Percival Puggina

13/09/2016

 

 A assim chamada classe política, há muitos anos, vem perdendo prestígio. Não é para menos. Os espaços de decisão nos parlamentos foram gradualmente sendo tomados de assalto por pessoas e grupos que conferem caráter criminoso a essa atividade. No sentido amplo da palavra - note-se - criminosos na vida pública não são apenas aqueles que se valem de métodos ilícitos para ascender na escalada financeira ou política. São-no igualmente os que usam de seu poder de decisão cuidando exclusivamente do interesse próprio, ou acovardando-se ante grupos de pressão, ou negociando apoios em troca de votos contra o bem comum. O crime que estes últimos cometem, embora não esteja capitulado em lei alguma, ofende a moral e exerce sobre o erário efeito mais devastador do que a corrupção. Seria ainda maior a insatisfação contra os políticos se os eleitores prestassem atenção à insensata criação de despesas, à concessão de privilégios a alguns às custas do que é de todos e ao pouco caso de tantos homens públicos para com seus deveres funcionais.

 À sombra dessa realidade, prospera entre os eleitores uma rejeição "aos políticos" que se faz acompanhar, por vezes, da decisão de não mais votar. "Já me desiludi com tantos!", exclamava-se recentemente um amigo com quem conversava sobre isso. Aquela frase levou-me a uma reflexão que, em seguida, me trouxe às linhas que agora escrevo. Pus-me a listar os candidatos a cargos legislativos nos quais votei ao longo dos anos, até onde a lembrança alcançava. E - surpresa! - não encontrei uma única razão para arrependimento. Alguns se elegeram, outros não, mas todos tinham e mantiveram as qualidades que me levaram a lhes conferir confiança e voto. Aliás, em eleições parlamentares (deputados estaduais e federais, e vereadores), nunca me faltaram bons nomes em quem votar. O que muitas vezes faltou a tantos deles foram votos para obter o mandato que buscavam. Eu tinha um voto para dar e alguns a orientar, mas para os demais candidatos não tinha o que fazer.

Não tinha o que fazer, até hoje. O Brasil precisa que deixemos de lado a inibição. Entre as muitas coisas de que a nação carece, de que a vida pública está a exigir, estão muitos desses homens e mulheres que, por falta de voto, frustram suas vocações enquanto, na mesma proporção, a representação política perde qualidade.

O motivo pelo qual nunca me arrependi dos votos que dei está no fato de sempre os haver direcionado para pessoas cujos princípios, valores, ideais e convicções conhecia e compartilhava. A finalidade deste artigo, então, é disponibilizar pequena lista de candidatos que integram meu círculo de relações com proximidade e convivência. São pessoas nas quais eu votaria se tivesse vários votos a dar. Obviamente, existem muitos bons nomes nas listas de diversos partidos. Alguns, inclusive, são pessoas que conheço, mas com as quais mantenho um nível menor de relacionamento.

Os primeiros listados a seguir por ordem alfabética são membros do grupo Pensar +, candidatos a prefeito e a vereador de Porto Alegre, e têm o apoio do grupo. A prefeito: Fábio Ostermann e Nelson Marchezan. A vereador: Fernanda Barth, Felipe Camozzato e Ricardo Gomes. Também concorrem, e os destaco como merecedores de confiança: Fernando Coronel, João Carlos Nedel e Mônica Leal.

Os espaços da política são inóspitos às pessoas de bem. Por isso nos faltam estadistas. Então, quando pessoas assim se dispõem a atuar nesses ambientes, o melhor que podemos fazer é apoiá-las de modo decidido para que alcancem os votos necessários. Faça isso você também, esteja em que recanto deste país estiver. O Brasil precisa tanto dos bons quanto de livrar-se dos maus.

