Sílvio Lopes
Conforme a ciência, a história da vida na terra tem lá seus 4 bilhões de anos. Nossa espécie, porém, é recém chegada. Se esse tempo fosse medido no período de um ano, os humanos teriam entrado em cena em 31 de dezembro...mais ou menos às 23 horas!
Depois de vagar como caçadores- coletores, veio a invenção da agricultura... às 23h58. Toda nossa história, portanto, aconteceu nesses sessenta segundos finais antes da meia noite. Toda honra, toda glória, toda tragédia e miséria humanas acontecida se deu nesse intervalo minúsculo de tempo. De refletir, ao menos.
O homo sapiens logo tomou o planeta. Das tundras mais geladas aos desertos mais escaldantes fomos conquistando o espaço, formando pequenos grupamentos e criando instrumentos para nos mantermos vivos. Hoje temos grandes e portentosas cidades. Somos mais de 8 bilhões a respirar sobre a face da terra.
Desafio primeiro: assegurar a sobrevivência da espécie. Ela implicava na garantia de suprir as necessidades básicas como moradia, alimentação e segurança contra os animais e a intempérie. A hierarquia das necessidades de Abraham Maslow (1943) já despontava como imprescindível. A história é implacável.
Estranhamente vemos, hoje, certa ideologia política atacar despudoradamente o setor da economia que garante o insumo básico indispensável à sobrevivência na terra. Não há fundamentos minimamente racionais que expliquem (quanto mais justifiquem), tal postura social.
Quem sabe seja pelo anseio de reescrever a história, redesenhando e moldando o ser humano conforme seu apanágio idealizado no sonho idílico da submissão das massas às suas mais nefastas e desumanas formas de dominação.
A motivação humana, tanto em Maslow quanto em Aristóteles, é evoluir. Buscar, óbvio, satisfazer suas necessidades fisiológicas e de segurança, mas também de autoestima e realização pessoal. E, neste caso, não há quem de sã consciência, seja capaz de abdicar de seu livre arbítrio. Ainda bem.
Estamos salvos. Ao menos, por enquanto!
* O autor, Sílvio Lopes, é jornalista, economista e palestrante.
Dagoberto Lima Godoy
Lembrado por Voltaire Schiller, encontrei um poema que muito bem serve para a ilustrar a apatia política que ora toma conta da maioria dos brasileiros democratas.
O escritor chinês Lu Sun assim pintou o quadro que serve para o Brasil de hoje (terminando com uma pincelada de esperança):
“...é como se houvesse uma enorme casa de ferro, sem janelas e praticamente indestrutível, cheia de homens adormecidos. Tu sabes que, em breve, vão morrer asfixiados, mas passarão do sono para a morte, sem sentir a dor da agonia. Então, tu te pões a gritar, acordas alguns, os de sono mais leve, e esta desgraçada minoria irá sofrer as angústias de uma morte inevitável. Achas que lhes prestas serviço agindo dessa forma?
– Desde que haja homens despertos, não podes garantir que não exista esperança de destruir a casa de ferro.”
Estremunhado, acordo com novo alento.
Dartagnan da Silva Zanela
Eleições municipais em todo território nacional, eis aí um trem bonito de se ver.
Neste ano, em cada canto do país, encontraremos boleiras de máquinas de pirlimpimpim que, após a digitação de um punhado de números, e a aparição da foto de uma visagem, veremos pessoas saindo sorridentes da cabine de votação, com o sentimento de dever cívico cumprimento, por ter cutucado com seu dedo indicador os botões dos candidatos e, com isso, fortalecido a democracia.
E não tenho a menor dúvida de que nas repúblicas municipais deste nosso grande país, a democracia sempre acabará saindo fortalecida após o término de um pleito.
Sim senhor, sai sim, desde que não nos esqueçamos que, muitas e muitas vezes, a democracia, em muitos rincões, nada mais é do que aquilo que nos aponta o sociólogo alemão Robert Michels: um mecanismo formal que permite, através de instrumentos legais, redistribuir o poder entre as oligarquias que se digladiam em uma faixa territorial.
Aliás, lembremos também das lições que nos foram apresentadas por Oliveira Vianna em seu livro "Instituições Políticas Brasileiras", onde o mesmo nos chama a atenção para o fato de que em nosso país, na prática, não existem partidos políticos. O que existiria, nas palavras dele, seriam apenas "clãs políticos", que se organizam em torno de alguns figurões, figurinhas e figuraças e, em torno deles e de suas famílias, seria arquitetada a tomada e a manutenção do poder.
