Percival Puggina

20/07/2023

 

Percival Puggina

Leio em O Globo:

A Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que as plataformas de redes sociais apresentem todas as publicações do ex-presidente Jair Bolsonaro referentes a eleições, urnas eletrônicas, Forças Armadas e o próprio STF, entre outros temas.

O subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, responsável pelas investigações dos atos golpistas, ressalta que essa solicitação já havia sido feita, mas que não foi analisada por Moraes. Por isso, Santos reiterou o pedido nesta segunda.

(...)

Além disso, quer que as redes apresentem as métricas de cada publicação, como visualizações, curtidas, compartilhamentos e comentários. Ainda foi solicitada uma lista completa dos seguidores de Bolsonaro.

        São 70 ou 80 milhões de pessoas (a notícia teria produzido um rápido crescimento no número de seguidores), mas – calma pessoal! – segundo o subprocurador afirmou na semana passada, o investigado é apenas o ex-presidente, e, ademais, a PGR não teria como processar milhões de cidadãos. Antes do esclarecimento, eu tinha certeza disso. Agora já não tenho mais, como veremos adiante.

Todos esses quantitativos solicitados as próprias plataformas disponibilizam por publicação. As incertezas começam quando aparece a palavra “comentários” porque estes são individualizados.

Essa história não tem lado bom. Um lado devassa as opiniões políticas de dezenas de milhões de cidadãos e o outro rompe com objetivos do sigilo do voto, inerente às democracias. O sigilo do voto protege o eleitor de quem lhe possa causar dano (ou recompensa) por suas opiniões não voluntariamente expressas, que se revelam quando se sabe em quem ele votou ou não votou. Se “avaliar o conteúdo” se referir apenas ao vídeo do ex-presidente, o pedido deveria ser de outra natureza; ao incluir os conteúdos dos comentários, o que acontecerá com as pessoas cujas opiniões não forem do agrado do escrutinador? Quem deu ao Estado esse direito? Ah, pois é!

A democracia requer instituições, mas também depende de como elas procedam. O que está em curso no Brasil é um arremedo do regime e dos meios de ação narrados no conhecido filme “A vida dos outros” (Das leben der Anderen, Oscar de melhor filme estrangeiro de 2007). Até 1990, o regime comunista da Alemanha Oriental e seu partido único, o SED, contavam com os serviços da Stasi, para controlar a vida dos alemães orientais, oprimir opositores e dar suporte ao SED. A Stasi chegou a dispor de 90 mil servidores fixos e 170 mil informantes. “Funcionou bem?”, indagará o leitor. Sim, durou 40 anos, respondeu por 250 mil prisões, sustentou o luxo da elite partidária e o rotundo fracasso do comunismo na terra do velho Karl! Em todos os países satélites atuavam filhotes da KGB, como a própria SED, a KDS búlgara, a Securitate Romena, a StB tcheca.

Muito me preocupa o que vejo acontecer. Tenho saudades da Constituição de 1988, mesmo com seus gravíssimos equívocos. A cada dia mais e mais esqueletos são levados para o armário da memória e dos arquivos. As bobagens proferidas não voltam para a boca e a censura não apaga o que os olhos viram. Alguém ainda vai ganhar muito dinheiro com documentários sobre estes anos loucos e suas fábricas de espantalhos.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

 

 

Percival Puggina

18/07/2023

(Se for possível devassar redes sociais de milhões de seguidores de um candidato?)

 

Percival Puggina

         Tinha todo jeito de fake news a matéria em que tomei conhecimento de que a Procuradoria Geral da República solicitara ao ministro Alexandre de Moraes autorização para buscar nas plataformas das redes sociais dados dos seguidores do ex-presidente.

“Isso é coisa de alguém de direita querendo desprestigiar a instituição do Ministério Público Federal”, pensei comigo mesmo. Por qual motivo faria a PGR uma coisa dessas? Para saber se era fake news, fui aos sites das “checadoras” de notícias. Nada. Bem ao contrário do que eu esperava, toda a velha mídia estampava a mesma informação que eu recebera por uma rede social.

