendo em vista a idolatria que se cultiva em torno das traquitanas tecnológicas que são enfiadas goela à baixo e misturadas com tudo, confundindo-se com tudo e, principalmente, confundindo a todos nós.
Pois é, se não pararmos para refletir seriamente sobre essas questões, em breve não restará muito para salvaguardarmos de nossa fragmentada memória, de nossa atenção desvirtuada, enfim, da nossa mirrada personalidade, nem mesmo uma fotografia esmaecida pelo tempo.

*       O autor é professor, escrevinhador e bebedor de café. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas. Autor de "A Bacia de Pilatos", entre outros livros.

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 27 Novembro 2023

Gilberto Simões Pires   

CÁLCULO DO CUSTO BRASIL

Segundo estudos recentes realizados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços -MDIC-, o imenso CUSTO BRASIL - ou despesa adicional que empresas nacionais são obrigadas a pagar para produzir-, na comparação com à média dos países membros da OCDEa -Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico-, está por volta de R$ 1,7 TRILHÃO, ou seja, algo em torno de 20% DO NOSSO PIB.

SISTEMA TRIBUTÁRIO, ENERGIA E TRANSPORTES

A elaboração do estudo, segundo informou a secretária de Competitividade e Política Regulatória do MDIC, Andrea Macera, em entrevista que concedeu à CNN, contou com quase 1,3 mil sugestões da sociedade civil. Mais: os CUSTOS calculados foram divididos em 12 eixos que vão desde as despesas para abrir um negócio até para encerrá-lo. As principais queixas do SETOR PRODUTIVO se dividiram entre o SISTEMA TRIBUTÁRIO (18,8%); ENERGIA (16,6%) e TRANSPORTE (14,3%).

CONTENCIOSO

Segundo apontam os dados divulgados pelo MDIC, o fabuloso CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO no Brasil equivale a absurdos 25,8% do PIB, ante 0,28% da média da OCDE. Com isso o TEMPO GASTO PARA PAGAR IMPOSTOS NO BRASIL correspondem a 1.501 horas, enquanto a média da OCDE está por volta de 164 horas.

PROTAGONISTA

Ora, partindo deste claro DIAGNÓSTICO, para SOLUCIONAR ESTE GRAVE PROBLEMA, uma coisa é mais do que certa: o ESTADO não pode ser PROTAGONISTA. Caso contrário, o CUSTO BRASIL ficará ainda mais alto. Portanto, se o real interesse é DIMINUIR O CUSTO BRASIL, tudo de bom depende, exclusivamente, de 1- RECURSOS DA INICIATIVA PRIVADA; e, 2- PERMISSÃO PARA QUE INVESTIDORES -CONFIANTES- SE INTERESSEM PELOS PROJETOS. Vejam que o BNDES já elencou 17 projetos prioritários para esta agenda, além de 24 que ficam sob monitoramento do governo. Segundo a secretária, a -ideia- é de que as primeiras entregas do programa aconteçam nos próximos seis meses. No âmbito do financiamento, segundo Macera, o governo pretende aprovar um projeto de lei que cria uma nova modalidade de DEBÊNTURES E PARA INVESTIMENTO EM INFRAESTRUTURA.

A VER....

É difícil crer, mas a secretária Andrea Macera disse, que para setor de LOGÍSTICA E TRANSPORTE, o governo quer regulamentar o MARCO LEGAL DE CABOTAGEM, aprovado durante o governo Bolsonaro. Deseja remover barreiras à navegação hidroviária e racionalizar taxas portuárias. O custo logístico no Brasil foi estimado em 11,6% do PIB, três pontos percentuais acima da média da OCDE. Na mira do programa também estão regulamentações do marco legal das ferrovias e do marco legal do transporte público coletivo, além do aprimoramento da política nacional de mobilidade urbana. Outras medidas olham para infraestruturas de comunicação.

No tocante à ENERGIA, a intenção é desenvolver a produção onshore de gás natural e remover barreiras à entrada de novas empresas neste mercado. Aprimorar o marco regulatório do setor elétrico e buscar a expansão do livre mercado também aparecem listados.

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  • Rainer Zitelmann, em Instituto Liberal
  • 27 Novembro 2023

Esta é a verdadeira face do socialismo moderno

Rainer Zitelmann

 

A propriedade privada ainda é propriedade privada se o Estado disser ao suposto proprietário com detalhes exatos o que pode ou deve ser feito com ela?

Propostas de novos regulamentos da UE sobre o desempenho energético de edifícios residenciais estão causando agitação em muitos países europeus. Veja a Alemanha, por exemplo: os cálculos mostram que os proprietários alemães sozinhos seriam forçados a gastar 200 bilhões de euros por ano em atualizações de eficiência energética! Isso equivale a quatro vezes o orçamento anual de defesa da Alemanha. De acordo com estimativas, o custo de um sistema de aquecimento com economia de energia e isolamento térmico para uma casa unifamiliar é de pelo menos 100.000 euros.