Entra ano eleitoral, sai ano de eleições, e os nomes que se apresentam nas cabeças para disputar os pleitos podem até mudar, porém, os grupos que se articulam em torno desses nomes, são praticamente os mesmos de sempre. Os mesmos "clãs políticos" que estão procurando o seu quinhão na "cornucópia democrática", no mecanismo de redistribuição do poder entre as oligarquias antagônicas do momento.
Por essa razão, é importante lembrarmos que as alianças que são firmadas, os acordos que são estabelecidos e os apoios que são manifestos a um e outro candidato, não se devem tanto aos bons sentimentos que, porventura, podem ser nutridos por eles.
Isso até pode ocorrer da parte de um e outro eleitor ou correligionário do dito-cujo, mas não é esse o sentimento essencial que move a grande maioria dos eleitores e, muito menos, dos líderes e integrantes dos "clãs políticos" que declararam o seu apoio a uma candidatura.
De um modo geral, as pessoas apoiam Cicrano não porque gostam dele, ou porque têm certas afinidades com o abençoando, mas sim, porque estão todas juntas, com ele, contra Beltrano. E estão contra pelas mais variadas razões. Algumas dignas de respeito e, outras tantas, são o que são: apenas mesquinharias.
Resumindo o entrevero, em todos os cantos dessa terra de Vera Cruz, vale o velho conselho do general chinês Sun Tzu: os inimigos dos meus inimigos são meus amigos. Ao menos nesse pleito. No próximo, são outros quinhentos.
Nesse sentido, os candidatos que melhor articularem esses desafetos desordenados, invariavelmente irão conquistar as honrarias do pleito. Articulação essa que, como todos nós sabemos, não pode ser realizada no curto período eleitoral. Nada disso. Esse é um trabalho perene, que não finda jamais porque, ao contrário do que dizem, o povo, o povinho e o povão, tem uma ótima memória. Uma excelente memória. O problema é que toda memória, por definição, é seletiva.
Ou seja: os eleitores e oligarcas dos "clãs políticos" lembram muito bem daquilo que lhes convém e, aquilo que lhes assenta, na maioria das vezes, não é o que muitos mandatários gostariam que fosse lembrado.
E é nesse contraste entre insatisfações, frustrações e birras que um pleito municipal vai tomando forma e desenhando, sem o auxílio de uma borracha, o futuro da democracia das municipalidades deste nosso grande e triste país.
Não tenho a menor dúvida de que muitas das municipalidades brasileiras até possam parecer-se com a Atenas de Péricles, que outras tantas sejam similares a Florença de Nicolau Maquiavel, porém, algo me diz que a grande maioria delas será apenas e tão somente um retrato canhestro da velha Sucupira de Odorico Paraguaçu.
* O autor, Dartagnan da Silva Zanela é professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.
Alex Pipkin, PhD
A lógica ilógica “progressista” é louvar os vícios da pobreza e do infortúnio, ao invés de prestigiar e estimular os virtuosos valores individuais do esforço e da autodisciplina. A pregação ideológica apocalíptica é a do fracasso futuro como imutável em razão do fracasso passado.
Tudo isso não passa de uma fantasia marxista da “famosa” luta de classes, em que a burguesia, dona dos meios de produção, “explora” o proletariado. A culpa é sempre “dos outros”…
Para Marx, a forma de alterar tal contexto, em busca da impossível igualdade, era a revolução. E o destruidor cântico marxista/progressista segue fazendo a cabeça dos “modernos” e, portanto, devastando as maiores oportunidades de desenvolvimento e progresso para todos.
Tal oportunismo político, nefasto e interesseiro, acaba por impor uma sociedade em que a grande mãe Estado, coercitivamente, a fórceps, por meio da redistribuição de riqueza, de programas sociais contraproducentes, e de genuínas discriminações em nível de gênero e raça, por decreto, elimina o pilar basilar de um desenvolvimento sustentável e, evidentemente, alcançável para as pessoas.
Não é possível reinventar a roda e o mundo; ele é como ele é!
Desconsiderando-se o vitimismo e o fatalismo “progressista”, penso que o que é necessário é aumentar as oportunidades de crescimento para todos. O modelo populista estatista, no entanto, vai justamente na contramão desse intento, visto que intervém pesadamente na vida econômica e social, modificando e prejudicando a geração de empregos, renda e riqueza, por meio de incentivos a setores “amigos” e, assim, desequilibrando todos os demais setores econômicos.