Na sequência, busquei o número de pessoas abrangidas nesse levantamento e encontrei que, somando Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, TikTok e Linkedin chega-se à bagatela de 64 milhões de pessoas seguindo Bolsonaro. É toda a população de países como Itália e França. Uma loucura!

Dos 193 países reconhecidos pela ONU, apenas 22 têm população total superior a esse número. Como o Brasil tem 203 milhões de habitantes, contados e recontados, o número de seguidores de Bolsonaro buscados pela PGR representa 31% da população nacional. Ou seja, quase um em cada três cidadãos terão seus dados pessoais e posições políticas sendo manipulados sob os cuidados de Sua Excelência, magnífica e absoluta, o Estado.

Para que serve o sigilo da urna se, depois, há uma devassa nas posições políticas dos cidadãos?

Certas fake news são infinitamente menos danosas do que certas verdades. Será que o impacto político da informação passou pela cabeça de quem teve tal iniciativa? Como isso afetará a liberdade de opinião e expressão de tantos milhões de brasileiros? Que regime é esse que está sendo produzido à revelia da nação e do Congresso Nacional? São tênues as diferenças entre isso e um totalitarismo.

Eis mais um exemplo, dentre tantos que nos vem sendo proporcionados, de um Estado que à sociedade se impõe, sobrepõe, contrapõe e dela dispõe como coisa sua, em relação à qual deve proteger-se. “Obedeça, pague e não bufe!”. Dizem que o amor venceu. Com candura e num tom adocicado, proclamam sofrer “discurso de ódio” daqueles a quem até a simples expressão de indignação reprimem para que as sacrossantas instituições, que assim procedem, não sejam objeto de blasfêmias.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

17/07/2023

 

Percival Puggina      

         Há poucos dias, perguntou-me um jovem repórter sobre a paternidade atribuída a Antonio Gramsci na produção do roteiro para a construção da hegemonia e para a revolução cultural no Ocidente. Segundo me contou, outros autores já haviam mencionado esses assuntos em ensaios anteriores aos “Cadernos do cárcere”. Queria a minha opinião.

Disse a ele que não conhecia tais autores, mas fazia muito sentido supor que tivesse acontecido isso mesmo porque no mundo das ideias, como no mundo da ciência, as novas teorias são construídas sobre anteriores ideias e dúvidas alheias. Há quase mil anos um filósofo francês, Bernard de Chartres reconheceu a regra de modéstia segundo a qual somos “anões nos ombros de gigantes”.

Nas relações entre os indivíduos e o estado, continuei falando ao repórter, é longa a experiência humana sob servidão, tirania, drama e dignidade ofendida. E é relativamente pequena a de vida com liberdade e dignidade. Contudo, no tempo em que vivemos, é absolutamente certo que todo poder que queira ser absoluto, impondo-se de modo perene a tudo e a todos, como são os totalitarismos e as ditaduras, precisa destruir dois inimigos que lhe são naturais: a instituição familiar e a ideia de um ser superior.

Ambos são freios instransponíveis sem o uso da força bruta. Ambos estabelecem uma hierarquia de ordem natural, ou seja, em acordo com a natureza humana, que oferecerá resistência, no consciente e no subconsciente dos indivíduos e das sociedades. Por isso, os redutores de cérebros em operação nas salas de aula, em todo o Ocidente, centram suas narrativas e manipulações na depreciação da autoridade dos pais. Por isso, família passa a ser uma coisa qualquer, de suposta utilidade e é crescente o número de pais e de mães (muito mais daqueles do que destas) que fogem das responsabilidades inerentes à sua missão. Por isso, enquanto tiranos se afirmam como deuses substitutos, a ideia de Deus é ridicularizada e expurgada dos supostamente sábios ambientes da Educação, da Cultura e da Comunicação Social.

Nessa amarga trilha, a experiência dos últimos cem anos proporcionou um amplo cadastro de desastres sociais e políticos que se traduzem em desumanização do humano e em novas versões da milenar servidão. O leitor atento dirá que nesse meio tempo se infiltraram as drogas e eu contestarei que elas sempre tiveram consumidores, mas o número destes se multiplicou e se disseminou rapidamente pelas fendas abertas em sociedades onde os dois pilares acima se foram fragmentando.

