Percival Puggina

17/10/2022

 

Percival Puggina      

         Como escrevi várias vezes, a mentira é o primeiro degrau da corrupção porque corrompe um bem inestimável – a verdade. A construção de narrativas inteiras para alterar a realidade de um fato histórico é esse mesmo degrau com piso de mármore. Um discurso de Lula é a escadaria toda, por uma razão muito simples: diga enfaticamente o que disser, sempre haverá registro de uma afirmação sua diametralmente oposta. Lula diz o que o público ao qual fala quer ouvir. Dá nisso.

Seus seguidores, ouvidos viciados de escutar mentiras, precisam delas para dormir melhor. O discurso de Lula é tanto o barbitúrico do banqueiro quanto do vendedor ambulante que a ele sacrificam seu discernimento.

Quantas vezes já ouvi essa cascata de números disparatados cuja imprecisão rivaliza com os do repertório de Soraya Thronicke! Ele se vangloria dessa habilidade que, no debate da Bandeirantes, passou pelo scanner de milhões de olhos e ouvidos e o fez abandonar o estúdio com o sabor amargo da derrota, disparando contra seus acompanhantes: “Vocês não sabem *%@#& nenhuma!”.  

Como cronista, eu o acompanho com especial interesse ao longo de várias décadas. Tenho guardado um vídeo em que ele fala sobre essa habilidade chamando atenção para o fato de ser aplaudido no exterior quando disparava números sem qualquer fundamento sobre a miséria em nosso país. Parecia-me ouvi-lo de novo, ontem, no debate da Band, quando falava nos 30 milhões de miseráveis. No vídeo, ele conta sobre uma palestra em Paris na qual vociferou, sob aplausos, haver 30 milhões de crianças de rua em nosso país (ele diz: “se perguntassem a conta, a gente não tinha”). Confessa ter sido advertido reservadamente por Jaime Lerner ser impossível haver tantas crianças em tais condições porque não daria para andar nas ruas (seguem-se risos do pequeno auditório).

Saiu-se muito bem, ontem, o Bolsonaro. Ele não é ator nem parlapatão, mas transmite segurança que derruba narrativas elaboradas por quem tenta sobrepor-lhe perfil que não lhe serve por ser um molde deles mesmos.

Os dias correm. Portanto, estimado leitor, ora et labora!

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

14/10/2022

 

Percival Puggina

         Stalin antecipou a criação do “photoshop’ manipulando imagens incluindo ou excluindo delas parceiros e adversários para reconstruir a história. Nesta eleição brasileira, está em curso a criação de um Lula inocente, incorruptível, digno e probo, que só anda com as melhores companhias da cena política nacional e internacional. Na campanha eleitoral, seus advogados trabalham com a finalidade de que seu passado só seja invocado para receber elogios.

Tudo se passa como se Lula não fosse, junto com Fidel Castro, fundador do Foro de São Paulo, nem companhia frequente dos ditadores da Venezuela e da Nicarágua. Sempre que líderes petistas são interpelados sobre a natureza colaborativa e amistosa dessas relações respondem uníssonos que preservam a autonomia dos povos, mistificação que não guarda relação com a importância da pergunta.  Contudo, ainda que os apoios e as manifestações de apreço não existissem, o silêncio seria um silêncio a gritar ante as consciências bem formadas.  Contudo, ainda que os apoios e as manifestações de apreço não existissem, o silêncio  gritaria ante as consciências bem formadas. Um silêncio ouvido pelos que tivessem ouvidos de ouvir.

Em 23 de fevereiro de 2010, horas antes de Lula chegar a Cuba para uma visita ao amigo ditador Fidel, morreu o preso político Orlando Zapata Tamayo após 85 dias de greve de fome. A prolongada greve e a morte de um preso condenado a 36 anos (!) por falta de respeito, desordem pública, resistência e desobediência, repercutiu imensamente. E sobre isso caiu o silêncio de Lula. Fidel, em artigo para o Granma, após o retorno de Lula ao Brasil, elogiou-o por esse silêncio.