A vida não é um jogo de soma zero, como querem fazer crer os “modernos progressistas”. De forma verdadeira, as políticas progressistas desestimulam o exercício da responsabilidade individual, do andar com “as próprias pernas”, da determinação dos objetivos e dos destinos individuais, e da necessária autodisciplina para se abocanhar, de fato, as oportunidades existentes.
Não somos, nem nunca seremos iguais! Temos necessidades, desejos e aspirações distintas, recursos, habilidades e atitudes diferentes. Não somente nossa fisionomia é desigual, como também são os fatores genéticos que nos favorecem ao sucesso para determinadas atividades, e o fracasso para outras. Incontestável. Aliás, o sucesso para alguns, tem significado completamente diferente para outros.
Tenho dito que se vive num período de retrocesso civilizacional, alicerçado sobre a frágil ponte do vitimismo e do fatalismo. Meu avô paterno partiu de um navio da antiga Ucrânia, de Kiev, para aportar em Pelotas. Fruto de seus valores e esforços individuais, e de sua autodisciplina, desenvolveu-se no ofício de alfaiate e, posteriormente, prosperou no negócio de peles. Cresceu por seus próprios méritos.
Incontáveis são os casos de sucesso individual de pessoas - negras, brancas, amarelas… - que lutam cotidianamente, abdicando dos prazeres de curto prazo, em razão de uma paixão, de um objetivo pessoal. Louvável! Meu Deus, como a cultura influencia, como os incentivos importam!
Nesse desencaminhado Brasil, ontem ouvi de minha secretária: “Seu Alex, ele não vai trabalhar até o final do ano… tem auxílio do governo. Ele me disse que só voltará a procurar trabalho quando terminar esse auxílio”. É preciso desenhar?
Na momentosa Olimpíada de Paris, variados são os exemplos de tais “vencedores”. Rebeca Andrade lutou - sua vida inteira - e venceu. Claro, escuta-se agora que uma mulher negra venceu, como se antes vários atletas negros não tivessem vencido. Desculpem-me, é o “progressismo do atraso”!
Não, não é a vitória de uma mulher negra, é o sucesso do esforço, da responsabilidade individual, da persistência, da resiliência, da ambição, e da paixão de pessoas que lutam, de fato, por seus sonhos.
Santo Agostinho afirma que mesmo nossa natureza sendo originalmente boa, o mal está presente no homem, fruto dos “desejos desenfreados”. Para ele, “não existe um autor determinado, mas cada um é autor de suas más ações”.
Oh, deuses incentivos!
Sim, se deve e vale a pena se esforçar - e se desenvolver individualmente -, com dedicação e autodisciplina para vencer, independentemente da cor, raça, gênero, religião… O que conta ao final, aqui e “lá em cima”, é, sem dúvidas, a responsabilidade, o esforço próprio, à autodisciplina e, sobretudo, à atitude!
Parabéns aos legítimos campeões por suas brilhantes conquistas individuais. Vocês são os apóstatas da destruidora religião do coletivismo.
Gilberto Simões Pires
CRITÉRIO
Como estamos na -finaleira- dos JOGOS OLÍMPICOS -PARIS 2024-, e a cada modalidade esportiva que é encerrada o COI (Comitê Olímpico Internacional) organiza os países segundo a quantidade de MEDALHAS DE OURO que cada um ganha. Assim, quem tem MAIS MEDALHAS DE OURO aparece em PRIMEIRO LUGAR.
SOMA
Entretanto, mesmo que este seja o CRITÉRIO adotado pelo COI, isto não exime nem invalida que alguém faça outros tipos de análises e/ou comparações. Como, por exemplo, quem prefira ver como MELHORES PAÍSES COMPETIDORES aqueles que, na soma, têm o MAIOR NÚMERO DE MEDALHAS - OURO, PRATA E BRONZE-.
DIVISÃO
Pois, para colocar um pouco mais de tempero nesta questão, entendo que o cálculo mais correto para apontar o -PAÍS VENCEDOR- seria através da DIVISÃO DO NÚMERO DE MEDALHAS, quer sejam elas de OURO, PRATA OU BRONZE, pelo NÚMERO DE HABITANTES DE CADA PAÍS.
SANTA LÚCIA
Ora, se levarmos em conta a eventual possibilidade de que o COI venha a estabelecer este CRITÉRIO, aí o PAÍS que acabaria como MAIOR VENCEDOR DE TODAS AS OLIMPÍADAS (até o presente momento) seria SANTA LÚCIA, ilha localizado nas PEQUENAS ANTILHAS, no Caribe, cuja população é de apenas 180 MIL PESSOAS.