 

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

08/09/2016


 Milicianos petistas desfilam em grandes centros aos gritos de "Fora Temer!". Aparentam grande descontentamento, como se lhes houvessem tomado algo muito valioso, tipo assim, digamos, uma presidente como Dilma Rousseff. Naquelas mentes, o Brasil, sem Dilma, sem o PT e com Lula dando explicação para delegado, será tomado pelo caos. Sob o novo governo, supõem, irromperão escândalos na Petrobrás, nas obras federais, nos programas sociais. Os fundos de pensão dos trabalhadores serão dilapidados. A inflação alcançará dois dígitos, o país entrará em recessão e cairá em descrédito, o desemprego se abaterá sobre milhões de famílias. Cairá a renda do trabalhador. Receiam que, com Temer, negocistas reunidos em torno do poder farão transações danosas ao Brasil, comprarão sucatas no exterior e entregarão patrimônio nacional a países de direita. Então, diante desse cenário desolador, as milícias se impacientam e, vez por outra, partem para a ofensiva.

Vivesse entre nós, Miguel de Cervantes não faria o indômito D. Quixote de la Mancha direcionar suas investidas a inocentes moinhos de vento, mas o faria arremeter contra as novas lixeiras. Só um conservador ordinário como Sancho Pança não percebe nelas o potencial reacionário a exigir destruição total. Eu sempre soube que as lixeiras seriam as primeiras vítimas de uma reação esquerdista no Brasil. É muito simbolismo para passarem incólumes. Logo a seguir, pelo estardalhaço que causam e pela transparência que sugerem, viriam as vidraças. Fogo nas lixeiras! Abaixo as vidraças! E, claro, "Fora Temer!".

Tenho encontrado pessoas que depois de desfilarem entre milhões, nas ruas e praças do Brasil, se deixam impressionar pela gritaria dos esparsos grupelhos esquerdistas. Ora, meus caros, nos últimos 30 anos, não houve nem há governo, municipal, estadual ou federal que, tendo o PT como oposicionista, cumpra mandato sem escutar alarido semelhante. O "Fora quem não seja nosso!" faz parte do pujante e rico arsenal retórico do partido. E quando o grito sai de um peito com estrela nada há nele de golpista. É simples manifestação de justificada "repulsa cívica".

Então, o que estamos assistindo não pode causar surpresa. O sentimento que essas manifestações me inspiram é de perplexidade pela contradição formal entre os milicianos de rostos expostos e os de rostos encobertos. Como entender condutas tão diferentes num mesmo evento? Enquanto estes últimos têm consciência da própria incivilidade e falta de compostura, os primeiros parecem orgulhar-se do que são e do que fazem. Pois prefiro os que tapam a cara. Parecem-se mais com seres humanos. Em algum lugar pulsa uma consciência. Os outros, ou deixaram a vergonha de lado em ressaca ideológica, ou, o que é bem pior, seja a soldo, seja como voluntários, querem restaurar o caos que o petismo produziu. E que o país se exploda.

 

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

07/09/2016

 

 O Estado brasileiro é tão irresponsável em suas finanças que os pagadores de impostos deveríamos requerer sua interdição judicial. Proibi-lo de usar nosso dinheiro. Encaminhar suas instituições para tratamento psicológico. Não o fazemos porque o próprio Poder Judiciário é causa atuante dessa situação pois, cotidianamente, impõe aos governos despesas e ordens de pagamento sem indicar fontes nem recursos. Governadores e prefeitos são as principais vítimas dessas incursões judiciais nos respectivos erários, seja em nome de algum direito difuso, seja de algum princípio constitucional afivelado no senso de justiça, mas ao desamparo da realidade orçamentária - aquela que se nutre dos impostos que pagamos.

 Os casos mais graves, continuados e vultosos, a clamar pela interdição, são os que combinam corrupção com desatenção, tolerância e vistas grossas. Nestes dias, aliás, vivemos um surto investigatório. Escândalos se sucedem em sequência tão rápida que não há no nosso HD mental memória suficiente para armazenar o acumulado das informações. As coisas se passam como no rodízio das penitenciárias, tem que sair um para entrar outro. Enquanto isso acontece envolvendo figurões e ganhando manchetes, uma outra porção do submundo vai revelando sua dimensão na irresponsabilidade financeira, embora recebendo tratamento mais discreto. Refiro-me às práticas criminosas, como as de concessão de Bolsa Família a quem ingressa no programa de modo fraudulento. Um cruzamento de dados do antigo Ministério do Desenvolvimento Social com Receita Federal e Tribunais de Contas detectou um milhão de casos de fraude que, nos anos de 2013 e 2014, desviaram R$ 2,6 bilhões.

