Percival Puggina

07/01/2023

 

Percival Puggina

         O grande Carlos Drummond de Andrade abre o inesgotável poema “E agora José?” com estes versos que parecem dirigidos a nós:

E agora, José?
A festa acabou
A luz apagou
O povo sumiu
A noite esfriou
E agora, José?
E agora, você?
Você que é sem nome
Que zomba dos outros
Você que faz versos
Que ama, protesta?
E agora, José?

É assim que estamos, no desconsolo dos que se sentem abandonados. Contudo, não. Tenho pensado muito nestes primeiros dias de 2023 sobre a pergunta do poeta. Algumas respostas já tenho.

O PT conta com nossa resignação. Alguns de nós cometem o grave erro de propagar narrativas enganosas que postergam e tornam ainda mais difícil a adoção das atitudes adequadas ao momento político. É urgente restaurar nossas liberdades, o estado de direito e a democracia. É preciso acabar com a censura. Instituir o voto impresso é indispensável à legitimidade dos mandatos.

Prestei muita atenção à fala de Lula quando se reuniu com o polifônico e despreparado primeiro escalão de seu governo. Lula montou um governo tecnicamente frágil porque precisava contar votos no Congresso Nacional. Ele sabe que ali está exposto o tendão de aquiles de seu governo. Então, ele falou em prestigiar, atender, ouvir, agradar, servir água e cafezinho, “mesmo que o parlamentar seja um adversário ideológico”.

Ficou clara a preocupação do malfeitor? Ele tem plena consciência sobre onde residirão suas dificuldades. Ele falou aos que se tornaram ministros como parte de acordos políticos (ou seja, “de vocês, eu espero votos no Congresso”), deixando implícito que se não representarem votos, esses ministros dançam.

Diante desse discurso eu me deparo com o imenso erro cometido por aqueles que por pessimismo habitual ou analogias precipitadas, equiparam o futuro Congresso com o atual. Erro terrível! Tiro no pé! O futuro Congresso está no foco das nossas esperanças. Ali está a maioria que nós elegemos, ali está a vitória que tivemos. Desconhecê-la, ou fazê-la equivaler a esse pano de chão sujo e inservível que foi a legislatura que findou em 31 de dezembro, é atirar nossos congressistas aos braços de nossos adversários. Rematada tolice!

Temos que mostrar a eles o caminho talvez difícil, mas necessário, da volta ao estado de direito, à democracia, às liberdades. Lula afirmou aos seus ministros a obviedade duramente aprendida por Bolsonaro: o governo só fará o que o Congresso deixar. Então é aí que vamos trabalhar no sentido oposto àquele que Lula deseja.

Ao petismo servem os abusos do STF. O petismo vibra com os atos de censura. O petismo se sente protegido com nossa desproteção. E os congressistas que elegemos, a maioria que formamos, deve ser motivada, inflamada a cumprir seu papel com determinação.

Se errarmos, se nos omitirmos, se pensarmos que os girassóis secaram ao sol destes primeiros dias, se desprezarmos aqueles de quem necessitaremos para o jogo da democracia, ficaremos como José do poema de Drummond, com a chave não mão, querendo abrir a porta, mas a porta, por precipitação e incompetência, não mais existirá.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Percival Puggina

06/01/2023

 

Percival Puggina

         Li aos saltos, sustando a leitura e meditando cada parágrafo, a nota oficial em que o Cacique Serere Xavante pede perdão ao “irmão Alexandre”, ao “irmão Lula”, ao TSE e ao STF. Foi preciso estacionar a mente, trecho por trecho, para tentar enquadrar aquilo que lia na moldura de um chefe tribal orgulhoso de sua função e de sua estirpe. Não deu, não coube. Preferi crer que não fosse dele a redação, mas de seus advogados, porque isso seria mais conforme à minha memória dos versos de Gonçalves Dias:

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo Tupi.

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci:

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi.

Eu sei. Eu assisti pela TV a longa fala do cacique à beira do fosso que limita, os fundos do Palácio da Alvorada e sei que sua prisão foi pedida pela Procuradoria Geral da República. Vi que o índio, em sua longa fala, pisoteou várias bolas, avançou diversos sinais, falou coisas indizíveis, mas – que diabos! – será tão difícil entender o que lhe ia na mente naqueles dias e naqueles atos e a perspectiva dele mesmo sobre suas atribuições na cultura da tribo? Não estava li um chefe tribal exibindo vigor enquanto falava ao chefe branco? Eu o ouvi assim, reprovando o que dizia, mas entendendo a situação cultural ali manifesta.

