Percival Puggina
29/11/2023
Percival Puggina
Com a indicação de Flávio Dino, Lula mostra como o amor torna tudo mais lindo. Onde iria ele encontrar alguém mais simbólico da vitória do amor? Cuidadosamente, escolheu uma pessoa aplaudida por sua cordialidade e afabilidade, que muito contribuirá para amansar a conduta ouriçada de alguns senhores ministros... Ao mesmo tempo em que exibe à nação seu sólido compromisso com nossa liberdade de expressão, realiza o sonho de seu saudoso camarada Luís Carlos Prestes, que sempre quis ter um líder comunista raiz sentado no STF.
Os adversários que os comunistas mais combatem em suas dezenas de experiências mundo afora ao longo de 106 anos não são indivíduos, não são pessoas concretas com nome e sobrenome. Um Estado que adote o comunismo precisa eliminar ou silenciar grupos sociais inteiros. A força do Estado só eventualmente age contra “alguém”, pois seu alcance precisa ser “multitudinário”, para usar a palavra da moda após as prisões e julgamentos em massa referentes aos eventos de 8 de janeiro. Então, para o governo, é bom colocar no Supremo um jurista com essa visão pragmática de como a banda deve tocar.
Quero sublinhar três problemas que antevejo como decorrentes da indicação. O primeiro se refere ao ciúme que Flávio Dino vai suscitar. Como reagirá o ministro Alexandre de Moraes quando perceber que mão visivelmente mais pesada que a sua chega à Casa com ganas de provar serviço? Quem vai mostrar mais os dentes?
O segundo, diz respeito aos cidadãos bem-aventurados que têm “fome e sede de justiça” e consciência da importância dos tribunais superiores. Nestes muitos, se consolida a ideia de que não serão saciados por quem tem fome e sede de poder.
O terceiro diz respeito aos milhões que a elite política governante e sua torcida organizada gostariam de ver surdos e mudos, ou idiotizados no sofá da sala, assistindo à Globo. Digo isso porque não será fácil convencer o Senado que o ministro Flávio Dino é tão manso e pacífico quanto ele se revelará nas audiências com senadores e na sabatina final. Pode ser difícil aprová-lo e tudo que é difícil para o governo no Congresso custa caro para a sociedade. É nosso dinheiro ganhando asas e tomando rumo que gera as maiorias conseguidas pelo governo no parlamento. E não vejo motivos para que seja diferente no caso de Flávio Dino.
Isso é firmeza de caráter. A maioria móvel, hoje base do governo, tem seu padrão de conduta e não abre mão. Aliás, é sobre isso que escrevi desde que sentei para desabafar neste texto, usando sarcasmos e ironias para ser menos depressivo.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
27/11/2023
Percival Puggina
O governo Lula passou a régua no estrago e chegou à conclusão de que o prejuízo ficou maior em R$ 177 bilhões. Note-se que esse rombo partiu de um superavit de R$ 60 bilhões no exercício anterior. Que falta faz um Paulo Guedes!
Como também era de se prever, há déficit entre as empresas estatais. O ano fecha com um buraco de R$ 6 bilhões, somadas as empresas Dataprev, Eletronuclear, Emgeprom e Correios. As estatais, sejam federais, estaduais ou municipais são reverenciadas e estimadas pelos esquerdistas que mantêm, com elas, um amor eterno enquanto dura. A relação só é discutida quando seus fundos de pensão são investidos com o mesmo desmazelo com que seus companheiros tocam o país.
Durante os anteriores governos petistas, os fundos de pensão das estatais foram usados para apoiar projetos das empresas beneficiadas por dinheiro barato porque escaladas pelo governo para desempenhar o papel de “campeãs nacionais”. Nas últimas páginas do livro de narrativas para boi dormir em que essa estória é contada, ficou o prejuízo para os servidores que pagam a conta com aportes adicionais.
O problema dos fundos de pensão, apesar dos seus muitos dígitos, resulta pequeno diante do rombo maior ocorrido naquele período como consequência dos feitos investigados no “Mensalão” e na “Lava Jato”, hoje jogada no cadafalso do opróbrio por ter proporcionado à nação o encontro da Esperança com a Decência.