Na previdência social são comuns as artimanhas e mutretas. O Estadão do último dia 6, informa que um projeto piloto do INSS levado a efeito em Jundiaí reverteu 50% dos casos de auxílio por doença e invalidez. A partir dessa experiência, o INSS não calcula o quanto de dinheiro já foi perdido, mas estima economizar até R$ 6 bilhões por ano a partir de um recadastramento ainda por ser feito.

Não são diferentes as coisas nos programas de Reforma Agrária (o maior, mais caro e inútil do mundo). Matéria do Estadão no dia 5 de abril deste ano informa que o TCU determinou a paralisação do programa após constatar fraudes envolvendo 578 mil beneficiários, entre os quais os mais notórios são 1017 políticos, 4293 proprietários de veículos com valor superior a R$ 70 mil, 61 mil empresários, milhares de falecidos e de servidores públicos.

É inimaginável a extensão desses prejuízos se pudessem ser contabilizados ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, excita a imaginação o quanto se poderia fazer num contexto de responsabilidade fiscal. Tomemos por exemplo a fraude recentemente descoberta nos auxílios por doença e invalidez junto ao INSS. Os R$ 6 bilhões ali economizáveis permitiriam construir, por ano, 330 presídios com 400 vagas e resolver totalmente, em três ou quatro anos, esse déficit tão relacionado com nossa insegurança.

Nada causa mais prejuízos ao país do que o cruzamento da ingenuidade dos cidadãos com a desonestidade que opera nas instituições. Como escrevi no meu livro "Pombas e Gaviões": os ingênuos estão na cadeia alimentar dos mal intencionados.
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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

06/09/2016

 

 Quem diria, não? Nosso país acaba de proporcionar a nós mesmos e ao mundo uma clara demonstração de que alcançamos estabilidade institucional em um cenário antagônico a isso. Reflitamos. O governo da república foi afetado por profunda crise moral. Os abracadabras e confessionários da operação Lava Jato labutam para elucidar e resgatar, de um sem-número de grutas, os bilhões entesourados pela quadrilha que operou no poder. O segundo mandato presidencial de Dilma Rousseff nasceu maculado por mistificações, pela publicidade enganosa, pela ocultação da verdade sobre a situação do país aos eleitores e às instituições (causa final do crime de responsabilidade). As investigações promovidas a partir de Curitiba trouxeram à luz, adicionalmente, gravíssima denúncia sobre a origem de recursos usados na campanha vitoriosa em 2014. O país entrou em insólita recessão, com efeitos dramáticos na economia, nos empregos, na renda e na adimplência das famílias. A inflação galgou dois dígitos. A população, aos milhões, nas ruas e praças, conclamou as instituições a cumprirem seu dever.

 A estratégia de transformar o processo de impeachment numa jogada do senhor Eduardo Cunha é manobra diversionista que, em vão, tenta escamotear milhões de pessoas na Paulista, no Parcão, em Copacabana, na Praça da Liberdade e em centenas de outros pontos de concentração, gerando imagens de empolgante beleza plástica e energia cívica. Ao apontar suas baterias contra Cunha, o governo findo tentou dissimular o clamor popular da mesma forma que, em suas manifestações dos últimos meses, omitiu qualquer referência aos milhões de desempregados, às empresas que fecharam suas portas, a tantos sonhos destruídos. Incontáveis vezes, desde que a crise não mais pode ser ocultada, o governo e os que por ele falavam, mirando a própria cavidade umbilical, queixavam-se da queda da arrecadação federal e da falta de dinheiro para as despesas do governo. E nada era dito sobre a receita das famílias e das empresas, exauridas por uma crise pela qual não precisavam estar passando. Apesar da queda do crescimento chinês, a economia mundial tem se expandido na ordem de 2,5% em média, desde 2012 (data.worldbank.org) e deve ficar em 3% positivos neste ano. Mais uma vez, as coisas não são como a ex-presidente falou ao Senado e à nação. O desempenho negativo da economia brasileira é o segundo pior no cenário mundial.