Milhões de brasileiros, aliás, estavam e estão sendo servidos da mesma indignação que o animava naqueles dias de Brasília. Obrigados, todos, a cantar seu canto de morte, cerceadas as vozes e subtraídas as letras.

Não desconheço nem desconsidero sua condenação por tráfico de drogas em 2007. Fato grave em seu passado! Contudo, passado. Quanto aos atos criminosos de vandalismo desencadeados quando ele já estava preso, não vejo como possa o cacique ser responsabilizado, exceto se comprovada a prévia organização do ato. Leio que algumas dezenas de malfeitores já foram identificados, mas o processo – no ritmo da velha toada desses inquéritos – corre em sigilo. Seria tão importante saber se houve concurso aos atos efetivos de vandalismo e terrorismo por parte de pessoas conhecidas dos manifestantes diante do Quartel General do Exército! Isso tudo me parece tão improvável...

Não sei se o cacique assinou aquela nota oficial sob constrangimento, embora algo, dentro de mim, o considere mais compatível com quanto já revelou sobre si mesmo. Tampouco conheço o efeito dessa nota sobre aqueles perante os quais, agora, ele buscou ser perdoado. Será possível que alguém se sinta confortável, satisfeito, perante tal pedido? Parece-me que o senso de medida, também sumido na redação da “nota oficial” do cacique vem sendo, em toda parte, proporcionado pelas narrativas e se faz tão interesseiro quanto elas.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

05/01/2023

 

Percival Puggina

         Não sou eu quem diz; é Sigmund Freud quem aponta, em “Psicologia de massas e análise do eu”, a importância do Outro na vida dos indivíduos. Por isso, diz o autor, “a psicologia individual é também, desde o início, psicologia social...”.  

Lembrei-me disso ao observar a conduta exacerbada dos atores governamentais nesses alarmantes primeiros movimentos do governo. Aquela foto oficial do novo ministério, com seus 37 integrantes, propõe 37 vezes a mesma pergunta: “O que eu posso fazer para me destacar dessa multidão?”.

Os disparates que estamos a assistir já estavam engatilhados. Difícil fazer tanto estrago em tão pouco tempo. Seu ponto de partida é o maior de todos os disparates: o chefe Lula, "santo em vida", "injustiçado maior da República", “absolvido” em duas ou três instâncias da Globo e da ONU, se não me enganoclamando por vingança e extinção da direita. Cruz-credo! Os 37 querem mostrar serviço, ser mais bem ranqueados e isso representa, na prática, destruir o que vinha dando certo, principalmente se puder ser rastreado até Paulo Guedes e Bolsonaro.

Na mentalidade do petismo raiz, onde se albergam os filhos da estrela, é preciso recuar ao status quo de 2006. De preferência aos anos do comunismo consumista chinês, quando o dinheiro entrava aos borbotões, Obama achava que Lula era o cara e este se via como a reencarnação do rei Midas, transformando em ouro tudo que tocasse. Deu no que Dilma viu.

Agora, para aparecer bem na foto dos 37, é preciso calar a oposição, dar corda e apoio aos inquéritos comandados por Alexandre de Moraes, mandar o mercado se lixar, acionar desprivatizações, atacar o agronegócio, buscar indústrias verdes, desencardidas, e restituir o Brasil aos índios, tão limpinho e cheiroso quanto ficam os locais das manifestações petistas quando acabam a cerveja e o show.

Agora, finda a pantomima eleitoral, os filhos da estrela já podem retomar suas amizades com a turma do Foro de São Paulo, restaurar o programa Mais Médicos, usar o dinheiro do trabalhador para financiar a parceria da Pátria Grande e a ministra da Saúde está liberada para dizer que acabou toda atividade pró vida, ou antiabortista em seu ministério, coisa que todos sabiam, mas não se podia dizer porque na democracia, no estado de direito e na justiça petista as coisas são assim.

Agora tem que desreformar a previdência social, elevar impostos, acabar com o teto de gastos, voltar à ideologia de gênero, usar pronomes de gênero neutro, aumentar as inúteis despesas com publicidade, criar na AGU uma procuradoria para “defender a democracia” e outra para enfrentar “desinformação sobre os serviços públicos”.

