Percival Puggina
14/02/2023
Percival Puggina
Não ocorreu por falta de motivos, a reação dos rapazes e moças do Centro Acadêmico XI de Agosto ao retorno da professora Janaina Paschoal às atividades docentes. Os motivos estão no que fizeram com eles nos anos de formação: longo período de doutrinação, intolerância, hipocrisia, sectarismo, perda gradual da capacidade cognitiva, prolongado convívio com a produção de narrativas e com a mistificação dos fatos em favor da ideologia. E por aí vai a longa lista de enfermidades morais que afetou a educação em nosso país.
Estudantes chegam ao ensino superior após extenso trânsito pela cadeia produtiva da Educação brasileira. Nesse caminho, foram influenciados por professores que têm afeto especial por Paulo Freire, o suposto pedagogo para quem educar é um ato eminentemente político, tão político quanto ele, suas obras e sua vida foram.
Ah, se fôssemos avaliar Paulo Freire pelo que sua mitificação produziu e pelo que a multidão de seus seguidores extraiu como resultado humanizador junto à juventude brasileira! Ou, pelo que os alunos dos discípulos freireanos conseguiram extrair das próprias potencialidades através do que lhes foi proporcionado nos bancos escolares. Mesmo assim, estampa do pedagogo de longas barbas brancas faz parte da decoração junto à porta de entrada do prédio do MEC em Brasília.
Da doutrinação vem a intolerância à divergência. O jovem militante de esquerda, tipo uspiano, se declara adepto fervoroso de toda diversidade, exceção feita à diversidade de ideias. Vem daí o sectarismo incapaz de conviver com Janaina Paschoal, exemplo conhecido de tantos outros casos! Vem daí a hipocrisia, na ausência da qual a incoerência se desnuda de modo constrangedor. Vem daí a gradual perda da capacidade cognitiva porque o cérebro dessas pessoas bloqueia autores, conhecimentos e fatos do mesmo modo como quer bloquear o acesso à sala de aula aos professores que leram outros autores e presenciaram outros fatos. Vem daí a produção de narrativas, submetendo os fatos ao photoshop da ideologia ou às técnicas cinematográficas de “efeitos especiais”.
É assim que se leva uma nação para o atraso, à ignorância e à pobreza; é assim, também, que se cultuam tiranias e se põe em curso um esquema de destruição em massa do futuro de milhões de jovens no país.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
11/02/2023
Percival Puggina
Com freqüência, lemos textos que nos trazem à mente um quase refrão: “Gostaria de ter escrito isso!”. Pois foi o que pensei ontem, diante de algo que lia. E segui sentindo essa identidade com o pensamento do autor até perceber que era um texto meu... Perdoem-me por me “recitar” novamente. No entanto,o artigo me pareceu tão válido aos dias de hoje, embora escrito em 2013, que eu o reproduzo aqui, convidando os leitores a refletir sobre o tema abordado.
O rufo de tambores que ouvimos mundo afora é de uma declarada guerra, nada santa, contra a influência do cristianismo na Filosofia, no Direito, na Cultura e nos valores morais dos indivíduos. Guerra de um projeto totalitário pela completa abolição dessa influência.
Até os militantes do ateísmo, sabem que: 1º) é quase impossível "desconverter" os indivíduos de uma fé em Deus para uma fé no Nada absoluto; 2º) é inaceitável pela imensa maioria das pessoas a ideia de um Direito cuja moral seja irrelevante, ou que ignore os princípios e valores compartilhados pelos membros da sociedade.
Diante de tais e tão grandes dificuldades, os militantes do ateísmo cultural, combatentes da revolução cultural, propuseram-se a algo muito mais sutil – querem esterilizar a moral nos próprios indivíduos. Como? Convencendo-os de que os princípios e valores que adotam são, na origem, tão religiosos, e por isso mesmo tão particulares, quanto a própria religião que porventura professem. Integrariam então, tais valores e princípios, aquele foro íntimo no qual se enquadrariam a própria religião e suas práticas. Pronto! Segundo o princípio da laicidade do Estado, só teriam vigência na vida privada. Não faltam pessoas religiosas para entrarem com os dois pés nessa armadilha. Por isso, o projeto totalitário avança.