Depois de proibir menções à relação de Lula com ditadores, referências ao mensalão durante seu governo, o TSE impôs nova restrição à campanha de Bolsonaro. Agora está proibida de chamar Lula de ladrão. Fatos comprovados por três instâncias do Poder Judiciário e que valeram ao ex-presidente condenação a mais de 12 anos de prisão saem do mundo real e vão para o mundo etéreo de estranhas e criativas decisões judiciais. Por ali permanecem, produzindo efeitos práticos e imediatos, mesmo que ministros do STF reconheçam que os crimes aconteceram.

Em sua decisão, o ministro Sanseverino afirma (Jornal da Cidade Online, de 13/10): “Verifica-se que, como alegado, a campanha eleitoral impugnada é ilícita, pois atribui ao candidato a conduta de ‘corrupto’ e “ladrão’, não observando a legislação eleitoral regente e a regra de tratamento fundamentada na garantia constitucional da presunção de inocência ou não culpabilidade”. Dá-me forças Senhor!

Em 10 de junho, Uol Notícias (Folha) noticiou: “O ministro Luiz Fux, presidente do STF disse hoje que as decisões judiciais que anularam processos da Lava Jato foram tomadas por "questões formais". Por outro lado, o magistrado, que participou de um evento em homenagem aos 75 anos do Tribunal de Contas do Pará, também defendeu que “ninguém pode esquecer que houve corrupção no Brasil.”

Pode sim, ministro Fux. Pode sim. Aliás, nem sei qual é o assunto, mesmo.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

13/10/2022

 

Percival Puggina

         Repetidas vezes escrevi denunciando a impostura e o fingimento que caracterizam os discursos identitários esquerdistas. Vi esses grupos nascer sob inspiração e com o suporte financeiro proporcionado por partidos de esquerda e fundações internacionais. Vi o marxismo criando, através deles, novas versões da luta de classes e percebi que surgiam mais pela luta do que pelas classes. Eram uma exigência do dinamismo da política como o esquerdismo passou a conduzir. Não vi qualquer originalidade em suas concepções nacionais, pois eram produto de repetitivas e rentáveis operações de “copia, traduz e cola” importadas do exterior a custo zero. 

Como o objetivo é a “luta”, a adesão a um partido de esquerda tornou-se condição para ingresso nesse novo business político. Fora do partido, se a pessoa não for de esquerda, a militância atiçará contra ela o somatório de seus rancores.

Damares Alves é um caso típico. É mulher, foi estuprada na infância, sofreu muito com isso, mas não ouvi, em quatro anos, uma única feminista erguer a voz em seu favor. Antes, riram dela, desprezaram-na, atacaram-na.  Mulheres a defenderam. Homens a defenderam. Um homem a fez brilhar como ministra de Estado. Empenhou-se como uma leoa para proteger mulheres e crianças de toda violência. Mulheres e homens a elegeram senadora. Feministas, não. Detestam-na em caráter perene e ela precisa andar custodiada por seguranças, tamanhos o ódio que suscita e as ameaças que recebe.

Estou falando de gente má, impiedosa, capaz de troçar da virtude, da pureza, da sinceridade. Gente capaz de zombar de uma criança que, à beira do suicídio, conversou com Deus. E o que mais assusta: gente que quer ocupar o cargo que ela tão bem desempenhou.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

12/10/2022

 

Percival Puggina

         Pisaram na grama do vizinho. Arrancaram as flores de seu jardim. Ensinaram coisas impróprias às suas crianças e lhes falaram mal do Brasil. Controlaram as postagens do vizinho nas redes sociais. Invadiram sua casa. Levaram seu computador, seu celular e seus arquivos. Depois, o levaram também e não atendem o advogado dele. Por fim, bloquearam as contas bancárias da esposa.  E você acha que isso não é com você? Você acha que está tudo bem, que você está “de boa” nessa?