E o que está rolando é apenas a primeira semana.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

04/01/2023

 

Percival Puggina

         A exigência de visto para turistas do Canadá, da Austrália e dos Estados Unidos entrarem no Brasil começa a valer a partir do dia 10 de janeiro.

O governo brasileiro é pilotado por pessoas com cabeça de militante de centro acadêmico. O pessoal preserva suas saudosas memórias da UNE e mantém seus automáticos alinhamentos antiamericanistas, anticapitalistas e anti-imperialistas. Prefere o impávido e exitoso modelo cubano ao do inimigo ianque, tornando inevitável à preservação da honra nacional que a reciprocidade se impusesse: ou os brasileiros são dispensados do visto nesses três países ou vamos exigir visto dos turistas deles!

A moçada já grisalha, mas com o cérebro ainda deitado no colchão do centro acadêmico, ficou eufórica: “Agora eles vão ver o que é bom para a tosse!”. Só que o prejuízo será nosso. A medida vai afetar o setor turístico porque embora a entrada de canadenses e australianos seja inexpressiva, a de norte-americanos chegou próxima dos 500 mil no ano de 2023.

O topete e a presunção desaparecem quando nos propomos uma simples questão: quantos cidadãos desses três países tentam permanecer clandestinamente no Brasil? Ah, pois é. E quantos brasileiros, você conhece que já estão vivendo nos EUA, no Canadá e na Austrália.? Ah, pois é.

Aliás é bom que o fã clube nessa turma também saiba: o Brasil está longe de ser considerado um país atrativo no grande business do turismo internacional. Vir ao Rio de Janeiro, por exemplo, é turismo de aventura, tipo Gaza em versão light, e os criminosos fazem questão de proporcionar seu show na “safra” de verão, reforçando a mensagem que diz – “Não venham!”. Então, quando tudo corre bem, o Brasil recebe 6% do número de turistas que visitam a França ou a Espanha e 10% dos turistas que vão à Nova Iorque. E olha que temos espaço para acomodar nossos visitantes!

A insegurança em que vivemos foi cuidadosamente cultivada por sucessivos governos de esquerda que viram a criminalidade como agente da revolução social, a ser paparicada como se parceira de causa fosse. Nossa atual condição de pária internacional em virtude das parcerias do petismo com governos criminosos só veio complicar mais a situação.

O turismo brasileiro fica, então, na grande dependência dos glúteos femininos rebolando nas praias e no carnaval. A insensatez abunda.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 

 

Percival Puggina

04/01/2023

 

Percival Puggina

          Quer identificar facilmente um comunista? Observe o uso que ele faz do adjetivo fascista. Tão logo essas duas ideologias surgiram e se tornaram realidade histórica, os comunistas passaram a denominar fascistas quem deles diverge. Portanto, o adjetivo diz mais de quem usa a palavra do que daquele a quem a palavra é dirigida porque “fascista” é um qualificativo gasto por décadas de uso impróprio.

A rigor, o que pude observar nas minhas próprias décadas de vida, todas posteriores ao pós-guerra (nasci em 1944), foi que, no poder, os comunistas usam em relação a quem a eles se opõe a mesma furiosa cartilha de violação de direitos, repressão, constrangimento e violência, a que atribuem as condutas fascistas. Ou seja, são ideologias gêmeas.

Impropriamente chamado, às vezes, de fascismo de esquerda, esse fenômeno é o próprio comunismo em sua liturgia tradicional desde que Lênin assumiu o poder.

Por estar presente na realidade brasileira, este assunto, repelente sob todos os aspectos, se impõe ao cronista. Diziam os acusadores do ex-presidente, que ele tinha que ser afastado do poder por ser fascista.  O velhaco adjetivo lhe era e continua sendo imputado embora tenha ido sozinho ao patíbulo para se manter na linha da institucionalidade que seus adversários transpunham com a animação de quem pula a cerca para namorar.

Disso resultam inequívocos sinais de que se instala entre nós uma versão brasileira da Stasi (ministério da antiga Alemanha Oriental voltado à segurança do Estado e, na verdade uma das agências de espionagem interna mais efetivas já criadas). Seu objetivo? Defender nossa democracia da “fúria fascista”, representada pelos selvagens terroristas que cantam e rezam diante dos quartéis.