Lembrei, por fim, ao meu interlocutor que para o ser humano são muito mais benéficas a autoridade amorosa dos pais e a autoridade infinitamente amorosa de Deus, do que a autoridade nada amorosa do Estado, que só se impõe pela opressão e pela força bruta, longe, muito longe, de uma ordem moral decente.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

15/07/2023

 

Percival Puggina

         Desde que as peneiras surgiram no repertório das utilidades, os protagonistas da política, em situações de apuro e em última instância, apelam para elas com o intuito de obscurecer o sol dos fatos.

A inutilidade desse tipo de negacionismo não desanima quem dele lança mão porque o último recurso ainda é um recurso, como sabem os advogados. Vá que cole. Mesmo se a cola usada for a saliva dos discursos, sempre é possível contar com a ingenuidade dos ingênuos, com a credulidade dos crentes, com o companheirismo dos companheiros e com o apoio de um jornalismo que faz jornal sem sequer espiar os fatos pela janela das redações.

São reflexões que me ocorrem ante reações que observo às palavras do ministro Luís Roberto Barroso proferidas num lugar onde, em virtude de seu cargo, não poderia estar. Ali, sua simples presença como um dos onze “supremos” (na concepção do ministro Gilmar Mendes) passava a mensagem que agora se diz que não passou. É o que se percebe em manifestações como a do STF sobre o caso. A instituição pretendeu isolar a instituição, entendendo que Barroso falava do voto popular... Essa tentativa foi incompatível com a repercussão. E ela foi tanta que até o omisso senador Rodrigo Pacheco que transformou o Senado em parlamento baldio, pôs-se de pé pelo Brasil e cobrou retratação.

Ninguém do outro lado da praça, como era de esperar, levou a sério a cobrança do senador. Para quem tem olhos de ver, porém, o sol não tomou conhecimento da arrombada peneira e não alterou o modo como milhões de brasileiros percebem a conduta da ampla maioria do STF a respeito da atual oposição brasileira. Entenderam essa colegialidade bem representada cada vez que Barroso falou na primeira pessoa do plural. Para tanto, basta uma olhada no conteúdo da sacola dos inquéritos abertos por Alexandre de Moraes.

A propósito, é importante recordar o ambiente em que transcorreu o governo Bolsonaro. Alguém poderá dizer que foi ele quem abriu confronto com o STF? Alguém o viu descumprir ordem judicial, mesmo quando lhe vedava o que era prerrogativa sua, como, por exemplo, nomear o Diretor Geral da Polícia Federal? Em 26 de agosto de 2021 o Correio do Manhã publicou uma lista com as 123 ocasiões em que, até então, o STF havia alvejado o governo Bolsonaro. Conheça ou relembre disparos inaugurais de 2019:

- Em 10 de maio de 2019, a ministra Rosa Weber deu cinco dias para Bolsonaro explicar o decreto que facilitou o porte de armas.

- Em 10 de maio de 2019, o ministro Celso de Mello deu o prazo de 10 dias para o Governo Federal explicar o corte de 30% nas verbas das universidades.

- Em 12 de junho de 2019, após ação do PT, o STF formou maioria e cancelou a Extinção de Conselhos [sovietes] promovida pelo Governo Bolsonaro.

- Em 24 de junho de 2019, o ministro Barroso suspendeu MP de Bolsonaro que transferia a demarcação de terras da FUNAI para o Ministério da Agricultura.

- Em 30 de julho de 2019, o ministro Dias Toffoli proibiu o Governo Federal de bloquear verbas de Goiás em cobrança de dívidas do estado para com a União.

- Em 1º de agosto de 2019, o Plenário do STF referendou a liminar do ministro Barroso que barrou a transferência de demarcação de terras da FUNAI para o Ministério da Agricultura.

- Em 1º de agosto de 2019, o ministro Barroso deu prazo de 15 dias para Bolsonaro explicar sua fala sobre o pai de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB.

- Em 5 de agosto de 2019, a ministra Rosa Weber deu prazo de 15 dias para - Bolsonaro explicar declarações sobre Dilma Rousseff.

- Em 21 de outubro de 2019, o ministro Gilmar Mendes suspendeu a medida provisória que dispensava publicação de editais na grande imprensa.