A corrupção motivou a Lei das Estatais (2016) e, nela, aos preceitos que visavam impor condições positivas e negativas rigorosas aos ocupantes de cargos de direção e de conselho dessas empresas. As condições positivas diziam respeito à experiência e à competência dos indicados; as condições negativas exigiam um afastamento de 36 meses de funções político-partidárias para quem fosse indicado a cargo de administrador de empresa pública ou sociedade de economia mista, bem como conselhos da administração.
O resultado pôde ser lido em eficiência, decência e lucratividade. Acabaram os prejuízos, os escândalos e as estatais passaram a dar lucro. Bom demais para durar. Quando tudo ia bem, a estação foi fechada e um viaduto judicial desviou a esperança por cima e para um lado, enquanto a decência cruzou por baixo, levada para outro lado. Bye bye!
O Supremo, no próximo dia 6 retoma o julgamento da constitucionalidade das referidas exigências derrubadas pelo ex-ministro Lewandowski em decisão monocrática. Se valer a experiência, o viaduto continuará operando.
Imagine o que estaria sendo dito se esses fatos tivessem ocorrido entre 2019 e 2022...
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
26/11/2023
Percival Puggina
Sublinho aqui dois dos vários tipos de pessoas que estão, sempre, querendo nos enganar. O contingente mais numeroso é o dos estelionatários que, por mil artimanhas, procuram iludir pessoas ingênuas com o intuito de estender a mão grande sobre seus bens materiais. Esses proliferaram no ritmo em que evoluíram os meios tecnológicos de comunicação, aumentando a vulnerabilidade de seus usuários. Menos numeroso, mas ainda mais nocivo, é o grupo dos indivíduos intelectualmente desonestos, que se julga capaz de convencer os demais que o erro é um acerto, que o mal é um bem e que a verdade se expressa através de uma mentira. Você pode imaginar que esta pessoa não lhe está tomando valor algum, mas é exatamente isso que ela está fazendo ao afetar o apreço da sociedade a tudo que realmente tem valor e não é corroído pela ferrugem do tempo.
Apontar em alguém a desonestidade intelectual pressupõe identificar nele a existência de um intelecto usado sem senso moral, para fazer valer suas ideias e consolidar seu poder sobre todos a partir de suas vítimas diretas.
Os espaços de poder são objetivos constantes dessa guerra suja empreendida por indivíduos intelectualmente desonestos. É assustador observá-los e verificar o êxito de sua retórica ambivalente e dos malabarismos que usam para convencer os outros.
Assim como falsários e arrombadores de antigamente tinham à disposição um conjunto de instrumentos de trabalho, os estelionatários de hoje têm sua maleta de truques para iludir os ingênuos que encontram. O intelectual desonesto, por sua vez, se vale das habilidades proporcionadas pelo conhecimento.
Essas pessoas são a versão moderna dos sofistas gregos cujo objetivo era argumentar de modo exitoso durante um contraditório, sem qualquer preocupação com a verdade conhecida. Górgias foi o principal e mais bem sucedido desses mestres. Niilista e relativista, era reverenciado pelo domínio da oratória e dos truques de uma retórica despida de princípios morais.
Para ele, “A arte da persuasão ultrapassa todas as outras, e é de muito a melhor, pois ela faz de todas as coisas suas escravas por submissão espontânea e não por violência”. Seus alunos deram-se muito bem nos espaços de poder de seu tempo, remuneravam-no de modo abundante a ponto de ele poder encomendar – segundo se diz – uma estátua de ouro de si mesmo.
Seus discípulos estão entre nós e talvez nem saibam que o são, pois absorveram de outras fontes as qualidades e os vícios que o caracterizavam.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
24/11/2023
Percival Puggina
A súbita mudança de conduta do senador Rodrigo Pacheco dava razões para ser vista como jogada ensaiada tipo “Faz de conta aí que eu faço de conta aqui”. Nessa perspectiva tudo fica mais compreensível, embora censuráveis as posições morais. O senador perdeu a esperança de uma cadeira no STF; Davi Alcolumbre quer tomar-lhe a cadeira de presidente do Senado em 2025; o governo de Minas Gerais é uma possibilidade remota se ele continuar surdo aos anseios da cidadania e inerte ante os excessos de um Supremo que perdeu a noção de limites. As opiniões sobre ele nas redes sociais certamente não o envaidecem.