Aquela gente perigosa, que reúne milhões e nem vento faz (quanto mais ser ouvida pelos poderes terrestres aos quais fala), são os “fascistas” afastados de um “poder” que nunca tiveram. São os mesmos cujos pleitos eram obstados por quem os diz fascistas (se me faço entender) e por quem lhes voltava as costas porque se dava melhor na vida trocando votos nos painéis do Congresso por votos nas urnas de outubro. Ou pelo dinheiro que põe votos nas urnas.

* A atividade da Stasi está bem representada no filme “A vida dos outros”, dirigido por Florian Henckel von Donnermarck, origem da imagem acima.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

02/01/2023

 

Percival Puggina

         Os totalitarismos se alimentam dos próprios fantasmas. Corra a lista dos tiranos e vai encontrar o medo desses espectros comandando a violência do Estado totalitário. Num circuito fechado e crescente, o medo do tirano gera violência e a consciência disso aumenta-lhe o medo e ele intensifica a violência.  Não é preciso que algo ocorra para que os tiranos instalem snipers nas coberturas, tenham calafrios ante uma espingarda de pressão, controlem o pensamento e sua exposição ao convívio social, liberem suas matilhas e riam sardonicamente do próprio poder.

Mais de cem milhões de cadáveres contam os períodos mais brutais dessa história comum. E se você acha muito, lembre-se que se eleva a bilhões o número de vidas humanas que, por esses mesmos motivos, foram vividas sem o usufruto do maravilhoso dom da liberdade. Ah, os males que a covardia dos tiranos provoca!  

Totalitarismos armam o Estado e desarmam os cidadãos. Tiranos cercam-se de guarda-costas robustos, fortemente armados e treinados em artes marciais. São lobos! E querem viver entre ovelhas... Exigem que os cidadãos sitiados por centenas de milhares de criminosos soltos em nossas ruas e estradas deponham ante o Estado as armas necessárias ao exercício do direito de defender a si mesmos e do dever de defender suas famílias.

Sim, no primeiro caso é um direito; no segundo, é um dever. Eu me defendo se quiser, mas proteger minha família é um dever ao qual não posso renunciar. E convenhamos, nada mais cretino do que imaginar o Estado cumprindo essa tarefa na hora da necessidade, no lugar dos fatos. Se lhe pedirem para provar a necessidade de possuir uma arma de defesa pessoal, mostre sua identidade e diga: “Sou brasileiro, delegado!”.

Independentemente de quem hoje andar com a faixa no peito, a esquerda conseguiu, ao correr dos anos, produzir uma legislação protetiva da criminalidade e a transformou num fenômeno de proporções demográficas. Este é um severíssimo divisor de águas! Principalmente quando, incluído nas primeiras medidas de um governo, revela suas prioridades. A direita, conservadora ou liberal, jamais defenderá qualquer brandura que amplie o número de criminosos em liberdade; jamais favorecerá ações de Estado que tornem altamente rentável e de baixo risco a vida criminosa, jamais subscreverá qualquer discurso que busque razões sociológicas para justificar a expansão da criminalidade. Essas razões são as proporcionadas pelas políticas sociais e econômicas, bem como pelas estratégias psicossociais com que a esquerda trabalha politicamente nesses círculos.

O leitor destas linhas sabe muito bem quem vitimiza o bandido, criminaliza a vítima e não quer nem ouvir falar em cumprimento de pena após condenação em segunda instância. E o leitor sabe por quê.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

31/12/2022

 

Percival Puggina

         Passei o dia de ontem, 30 de dezembro, lendo discussões nas redes sociais entre cidadãos cujas opiniões se dividiam sobre a quem atribuir responsabilidades e culpas pelos acontecimentos que sobrevirão à posse de Lula e seu séquito de malfeitores.

Existem as culpas indiscutíveis. A culpa dos que, no juízo das “maiorias de circunstâncias” (palavras indignadas de Joaquim Barbosa), extinguiram o cumprimento de penas após condenação em 2ª instância, acabaram com a colaboração premiada e sepultaram a Lava Jato. Quatro mil e novecentas rolhas de espumantes espoucaram nos presídios do Brasil! Há a culpa dos ministros que, passados três anos, num instante de arrebatamento “iluminista”, mudaram o endereço dos processos em que Lula et caterva foram condenados. E a não esquecer: há a culpa dos ministros que – com criminosa informação de um hacker – exigiram de Sérgio Moro a isenção que alguns deles costumam deixar em casa quando a pauta do STF é de interesse político – porque os manés têm que perder, porque missão dada é missão cumprida, porque poder a gente toma e porque um tapinha carinhoso no rosto é o reconhecimento facial dos justos...