- Em 27 de novembro de 2019, a ministra Cármen Lúcia deu cinco dias de prazo para Bolsonaro explicar o Programa Verde Amarelo.

- Em 13 de dezembro de 2019, a ministra Rosa Weber deu prazo de 10 dias para Bolsonaro explicar a fala sobre Glenn Greenwald.

- Em 20 de dezembro de 2019, o STF suspendeu a MP de Bolsonaro que previa o fim do seguro DPVAT.

Um ano e meio mais tarde, já havia 123 "cartuchos" no chão.. E não foi diferente no ano de 2022. Em compensação, alguém teve notícias de interpelações, suspensões de decretos, invasões de competência, durante o atual governo? A horas tantas, é claro, Bolsonaro perdeu a paciência, subiu o tom e partiu para a grosseria que nada resolve, aumenta o atrito e permite ampla exploração política.

Minha leitura, como cidadão, ao longo desses anos, mostra que o governo Bolsonaro foi, desde o início, antagonizado pelo STF. Essa impressão, consolidada ao longo de quatro anos, persiste. Não são apenas as palavras proferidas que expressam o que as pessoas sentem, pensam ou fazem.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

        

Percival Puggina

13/07/2023

 

Percival Puggina

         Não resta dúvida de que o PT foi trazido de volta ao poder para cumprir seu destino histórico e destruir o país. Eu sabia – já escrevi tanto a respeito! – mas era consequência do que podia ler nos fatos; agora, Lula verbalizou tudo, audível e claramente, aos amigos da sua Pátria Grande reunidos no Foro de São Paulo. Disse ele: “Aqui no Brasil nós enfrentamos o discurso do costume, o discurso da família, o discurso do patriotismo, ou seja, o discurso de tudo aquilo que a gente aprendeu historicamente a combater”.

Qual a principal trincheira desse combate? Onde a frente ampla da desgraça nacional avança sem encontrar resistência alguma? Onde, num total desequilíbrio de forças se estabelece o domínio dos corações e das mentes? É nas salas de aula do país, convertidas em crematório do futuro ao longo de toda a cadeia produtiva do ensino.

Não surpreende o entendimento entre o MEC e o Ministério da Defesa – sim, você leu certo – que acabou com as escolas cívico-militares criadas em 2019. Afinal, os três inimigos contra os quais a liderança esquerdista do continente “aprendeu historicamente, etc., etc” estão presentes nesses educandários: 1º) as famílias, que junto com os professores, em assembleia e por votação decidem adotar esse modelo; 2º) os bons costumes, porque traficantes, malfeitores e desordeiros mantêm distância e os alunos são orientados para condutas civilizadas voltadas ao aprendizado; 3º) o patriotismo, porque nessas escolas, o sadio e produtivo amor à pátria não é reprovado, mas estimulado.

De um modo gradual, elas serão absorvidas pela mesmice de um sistema cujos péssimos resultados gritam nas aferições internas e rankings internacionais que avaliam o desempenho escolar em todos os níveis de ensino. “É que não se faz Educação sem dinheiro!”, exclamarão em coro as salas de professores. No entanto, em 2019, o Brasil ocupava o 6º lugar no investimento em Educação, medido na proporção com o PIB, perdendo apenas para os países nórdicos e para a Bélgica.

Mas é só isso que a esquerda no poder combate historicamente e põe as escolas cívico-militares de joelhos com a nuca exposta? Não, tem muito mais. Ela substitui o moralmente correto pelo “politicamente correto”, a História por um elenco de narrativas capciosas, a solidariedade pelo antagonismo, o amor ao pobre pelo ódio ao rico.

Essa esquerda combate a estrutura familiar pela condenação do suposto patriarcado, como se a paternidade fosse apenas poder e não amor, responsabilidade, serviço e sacrifício. A sala de aula não pode ser o vertedouro das frustrações de quem detém o toco de giz.

Ela desrespeita a inocência das crianças. Contra a vontade unânime dos parlamentos do país, introduz pela janela a ideologia de gênero nas salas de aula enquanto os valores saem pela porta.

