• Percival Puggina
  • 14/07/2024
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Abolição violenta do Estado Democrático de Direito

 

Percival Puggina

"Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro e sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil". Compromisso proferido pelos congressistas no ato de posse.

         A imensa parcela da nação que tem juízo, trabalha, paga impostos e respeita as leis se perturba ante a conduta de tantos deputados e senadores. Afinal, pronunciaram tais palavras perante seus eleitores, tendo por orgulhosas testemunhas os próprios familiares! A maioria deles, porém, jogou as promessas aos ventos e a Constituição jaz indefesa, no chão dos interesses políticos, mera caixa de ferramentas de um regime que se deformou e ficou irreconhecível.

E agora, senhores? Feitas as louváveis exceções depositárias de nossas esperanças, tendes os pés enfiados na lama do descrédito, depreciais a democracia, não defendeis a Constituição nem as leis que votais. Para escândalo da pátria, numa expiação às avessas, jogais no precipício as virtudes que ela civicamente reclama. O parlamento é o principal poder de Estado, representante legítimo do povo. Vossas omissões lesam gravemente a sociedade.

Nada diferente se espere do lado direito da Praça dos Três Poderes. Ali, o STF é um poder não eleito, cuja ampla maioria foi escolhida a dedo pelo poder instalado do lado esquerdo ao longo de muitos anos. Quando faz política, sempre excede os próprios limites.

Para o grupo dirigente do país, quanto pior, quanto mais nanico, quanto mais comercial for o parlamento (R$ 30 bi em emendas até as “democráticas” eleições de outubro), melhor para o Palácio do Planalto. Sabem por quê? Porque aquele poder, em tudo que realmente interessa, é igualmente nanico, reles e perdulário. O que tem ocorrido no Brasil é incompatível com um legislativo que se desse ao respeito.

Esse mal já contamina a nação. Poderosos veículos de imprensa, tendo perdido parcela importante de mercado e de anunciantes para o jornalismo que atua nas redes sociais, se tornaram dependentes do Estado como aqueles milhões do Bolsa Família cuja pobreza tanto a ele convém. Quanto maior for a censura às redes sociais, maiores os louvores dessa mídia ao Supremo e ao governo.

Como consequência, também, das omissões do Congresso, milhões de brasileiros escarnecem e riem tresloucados quando sabem que o Brasil tem mais presos políticos do que Cuba. Mas foi nessa toada que Clezão morreu, que uma jovem mãe de família, com filhos pequenos, está presa há quase 500 dias por haver escrito, com toco de batom, “Perdeu Mané” na estátua da deusa Têmis! Ela é acusada, perante o STF, de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado. Tenha dó e não ria porque não tem graça!

Berram aos sentidos humanos a desproporção, a conduta perversa, a perda do senso de humanidade desses julgamentos pelo STF. Berra, também, a omissão do presidente do Senado e seus fiéis seguidores perante o que juraram fazer. Sabemos que o Senado é um paraíso onde não se entra de folha de parreira, mas de gravata. Como está vossa testosterona, senhores? Como estão vossos sentimentos maternos, senhoras? Cumpram o juramento que fizeram! Não subscrevam essa forma de “abolição violenta do Estado Democrático de Direito” através das instituições da República.

É o que está acontecendo pela anulação do Congresso e mediante o arbítrio e a violência praticados contra seres humanos reais, cidadãos comuns, pessoas humildes arrebanhadas nos dias 8 e 9 de janeiro do ano passado, que estão sendo julgadas, tratadas e condenadas de um modo desproporcional e cruel.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


Anildo Camargo -   19/07/2024 17:25:11

Comportamento injusto e torpe de nossas instituições. Em que mundo estarão todos? E os tais de "Direitos humanos"? Tão ativos quando um verdadeiro bandido está preso? Só mesmo lembrando Gregório de Matos: "Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais carepa: Com sua língua ao nobre o vil decepa: O velhaco maior sempre tem capa. Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos falar pode, mais increpa: Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. A flor baixa se inculca por Tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa: Mais isento se mostra, o que mais chupa. Para a tropa do trapa vazo a tripa, E mais não digo, porque a Musa topa Em apa, epa, ipa, opa, upa".