Já para o Supremo, o que importa é que tudo fique como está e nenhum membro da confraria seja incomodado na estabilidade de seu poder e de seu cotidiano. Então, fica mais claro: 1) o Congresso aprova a PEC que restringe as decisões monocráticas, exigindo voto majoritário para sustar decisões e atos dos outros poderes; 2) o STF, em decisão que será amplamente majoritária (se não unânime), declara inconstitucional a emenda à Constituição aprovada pelo Congresso e pronto. Volta a reinar a paz nos cemitérios da soberania popular, embora seja muito estranho tomar do Congresso seu poder constituinte derivado da própria Constituição.
Se essa previsão estiver certa, o errado no processo é o ministro Gilmar Mendes, que, a pedido de Roberto Barroso, fez um discurso na abertura da sessão do Pleno para o qual o decano calçou chuteira e saiu dando canelada: “PEC proposta por pigmeus morais”, “O STF não é composto por covardes”. “O STF não aceita intimidações”, “O STF está pronto para enfrentar investidas desmedidas e inconstitucionais”. Até a pandemia, a cloroquina e a República de Curitiba entraram no seu arsenal retórico...
Pessoalmente, não me parece que o quadro seja de jogada ensaiada. Penso que estamos diante de uma crise real e inédita na história da República, tão habituada a impasses institucionais entre governo e parlamento. Desta feita, a crise se desenha entre o parlamento e o STF. É queda de braço. Rodrigo Pacheco já anunciou que vai indicar relator para outra PEC, a que limita em 15 anos o tempo do mandato dos ministros e fixa idade mínima de 50 anos para posse no cargo. Muito razoável, aliás.
Os constituintes criaram um sistema de freios e contrapesos em que os primeiros sempre estão emperrados e os segundos desbalanceados. A tais dificuldades acrescentou-se, no curso deste século, a composição politicamente alinhada e indisfarçável animosidade do STF em relação à opção política de dezenas de milhões de brasileiros. Às evidências e aos atos falhos precedentes, somam-se, agora, as afirmações ouvidas por jornalistas sobre os últimos incidentes e que não foram desmentidas. A frase “Acabou a lua de mel com o governo”, a palavra “traição” e a cabeça do senador Jaques Wagner estão na história destes dias.
Por maior que seja minha decepção com o atual Congresso, ela ainda é menor do que minha rejeição aos excessos, injustiças, discursos de ódio e exuberante protagonismo político assumido pelo STF nos últimos seis anos.
A estrutura institucional brasileira é uma geringonça que só nos leva a impasses e instabilidades políticas. Há quem faça delas muito bom proveito e, por isso, não se pensa em mudar. Mas saibam: são um urubu no nosso telhado.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
22/11/2023
Percival Puggina
Você quer ouvir alguém satisfeito com o desempenho do Supremo Tribunal Federal? Fale com um ministro do Supremo Tribunal Federal. Em suas muitas conferências e entrevistas, são recorrentes os elogios em boca própria, atitude nada recomendável segundo preceitos civilizados. Autocrítica é ato virtuoso e autolouvor, seu avesso.
Não é à toa que essas orientações se estabelecem. Quem está sob a lupa da opinião pública está também, nas sociedades democráticas, sujeito às divergências inerentes a essa condição. A tais pessoas, a própria democracia exige capacidade de reflexão diante da crítica ou da civilizada discordância alheia. O contraditório está em toda parte e muito especialmente na política, entre eleitos e eleitores, entre os poderes de estado, notadamente entre os poderes políticos. Ele é inerente, também, ao processo judicial.
O STF, como se tem visto e seus ministros reconhecem, é um poder que cumpre papel político – a juízo de muitos (eu entre eles), excessivamente político – alcançando níveis de protagonismo e direção de cena...Também no teatro da política aplausos não se pedem e unanimidades são burrices.
Segundo o ministro Luiz Roberto Barroso, quem diverge do STF fica exposto às ruinosas classificações de antidemocrata ou de desapreço à Constituição. Mas essa ideia é um bumerangue. Vai porque foi dita e retorna a quem disse, porque democracia não é um lugar da concordância nem lhe são úteis os “concordinos”. Quanto ao apreço à Constituição, eu e muitos desgostávamos de vários de seus preceitos, mas hoje nos basta que a cumpram.