Como alavanca ideológica, não estimula o respeito à propriedade privada, nem o empreendedorismo, nem o valor econômico do conhecimento e das competências individuais.  

Poderia prosseguir pois nada há de meu apreço que não seja combatido pela esquerda em sua guerra cultural ou guerra contra o Ocidente, ou por uma nova ordem mundial. O desejado pluralismo de ideias é substituído pela exclusão da divergência. O Estado que deveria servir a sociedade põe a sociedade a seu serviço. O Estado e a política que os camaradas da Pátria Grande querem precisa dos necessitados de seu auxílio, sem os quais desaparecem politicamente.

Vejam o quanto essa esquerda é dependente de um sistema de ensino que não ensine, cujo foco não esteja no aluno e sua aprendizagem, mas em difusos e sinistros objetivos político-ideológicos. Tal sistema, quando fala em escola de tempo integral, mais me assusta do que me alegra!

PS – Os muitos bons e valiosos professores têm meu louvor e sabem contra o que também se empenham.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

11/07/2023

 

Percival Puggina

         Precisa muito. E precisa deles já. Transcrevo, a título de curiosidade, a declaração do ministro Luís Roberto Barroso em palestra proferida no dia 5 deste mês aqui em Porto Alegre:

“O Poder Judiciário no Brasil, após a Constituição Federal de 1988, viveu e vive ainda um vertiginoso processo de ascensão institucional. Deixou de ser, já há um tempo, um departamento técnico especializado. Passou a ser um poder político na vida brasileira. Houve mudança na natureza, no papel, na visibilidade, nas expectativas que existem em relação ao Poder Judiciário”.

Não há novidade. Essas palavras expressam um reconhecimento da mudança sofrida pelo STF, ao migrar para um alinhamento petista ao longo das duas primeiras décadas deste século. Todos vimos isso acontecer e o surgimento  em 2018 de uma força política formada por conservadores e liberais tornou isso muito evidente.

Pergunto: por onde andou a tropa choque parlamentar petista, sempre tão combativa, no quadriênio 2019 a 2022? Naquele período, quem respondeu pela oposição e de onde veio o embate mais frontal com o governo? Qualquer pessoa atenta aos fatos sabe que o PT se recolheu à discrição, passando pomada ou pano nas feridas abertas pela Lava Jato e o poder político emergente a que se referiu o ministro Barroso passou a bater de frente com o governo. Era ali que iam os repórteres. Era ali que estavam as notícias. Foi ali que surgiram novas estrelas da poderosa e confortável política dos sem votos, a impor suas devoções e a arrancar louvores da velha imprensa.

O corpo majoritário dentro do Supremo podia exercer seu papel contramajoritário à decisão das urnas de 2018.

Tudo pela democracia... Era ali, pois, que a esquerda enviava emissários com suas petições, ADIs, etc. O Jornal da Manhã do dia 26 de agosto de 2021 contabilizou 123 manifestações do STF (leia aqui e divirta-se) avaliadas como negativas para o governo, algumas das quais estariam impedindo, inclusive, a realização de promessas de campanha consagradas pelo voto popular. O que descrevo ganhou o nome de “judicialização excessiva” numa palestra do ministro Fux, quando presidia o tribunal em 2022.

A direita, atual oposição, está fazendo a mesma coisa? Não. Se essa proposta de Reforma Tributária que chuta o pau da barraca do federalismo brasileiro tivesse sido apresentada no governo anterior, o PT teria permanecido passivo? Não. Como agiria o STF se acionado? Numa outra dimensão do mesmo problema, quantos políticos e comunicadores foram parar nos sacos sem fundo dos inquéritos sem presente e sem futuro abertos pelo ministro Alexandre de Moraes “em defesa da democracia e do estado de direito”?

Pelo viés oposto, não lembro nenhuma iniciativa da atual oposição contra o governo. Ao contrário, o que vi foi o ministro Lewandowski derrubar preceito da lei das estatais e o PT indicar personagens de sua nomenklatura para postos prudentemente vedados a políticos por aquela lei de Michel Temer. Tampouco sei de parlamentares governistas que tenham sido denunciados às comissões de ética de suas casas no Congresso. Nem de ações de indenização por dano moral apresentadas contra políticos e comunicadores de esquerda. A propósito, quantas contradições de Lula em relação a suas promessas de campanha foram apontadas onde isso couber? Ou pode enganar, ganhar os votos e fazer o contrário? Pergunto porque o oposto aconteceu: promessas de campanha de Bolsonaro, aprovadas nas urnas, foram travadas pelo STF.