Meu caro, a história que está passando diante de seus olhos irresponsavelmente vagos – queira você ou não – é sua história também, ainda que se considere isento ou isentão, ou membro da  elevada estirpe moral dos omissos.

As cenas descritas sintética e simbolicamente no primeiro parágrafo desta crônica preenchem muitas páginas na história de todos os totalitarismos, de todos povos que passaram por sempre longas tiranias. Em todas elas, os vizinhos acomodados nada fizeram. Muitos confiaram na sorte, nos próprios meios e acabaram vítimas de algum pogrom, ou no gueto, no gulag, ou nos campos de trabalhos forçados instalados nas Unidades Militares de Ajuda à Produção (UMAP) criadas – saibam disso os jovens que me leem – por Che Guevara para isolar e reeducar os jovens cubanos dissidentes.

Ah! pare com isso, no Brasil não acontecerão coisas assim”, você talvez esteja pensando em me dizer. Pois eu também imaginava que não, até ver o que tenho visto em matéria de descarada negação da realidade e da supressão de direitos por aqueles que dizem defender a democracia e o estado de direito enquanto acabam com ambos.

Eu também nos julgava imunes a tais males, até ver a liberdade de opinião e expressão fenecer no território livre das redes sociais, como na China, ou em Cuba; até saber dos algoritmos controladores; até ver a sanha persecutória sobre essas plataformas, não por acaso as principais responsáveis pela derrota da esquerda em 2018; até ver inquéritos serem abertos para permanecer sigilosa e ameaçadoramente abertos. Eu também achava que estávamos de bem com a democracia, o estado de direito e a liberdade até perceber o Império da Lei soando como nome de escola de samba.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

11/10/2022

Percival Puggina

         A violência política sofre da mesma síndrome que acometeu o jornalismo brasileiro. Quando algum eleitor de Bolsonaro ataca física ou moralmente um opositor do governo, o fato ganha certo tipo de destaque. Quando a situação se inverte, o fato só chega ao seu conhecimento através das redes sociais, ou sai da página política e vira notinha nas páginas policiais.  Só falta proporcionarem à matéria o título padrão: “Petista agride bolsonarista, mas...”.

Minha opinião sobre esse tipo de violência diverge do senso corrente na velha imprensa. A política, por si mesma, só dá causa à violência quando sua matriz ideológica é violenta. Se a ideologia que a pessoa abraça não constrói uma frase sem a palavra “luta”, se ela estimula atos violentos como invasões, se ela acha que “o poder se toma” e considera que os fins justificam os meios, ela gera violência. Todas as revoluções e movimentos totalitários bem como as respectivas ditaduras são violentos e usam da violência. Fora isso, pessoas violentas existem em toda parte e essa sua natureza explode por variadas motivações.

Quase todo dia alguém me envia relato pessoal sobre seu doloroso convívio com bulling e discriminação. São padecimentos, duradouros e sofridos, causados por professores e colegas. Fatos assim compõem rotina e praxe, notadamente nos cursos de Ciências Humanas e têm como causa serem, os queixosos, jovens “de direita” ou conservadores. Essa violência, de matriz política, é cotidiana e afeta centenas de milhares de estudantes e professores em nosso país. Dessa violência ninguém fala, mas você sabe, não é mesmo? Querem é mantê-lo desinformado.

Há outras causas e formas para a violência eclodir. Em 2015, estávamos em Barcelona quando o Barça venceu o Juventus e arrebatou a taça da UEFA. A torcida da equipe catalã, vitoriosa, comemorou destruindo com fúria a esplêndida Rambla de uma ponta à outra. Por quê? Não sei se alguém saberia dizer.