A estas, somam-se as imensas culpas das duas casas do Congresso Nacional, colegiados da representação política onde a falta de virtude prende aos próprios vícios o bem do povo brasileiro. E há a culpa dessa coisa horrorosa em que se transformou nossa “imprensa tradicional”, verdadeira massaroca de fatos, versões, narrativas, ocultações explícitas e fins implícitos.

O objeto real das discussões que acompanhei, porém, era outro. Envolvia possíveis responsabilidades das Forças Armadas e do próprio presidente Bolsonaro. Vejo essas altercações como uma armadilha criada por nós mesmos para nos capturar e dividir quando tanto iremos precisar de unidade.

Há muito trabalho pela frente! Objetivos a alcançar, tanto para frear os abusos de que temos sido vítimas quanto para sustar as ameaças e planos sinistros anunciados e já acionados por ministros do STF e pelo governo por instalar-se na virada da folhinha. Há um imenso dever de casa que nunca foi feito! 2018 foi o ano em que conservadores e liberais, ceguinhos e descuidados, acharam um vintém. Só por milagre, cegos acham vinténs. Há que vencer em 2026 por méritos, não por sorte ou milagre. A presidência de Bolsonaro mostrou-nos um quadriênio em que o bem realizado foi extraído a fórceps, de contexto adversário, que a toda hora quebrava regras e comandava o jogo.

O tema desta crônica, no entanto, era a busca de responsáveis pelo desastre de amanhã nos bate-papos de ontem nas redes sociais.

Neles não li uma única palavra sobre a responsabilidade por omissão dos 31 milhões de eleitores que ficaram em casa num dia como o 30 de outubro de 2022! Nem sobre outros quase 6 milhões que compareceram, mas votaram branco ou nulo!

Se um em cada dez desses cidadãos tivesse um pingo de juízo, o resultado da eleição seria outro. Sim, porque eleitores petistas, eleitores de esquerda, gente que acredita em mentiroso, que vai esperar o vale-picanha com cervejada, que precisava, por essas e outras, “trazer os criminosos de volta ao local do crime” (se o Alckmin pode, eu também posso), foram ávida e esperançosamente para a fila da seção eleitoral.

Uma pequena fração do bloco dos omissos daria ao Brasil outro 1º de janeiro. Enorme responsabilidade cabe, sim, à turma de “nojinhos” e comodistas a quem tanto escrevi e com quem tanto debati sempre que apareceu a oportunidade. Cidadãos que só votarão quando surgir candidato tão perfeito quanto eles mesmos; então, sobre as ruínas de sua omissão, comparecerão, vaidosos de si mesmos, às sessões eleitorais. Cidadãos que não gostam dos modos de Bolsonaro e com esse elevado critério viabilizaram números que “deram” vitória aos “modos” de Lula e seus comparsas. Quanta tristeza! Bastaria que pequena fração desse enorme contingente tivesse usado a consciência e a cabeça para que não estivéssemos, agora, às portas do nosso inferno astral, prometido pelo petismo e jurado por Xandão.

Com o que vem por aí, esse imenso grupo e os futuros congressistas são nosso campo prioritário de trabalho e conscientização cívica.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

30/12/2022

 

Percival Puggina

         Enquanto há vida, há esperança. Vá que se abra o céu e o Altíssimo decida intervir diretamente? Nunca se sabe, mas já aconteceu antes. São intervenções do tipo – “Até aqui deixei rolar, mas assim, também, já é demais. Esse povo bom não merece isso”.

Para efeitos didáticos, contudo, convém dar uma olhada no ministério escolhido por Lula. O Estado brasileiro foi submetido a um trabalho de açougueiro, de retalhista, dividido em cortes e recortes e agora cada um trate de puxar brasa para seu assado.