PROPORÇÃO
Vale lembrar que a velocista santa-lucense, Julien Alfred, ganhou DUAS MEDALHAS nos JOGOS DE PARIS 2024: a PRIMEIRA, de -OURO- na modalidade olímpica dos 100 METROS RASOS e a SEGUNDA, de PRATA, nos 200 METROS.
Como se vê, países muito POPULOSOS, como é o caso do BRASIL, por mais que devemos festejar as MEDALHAS CONQUISTADAS, quem merece os cumprimentos são os ATLETAS VENCEDORES e não o PAÍS, uma vez que a RELAÇÃO -atletas vencedores/número de habitantes- é extremamente baixa.
Gilberto Simões Pires
O QUE FAZER EM RELAÇÃO À FRAUDE?
Considerando que se trata de FATO INCONTESTÁVEL a existência de FRAUDE na eleição para presidente da empobrecida Venezuela, a PERGUNTA mais ouvida mundo afora neste crucial momento, tanto pelos indignados quanto pelos esperançosos, é a seguinte: - O QUE FAZER EM RELAÇÃO À FRAUDE?
PANAM POST
Pois, o PanAm Post, site que se propõe a divulgar e analisar com muito cuidado tudo que acontece na América, publicou o seguinte texto produzido por Victor H. Becerra, presidente do Think Tank México e membro do Board de la Alianza Internacional de Partidos Libertários, o qual, com objetividade, se prontificou a RESPONDER à INSTIGANTE INDAGAÇÃO. Eis:
SEM ESPERANÇA
- Nos dias que antecederam as eleições de domingo, 28 de julho, conversei com um grande número de venezuelanos e em nenhum deles percebi a menor esperança de que este seria um processo limpo e democrático, muito menos que os resultados seriam respeitados . Em todo caso, esperava que diante de milhões de olhos o chavismo tivesse um pouco de modéstia e não tentasse algo errado.
O tempo provou que eles estavam certos. O regime bolivariano decidiu cometer uma FRAUDE FLAGRANTE numa eleição que já não resistiu aos testes de qualquer legalidade ou legitimidade, com uma pane do sistema informático incluída, como nos piores momentos do PRI mexicano, com um copy paste mal feito de resultados. Por que o fez, sabendo que a atenção de milhões de cidadãos em todo o mundo estava voltada para este processo, graças à luta e à tenacidade da oposição e de María Corina Machado? Porque podia e também porque acreditava que não teria consequências, face à tibieza e ao desinteresse da maioria dos governos ibero-americanos. E claro: porque perder o poder seria muito perigoso para ele e para a sua camarilha.
CONTROLE TOTAL
Os leitores devem lembrar que o CHAVISMO TEM O CONTROLE TOTAL DO APARELHO ESTATAL: O EXECUTIVO, A ASSEMBLEIA NACIONAL, O TRIBUNAL DE JUSTIÇA, OS GOVERNOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS, O MINISTÉRIO PÚBLICO, O EXÉRCITO, A GUARDA NACIONAL, O ÓRGÃO ELEITORAL -CNE- (seu presidente foi até mesmo um funcionário e deputado chavista). Mais: CONTA COM A SÓLIDA CUMPLICIDADE DE IMPORTANTES SEGMENTOS DA OPOSIÇÃO, UNIVERSIDADES, ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E MEIOS DE COMUNICAÇÃO, o que lhe garantiu liberdade de ação. E CONFIOU NA IMPUNIDADE, através do apoio da Rússia, da China (graças às enormes dívidas do regime com esses países), de Cuba, da Nicarágua, da Bolívia e da cumplicidade aberta de governos como o da Colômbia, do México e da Espanha, todos eles traidores da democracia com que chegaram ao poder, e talvez confiando no silêncio dos seus pares ideológicos no Brasil, Chile e outros países. É por isso que ele CONSEGUIU E OUSOU.
FRAUDE FLAGRANTE
Perante uma FRAUDE TÃO FLAGRANTE, O QUE DEVERIA SER FEITO? Em princípio, acredito que POUCO SE PODE ESPERAR DE EXÉRCITO E DA GUARDA NACIONAL VENEZUELANOS. Para eles, ir contra o regime significa ir contra o seu modus vivendi e os privilégios bons e ilícitos que colheram com o chavismo. Tão pouco se pode esperar dos comandantes militares e das forças de segurança: além do mais, não são uma entidade diferente do chavismo, são uma parte orgânica dele.