Black blocs, antifas e outros grupos pouco “amáveis” não põem o pé na rua sem máscaras e bonés, coquetéis Molotov, latas de tinta e porretes. Mantêm histórica animosidade contra bancos, vitrinas e lojas. As tropas militantes de Stédile não saem às ruas ou estradas sem suas rutilantes e afiadas ferramentas. Você sabe.  

Não mencionei os conflitos entre torcidas em estádios de futebol por serem uma analogia demasiadamente óbvia. É o futebol que faz isso, ou são pessoas cuja violência explode sob determinadas condições? Você sabe. Querem é lhe confundir.

O que talvez você não saiba é o motivo dessa politização eleitoreira da violência fortuita. Ela só está na pauta porque desde 2018, após muitas décadas, os campos que disputam a eleição são nitidamente antagônicos. Por causa dessa alteração convivemos com censura e prisões políticas. Também isso é violência! O novo antagonismo causa desconforto à esquerda que dominava o palco com o jogo de cena entre PT e PSDB mantendo conservadores e liberais bem acomodados na plateia.  

É esse “equilíbrio”, danoso à nação e proveitoso a si mesmos, que alguns gostariam de manter. Toda violência deve ser contida, punida, tratada, mas, no país da leniência, da impunidade e dos maus exemplos, ela prospera.      

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

08/10/2022

 

Percival Puggina

         Louvando-se em opinião de uma dessas checadoras fajutas de notícias e num achômetro pessoal mal explicado, o ministro Sanseverino, do TSE, censurou conteúdo da Gazeta do Povo sobre a proximidade de Lula e Daniel Ortega. O ministro Alexandre de Moraes mandou o Gettr bloquear os perfis da juíza Ludmila Lins Grillo e Allan dos Santos. A rede social denunciou que a decisão sufoca a liberdade de expressão. O PT demanda ao TSE a censura de conteúdos de dezenas de perfis e sites bem conhecidos por suas posições filosóficas e pela defesa de princípios e valores essenciais à democracia e ao estado de direito. Não por acaso, esses mesmos bens políticos vêm sendo citados para justificar atos de nossos tribunais superiores dedicados ao que dizem combater: afrontam a democracia e o estado de direito.

Entre os objetos da ira petista avultam nomes bem conhecidos dos conservadores brasileiros e sites de grande público, como os preciosos e competentes Brasil Paralelo e Revista Oeste, cuja relevância se impõe e sobrepõe a grandes e idosos grupos de comunicação do país.

No momento em que escrevo, não se sabe o que fará o TSE a demanda que lhe chegou, mas ela, pela proporção e violência, acende todas as sirenes de alarme sobre o que fariam seus autores, se pudessem, com aquilo que Lula denomina “Controle social da mídia”.

Será um disparate atender ao pedido petista e passar a mão sobre a cotidiana conduta dos grandes grupos de comunicação que se consorciaram para violar os fundamentos do jornalismo, construir narrativas e ocultar informações. Em seus laboratórios, morrem todas as notícias positivas sobre o governo. Em seus laboratórios contrataram-se as pesquisas que impulsionaram a candidatura do ex-presidiário. Nos laboratórios da Globo nasceu a afirmação proferida por Bonner ao entrevistar Lula: “O senhor não deve nada à justiça”. E não era sarcasmo.

Por ação do esquerdismo dominante no plano da cultura, o pluralismo morre nas universidades brasileiras e em toda cadeia produtiva da educação, morre no jornalismo (80% dos jornalistas são esquerdistas) e morre nas mais altas cortes do judiciário.

Apesar de todos os danos morais, sociais e econômicos dos governos petistas, Bolsonaro não seria presidente da República não fossem as redes sociais. É exatamente por isso que esses espaços vivem, desde então, sob crescente intimidação explícita e censura efetiva.