Há uma fila de denúncias formalizadas pela esquerda com o intuito de cassar mandatos de seus principais oponentes e/ou de torná-los inelegíveis para que não incomodem mais. É o mesmo roteiro que os camaradas Nicolás Maduro e Daniel Ortega adotam em suas “democracias” de narrativa.

Enfim, o que aqui proponho é urgente. Mexam-se os causídicos.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

10/07/2023

 

Percival Puggina

         Um leitor contrariado, desses que vai mensagem e vem mensagem, se declarou "defensor do comunismo cristão”, dizendo-se orgulhoso de tal convicção assumida com base na “regra dos primeiros apóstolos". Ele a explicitou e eu a transcrevo abaixo:  

" A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum. Com grandes sinais de poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. E os fiéis eram estimados por todos. Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas, vendiam-nas, levavam o dinheiro, e o colocavam aos pés dos apóstolos. Depois, era distribuído conforme a necessidade de cada um." (Atos dos Apóstolos 4, 32-35)

Queria ter um real por vez que ouvi a citação acima, ao longo de mais de meio século, por seguidores da tal teologia da libertação. De início, essa interpretação era qualificada como "leitura do Evangelho com chave marxista". Aos poucos, foi ganhando status de reflexão teológica e derivando para inevitáveis apostasias e heresias. Mas essa é outra história. O que importa é entendermos a que se refere o texto em questão.

Perceber que estamos diante do relato de uma experiência não exige grande capacidade de análise.  Basta saber ler. Ademais, trata-se de uma experiência singular, que não se reproduziu em qualquer outra das comunidades de fiéis daqueles primeiros momentos do cristianismo. Uma vez mencionado, o episódio não retorna à pauta, permitindo presumir que terminou com o fim do estoque. Os estudiosos mais interessados na verdade do que na utilização das Escrituras para fins ideológicos e políticos entendem que aquele grupo inicial de cristãos de Jerusalém estava convencido de que a volta de Jesus para o Juízo e para o fim dos tempos era coisa imediata. Provisões para o futuro não teriam, pois, serventia alguma.

O apóstolo Paulo nos socorre na compreensão daqueles primeiros momentos da Igreja quando menciona que as "comunidades da Macedônia e da Acaia houveram por bem fazer uma coleta para os irmãos de Jerusalém que se acham em pobreza" (Rom 15,26). Referências a essas dificuldades se repetem aos Coríntios (2 Cor 9,7). A célebre sentença do apóstolo Paulo – "Quem não trabalha que não coma." (2 Tes 3,10) – também se relaciona com o fato e mostra que aquele "comunismo" favorecia ao ócio. Ou seja, as coisas não iam muito bem por lá. Passara a haver necessidades e necessitados, ociosos e oportunistas.

Foi o que expus ao meu leitor fã do "comunismo cristão primitivo" sobre a perspectiva histórica. Na perspectiva doutrinária, acrescentei ser preciso muita imaginação para supor que, ante as circunstâncias daquele momento, a pequena comunidade dos cristãos de Jerusalém estivesse empenhada em propor à humanidade e aos milênios seguintes uma ordem econômica e social. Deduzi-lo do relato acima é puro devaneio ideológico, com severos riscos de revelar farisaísmo se não for aplicado à vida concreta de quem o propõe aos demais. Em outras palavras, como aconselhei ao leitor, em vez de oferecer o modelo de repartição aos povos e nações, aos outros, enfim, ele deveria aplicar a si mesmo.  Bastava-lhe reunir outros que pensassem assim, juntarem os respectivos trecos e partilharem tudo. Dado que discursos propondo comunismo ao mundo não faltam em parte alguma, não lhe seria difícil reunir parceiros para viverem segundo sua regra. Lula e os seus devotos certamente estariam interessados. Em resumo: quem pensa como esse meu leitor, comece dando o exemplo e partilhando o que lhe pertence. Num infinito silêncio, encerra-se o debate.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

09/07/2023

 

Percival Puggina

         Na nossa história recente, o criminoso que aflige a sociedade é amplamente protegido por um certo garantismo penal que se generalizou no Judiciário. Estranhamente, porém, o mesmo garantismo não se aplica ao cidadão que se manifesta, pacificamente, de um modo que desagrada o Estado.      

