• Percival Puggina
  • 13/09/2023
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A cidadania violentada

 

Percival Puggina

 

Essa imensa e onerosa máquina ministerial vai gastar o ano retrocedendo em avanços realizados no quadriênio anterior? Aos nove meses, no final de setembro, virá à luz algo parecido com um plano de governo que não seja a sua própria conveniência?

Governar é tarefa complexa, que vai além da distribuição de dinheiro em alguns pacotes, associada à busca de novas formas de sangrar o pagador de impostos. Governar não é, tampouco, viajar pelo mundo em faustosas jornadas turísticas que só têm servido para tostar ainda mais a reputação, arrastando junto a imagem de um país novamente transformado em destino de criminosos e párias internacionais. Zero surpresa.

Se o governo ainda não apresentou seu lado positivo, embora já tenha dado muitas voltas em torno de si mesmo, a estratégia está bem conhecida. A Constituição de 1988, prolixa e minuciosa, agravou vícios institucionais que se arrastam desde a proclamação da República. Insano, mas real: hoje, governar exige, sempre, emendar a Constituição, tarefa para a qual se requerem 3/5 dos votos das duas casas legislativas. Boa parte desses totais precisam ser adquiridos a preços nada módicos que sobem em alta temporada. O governo pode, é claro, obter algum desconto se tiver “milhas” acumuladas com o partido ou com o parlamentar, mediante indicações para cargos, convites para viagens ou prestação de serviços diversos.   

Nem sempre esses bônus de desempenho são suficientes, mormente se a matéria de iniciativa do governo atacar princípios e valores de apreço da sociedade. Vem então o plano B: o governo apela, direta ou indiretamente, à sua sólida e infatigável bancada no Supremo Tribunal Federal. Ela é pequena, mas unida e manda pacas.

Para substituir-se ao parlamento, o STF precisa, por sua vez, contar com a tolerância das duas casas do Congresso Nacional, que dão sinais de se sentirem sumamente honradas quando o trator judiciário lhes passa por cima. Dado que há bom tempo o sinal congelou no verde, o Supremo vai adiante atropelando a vontade da ampla maioria da população, estabelecendo normas e criando penas segundo as pautas esquerdistas: drogas, imposto sindical, ideologia de gênero, terras indígenas, e por aí segue (aborto já está liberado para ir a plenário!).  

Tais deliberações representam a vontade da ampla maioria dos cidadãos? Concedemos mandato para isso a alguma autoridade togada? Descrevo, pois, a violação da cidadania.

O resultado dessa duplicidade legislativa é o colapso da democracia na forma do preceito constitucional que determina o exercício da soberania popular mediante a representação parlamentar. Se as casas do Congresso abdicaram de suas funções, parcial ou totalmente, que entreguem as cadeiras e fechem cuidadosamente as portas.   

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


Paulo Antônio Tïetê da Silva -   15/09/2023 18:54:24

Não existe no planeta um Congresso que represente tão bem a índole e o pensamento de um povo, como o do Brasil. Também, como filtrar a cena do roubo de canetas, feito por um alto dirigente do País? São tantos os atos condenáveis que, aparentemente, já são considerados normais, quando não elogiáveis. O famoso rouba mas faz", parece que tornou-se atávico no no DNA dos brasileiros.

Decio Antonio Damin -   15/09/2023 11:20:41

"A voz do povo é a voz de Deus" é uma frase que cabe muito bem nos sonhos dos insaciáveis políticos egoístas...! A culpa será sempre do povo que não tem condições de discernir o que é bom... Educação, educação, educação...

Arlete Viana Moreira -   15/09/2023 11:02:39

Sempre preciso em suas análises, é muito bom quem realmente nos municia com o que vale a pena ler.

Claudio Tubino -   14/09/2023 10:34:44

Peercival, ese quadro somente será revertido com o Povo retomando as ruas, para pressionar o Congresso a cumprir seus deveres. Ou isso, ou só tende a piorar.

Gerson Carvalho Novaes -   14/09/2023 10:14:39

Parabéns ao Internacional de Porto Alegre pela vitória de ontem contra o São Paulo! A torcida do Palmeiras pede que não esqueça de fazer o mesmo nos dois jogos da Libertadores contra o Fluminense. Veremo-nos felizes mais adiante. Forte abraço.