Os senhores ministros dão por inexistentes percepções que são comuns entre indivíduos na sociedade. As restrições à liberdade de opinião é uma delas. Dezenas de milhões de brasileiros, apesar da garantia constitucional, a sentem restrita por ameaças e evidentes atos de censura. A imprensa amiga pouco divulga a esse respeito, mas as pessoas veem, as pessoas sabem. Os senhores ministros devem considerar irrelevante, também, a origem partidária e política do ato que lhes conferiu a poltrona que ocupam no colegiado. São sete de indicação petista entre 11, e outros dois – Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes – no curso dos acontecimentos, juntaram-se à maioria. Descrevo o fato; negá-lo é viver no mundo de Alice! Essa maioria no plenário do STF é sólida, coesa e o acúmulo de críticas a consolidou ainda mais.
Perante a opinião pública, o alinhamento ideológico entre o STF e o novo governo se expressa por palavras, obras, atos falhos e pela ojeriza ao governo anterior e à atual oposição. Ministros adotam os adjetivos com que a esquerda qualifica a direita do espectro político e manifestam sua animosidade. São louvados pelo mesmo jornalismo que combate adversários à direita, apoia o tratamento cruel dispensado aos réus do dia 8 de janeiro e silencia ante os inquéritos sem jeito e sem fim.
As palavras do presidente do STF refletem a grande satisfação da Corte consigo mesma. Ótimo. O senador Randolfe Rodrigues, líder do governo, também está muito satisfeito. Aliás, quem apoia o governo está satisfeito com o combo STF/TSE.
Que se declarem satisfeitos os que se bastam. Nós, conservadores e liberais, não estamos satisfeitos, também por isso.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
21/11/2023
Percival Puggina
É desfaçatez dizer "súbita" morte tão anunciada!
Nenhum cartaz com seu nome foi levantado. Nenhuma ONG das muitas que zelam por direitos humanos dos bandidos de verdade registrou num pedaço de papel sua morte sob cuidados do Estado. Os Ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos cuidavam de se livrar de visitantes incômodos.
Silêncio de velório. Fui atrás das notícias nos mais destacados veículos do jornalismo brasileiro. Parecia-me ler vários exemplares de uma mesma edição do Granma. Textos muito parecidos, absolutamente acríticos, cuidando de descrever os crimes pelos quais respondia e a atenção recebida pelo preso a partir de seu “mal súbito”.
A matéria publicada pelo UOL destaca-se pelo fastio de noticiar algo tão irrelevante. Começa assim: “Um homem preso por atos golpistas morreu hoje”. O nome do morto ficou para depois. Metrópoles partiu para a gozação informando, como se o morto estivesse em férias, que “Patriota” (assim, entre aspas) morreu durante banho de sol na Papuda...
No mais, são todos iguais, Globo, CNN, R7, Estadão, Folha: fato, cuidados recebidos, comunicações feitas, informações solicitadas. No final, acrescentaram, acriticamente, que “em setembro, a PGR se manifestou pela liberdade do detento, mas o pedido não chegou a ser examinado pelo ministro Alexandre de Moraes do STF”. Ponto. Ponto?
Sim, silêncio de velório. Velório do jornalismo companheiro ou medroso. Velório da Justiça, da comiseração para com um preso imunodepressivo, em péssimas condições, e dezenas de atendimentos médicos ao longo do ano. Não fosse Cleriston um preso político, ainda não condenado, estaria em casa ou no hospital que é o destino para onde o levaria um mínimo senso de humanidade. Mas mesmo esse mínimo só pode conceder quem tem.
Não fosse Cleriston um preso político, a mídia estaria gritando contra a brutalidade de alguém. Toda aquela sensibilidade das organizações voltadas para proteger direitos humanos dos companheiros estaria berrando em megafones. Nessas horas, porém, o despertador do seu mecanismo entra em modo “soneca”. Somente a oposição e o jornalismo discriminado, mas independente – exatamente como em Cuba – atribui ao acontecido a dimensão que de fato tem.
A Carta Capital destacou a ordem do ministro Alexandre de Moraes para que o presídio da Papuda encaminhe, com urgência, informações, prontuários médicos e relatório sobre o acontecido. Mesma urgência, aliás, não concedida ao apelo do réu e à recomendação da própria PGR ao ministro para que Cleriston, em vista de sua condição, fosse posto em liberdade com tornozeleira e requisitos de praxe. Quantos mais precisarão morrer para que as preocupações multitudinárias do ministro lhe permitam ver seus réus como pessoas concretas, titulares de alguns direitos mínimos, como o direito à vida?
