• Percival Puggina
  • 30/06/2024
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Um basta à barbárie!

 

Percival Puggina

         Assim como o botão da flor é a própria flor em botão, assim também toda vida no útero materno é humana em diferentes e progressivos estágios de desenvolvimento. Alterações de forma não alteram a natureza, como qualquer idoso constata ao olhar a própria fotografia quando bebê, tão diferente na forma que só saberá ser sua aquela imagem se alguém de confiança lhe houver, um dia, informado isso. Um recém-nascido é mais semelhante ao feto que era do que com o idoso que será aos 90 anos.

Com graves consequências na vida social, a moralidade contemporânea se ajoelha em adoração perante as conveniências. A genuflexão da moral frutifica. Nasce a corrupção e explodem escândalos que se desfazem em fumaça tão rapidamente quanto as provas. Nasce o comércio clandestino das drogas e a restrição ao trabalho policial. Nascem o servidor público militante político e o professor redutor de cérebros. Nascem as narrativas e suas sequelas. Nascem a sexualização precoce, a gravidez das adolescentes e nasce o aborto como “direito da mulher”. Dessa genuflexão nasce até a vigarice que chama o projeto de Lei do Aborto de “Lei do Estupro”.

Os legisladores que despenalizaram o aborto em três casos, entre eles o de estupro, não fixaram o número de semanas a partir do qual o procedimento seria vedado. Entendo a dificuldade: a partir de quantas semanas se torna “humana” uma vida que é humana desde a concepção? Para evitar o pior, uma regra subsidiada pelo caso Amillia Taylor (bebê norte-americano nascido em 2006 com 21 semanas e seis dias de gestação) limitava a 22 semanas o tempo a partir do qual o feto tinha possibilidades de viver fora do útero materno. Matar um bebê que poderia viver fora do útero materno ficava parecido demais com homicídio.

Embora se saiba que mesmo antes disso, o procedimento abortivo causa sofrimento ao feto, o Conselho Federal de Medicina, com a autoridade que lhe confere a lei, proibiu o aborto após a 22ª semana de gestação. Contra isso se insurgiu o PSOL, alegando que a lei que autoriza o aborto em caso de estupro não estabelece “marco temporal” (em relação às terras indígenas, a Constituição estabelece o marco temporal, mas esse não convém aos partidos de esquerda). Os princípios andam de mãos dadas com a conveniência, ou, no dizer do comediante Grouxo Marx: “Esses são meus princípios, mas se não lhe servirem, tenho outros”.

A prefeitura de São Paulo informou recentemente ao ministro Alexandre de Moraes que seus hospitais realizaram 68 abortos em 2024, sendo três em bebês com 22 semanas e um com 30 semanas de gestação. Sete meses! Ao que noticiou O Globo, houve um caso, no hospital municipal de Campo Limpo, onde uma mulher, por duas vezes, teve negado o atendimento por estar com 24 semanas de gestação, serviço “não oferecido pelo hospital”. Está formado o rolo.

Atenção, senhores e senhoras congressistas cuja moralidade não se curva às conveniências! De uma vez por todas, votem lei impondo limites a essa barbárie sustentada por quem se compraz com atender conveniências mediante lixeiras hospitalares recheadas de pedaços de pequenos seres humanos. Ponham um freio nessa loucura sinistra!

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


José Eduardo Foganholo -   01/07/2024 18:17:33

É muito triste ver a rasteirização, a banalização da vida humana por bestas ditas humanas! Impossível respirar os mesmos ares que esses animais assassinos! Será que ainda não entenderam que a vida se dá já na concepção?!? Legisladores, humanizem-se, por amor a Deus!!!

Valterlucio Bessa Campelo -   30/06/2024 22:12:57

Mestre, importa assinalar que o PSol está sempre à frente dessas demandas judiciais porque sua irrelevância permite a ousadia irresponsável, mas trata-se de cumprimento da agenda de toda a esquerda.