 Num procedimento minucioso e constitucional, as instituições brasileiras agiram, até a undécima hora, com autonomia e correção. Nada expõe mais nitidamente a ausência de ânimo golpista do que o acolhimento, também com maturidade política, de três consecutivas vitórias petistas nas eleições presidenciais anteriores. O PT não teria tolerado três derrotas sucessivas sem reproduzir a enxurrada de requerimentos de impeachment que lançou contra seus antecessores na presidência. O caldo entornou em 2014 pelas razões elencadas acima. Entre o povo na ruas, dando origem aos primeiros requerimentos de impeachment, e o 31 de agosto de 2016, transcorreram 17 meses! Entre o 2 de dezembro de 2015 (data em que foi despachado um dos requerimentos de impeachment) e o juízo definitivo do Senado, foram nove meses. Permanentemente escaneado pelo STF, acompanhado ao vivo pela nação, cumprindo rito constitucional e legal, procedeu-se uma sequência que pareceu inesgotável de votações e escrutínios. Na undécima hora, contudo - solitária irregularidade! -, foi aprovado o escandaloso fatiamento da pena, numa solicitação de quem? Do PT.
 

(A integra do artigo está disponível em ZH do dia 03/09/2016)

Percival Puggina

04/09/2016

 

 O PT organiza alguns movimentos sociais. Suas ONGs dão origem a outros, ligados a questões étnicas. Esses grupos atropelam a lei e a ordem, o direito de propriedade e as determinações legais e judiciais, fazendo uso da violência. Quem diz que tais crimes são crimes passa a ser acusado, imediatamente, como eu tenho sido ao longo das décadas, de "criminalizar os movimentos sociais". De mero espectador e cronista dos fatos, o sujeito é maldito como indivíduo antissocial, por afirmar que quebra-quebras, pichações, tumultos, rupturas da ordem e infrações à lei, são o que são.

 Para o quanto fazem - tudo mesmo - têm apoio oficial. Militantes do MST, por exemplo, atacaram sede do STF, fizeram pichações, atravessaram a praça e foram recebidos como companheiros no Palácio do Planalto. Gilberto Carvalho visitou e se articulou com black blocs às vésperas da Copa e a presença destes inibiu protestos ordeiros que contrariariam o interesse do governo. Lula anunciou a convocação das tropas do general João Pedro (quebra-quebra) Stédile. Presidente da CUT, Vagner Freitas, dentro do Palácio do Planalto, na frente da então presidente da República, convocou sindicalistas a saírem às ruas, com armas na mão, para defenderem seu mandato. Nos últimos dias, em sucessivas manifestações, a contrariada elite petista tem usado e abusado da palavra "luta" para designar o que esperam da turma da mortadela em suas "reações populares". Ora, a turma da mortadela só pega em sanduíche e pau de bandeira. Atos de violência são praticados por pessoas jovens, de outros grupos, treinadas como as que aparecem nessas fotos. Ocupam patamar mais distinto na hierarquia política da esquerda e são por ela conveniente abastecidos, seja lá do que for, mas nada têm a ver com Bolsa Família ou sanduíche.

 São tão antigas quanto as respectivas histórias as lutas e semelhanças entre o comunismo e o fascismo. Designar seus opositores como fascistas era conduta corrente entre os comunistas e assim continuou mesmo depois de o fascismo estar morto e sepultado. No entanto, a incitação e o uso da violência, a intimidação, os patrulhamentos, eram atitudes comuns a ambos e persistem nos atuais movimentos comunistas. Assim, quando um grupo de esquerda - qualquer grupo de esquerda - usa a palavra fascista para designar, por exemplo, as pacíficas manifestações populares dos cidadãos brasileiros nos anos de 2013 a 2016, podemos saber que estamos diante de comunistas defendendo suas posições de poder e se conduzindo segundo aprenderam durante quase um século de sua própria história como movimento político tão revolucionário quanto desrespeitador da lei e da ordem.