Espero que os leitores entendam que esse é o adicional de custo a pagar pelo tipo de “democracia" que nos disponibilizam: um modelo político corruptor e por um governo que já mostrou o quanto pode andar por esse caminho. Duas dúzias de ministérios não compram base de apoio no Congresso para um grupo político que, chegando, vem com a legitimidade carunchada. É preciso, no mínimo, o dobro para que partidos e parlamentares sorriam com agrado e a sociedade seja emudecida pela gratificada desfaçatez de seus representantes.

É assim que funciona a democracia à brasileira: às costas do povo, em conchavos de mesa de restaurante, hotéis no exterior, jatinhos e eventos cabulosos. Por vezes, imagino uma conversa quase de alcova entre um congressista e um ministro do STF: “Temos que parar de nos encontrar desse modo, Excelência...”.

Montada a máquina, com as empresas estatais gastando bilhões para publicizar sua atividade monopolista, ou seja, transferindo dinheiro direto para o caixa da tal “imprensa tradicional”, a única ponta infeliz da história é o povo pagador da conta e predeterminada vítima da tragédia. Mas o povo, bem sabemos, é um detalhe a ser mantido em silêncio obsequioso porque, afinal, o Estado brasileiro, quando posto diante do espelho, sabe que ele existe, principalmente, para proteger as próprias prerrogativas e se defender da sociedade.

Retomando o fio da meada e encerrando: se você examinar os 37 ministérios e seus titulares à luz do que sabe sobre o petismo e sobre a esquerda, entenderá que não só o Estado brasileiro está ali retalhado – os bens nacionais também o estão. Há ministérios para expropriar território nacional, bens privados, soberania popular, direitos dos cidadãos, liberdades individuais, autonomias federativas, garantias constitucionais dos indivíduos e, claro, fazer a cabeça dos tolos.  

Nunca vivi um fim de ano assim. Mas, vá que se abra o céu...

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

26/12/2022

 

Percival Puggina  

         Sobre as muitas incertezas referentes ao último pleito presidencial, há um dado de aparência consistente, presente em todas as pesquisas de opinião: “quanto mais pobre o eleitor, maior sua tendência a votar no candidato de esquerda”.  No entanto, o dado pesquisado mostra outra coisa: sociedades esquerdistas empobrecem. O esquerdismo gera miséria e não por acaso os estados mais pobres do Brasil são governados pela esquerda.

Não é difícil imaginar o motivo. Eu mesmo me encontrei com esse dado sempre que, em campanha eleitoral ou em debates, entrava em pauta a chaga social da pobreza. Sobre esse tema, como se verá a seguir, o esquerdismo tem um discurso redondinho, uma explicação simples que leva seu público alvo diretamente ao cativeiro da pobreza e da dependência.

Todo brasileiro que passou por uma sala de aula ouviu de alguns militantes travestidos de professores que os pobres são pobres por culpa dos ricos; ou na versão mais safada, que os ricos são ricos graças à pobreza dos pobres. Isso, porém, é falso, como mostra a experiência dos países de economias livres.

As causas reais da pobreza são:

  1. a carga tributária em que o Estado se apropria de mais de um terço de toda a renda nacional;
  2. a turma da corrupção ativa e passiva e das empresas gigantes nacionais que se abasteceram durante década e meia diretamente do PIB;
  3. os países satélites do nosso BNDES, usado para financiar essa parceria ideológica esquerdista a fundo perdido;
  4. nossos gravíssimos problemas institucionais que facultam ao Estado toda sorte de abusos;
  5. o fato de nossa Constituição, em vez de proteger os cidadãos do Estado faz o inverso e protege o Estado dos cidadãos;
  6. o patrimonialismo, o populismo, os corporativismos e os supersalários, o culto ao estatismo e os múltiplos desestímulos ao emprego formal;
  7. a má qualidade da educação oferecida aos nossos jovens em geral e aos segmentos de baixa renda em ainda pior padrão paulofreireano;
  8. a publicidade enganosa segundo a qual a salvação possa vir da mão grande do Estado.

De modo muito especial, a relação erótica da esquerda com o Estado induz a leituras erradas de nossos problemas sociais. Não, eles não se resolvem com mais Estado! Tal rumo afasta um elemento altamente humanizador, omite conhecimento precioso sobre a natureza e solução dessa chaga que é a pobreza persistente: naquilo que somos está nosso maior potencial e nossa maior alavanca para resolvê-la.  

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.