Como afirma com sabedoria o dito popular, o vaso quebra de tanto ir à fonte. Tais abusos têm sido fator de agregação e mobilização. Funcionam como os melhores cabos eleitorais de um governo permanente e falsamente acusado de fazer aquilo que contra ele é feito. Seus adversários querem o poder a qualquer preço para, depois, fazerem negócios a bom preço.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

06/10/2022

 

Percival Puggina

O maior problema de Lula não é ter sido condenado a prisão por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro sob verdadeira montanha de provas. Nem suas ameaças sobre a economia nacional. Longe disso.

O problema de Lula reside no que ele e seu partido representam e fazem contra todos os bens não materiais da sociedade brasileira, nossos valores, nossos princípios, nossos apreços, nossa fé, nossas reverências, referências e nosso amor à Pátria comum.

Esse trabalho, voltado contra os fundamentos da nossa cultura, que está em curso no mundo, aqui é desempenhado pelos partidos de esquerda e, em sua maior proporção, pelo PT.

Muito mais grave e nocivo do que aceitar suborno e esconder dinheiro mal havido é corromper a inocência infantil, é destruir sutilmente a religiosidade e a fé das pessoas, vilipendiar objetos de devoção, atacar a instituição familiar e o casamento, levar ideologia de gênero às crianças, difundir a maliciosa teoria de que nos seres humanos “gênero” é uma construção social.

Muito mais grave e nocivo é, também, combater o direito de propriedade, o direito de ir e vir, a liberdade de opinião e expressão mediante “regulação da mídia”, o livre mercado e a liberdade de empreender, pregar o desencarceramento, a impunidade, apregoar a tese de que o criminoso é vítima da sociedade e os membros desta são os verdadeiros réus.

Muito mais grave e nocivo é atiçar e fragmentar a sociedade para dominá-la mediante pautas identitárias, desarmar os cidadãos de bem e encher os tribunais de companheiros para transformá-los em parceiros de tais causas.

Se a nação fechar os olhos para o próprio futuro, para o futuro de nossos filhos e netos, se não acordar para isso agora, quando o fizer será tarde demais. Terá feito a escolha pelo precipício ao qual tantas nações já se deixaram levar.

Minha consciência estará tranquila. Não terei feito uma opção pelo fracasso, nem autenticado uma opção pela vilania e pela desumanização da humanidade.

O maior problema de Lula não é o que estava escrito em sua ficha criminal.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

05/10/2022

 

Percival Puggina

Não entendo de fraudes. De fraudes entendem investigadores, peritos e criminosos. Mas percebo os hematomas do processo democrático quando golpeado e reconheço um complô quando o vejo produzindo efeitos.

 

Onde a nova configuração do Congresso mostra os votos de Lula? Mais da metade das cadeiras ficaram com os conservadores, ou com a direita! A esquerda raiz conquistou apenas 20% das cadeiras. O que aconteceu domingo, se não uma sequência daquilo que se viu durante quatro anos? Ou seja: as informações não coincidem com o que se vê; o discurso não fecha com a prática; a determinação judicial não confere com a lei; a pesquisa eleitoral vai para um lado e os votos para outro; a análise desconhece a realidade; toda ocultação e toda distorção beneficiam Lula e prejudicam Bolsonaro.

Diante do que disseram as urnas, não vou conjeturar sobre o que não sei, mas quem tenha observado registros desse enviesamento ao longo dos últimos quatro anos está pensando, sim, na falta de transparência do sistema.

Entendi que também a esse respeito nada é como a nação quer, mas como querem seus regentes togados. Entendi isso, muito claramente. Só não entendi o motivo capaz de levar um pequeno colegiado, encarregado de administrar os ritos do processo eleitoral, a exibir tamanho desdém à opinião majoritária da sociedade, expressa em sucessivas pesquisas que o próprio tribunal divulga. Datafolha de julho sobre confiabilidade das urnas: confiam muito, 47%; confiam um pouco, 32%; não confiam, 20%, e não opinaram 3%. Ao apresentar esses dados, em coro com o consórcio do jornalismo militante, o tribunal considera que confiar um pouco é o mesmo que confiar! Então, soma as duas parcelas e divulga um índice de confiança de 79% em vez de um índice de desconfiança de 52%! Essa não, doutores!