Também não creio que devamos esperar nada dos governos de outros países: muitos deles mantêm negócios, legais ou não, com o regime chavista, o que lhe permitiu sobreviver. Além de romper relações com o regime, não creio que isso signifique muito para ele; Já rompeu com uma dúzia de países. A sua expulsão de algumas organizações como os BRICS ou o Mercosul poderia ser mais significativa, uma vez que daria ao regime de Maduro uma aparência mais ostensiva de ilegitimidade. Mas dificilmente isso será feito, pela complexidade do tema e pela necessidade de atrair tantas vontades. Em qualquer caso, a atitude de Javier Milei face ao regime fraudulento deve ser valorizada como um exemplo de coragem e de compromisso democrático, face a governos ibero-americanos desprovidos de toda a decência e valores democráticos.
Mas a verdade nestas horas decisivas é que a responsabilidade recai sobretudo sobre os cidadãos venezuelanos: venceram nas urnas e agora devem vencer nas ruas.
Tenho ouvido pessoas na América Latina exigirem uma atitude mais desafiadora e concreta da oposição, especialmente de María Corina Machado. Não partilho dessa visão: deveria ser sempre exigido mais aos líderes e às figuras públicas: eles pediram para estar presentes. Mas penso que conseguir compilar 73% dos registros de votação em menos de 24 horas e colocá-los online, com todas as circunstâncias contra isso, parece-me notável.
Fundamentalmente, a responsabilidade cabe aos cidadãos venezuelanos, que neste momento se manifestam em todo o país e exigem a anulação do processo. Se os próprios cidadãos não derrotarem o chavismo, através da sua resistência pacífica e do erguer da voz, ninguém o fará por eles. É verdade: opõem-se a uma ditadura, não a um regime que faz cumprir as leis, mas a um bando de criminosos, sem respeito pela civilidade e pela vida. Portanto, devem ser prudentes e colocar a sua integridade como valor supremo.
Na Venezuela houve grandes protestos populares em 2002, 2014, 2017 e 2019, iguais ou talvez maiores que os acuais, e o regime resistiu e ainda está lá, igualmente confiante. Talvez o regime não esperasse uma participação política tão massiva e isso representa uma diferença substancial em relação ao passado. À medida que a mobilização continua, isto certamente levará a liderança chavista a pelo menos se perguntar se é aconselhável arriscar tudo para manter uma figura como Maduro, e acabar como um amazônico Nicolae Ceau?escu ou Muammar Gaddafi. Introduzir a dúvida no regime, semear a dúvida nos reais factores de poder e eventualmente dividi-lo deve ser a chave de todo este processo de resistência, até que se acredite que o regime não tem hipóteses de sobreviver.
Também exporá cada vez mais a ditadura à opinião pública internacional, que está mais receptiva ao drama venezuelano, depois de ver o êxodo de 8 milhões de venezuelanos e os outros que virão se Maduro continuar no poder. A sua mobilização também aumentará os custos para o regime de tentar uma repressão dura e sangrenta e, eventualmente, de ser desobedecido pelas tropas, o que seria fatal para ele e mostraria a sua fraqueza. Tudo isto tornaria a possibilidade da queda do regime mais realista e mais próxima.
Não creio que haja outra solução: os fuzileiros navais dos EUA ou os soldados brasileiros não chegarão para se sacrificar pela Venezuela. Isso não acontecerá, os cubanos esperam a mesma coisa há 65 anos e nada... nem veremos López Obrador, nem Petro nem Pedro Sánchez, que de repente têm uma decência inexistente para pedir a saída do seu aliado Maduro.
Todo o destino da Venezuela reside exclusivamente nos seus cidadãos e na esperança de uma liderança da oposição que resista, não os abandone nem os venda; A este respeito, é preciso estar ciente de que os aliados do chavismo, como a Rússia e o seu aparelho de desinformação, ou a China e a sua presença nas universidades, procurarão introduzir rumores e divisões entre a oposição. Os cidadãos devem ser muito ativos, criativos, serenos e concentrados no que é importante, sem espalhar pessimismo ou desconfiança, e sabendo que será um esforço longo e talvez solitário.
E nós, latino-americanos, devemos estar conscientes e acompanhar estes esforços de limpeza e regeneração democrática: é do nosso próprio interesse. Muitos países da região, em particular a Colômbia e o México, estão perto de acabar com um regime como o venezuelano, que não desaparecerá por acaso ou por votos. E daí termina como Cuba, sem escalas, em vôo direto.
Força venezuelana! Saiba que a sua luta também é a nossa e nós a replicamos e acompanhamos: o silêncio nos torna cúmplices da ditadura e da desumanidade. Lembre-se que o comunismo caiu na URSS e no Leste Europeu sem disparar um tiro, com sociedades rebeldes e resistentes, movidas por um ideal.