As investidas contra os símbolos religiosos são apenas a ponta do rabo do gato. O felino inteiro é muito mais malicioso e malévolo. O que de fato pretende é laicizar a cultura, as opiniões em geral e, principalmente, os critérios de juízo e decisão (os meios do poder). Toda a conversa fiada sobre supostas infrações à devida separação entre o Estado e a Igreja, tão ouvida nas falas do STF, precisa ser entendida como aquilo que de fato é: atitude de quem adotou o Estado, e só o Estado, por fonte de todo bem. Assumiu-o como baliza perfeita para o certo e o errado, e vertente dos valores que devem conduzir a vida social.
Convenhamos, é uma tese. Mas – que diabos! – qual é, precisamente, a moral do Estado? Na prática, a gente conhece porque a conta é nossa. Na teoria, é a que a sociedade “majoritariamente” determinar, excluída a parcela realmente majoritária, que moldou a civilização ocidental porque esta, como se viu acima, só pode ter expressão na vida privada e resulta inadmissível perante a laicidade do Estado, etc., etc., etc.. Portanto, cale-se!
Tal linha de raciocínio não resiste ao primeiro safanão. Precisa de reforços e apoios propiciados pelo relativismo moral, um de seus subprodutos. Cabe a este filho do pós-modernismo mostrar que a moral majoritária é apenas uma das tantas que andam por aí através do tempo, do espaço e da miséria humana. Saem às ruas, então, representações desse nada admirável mundo novo: marcha das vadias, marcha pela maconha, marcha pelo aborto. Uma TV do Estado apresenta show das putinhas aborteiras, militantes partidários dançam pelados na Câmara Municipal de Porto Alegre ou fazem sexo com símbolos religiosos no Rio de Janeiro.
Escandalosos? Escandalosos perante qual senso moral? O totalitarismo pós muro de Berlim, o totalitarismo do século XXI, precisa do ateísmo cultural e do relativismo para derrogar o cristianismo presente na cultura de tantos povos. A nova ordem, o mundo novo, o all-in-one de Imagine não se constituirão numa sociedade que creia em algo anterior, superior e posterior a si mesma. Não há como esse novo poder global não ser totalitário! A democracia se extingue naturalmente quando destruídos os valores que a fundamentam, pelo simples fato de que não se sustenta numa sociedade política sem princípios, sem valores e sem vergonha.
* Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
10/02/2023
Percival Puggina
Entre as muitas marcas dos anos seguintes ao pleito de 2018, destacam-se quatro conhecidas e incontestáveis: o desgaste moral do petismo determinado pelos achados da Lava Jato; a transferência do protagonismo oposicionista para a folgada maioria que o PT escolhera a dedo para compor o STF; as imensas manifestações populares, confrontando o ativismo desempenhado pelo Supremo; o permanente suporte da mídia aos crescentes excessos da Corte.
Foi com base na relação amigo-inimigo (falarei mais sobre ela aí adiante) que se estabeleceu e se ampliou a animosidade entre o colegiado do Supremo e aquilo que ministros da Corte denominam bolsonaristas, golpistas, terroristas, extremistas (mais ou menos metade dos eleitores brasileiros, se não mais). Contra esses inimigos, medidas drásticas e nada ortodoxas foram adotadas na forma de censura, cancelamentos, desmonetizações, interdições, prisões e inclusões nos pacotes dos inquéritos de fini mundi, fonte de tormentos e ameaças aos discordantes.
Sobre os acontecimentos, paira o manto protetor bendizente pelo grupo que ficou conhecido como “o Consórcio”, que eu prefiro chamar de “Rede Goebbels de Narrativas”. Também destes é a obstinação em minimizar a influência e a concorrência das redes sociais, para benefício próprio e dos amigos.
Sobre tal período, o ex-ministro Marco Aurélio Mello registra em seu livro mais recente, “O Tribunal”, que a Corte da qual foi membro e decano, ouviu o comando militar antes de (segundo palavras da Folha de São Paulo) “dobrar a aposta” contra Bolsonaro. Foi assegurado, ali, curso livre e seguro ao ativismo que assinalou a história daqueles anos. O vocabulário do Supremo era o vocabulário da oposição. Passo a passo, lendo os fatos com a ótica oposicionista e sempre dobrando a aposta contra o Poder Executivo, o STF cuidou de brecar o programa de governo consagrado na eleição de 2018. A sociedade elegeu um presidente e o STF não gostou de seu perfil nem do programa.