Já a nação, ora a nação! Que se dane em incertezas.

Não entendo de fraudes. De fraudes entendem investigadores, peritos e criminosos. Mas percebo os hematomas do processo democrático quando golpeado e reconheço um complô quando o vejo produzindo efeitos.

A inédita e constrangedora vitória de Lula no último domingo é consequência de tudo que contra Bolsonaro foi orquestrado e de todo assédio que sofreu das instituições. É colheita do patrulhamento imposto às redes sociais, das trovejantes ameaças lançadas sobre os cidadãos, da restrição às liberdades de opinião e expressão e do colaboracionismo das plataformas com o ambiente político imposto ao país.

Os eleitores que deram maioria a Bolsonaro no Congresso não haverão de entregar o Brasil de volta ao ex-presidiário.

O prazo de validade do susto já se esgotou. Queremos nosso país de volta e não soltaremos a ponta da corda. Dia 30 tem a volta.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

04/10/2022

 

Percival Puggina

         Passado o estresse da contagem dos votos, quando o início apontava para uma vantagem do presidente e, pouco depois, uma inversão de posições fazendo lembrar 2014, eu não tenho dúvidas de que o PT saiu derrotado e Bolsonaro foi o exitoso desta primeira etapa. Vi frustração nas expressões fisionômicas de apresentadores da Globo e da CNN em cujas reações andei dando uma olhada. Cheguei à mesma conclusão observando a ausência de comemorações petistas ao resultado das urnas. O PT não sentiu que venceu, nem que está à beira de uma vitória. Percebi preocupação em alguns semblantes togados.

Diferente do que apontavam as pesquisas, o resultado fez a bolsa de valores subir mais de 5% num único dia e a cotação do dólar despencar 4%, revelando que o verdadeiro mercado (não o dos banqueiros da av. Faria Lima) tem justificado receio de uma volta do bandido ao local do crime. É tudo muito racional, compreensível e aponta para um horizonte favorável.

Por outro lado – celebre-se! – o PT virou um partido do Nordeste brasileiro, como outrora foi o PFL. Nenhum partido vai longe se perder raízes nos centros econômicos e nos grandes centros urbanos de um país que se urbaniza. A situação atual não é o sonho de nenhum intelectual da USP, de nenhum “intelectual orgânico” ou inorgânico. De uma situação assim não vem hegemonia com perfume revolucionário capaz de agradar as hostes petistas.

Tem mais. Os partidos de esquerda encolheram! O PSDB sumiu da Câmara dos Deputados e apenas no Rio Grande do Sul disputa um governo estadual. Os ministros de Bolsonaro que buscaram vaga no Senado foram eleitos, o presidente fez 99 deputados federais em seu PL e a sociedade escolheu um Congresso com perfil amplamente conservador. O leque de alianças a ele acessível é muito superior ao de Lula. Os partidos de esquerda conseguiram apenas 138 deputados, enquanto a direita elegeu 273 (o dobro). Esse grupo se mobilizará em favor do presidente.

Onde buscar votos adicionais para vencer a eleição para buscar a vitória no 2º turno? Sobra trabalho. A abstenção alcançou 32 milhões de eleitores (21%)! Entre os que votaram nulo ou branco há outros 5,4 milhões de votos. A soma dos candidatos fora do segundo turno envolve mais 10 milhões de sufrágios a serem trabalhados nas próximas quatro semanas. Em síntese, há quase 50 milhões de eleitores a serem conquistados para alcançarmos uma confortável diferença sobre o ex-presidiário.

Essa tarefa começou anteontem. Ora et labora!

*       Modificado em 05/10/2022, às 15h25min.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.