Se a diretiva da UE será eventualmente implementada em sua forma atual, ainda é uma questão em aberto, mas o debate por si só é suficiente para abalar centenas de milhares de proprietários. Este é apenas um dos muitos exemplos de como a UE está cada vez mais transformando a economia europeia em uma economia planejada. A expressão “economia planejada” pode parecer exagerada para alguns leitores que a associam à nacionalização de meios de produção e imóveis. No entanto, a economia planejada moderna funciona de forma diferente: formalmente, os proprietários permanecem proprietários, mas eles são gradualmente destituídos do controle sobre seus ativos à medida que o Estado determina cada vez mais o que eles são permitidos ou obrigados a fazer com sua propriedade.

A proibição do registro de carros novos com motores de combustão na UE a partir de 2035 é outro exemplo: não são mais as empresas ou os consumidores que decidem o que é produzido, mas os políticos e os funcionários públicos. Isso é sustentado pela crença de que, quando se trata do que é bom para as pessoas, os políticos sabem melhor do que milhões de consumidores e empreendedores.

Essa é precisamente a diferença entre uma economia de mercado e uma economia planejada: uma economia de mercado é a democracia econômica em ação. Todos os dias, milhões de consumidores decidem o que é e o que não é produzido. Os preços enviam um sinal às empresas sobre quais produtos são necessários e quantos e quais não são.

Voltando ao exemplo do setor imobiliário, muitos países têm uma extensa legislação de aluguel que impede que os proprietários garantam os aluguéis que poderiam ser obtidos no mercado livre. Na Alemanha, por exemplo, isso é alcançado por meio de todo um pacote de leis: um teto de aumento de aluguel (Kappungsgrenze) determina a porcentagem e o nível de aumentos de aluguel permitidos. Mesmo quando a inflação atinge 7% ou mais por ano, os aluguéis em muitas cidades alemãs só podem aumentar em um máximo de 5%. O SPD, o parceiro sênior da coalizão governante da Alemanha, agora está pedindo que o teto seja reduzido para 2%, o que na verdade equivale a expropriação cumulativa. Em termos reais, o valor dos aluguéis está caindo ano após ano. Depois, há o freio de preço de aluguel, que determina quanto o senhorio de um apartamento existente pode cobrar ao alugá-lo.

Como resultado, o suposto proprietário de uma propriedade é cada vez mais limitado: o governo impõe obrigações de renovação quase inacessíveis aos proprietários – veja a série de diretivas de desempenho energético alemãs e europeias – e os força a cumprir requisitos ambientais cada vez mais rigorosos e cada vez mais caros para novos prédios. Ao mesmo tempo, impede que os proprietários garantam os aluguéis que poderiam obter no mercado livre. Na verdade, os proprietários se tornam pouco mais do que gerentes de propriedade nomeados pelo governo. No entanto, na pior das hipóteses, eles também perderão seus direitos formais de propriedade se a lacuna entre o que o governo lhes permite ganhar e o que o governo os obriga a gastar continuar a aumentar.

Esse frenesi regulatório não afeta apenas o setor imobiliário, mas também tem um impacto significativo nas empresas: a UE não se contenta em regular seus países membros e as empresas sediadas neles. A chamada Diretiva da Cadeia de Suprimentos da UE foi projetada para responsabilizar as grandes empresas da UE se, por exemplo, seus fornecedores no exterior operarem sob regulamentos de saúde e segurança ocupacional ou padrões ambientais que não atendam às expectativas da UE. Outro regulamento europeu, o CBAM, introduz tarifas de carbono nas importações de todo o mundo. Se, por exemplo, uma empresa importar parafusos da Índia, onde os padrões climáticos da UE não se aplicam, ela terá que pagar mais. É assim que Bruxelas quer reduzir as emissões – não apenas dentro da União Europeia, mas em todo o mundo.

No entanto, a erosão dos direitos de propriedade não é um fenômeno exclusivamente europeu. Nos EUA, os direitos de propriedade também estão sendo constantemente corroídos sob a bandeira do Novo Acordo Verde. Isso continuará até que o proprietário ou gerente de uma empresa seja reduzido a um mero agente da burocracia. O governo estipulará quais bens e serviços devem ser fornecidos (e como) por meio de leis cada vez mais rígidas. Em algum momento, os empresários serão apenas funcionários públicos.

*      O autor, Rainer Zitelmann, é doutor em História e Sociologia. Autor de 26 livros, lecionou na Universidade Livre de Berlim e foi chefe de seção de um grande jornal da Alemanha. No Brasil, publicou, em parceria com o IL, "O Capitalismo não é o problema, é a solução".

**     Publicado originalmente no excelente site do Instituto Liberal, em https://www.institutoliberal.org.br/blog/politica/esta-e-a-verdadeira-face-do-socialismo-moderno/

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