Heitor De Paola -   30/06/2024 19:07:08

Quanto aos casos já previstos não vejo justificativas para aborto a não ser no caso de risco materno. Mesmo assim a decisão deve ser da mãe, pois muitas podem - e isto é mais comum do que é divulgado - preferir o risco de sua vida para salvar seu filho, ser for um feto viável. A decisão não pode ser de médicos, advogados ou burocratas. Quanto ao estupro: o feto não pode sofrer as consequências do ocorrido e é uma hipocrisia defender o assassinato do feto numa sociedade que não aceita pena de morte para o estuprador.

Heitor De Paola -   30/06/2024 15:02:39

Puggina em sua melhor forma!!!! Nada mais a comentar a ser não aplausos e um pequeno adendo de um quase obstetra que virou psicanalista. Nos quase 300 partos que fiz como estagiário e quase uma centena de cesáreas que auxilei, quando tínhamos um feto bem formado, mesmo prematuro, era só risos na sala de partos; quando vinha um feto morto era só tristeza com direito a lágrimas da equipe (inclusive minhas e do/a estagiário/a de pediatria). Não consigo aceitar que alguém mate deliberadamente um ser humano nessa bela fase de desenvolvimento! Sim, porque Puggina está correto ao falar das fases de desenvolvimento, pois desde a introdução do espermatozóide no óvulo ainda na trompa de Falópio, já temos um ser humano completo com seus inequívocos 23 pares de cromossomos! Nenhum legislativo ou judiciário pode alterar o que Deus criou! Podem, sim, mentir, para justificar assassinatos! Period!

Flavio Mansur -   30/06/2024 13:50:50

Puggina, o legislador previu apenas dois casos (estupro e perigo materno). Os iluministros inventaram um terceiro, se arvorando de legisladores. É mais do que urgente os legisladores interromperem essa barbárie. E me envergonha haver pessoas com diploma igual ao meu fazendo essa carnificina.

Eloy Severo -   30/06/2024 12:19:23

Muito bom.

Manoel Luiz Candemil -   30/06/2024 11:41:19

A iniciativa formal foi do PSOL! Mas a iniciativa informal, anterior, será que foi também do PSOL?

claudio bezerra guedes -   30/06/2024 11:34:47

A INSANIDADE HUMANA TOMOU FOCO ENTRE TODAS AS AREAS BRASILEIRAS, AS COISAS ESTÃO TOMANDO UM RUMO QUE NÃO PODEMOS PREVER, MAIS PODEMOS SENTIR NO PASSAR DO DIA A DIA, É ATROZ A INTELIGENCIA HUMANA PARA O MAU. NAMASTE

Rute Silveira -   30/06/2024 11:00:43

Esse tema, tão caro para a sociedade cristã, ética, e que se importa com a vida desde a sua concepção é tratado de forma criminosa por uma parte da população. As cabeças vazias, doutrinadas até a medula, lutam por uma falácia do “ meu corpo, minhas regras” e contam com o apoio de congressistas e de “ iluministros” que legislam sem esse direito. O conceito tem que ser outro, o de prevenção a uma gravidez precoce e ou indesejada , mas isso não interessa. O barulho que fazem é o que importa. Mas, continuamos na mesma toada, a daquela que prega uma lei para você e outra para mim. Você aborta e eu vou para Miami fazer o enxoval do meu bebê. Hipocrisia nível hard. Isso é nojento. Lutemos pelo direito de quem não pode se defender. Rute Silveira.

Decio Antonio Damin -   30/06/2024 09:10:25

INDEFESO Façamos uma abstração: Temos diante de nós um pequeno ser humano vivo, completo, coração acelerado, olhos cerrados e esperando crescer para poder enfrentar as vicissitudes da vida...! Neste momento, por qualquer razão, alguém resolve matá-lo, e o faz com uma injeção de cloreto de potássio direto no seu coração que para de bater (assistolia), e ele morre, simplesmente...! O quê é que você acha disso? Morrer sem ter feito nada, além de simplesmente existir! Será justificável tal atitude? Poderá tal ato passar incólume como se não tivesse ocorrido? É possível tirar isso da nossa consciência para poder continuar vivendo? É preciso muito poder de abstração, negação... ou falta de piedade! Décio Antônio Damin, médico, POA, Av. Dr. Nilo Peçanha 2665 RG 1002179446