Diante do que se viu entre 2019 e 2022, alguém poderia imaginar uma condução do pleito de outubro passado diferente da proporcionada pelo TSE? Alguém poderia imaginar as redes sociais preservadas como espaço de opinião livre e democrática? Naquele período, o que já vinha mal desde a Covid, piorou e agravou a contrariedade de dezenas de milhões de eleitores.
Nada, absolutamente nada mais me surpreende. Inesperada, convenhamos, foi a vitória de Bolsonaro sobre Haddad em 2018. De então para cá, muito do que vejo corresponde ao exposto por Carl Schmitt sobre a relação amigo-inimigo a que me referi no início destas reflexões. Em definitivo, isso não é bom! Lembre-se: esse profeta do positivismo jurídico se filiou ao partido nazista em 1933. Segundo ele, quando uma relação sai do campo do objeto e, ganhando intensidade, vai para o campo existencial, ela se torna política. É fácil constatá-lo nas experiências sociais e familiares destes tempos conflituosos. Trata-se de fenômeno social tão intenso que evitar conflito, dissociação e ruptura requer grau elevado de afeição, moderação, equilíbrio, tolerância e de alguma reciprocidade não encontráveis em toda parte.
Tenho grande apreço aos valores da tradição religiosa e cultural do Ocidente, sinto os ataques multiformes e intolerantes da cultura Woke, do identitarismo, da Nova Ordem Mundial e do velho Iluminismo com harmonização facial e make-up. Consigo perceber o quanto as relações sociais estão politicamente afetadas e quanto o binômio amigo-inimigo está presente inspirando a infiltração, os desastres educacional e cultural e os discípulos de Paulo Freire. Tendo estado vivo e alerta nas décadas anteriores, sei quem atacou e sei quem, em todo o Ocidente, precisou se defender.
Na lógica do presidencialismo, no baixo padrão cultural e político da sociedade, no rocambolesco modelo institucional brasileiro, no desgaste dos freios e no enguiço dos contrapesos, quem vencesse o pleito presidencial de 2018 festejaria vitória dos amigos e a derrota dos inimigos. A gente podia desejar algo diferente ou não prever a avalanche dos desdobramentos, mas cada acontecimento estava, sim, no quadro das possibilidades consistentes.
Será que alguém esperava coisa diferente do complexo STF/TSE ou da mídia vassala após a vitória de Bolsonaro? São como flagrantes perpétuos os vídeos em que ministros do Supremo fazem afirmações do tipo “Se hoje nós temos a eleição do presidente Lula, isso se deveu a uma decisão do Supremo Tribunal Federal”, “Nós derrotamos o bolsonarismo”, “Perdeu Mané”, “Missão dada, missão cumprida”.
Ministros do STF, em frequentes manifestações públicas, aplicavam ao governo adjetivos próprios do vocabulário esquerdista. Em setembro de 2020, o ministro Fachin vaticinou: “A sociedade brasileira precisa se preparar para fazer uma escolha entre essas duas agendas e esses dois projetos. E isso se dará em 2022”. E mais adiante diagnosticou a agenda inimiga como produto “...de mentes autoritárias, de menosprezo à democracia, a questões vitais, como meio ambiente, povos indígenas, quilombolas”. Seis meses depois, o ministro anulava as condenações de Lula.
Por outro lado, quantos cidadãos brasileiros, olho na memória genética republicana, ansiaram por uma intervenção militar com Art. 142 etc.?
Estamos divididos como sociedade e o antagonismo, pelas razões mais amplas expostas, tem marcado os últimos pleitos em todo o Ocidente como reflexo da relação amigo-inimigo. Foi prudente o Poder Judiciário manter protagonismo político e ter parte nessa relação? Carl Schmitt diria que sim. O bom senso grita que não.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
10/02/2023
Percival Puggina
O fascismo nasceu em 1919 e assumiu o poder na Itália em 1922. Desde então, por ser uma ideologia anticomunista, os comunistas passaram a chamar os não comunistas de fascistas. Esse xingamento, então, já rola há um século e está incorporado e automatizado no linguajar da esquerda.
