• Percival Puggina
  • 11/09/2023
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Os frutos da omissão e da intromissão.

 

Percival Puggina

        

      Em meu primeiro emprego, recém-graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRGS, tive que redigir proposta técnica para um determinado projeto com impacto urbano. Pouco depois de entregar o trabalho, o diretor, um engenheiro experiente, me chamou para conversar e me disse: “Você escreve muito bem, mas trabalhos técnicos não comportam adjetivação. Retire os adjetivos e retorne”. Aprendi a lição e durante quase duas décadas nenhum texto saiu do escritório sem passar por mim.

Lembrei-me dela ao ler trechos da decisão com que o ministro Dias Toffoli anulou, monocraticamente, o acordo de leniência (delação premiada) da Odebrecht. A abundância dos adjetivos, as analogias e o tom de discurso político gritam sua incompatibilidade com o que a sociedade pode esperar de uma decisão judicial de tal gravidade. Palavras e expressões como conspiração, armação, conluio, ovo da serpente, pau de arara do século XXI cabem em certas colunas de O Globo ou da Folha, mas preocupam os cidadãos atentos, principalmente quando usadas por um ministro do Supremo para atribuir à Lava Jato o “objetivo de colocar um inocente como tendo cometido crimes jamais por ele praticados”.  Nem mesmo o ministro Fachin foi tão longe.

As pessoas com quem falo sobre nosso amado país expressam sentimentos semelhantes aos meus. Ora o Brasil parece um carro sem freio e ali adiante haverá uma catástrofe, ora parece descer a cada dia um degrau da escada sinistra do infortúnio. Na primeira situação, haverá um ponto final; na segunda, talvez não, porque sempre será possível piorar um pouco. Esta é a sensação mais frequente pois o noticiário de cada dia nos informa que, de fato, descemos ou desceremos mais um degrau do impensável destino. Algo de que não podíamos sequer cogitar aconteceu.

Tem sido tão vertiginosa a velocidade com que o país se deteriora que a memória dos acontecimentos some com a poeira que levantam, mas ao final de cada dia, no balanço dos fatos, vemos crescer o abismo entre a sociedade e o Estado.

A assim chamada tribuna de honra do desfile do dia 7 proporcionou imagem viva e colorida desse isolamento. Ali estava a “democracia” pela qual se empenharam com tanto ardor os ministros do STF e do TSE. Ali estavam estampadas as consequências do intenso trabalho das redações e de seus digitadores a soldo. Ali se concentravam os frutos omissão de uns e da intromissão de outros, da censura e do cerceamento à liberdade de expressão jurado desde 2019. Ali também estavam representados os contemplados pela anulação das provas dos crimes cometidos. E a cidadania, a lesada de sempre? Ausente, como vem sendo mantida, mas por vontade própria.

Dos males possíveis, o maior será aquele em que a nação facultar a si mesma o abandono à própria sorte.  Resistir sempre.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 


Haremhab -   13/09/2023 09:42:39

A foto ilustra apenas o chorume do chorume, nada além, fato.

Guilherme Filho -   13/09/2023 05:53:11

O 07 de setembro não foi dos excluídos, foi sim, do escolhidos, era visível no semblante do primeiro casal aquela sensação de iminente torpor, todavia esse ambiente altamente "carregado" foi criado pelo próprio varão. Desde que assumiu o seu terceiro não moveu uma palha pela união do seu povo, muito pelo contrário, dividiu mais ainda, falando aos berros e com o dedo em riste e este discurso que nos remete aos anos 1980/1980, aqueles proferidos de cima de carrocerias velhos caminhões D-60 já caducaram e não surtem mais os efeitos de massa recrutada, aos 43 anos o PT já é senil, é uma empresa obsoleta que sobrevive do seu próprio oxigênio que dá sinais de fim. Já o seu dono, que por obra é graça dos seus séquitos não perde tempo fingindo ter a importância que não tem no cenário mundial, ou o PR cria, monta ou encomenda uma agenda internacional que não seja apenas de turismo e deslumbramento de sua consorte e pare de seguir os maus conselhos de Celso Amorim ou Brasil vai sentir nas vísceras as consequências nefastas do seu desequilíbrio verbal e funcional das suas investidas ditatoriais e ameaçadoras ante o mundo, vide TPI(Tribunal Penal Internacional) e afins. Provoca e finge desconhecer o básico.....não cola mais, é o mundo, o extra-muro já se deu conta de que um péssimo ator na cadeira presidencial. Infelizmente dias piores virão se não fizer um ponto de inflexão nessa tangente. Um forte Prof. Puggina.

Mauricio Antonio Pereira -   12/09/2023 19:08:27

Resistir sempre...