No Brasil, nada é mais realista do que o completo absurdo, caro leitor. Nesta terra de bandido solto, com mandato, decidindo sobre nossas vidas e acesso aos recursos públicos, disparate é a sensatez! Mais dia, menos dia, vamos colocar tornozeleira na Polícia, algemar os promotores e estabelecer quota máxima de sentenças condenatórias por magistrado. Excedo-me na ironia?

Toda vez que passo na rua por um desses pobres catadores de papel que, como se fossem animais de tração, puxam as próprias cargas para os locais de reciclagem, me vem à mente a questão da criminalidade. A mesa do catador é escassa, o agasalho pouco, a habitação precária, a vila não é salubre e o trabalho duríssimo. Ao lado, bem perto, operam traficantes e suas redes. Têm do bom e do melhor. Mas ele segue puxando seus fardos e contando centavos porque prefere ganhar a vida trabalhando. Combater a criminalidade, agilizar os processos, eliminar a impunidade e endurecer as penas é sinal de respeito a essa referência moral emergente no país! É por ele, pelo catador de papel, que escrevo este artigo. E também porque sou portador de uma anomalia que me faz ser a favor da sociedade, desconfiar do Estado e me opor à bandidagem.

No entanto, a cada dia, aumenta o número daqueles que estendem o dedo duro para nós, o povo, indigitando-nos como principais culpados pelos males que a insegurança nos impõe. Nós, você e eu, leitor, seríamos vítimas da nossa própria perversidade e os grandes responsáveis, tanto pela situação do papeleiro quanto pela opção do traficante, do ladrão, do assaltante, do homicida e até dos corruptos porque muitos de nós os elegem, sabendo ou não sabendo.. Por isso, falando em nome de muitos, de poucos ou apenas no meu próprio, gostaria de conhecer a natureza do delito que nos imputam, dado que estamos sendo novamente desarmados pelas exigências que cercam a posse de qualquer arma, encarcerados por grades de proteção e temos as mãos contidas pelas algemas da impotência cívica. Nós só queremos que nos permitam progressão para o semiaberto, puxa vida!

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

05/07/2023

 

Percival Puggina

       Perguntam-me: “Como se explica a implosão da ‘consistente maioria conservadora’ eleita para o Congresso Nacional em 2022?”. A resposta a essa pergunta causa dor moral a quem tem olhos postos no futuro do país.

O conservadorismo é um modo sábio de ser. Nos anos recentes, quando evoluiu para a política, o conservadorismo acabou orbitando a pessoa do presidente Bolsonaro. Quantos se dispersaram após o pleito? Noutra vertente, reuniu patriotas. Muitos deles, porém, aprenderam história do Brasil de professores esquerdistas e, após o pleito, retornaram ao seu mau humor contra o país, rejeitando a própria nacionalidade. Já encontrei alguns por aí.

Neste artigo analisarei as causas da implosão da maioria conservadora contabilizada no final da eleição parlamentar do ano passado.

O Realismo

Há poucos dias, comentei a importante manifestação do senador Espiridião Amin ao questionar o advogado de Lula e do PT quando sabatinado pelo Senado. O competente representante de Santa Catarina disse a Zanin tudo que queríamos ouvir sobre os males que acometeram os tribunais superiores. No entanto, dirigiu-se ao candidato quando deveria voltar a voz e apontar o dedo a seus pares porque se eles cumprissem seu dever constitucional aquelas cortes não mais estariam cometendo os excessos que tão assiduamente praticam. Zanin não era ainda membro do colegiado, ao passo que os senadores integram a Câmara Alta, mas poucos agem como tal. Quantos “conservadores” aprovaram o candidato indicado por um mentiroso público que ao vivo e a cores assegurou não ser o STF lugar para presentear amigos?