Na expressão oral de gente séria, as palavras têm o significado que lhes é próprio. Principalmente se o vocábulo define a coisa de que falo. Não posso chamar um piano de tecladinho nem um tecladinho de piano. Por outro lado, para gente confiável, afirmações feitas com palavras expressam ideias em relação às quais, quem fala, assegura consistência suficiente para não voltar atrás antes de sólida refutação. Essas pessoas não fazem como Lula, que tem um discurso em cada ambiente, nem imputam aos outros infâmias que não lhes correspondem.
Ter consciência disso é importante para que cada um de nós, no íntimo, estabeleça padrões de credibilidade a quem emerja na liderança da sociedade. Não se trata de buscar o discurso mais empolgante, mas de certificar-se da consistência e da perseverança em relação ao que seja dito.
Recentemente, alguém escreveu que Putin não está apenas defendendo seu país, mas enfrentando uma guerra contra os fascistas. Pronto! Podemos discutir por meses a fio as razões de lado a lado. O que não é aceitável é chamar “fascista” os principais países da OTAN que não concedem a Putin razões suficientes para destruir a Ucrânia.
O pior dessa história é que se a Rússia de Putin entrar em guerra contra a China de Xi Jinping, essas mesmas pessoas estarão chamando Putin de fascista porque o líder chinês é bem mais comunista do que o russo. Passo seguinte, se, um dia, China e Coreia do Norte se desentenderem, como nada é mais comunista que Kim Jong-un, a China será o lado fascista para esse dicionário boquirroto.
Resguarde-se desse tipo de gente. Desconfie de todo discurso que tenha mais adjetivos do que substantivos. E saiba: comunismo, fascismo e nazismo são tão danosos que as diferenças entre eles chegam a ser sutis diante de seus colossais malefícios, mesmo no plano meramente ideológico. Na prática, o nazismo acabou, o fascismo acabou, mas o comunismo, desastradamente, persiste.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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07/02/2023Percival Puggina
Passei quatro anos apontando a coesão da velha imprensa na oposição ao governo Bolsonaro. Durante todo o período, de modo ininterrupto, essa mídia, o STF e o TSE protagonizaram a oposição. Sempre vi nisso um descomunal favorecimento a quem chegasse contra o governo na eleição presidencial. Em 15 de abril de 2021, por 8 votos a 3, o Supremo proporcionou a zebra e – surpresa! – em outubro, deu Lula.
Transcorrido apenas um mês de governo, o que assistimos é um cavalo-de-pau e a volta ao passado. Quem falar pelo governo – seja Lula, qualquer de seus ministros ou parlamentar, personagens do segundo escalão ou dirigentes do partido – gasta mais tempo atacando o governo que saiu do que promovendo o governo que entrou. No petismo isso é genético. Por definição, seu adversário não presta, tem que ser permanentemente atacado e ter sua reputação assassinada a sangue frio. Contudo, sublinhe-se a bem da inverdade: o PT é contra discurso de ódio e seus sucessos são vitórias do amor... Lula, Lula! De algum lugar Deus está te vendo.
Quando falam sobre temas de gestão, trabalhos de casa, tarefas a cumprir, daquilo, enfim, para o que são pagos, a situação fica ainda pior. As manifestações soam como estertores do passado: controle social da mídia, desarmamento, favorecimento do aborto, revogação da Lei do Teto de Gastos e ruptura com princípios básicos da estabilidade monetária, volta dos lesivos e escandalosos empréstimos internacionais pelo BNDES. Chegou? Não, tem mais. Fim da autonomia do Banco Central, guerra às privatizações, revogação dos preceitos da Lei das Estatais que impedem seu aproveitamento para fins políticos e partidários (o que barrou a corrupção e representou o retorno à lucratividade dessas instituições). E por aí vai o navio fantasma que, como um zumbi, emergiu de funduras abissais e estacionou, tenebroso, na Praça dos Três Poderes.
A mídia, mesmo a ativista, não está tão comprometida com a sandice como para passar recibo a esse futuro totalmente comprometido com o pretérito. Pudera! Mesmo quem viaja nas cabines de luxo sabe que vai beber água salgada se o navio bater num iceberg ou nos rochedos de um arquipélago tropical. Então, em meio à intensa replicação das narrativas, começam as críticas feitas como se quem critica não tivesse qualquer responsabilidade com a escolha do comandante Lula para jogar o Brasil contra os rochedos, como o comandante Schettino fez com o navio de cruzeiro Costa Concórdia.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
06/02/2023
Percival Puggina
Desde que surgiram, gratuitas e fagueiras, no horizonte das possibilidades, até o ano de 2018, as redes sociais foram “um clarão nas trevas” do obscurantismo orquestrado do jornalismo brasileiro. Neste artigo, refiro-me a elas desde a perspectiva em que as vejo na maior parte do tempo, ou seja, na perspectiva da influência política; mais particularmente, como meios de informação e formação.