Manuel Diniz Afecto -   12/09/2023 16:49:41

Sou seu leitor assíduo. E o que eu gostaria de registrar, à semelhança do ministreco "bostofolli", é a ponderação/aberração de Bocage constante de uma desculpa ao traque que uma nobre deu numa festa, e ela lhe pediu para se desculpar: "senhoras e senhores, o peido que aquela senhora deu, não foi ela, fui eu!"

Menelau Santos -   12/09/2023 15:24:17

A congruência de teus argumentos com o vazio do 7 de setembro foi magistral. Muito bem observado, Professor.

Arthur Alexandre Tabbal -   12/09/2023 13:51:32

A minha esperança é de, na próxima eleição, retirarmos essa gang do poder. Mas o Brasil resistirá até a próxima eleição? Além disso, como sanear o STF e o restante do Judiciário, aparelhado pela esquerda? Estou começando a acreditar que só com uma ruptura institucional isso acontecerá! Uma grande parcela da população já pensa assim.

Jose Boaz -   12/09/2023 12:46:23

Parabéns, Puggina! como sempre, seus escritos são a fotografia do que acontece. Uma coisa que vem me preocupando há algum tempo, é: QUEM IRÁ PAGAR AS INDENIZAÇÕES AOS ILEGALMENTE PERSEGUIDOS POR ESSE SISTEMA? SUGIRO QUE O CONGRESSO CRIE UMA LEI, QUE CONFISQUE OS BENS DOS RESPONSÁVEIS POR ESSAS ATROCIDADES, COM A FINALIDADE DE PAGAR as INDENIZAÇÕES. Não é justo, que o povo que nada tem a ver com essas decisões fora da lei, pague por quem as cometeu.

Hiram Reis e Silva -   12/09/2023 12:13:58

Boa tarde caro amigo Enviei seu artigo para um Ir:. de Rondônia e ele enviou esta mensagem: " Faz parte de uma minoria realmente bem intencionada e pensante a atuar nessa lástima que é o atual jornalismo brasileiro. Se o conheces, por favor, diga ao encontrá-lo que aqui em Rondônia encontra um admirador". Grande e fraternal abraço deste humilde Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Eliza -   12/09/2023 12:01:03

Espero que nas próximas eleições o povo não erre de novo. Tarcísio de Freitas. Fala pouco e faz, sem denegrir sua imagem.

Danubio Edon Franco -   12/09/2023 10:54:27

A cada acontecimento de algum significado para o país revelam-se os personagens que patrocinaram o boicote ao governo de Bolsonaro e sua derrota nas última eleições. Agora, donos do campinho, perderam a vergonha e com desfaçatez se exibem à nação. Não há o que não se faça; veja agora a última decisão do STF a respeito da contribuição sindical (pode ser cobrada mesmo do trabalhador não associado ao sindicato - ele que se vire e diga que não quer pagá-la). Imagine a dificuldade que será colocada para exercer esse direito. Não sou contra o sindicalismo, mas a contribuição só poderia alcançar quem é associado. E por aí seguem os abusos, mesmo porque o Congresso Nacional está preocupado com outras coisas. Ressalvo, evidentemente, as exceções, mas por serem exceções não conseguem se impor aos demais, que lutam por seus "grandes interesses nacionais". Temos que reagir, como bem dizes, mas por ora a vaca está indo para o brejo com a corda e tudo.

Elton Antônio Klein -   12/09/2023 10:09:58

Caron Puggina. Não é de hoje que esta turma vem tomando conta do nosso país e implementado as suas regras e colocando nos postos chaves, marionetes movidos por ideologias nefastas. Agora uma pergunta se faz presente. Quantos lideres mundiais estão em juntos com esta turma? Em todo o lugar que vão, e já são muitos, é recepcionado como um herói.

rogerio pocebon -   12/09/2023 09:29:48

como sera essa ruptura disso tudo?vai explodir a sociedade como se conhece com essa insegurança juridica comandada de fora ,agora abertamente sobre a divisaõ do brasil

Dagoberto -   12/09/2023 09:05:04

Sim, Percival, resisitir sempre! Mas nos faltam lideranças e organização.

MARIA DA GLÓRIA FRITSCH NUNES -   12/09/2023 07:57:31

Caro Puginna A única maneira que demonstramos resistência é na educação para o bem,nós somos os espelhos,não eles

Francisco Costa -   11/09/2023 21:37:39

Caro Percival Puggina concordo quando um ministro faz o que bem quer para passar pano para um ex-presidiário porém mostrar ao povo vota em Deputados e Senadores com problemas na justiça aí, o STF os chantageiam e legisla.