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
20/11/2023
Percival Puggina
Foi um excelente negócio! Lula era uma espécie de parâmetro para os governistas (kirchneristas) e para os oposicionistas. Os primeiros viam em Lula a mão amiga e o apoio necessário (com o nosso dinheiro); os oposicionistas viam em Lula o fantasma da mesma governança incompetente que assolava a Argentina. Felizmente, para a maioria, Milei pareceu mais promissor do que um governo com aplauso e apoio de alguém como Lula.
Era nítido que muitos eleitores rejeitavam Milei pelo seu modo de ser. E isso faz pensar naqueles que devolveram o poder a Lula (que loucura!) por não gostarem “do jeito de Bolsonaro”! Talvez por isso elegeram um presidente que aprecia a intimidade dos gabinetes, do avião e das comitivas companheiras. Não põe o pé na calçada.
Em que pese certa sintonia, Milei e Bolsonaro são bem diferentes, como tem sido dito. Um faz lembrar o outro por algo em que ambos são muito eficientes: a capacidade de se comunicar com a população. O brasileiro com sua metralhadora virtual para combater o crime e o argentino com sua motosserra para cortar o gasto público. E vai parando por aí porque Milei é bem mais liberal do que Bolsonaro e este é infinitamente mais conservador do que aquele.
Não podemos esquecer o efeito que o modelo institucional exerce sobre as eleições. O presidencialismo é, cada vez mais um plebiscito entre esquerda e direita. Vence quem fizer mais votos pessoais entre 36 milhões de votantes na Argentina e 150 milhões no Brasil. É muito voto! Esse “plebiscito” se trava em sociedades cada vez mais sequeladas pelos efeitos da Guerra Cultural e nem os Estados Unidos escapam de tal condição. Como consequência, a capacidade de comunicação e o modo como os candidatos lidam com as percepções e sentimentos da população são mais decisivos do que as propostas de governo.
Em 2018, sem dinheiro nem tempo de TV, Bolsonaro derrotou o poder hegemônico e paga caro por esse pecado imperdoável. Milei usou de seus talentos, venceu bem a eleição e certamente enfrentará dificuldades análogas. Bolsonaro não era liberal, mas tinha Paulo Guedes, seu “Posto Ipiranga”. Pôs ordem na casa, mas Lula, antes da posse, já tinha prontos dezenas de projetos para destruir tudo. Veremos como os outros poderes da Argentina, viciados no estatismo, se relacionarão com a motosserra de Milei.
A Ciência Política tem soluções para algumas dessas deformidades institucionais comuns à América Ibérica, embora não para os problemas educacionais e culturais de suas sociedades. Contudo, a Ciência Política não é a Política. Menos ainda a política com “p” minúsculo como eu a deveria ter escrito.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
19/11/2023
Percival Puggina
Rejeito os brasileiros que desprezam seu país. Talvez esse sentimento avulte em mim por ser conservador ou por ter bebido água limpa nas fontes em que me abasteci, ou ainda por ter convivido sempre com pessoas que amam o Brasil e não pisoteiam nem queimam nossa bandeira. O identitarismo sempre me pareceu vigarice ideológica pensada para dividir a sociedade num fracionamento que consome a nação. Por igual motivo, sou contra os separatismos. Sobre eles, certa ocasião, ouvi de meu mestre, o constitucionalista Prof. César Saldanha Souza Júnior: “É só o que falta para essa geração infiel: acabar com o Brasil.”
Não obstante, vejo atividades corrosivas sendo conduzidas no mar da Cultura, aquele onde navega ou perde o navio da Política segundo a imagem de Olavo de Carvalho.
Assim como o Hamas se infiltrou nas comunidades palestinas e nela se desenvolveu como um câncer terrorista, assim também os agentes da guerra cultural se infiltraram organicamente na sociedade brasileira. Controlam os meios culturais cujo declínio é evidente. Meus anos de vida me coagiram a testemunhar o consequente suplício da bondade, da beleza, da justiça e da verdade. Vi número crescente de brasileiros se tornar vítima passiva de uma intolerante guerra movida contra seus princípios e seus valores, mutilando sua esperança. Assisti muitos atos acadêmicos de formatura e o que vejo é cada vez mais desolador.