Tanto para os espectadores quanto para os intelectuais e políticos conservadores ou liberais foi fascinante romper o monopólio dos grandes veículos e seus formadores de opinião, habituados ao monólogo sem réplica. Foi uma experiência maravilhosa ver seus consultores selecionados a dedo serem refutados por um enorme contingente de autores e analistas mais qualificados. Foi uma alegria saber que eles existem.
As derrotas da esquerda em 2018 e nas eleições municipais de 2020 refletiram esse novo cenário da comunicação social. No entanto, deram causa à instalação de um conflito entre o território até então livre e, sim, também caótico, das redes sociais e o território minado e dominado pelos grandes grupos de comunicação. A rixa e malquerença instaladas prenunciavam o demônio que estava por vir: a censura.
Esse zumbi dos totalitarismos saiu sorrateiro de sua cova, dentro das próprias plataformas. Como se sabe, as big techs são alinhadas com pautas que a Nova Ordem Mundial importou da esquerda norte-americana empenhada em corroer os fundamentos da civilização ocidental. Assim, passaram elas a conter a propagação dos comunicadores de direita, notadamente conservadores, mediante “diretrizes da comunidade” que são um arbítrio nunca devidamente explicitado.
Entre o segundo turno da eleição de 2018 e o segundo turno de 2022 instalou-se uma guerra totalmente assimétrica. De um lado, tudo era permitido à velha imprensa, seguindo a melhor tradição das democracias: fake analysis, exclusão da divergência nas redações, propagação de animosidade contra o governo e seus apoiadores, ocultação de fatos inconvenientes, construção de narrativas, e até expressões de anseio pela morte do presidente da República. Na boa regra do livre mercado, os cidadãos deveriam escolher dentre as alternativas, contanto que elas existissem...
De outro, nos espaços das redes sociais, verdadeira caça às bruxas, cujo destino final era alguma forma de censura e exílio: desmonetizações ,bloqueios de contas bancárias, multas, interdições de direitos e a crepitante fogueira dos inquéritos abertos para assim permanecerem contra toda tradição da boa justiça. Na já paupérrima democracia brasileira, assistimos severíssima restrição à liberdade de opinião e o sumiço dos melhores em nome da “defesa do estado de direito e da democracia”.
Nestes dias, para fins políticos tão importantes e úteis à cidadania, as redes sociais agonizam. A eleição de 2022 deixou claro sua vulnerabilidade ante o autoritarismo e as várias formas de censura. Mais, vem aí um projeto de “regulamentação das redes sociais”, prometido por Lula, aguardado ansiosamente pela esquerda e pelas milícias jornalísticas, e saindo do forno do ... TSE. Nas palavras do jornalista Cláudio Humberto em sua coluna de hoje, o Brasil estará nivelado com China, Rússia e Irã.
Ainda que as redes sociais fossem livres como deveriam, sujeitas apenas às sanções da legislação penal em vigor, a recente eleição deixou claro que elas, por precariedades de espaços e tecnologia, por operarem de modo fragmentário e em bolhas de comunicação, têm dificuldades para competir com o poder e a abrangência do jornalismo que atua em extensão nacional, o tempo todo, chegando a todos os públicos, em especial através do rádio e da televisão.
Portanto, conservadores e liberais precisamos usar as redes sociais nos limites das possibilidades concedidas, sim, mas elas não dispensam a militância política (embora eu não goste dessa palavra), o apoio aos congressistas que representam nossos princípios e valores, e nossa formação pessoal para vivermos de modo pleno a condição de cidadãos.
Bons cursos, hoje, são pagos. Caberia aos partidos políticos seriamente comprometidos com nossas posições, promover esses cursos com a competência, a urgência, a frequência e a intensidade necessárias.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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04/02/2023Percival Puggina
Compreender para resolver. É disso que se trata.