 É essa praga que está nas ruas de algumas capitais brasileiras quebrando tudo e escondendo o rosto, segundo as melhores práticas fascistas dos combatentes comunistas.
 

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

02/09/2016

 

Assim como o Renascimento deve muito à atividade dos mecenas, membros abastados da elite daqueles tempos, assim também existe, há anos, um mecenato político vermelho. Nesse sentido, está a merecer estudo a atividade da Secretaria de Relações Internacionais do PT. Foi dali que saiu o senhor Marco Aurélio (top top) Garcia para determinar, até bem pouco, tudo que realmente importava no Itamaraty. Graças a essa interferência de um partido nas relações externas do Brasil, nosso governo, desde 2003, esteve para os articulados no Foro de São Paulo mais ou menos (não é uma analogia perfeita) como a Rússia para seus países satélites.

Havia uma coincidência ideológica, de estratégia e de interesses. Unidos por objetivos de conquista e preservação do poder, esses grupos políticos, no início do século 21, descobriram que era mais fácil e menos perigoso fazer a revolução pelo voto, valendo-se da democracia para destruí-la, do que pela insurgência. Seguiram todos pelo mesmo caminho e vinham se dando bem. Unia-os a veneração às barbas de Fidel, o desejo de reproduzir nos respectivos cercados a longevidade da dinastia Castro, a antipatia pelos Estados Unidos, o discurso de ódio aos machos de pele branca da classe média para cima e, claro, desastrosas políticas econômicas de intervencionismo estatal.

Lula, e depois Dilma, se tornaram os mecenas do clube. Passaram a financiar obras públicas a juros que nós subsidiávamos, a contratar presumidos médicos cubanos, a permitir que tomassem instalações da Petrobrás na Bolívia, a pagar acima do contratado por energia paraguaia de Itaipu, a doar (como se vê em vídeo que recentemente postei em (www.puggina.org/videos) milhares de toneladas de cereais. Por essas e muitas outras, os membros do clube bolivariano reuniam-se frequentemente para ouvir os dois mecenas. Recebiam-nos com brilho nos olhos, como se o tamanho da nossa economia fosse sinônimo de riqueza disponível e socializável e os escutavam como estagiários diante de Bill Gates.

Se você, leitor, crê que aqueles atos de generosidade petista tinham alguma relação com solidariedade internacional, está muito enganado. Nosso governo lixava-se para uruguaios, paraguaios, argentinos, bolivianos, equatorianos, venezuelanos, nicaraguenses e cubanos. Sua solidariedade se dirigia aos governantes desses países. Tanto era assim que se desinteressava imediatamente tão logo o poder local trocasse de mãos.

Agora que a casa caiu, a fonte secou e a boca livre acabou, os governos de Cuba, Bolívia, Equador e Venezuela fazem beicinho e reclamam porque o Brasil retirará o apoio que prestava àqueles tiranos explícitos ou disfarçados.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

31/08/2016

VERSÕES PETISTAS - GENÉRICOS DA VERDADE INCÔMODA
Percival Puggina

 A nação, aos poucos, foi identificando a distância que se estabeleceu entre o discurso que levou o PT ao poder e a posterior prática na gestão dos negócios públicos. Alguns, entre os quais me incluo, predisseram, bem antes, os riscos aos quais se expunha uma sociedade que confiasse poderes de governo e de Estado a uma organização que fazia uso das práticas que caracterizavam a ação petista. Refiro-me, especificamente, aos seguintes meios:

a) organização e manipulação de movimentos sociais para atos que atentavam à ordem pública, à lei, ao direito de propriedade e às determinações judiciais;
b) desrespeito pela honra alheia e o assassinato das reputações de quaisquer adversários que se colocassem no caminho traçado pelo partido;
c) articulação partidária internacional com governos totalitários, com organizações terroristas e com movimentos revolucionários de esquerda, dos quais o Foro de São Paulo é apenas um exemplo regional em meio a inúmeros outros mundo afora;
d) transformação de instituições do Estado, de setores importantes da administração pública, bem como de conselhos profissionais, órgãos de cultura, instituições de ensino e organismos religiosos como a CNBB, em aparelhos do partido.