Tito Livio Bereta -   18/07/2024 09:00:36

Sr. Percival Pugina. Oxalá mais homens tenham a sua coragem! Compartilharei, mas receoso de que a truculência cega mande para cá um camburão.

Ademar Pazzini -   15/07/2024 20:39:07

Sim, condenadas de forma brutal e totalmente desproporcional, haja vista as penas brandas aplicadas a todos os tipos de bandidos Brasil a fora, de estupradores, traficantes, ladrões, assassinos a corruptos. Todos tratados com zelo por juízes de todas as instâncias da nossa precária justiça, que não faz justiça, apenas promove o direito, num esquema em que todos ganham e onde os únicos perdedores são os cidadãos de bem, que sustentam toda a bandalha com seus impostos.

Odilon Rocha -   15/07/2024 18:55:32

Caro Professor O seu texto, pontual como sempre, espelha e disseca as consequências da ABOLIÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. Fato notório que vem ocorrendo paulatinamente, por que não coniventemente. Nem a esperança consegue mais acender a tocha no fim do túnel.

Danubio Edon Franco -   15/07/2024 18:14:16

Caro Puggina, tua indignação também é a minha e a de muitos outros brasileiros. Estamos estarrecidos com as arbitrariedades praticadas pelo SFT a pretexto de defender a democracia, processando, prendendo e condenando pessoas que jamais colocaram em risco a "nossa democracia". Isso tudo, sem contar as pessoas que estão presas a meses sem que respondam a qualquer acusação. Sem culpa formada e sem fundamentos legais são mantidas encarceradas. Na verdade, de um tribunal que assumiu funções políticas, dizendo que salvou a democracia, descondenando, por alegada falha processual, que em julgamentos anteriores o próprio órgão considerou válido, o atual presidente da república para que pudesse concorrer na eleição de 2022, não se pode esperar outra conduta. Aliás, como já disse em outra oportunidade, esse foi o primeiro ato do golpe que estava a caminho, cuja primeira sinalização fora dada no ato de diplomação de Bolsonaro pelo TSE, quando a ministra presidente, num ato de grosseria desmedida, ofereceu-lhe um exemplar da Constituição Federal. Do prosseguimento encarregou-se o STF, impossibilitando-o de governar, vedando a prática de atos de sua exclusiva e privativa competência. Não obstante o mal que estão fazendo ao país, ainda resta a esperança de que nosso povo veja o que é a maldita esquerda e como ela age. O que temos hoje é a democracia deles; os únicos direitos humanos que existem são os deles. Nem um pio em defesa do respeito aos direitos das vítimas encarceradas. Mesmo que algumas dessas pessoas tenham praticados atos predatórios aos bens públicos, não há justificativa para o desproporcional tratamento que lhes está sendo dado e muito menos das penas a que estão sendo condenados. Vale-se o STF de um conceito de tipo penal em branco, ou seja vazio, para acusá-las da prática de atos atentatórios à democracia. Coisa muito pior já foi feita nesta país por grupos de esquerda sem que se cogitasse de crime dessa natureza. Tudo isso é sabido; o que impressiona é a covardia do Congresso Nacional e de outras instituições como o Conselho Federal da OAB, dominados pela ideologia política ou pela ideologia financeira, ressalvadas, como não poderia deixar de ser, as exceções.

Genilson Morais -   15/07/2024 15:44:18

Disseram que teríamos a MAIOR OPOSIÇÃO da história no Congresso Nacional, mas o que vemos é o maior conchavo entre aqueles que deveriam observar as Leis. Somos guiados por hienas famintas...

celso Ladislau Kassick -   15/07/2024 11:22:08

Quando teremos um congresso que represente o POVO e não a si próprio?

LUIZ CARLOS SOARES ATAGIBA -   15/07/2024 11:03:59

UMA TROCA GERAL DESSES POLÍTICOS ATUAIS POR BRASILEIROS COMPROMETIDOS COM A NAÇÃO SERIA BEM VINDO EM 2026.