Faça o seguinte: espalme as duas mãos e abra os dedos; em seguida, aproxime as mãos e junte-as, cruzando os dedos; feche os dedos. Você tem diante dos olhos um perfeito símbolo de unidade. E, devo complementar, uma representação visual do que acontece no Brasil enquanto a política se judicializa e a justiça se politiza.
O senador Randolfe Rodrigues é, apenas, a expressão mais simples do primeiro fenômeno, que ganhou crescente expressão no país: a política sendo feita mediante o STF (ou TSE), fora do parlamento e fora da sociedade. Por outro viés, a sequência de palavras e obras, ações e omissões dos tribunais superiores intervindo com regularidade no cotidiano da política representam o segundo fenômeno. Para o quadriênio recém-iniciado, o petismo alcançou a plenitude dessa unidade.
Lembremos. A oposição ao governo Jair Bolsonaro nunca foi obra parlamentar do petismo. As investigações conduzidas pela força-tarefa da Lava Jato esfarelaram a credibilidade do partido que recolheu as unhas da tradicional agressividade. A oposição, ferrenha oposição, foi conduzida pela imprensa e pelo STF. Era do Supremo o protagonismo, de lá vinha o noticiário político. Estrategicamente, os principais líderes petistas, mesmo os de ficha limpa, sumiram da pauta parlamentar. Nada disso tem paralelo na história republicana. Nunca os derrotados mandaram tanto no país por via indireta.
Lembre de tudo que você leu, viu e ouviu sobre discurso de ódio e gabinete de ódio. Observe que toda essa malhação teve como foco manifestações recolhidas nas cada vez mais patrulhadas e menos significativas redes sociais. Depois, compare isso com o que desde a eleição de Lula povoa os discursos oficiais, as entrevistas, e as ações concretas dos donos do poder.
Estimados leitores. De nada vale chorar o leite derramado. O céu não vai se abrir; o Altíssimo não vai empalmar as rédeas do Brasil e de nada vale esbofetear os fatos. Está mais do que provado: as redes sociais, mesmo que não estivessem controladas, por sua dispersão e deficiências técnicas perderiam para o poder de comunicação cotidiano das milícias jornalísticas empresariais.
Nós somos a razão de nossa esperança ou desespero. Eu jogo no primeiro time. Sei que no sulco aberto pela Lava Jato o ceguinho conservador e liberal achou um vintém. Quase um acaso! Agora é arregaçar mangas, deixar cair as escamas dos olhos e, como Paulo, infiltrar o coração do Império. Criar movimentos, promover eventos, motivar lideranças, formar líderes (especialmente líderes jovens), criar partido de direita (sem extrema direita e sem centristas), mobilizar instituições privadas, infiltrar instituições públicas, entrar nas universidades, enfrentar o sistema dentro do sistema, apoiar nossa maioria na Câmara dos Deputados, eleger em 2024 nossos vereadores e prefeitos, diminuir a influência dos partidos do Centrão para reduzir o balcão dos negócios e o número dos negocistas (são eles que nos derrotam no Senado). Centro direita e centro são pura enganação.
Lembrete final: não adianta chutar o balde; o leite já derramou.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
01/02/2023
Percival Puggina
Nesta noite de 31 de janeiro, enquanto os brasileiros dormiam, um Brasil obscuro raspava as gavetas do poder em busca das últimas 30 moedas com que possa comprar consciências e garantir votos de senadores para o candidato preferido pelo stalinismo que avança no país.
Escrevo isso e todos os leitores sabem do que falo. O aparelho está montado. Tarefas bem definidas. Uns pintam; outros bordam. Juntos, pintam e bordam!
Cansei de escrever que o livro “Pedagogia do oprimido”, a famosa obra máxima de Paulo Freire, deveria chamar-se “Pedagogia da opressão” porque seu produto final era a ignorância que – esta sim – oprime. Pois o quadro político instalado no país dá sequência no plano institucional à pedagogia da opressão. É ela que está em jogo.
O Brasil não só viu como sentiu na pele a impotência a que são levados os cidadãos que contemplam a lista de seus direitos constitucionais arrastada ao chão pelo mutirão empenhado em lhe tomar a alma. A situação está bem retratada no livro “Nos campos de concentração soviéticos” de Vladimir V. Tchernavin (ed. Avis Rara). Nessa obra, o autor busca na própria experiência os detalhes e os extremos da situação humana a que são jogados aqueles que veem seu destino dependendo inteiramente de alguém que lhes dispensa profundo desdém.