A ignorância produzida, infiltrada nos espaços que deveriam difundir o conhecimento, derruba as projeções do crescimento econômico. A maior riqueza de um país é seu povo, como nos ensinam os coreanos do sul. Em 1980, o PIB per capita da Coreia do Sul era igual ao do Brasil; passadas quatro décadas, esse valor é 3,5 vezes superior ao nosso. E a Coreia não achou petróleo, nem ouro, nem descobriu novas fronteiras agrícolas. Os coreanos usaram a Educação para o bem dos coreanos e o país enriqueceu!
Estas considerações que já se alongam me veem do vaidoso anúncio feito pela ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, falando ao jornal Metrópoles: “Estamos muito confiantes de que é um ministério que veio para ficar. Tanto que a gente fala que o nosso ministério é considerado o ministério internacional por toda a amplitude e por todo esse trabalho que os povos indígenas fazem, não só para nós, mas para o Brasil e para o mundo”.
Segundo ela, seu ministério trabalha com organizações não governamentais (ONGs), tem audiências com embaixadas, cumpre missões internacionais. Tal movimentação levou o senador Márcio Bittar, relator da CPI das ONGs, a apresentar requerimento para ouvi-la sobre lobby que teria feito para atrair pressões externas sobre a questão do marco temporal.
Surge então a interrogação: e se o empenho para revogação do marco temporal for uma ação infiltrada, induzida, a serviço da internacionalização da Amazônia, tão desejada por diversos governos e organizações ambientalistas? Um ministério como o dos povos indígenas deveria ter entre suas prioridades a Amazônia Brasileira sob absoluta soberania nacional.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
16/11/2023
Percival Puggina
Ministros do STF gostam de se apresentar como membros do poder mais zeloso pelo bem do país e pela democracia. No entanto, abriram a torneira dos recursos públicos para o financiamento das campanhas eleitorais e partidos floresceram no deserto das ideias. No entanto, também, impediram a aplicação da cláusula de barreira quando ia começar a valer na eleição de 2006.
Pela confluência desses dois vetores, o Congresso Nacional tem, hoje, 22 bancadas! Pode parecer inusitada a relação de causa e efeito, mas é também por eles que a sociedade custeia, hoje, quatro dezenas de ministérios! Atraídos por cargos, verbas públicas e espaços de poder, partidos sem rosto e com nomes impróprios se transformaram em estabelecimentos dedicados ao business da corretagem do apoio político-parlamentar ao governo.
Foi grotesco, foi indecoroso, mas todos pudemos assistir à forma como em poucas semanas, uma “consistente maioria” conservadora, ou liberal, ou de direita, ou de centro direita, eleita e proclamada como tal em 2022, bandeou-se de mala e cuia, como dizemos aqui no Rio Grande do Sul, para o calor e o sabor do assado governista, onde toda a picanha é consumida ali mesmo, na beira do fogo, se me faço entender.
Recentemente e em boa hora, foi criado um site que cidadãos de bem e os eleitores com cotidiana repulsa ao noticiário nacional deveriam manter registrado entre os favoritos no seu computador ou em lugar de fácil acesso de seu celular. Anote aí:
https://placarcongresso.com/pages/partidos.html
Essa verdadeira preciosidade presta serviço valioso à memória e à informação dos eleitores. Contém, por parlamentar, por partido e por estado da Federação, dados de assiduidade ao plenário e de votos concedidos ao governo e à oposição nas deliberações da Câmara dos Deputados.
O site é de muito fácil manuseio e consulta. Com dados de 83 deliberações em que o governo indicou à sua base orientação favorável ou desfavorável, esse site permite identificar a posição governista ou oposicionista de cada deputado. A partir desses registros, observa-se que dos 22 partidos, apenas dois: PL e Novo, foram decididamente oposicionistas! Todos os outros 20 deram mais votos ao governo do que à oposição. Entre os 513 deputados, não chegou a uma centena o número dos que votaram contra o governo em mais da metade dos projetos nos quais este indicava sua posição. Por fim, descobre-se que apenas as representações de três estados – Santa Catarina, Mato Grosso e Roraima – foram oposicionistas.
Maus políticos e maus partidos têm grande estima por eleitores desinformados e omissos. Prestigiam a ignorância e precisam da mediocridade.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.