Amim disse tudo certo, mas foi paradigmático ao não se dirigir a seus pares.

Um Supremo petista se comportará como os petistas que o aplaudem e dele se servem como num bufê de decisões. Um senado presidido pelo omisso e conivente Rodrigo Pacheco será conivente e omisso como ele.

A Coragem

Jamais teremos maioria conservadora enquanto não houver um número suficiente de homens e mulheres de coragem nos nossos quadros políticos! É de Eleanor Roosevelt a frase: Você ganha força, coragem e confiança em cada experiência na qual, olhando a face do medo, pode dizer a si mesmo: “Eu vivi através desse horror. Posso enfrentar o que venha pela frente.” Ao falar em coragem com essa dimensão, lembro-me do cidadão brasileiro Allan dos Santos. Ele vive o horror do desterro desde 2020! Longe da família, passa toda sorte de privações e males psicológicos para não cair nas mãos dos que dele buscam vingança pessoal enquanto alegam a necessidade de prendê-lo por ... fake news. Felizmente para ele, os Estados Unidos ainda respeitam a liberdade de expressão e sabem reconhecer os motivos políticos de sua entrada no país.

Aos nossos conservadores do pleito de 2022, dispersos em 2023, eu digo: Saiam debaixo da cama; tirem os olhos do próprio umbigo; seus eleitores não os escolheram para isso.  Cumpram seu dever, caramba!

O Caráter 

A má notícia vem ensinada pela vida. Caráter, ou se tem ou não se tem. É algo que não se compra, nem se ensina para gente grande. Menos ainda para quem vai desempenhar atividades num lugar de constante perigo moral, onde, sabidamente, cada voto pode se transformar em mercadoria e onde, à mais insensata sensatez, convém deixar tudo como está.

O parlamento é um lugar de escolhas. As cotidianas opções são feitas entre o bem e o mal. Ali, o caráter se exprime com atitudes e votos, como recomendaria Aristóteles. Ele completava a ideia afirmando que o caráter não é definido sobre o que pensamos a respeito do bem e do mal. E eu poderia aduzir que depende menos ainda de o quanto rezamos pelo bem que queremos enquanto fazemos o mal ou ante ele nos omitimos.

O Trabalho

Há muito trabalho pela frente até que o conservadorismo, esse modo sábio de ser, se torne uma força política sensível na sociedade. É muito desconfortável saber que por falta de nossa dedicação permitimos que as piores ideias sobre a pessoa humana, a sociedade, a liberdade, o estado, a economia, etc. prosperassem simultaneamente com a disseminação de seus males. Teria sido tão mais efetivo e bom para o Brasil e os brasileiros se não tivéssemos sido companheiros de viagem da farsa social-democrata que hoje perde a máscara e o pelo! Foi essa percepção que fez renascer o conservadorismo no Brasil.

Há muito trabalho, sem o qual jamais haverá colheita. É preciso criar e disseminar núcleos conservadores, ocupando espaços, formando opinião, criando meios de comunicação, interagindo de modo eficiente com o sistema de ensino em proteção aos estudantes, estimulando os bons educandários, os bons comunicadores, os bons veículos, os bons religiosos. Perseverando na Fé.

A Fé

Fé implicará rezar como se tudo dependesse de Deus e trabalhar como se tudo dependesse de nós. Sermos mãos do Senhor numa obra de misericórdia em relação aos brasileiros mais necessitados. São irmãos nossos, vítimas dos maus políticos em sucessivas gerações. Maus políticos, interessados apenas no poder, não têm viés ideológico. Há canalhas de direita e de esquerda. São pilotos do monomotor do egoísmo, não têm ideologia, nem coragem, nem vergonha.

Eu quero o bem do Brasil para que a prosperidade não dissipe seus frutos nas mãos dos maus políticos que drenam para si e para o Estado a riqueza nacional, dando causa ao empobrecimento e ao pequeno desenvolvimento humano. É impiedoso não enfrentar o mal, principalmente quando seus efeitos são tão extensos.

Que Deus abençoe nossa Pátria. Que a mãe de Jesus estenda seu manto protetor sobre o Brasil! Amém.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.