Infelizmente, algo assim está acontecendo no Brasil. Para que o ser humano não exprima emoções, é preciso que não as sinta; para que não as sinta, é preciso que não as tenha; para que não as tenha é preciso roubar-lhe a alma; para que a alma lhe seja tomada é preciso infundir-lhe o supremo temor e suprimir-lhe o mais tênue fio de esperança. Cãezinhos ruidosos, que latem por qualquer coisa, se repreendidos pelo dono, produzem um som cavo, fraco. Latem para dentro.
É o que querem nossos novos stalinistas enquanto usam todos os estratagemas para preservar os ferrolhos além dos quais se confinam um estado de direito sem direitos fundamentais e uma democracia da qual restem, apenas, as formalidades e o rito eleitoral.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
31/01/2023
Percival Puggina
“Não confie em todas as pessoas, mas nas pessoas de valor; o primeiro caminho é insensato, o segundo é sinal de prudência”. Demócrito (Sec. V a.C.)
Chico Alves, colunista do UOL, escreveu no dia 27, sob o título “Milícias digitais atacam Pacheco e agitam corrida à presidência do Senado”:
Em tempos de polarização política, a caça aos votos para a eleição à presidência do Senado, marcada para o início da nova legislatura, em 1º de fevereiro, ganhou um inédito tom de agressividade. Bolsonaristas adeptos da candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) fazem duros ataques ao candidato à reeleição Rodrigo Pacheco (PSD-MG) nas redes sociais e tentam constranger os senadores que anunciaram votos no atual presidente da Casa.
Rezando pelo mostruário de etiquetas que a militância esquerdista usa para desqualificar quem não se ajoelha para rezar na sua capelinha, o jornalista autor da matéria apresentada como “reportagem” (aqui) deixa claro não ver razões racionais para que as ”milícias digitais” dos “bolsonaristas” se mobilizem contra a reeleição do omisso senador Pacheco. Dá-me forças para viver!
Essa visão sobre o poder político no Brasil assume um ponto de vista extremamente confortável. É uma poltrona fofa, com banqueta para os pés. Dali, as instituições de Estado se tornam autossuficientes porque têm a representação constitucional da sociedade, cabendo às “milícias jornalísticas” do consórcio a representação pontual da opinião pública. Feito! Toda mobilização da sociedade assume, a priori, um aspecto criminoso, marginal, análogo ao bando de malfeitores e seus responsáveis que a 08/01 se infiltrou no vácuo de lideranças em que foi enfurnada a atual oposição brasileira.
Os senhores da República não veem a si mesmos por falta de espelho nos salões do poder e das redações. Nada do que fazem passa pelo crivo de consciências bem formadas. Dezenas de milhões de cidadãos que perderam a confiança nas instituições e em tal jornalismo são tratados como desprezíveis e ironizados manés. Não obstante, esses bons cidadãos entendem, como o filósofo grego citado acima,, que só podem confiar em quem revelar valor! E aí, os senhores do poder ficam em situação extremamente deficitária.
Quanto lhes é necessário Rodrigo Pacheco presidindo o Senado! Ele é a garantia de que não haverá freio nem contrapeso. Significará mais dois anos de formalização dessa “democracia” encomendada pelos donos do poder. Com ele, preservam-se os objetivos de silenciar a nação, de impedir as pessoas de sentir o que sentem, de expressar emoções e efetuar cobranças a quem faz política, quer esteja num parlamento ou numa Corte de justiça.
Sim, as Cortes fazem política. Em O Globo de hoje (aqui), sob o título “O temor do STF com a votação para a presidência do Senado”, lê-se (mantidos os erros gramaticais de praxe):
Não à toa, alguns ministros do Supremo tem telefonado para senadores para sondar o ambiente e pedir que votem em Pacheco, com o argumento de que a reeleição do atual presidente do Senado seria fundamental para o distensionamento da crise política e a pacificação entre os poderes.
Essa pax de Brasília não é a paz do Brasil. É a paz que preserva a censura, ressuscita o cala-boca, criminaliza a divergência e opera o imenso aparelho persecutório agilizado na Esplanada.
No Brasil, a justiça é lenta, mas a arbitrariedade anda em ritmo acelerado, sem freio nem contrapeso.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.