Os milhões de brasileiros que saíram às ruas, bem como os autores das cinco dezenas de requerimentos de impeachment formulados por juristas munidos de exaustiva coletânea de fundamentos, respeitaram a legitimidade de três sucessivos mandatos presidenciais do PT. Três mandatos cuja lisura, aliás, com as revelações da força-tarefa da Lava Jato, ingressam na mais nebulosa suspeita. Bastaria isso para descredenciar a veemência da tropa de choque do governo extinto. Do início ao fim desse exaustivo processo conviveram, braços dados, a obra e o conjunto da obra de uma específica mandatária. Na gênese deste impeachment, conviveram o crime de responsabilidade e uma vultosa mistura de ingredientes. Eles vão da incompetência, passam pelo conhecimento de que uma organização criminosa causou um dos maiores casos de corrupção da história e deságuam na mais tormentosa crise econômica e social da vida republicana.

Como reage o petismo diante desse quadro? Com arrogância, virulência e irresponsabilidade. Em momento algum, desde março do ano passado, o partido, seus agentes e a própria presidente demonstraram qualquer preocupação com a situação nacional. Nada! Brandiam os números dos tempos de bonança, da China compradora e do petróleo em alta, como se fossem méritos, e méritos permanentes, do governo. Nunca dedicaram uma palavra sequer aos 14 milhões de desempregados de agora, nem às famílias cuja renda despenca, nem às vítimas da criminalidade que se abastece do ódio de classes, raça e "gênero" semeado, nem às empresas que fecham as portas. Só os mobiliza a construção de discursos que possam pavimentar uma viela de retorno ao poder.

Não lembro de outra circunstância em nossa história na qual os ditames constitucionais tenham sido tão minuciosa e longamente observados. Para o petismo, porém, tratava-se de uma nova queda de Jango, de um novo suicídio de Vargas. Impossível não ver em tudo isso o mesmo petismo de sempre, dedicado à dissimulação da realidade, às mentiras, ao espargimento de ódios e à construção de versões como genéricos da verdade incômoda. Portanto, onde alguns veem combatividade e dedicação à causa eu identifico contumácia, vícios empedernidos, incorrigibilidade. Já não queimam pneus, os artífices do caos?

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

29/08/2016

 

 A senhora que ocupa o banco dos réus no Senado Federal enquanto desabafo nestas linhas o meu aborrecimento cívico foi mais um sinistro na longa cadeia de infortúnios que o presidencialismo vem causando ao país. Nunca se supôs que fosse tão longe. Menos ainda era imaginável que inusitada maré de azares e artifícios permitisse a Lula eleger e reeleger Dilma Rousseff. Que possibilidade teria a senhora do banco dos réus de chegar à presidência, não fosse a unção proporcionada por Lula? Nenhuma! A gestão de Dilma é produto de uma conjunção fatal, urdida nos mais obscuros desvãos do universo.

Mas não foram apenas forças oblíquas e fatídicas as tecelãs dos fios que nos arrastam ao dia 29 de agosto. Não! Até nossas míseras e mal concebidas instituições acabaram por trazer à superfície o submundo do governo petista, numa continuidade que remonta ao início do primeiro mandato de Lula e ao mensalão, que outra coisa não foi senão a primeira pipoca a explodir na escabrosa pipoqueira da gestão petista nos negócios nacionais. Foi desse submundo que vieram, para as campanhas eleitorais dos partidos ligados ao governo, especialmente para as eleições presidenciais, os recursos tomados pelo aparelho criminoso que conjugou esforços para consolidar seu projeto de poder. No conjunto da obra, sobre a qual a senhora do banco dos réus não quer ouvir menção, não podemos desconsiderar a ilegitimidade dos meios financeiros que foram proporcionados ao partido. Nem o desequilíbrio que isso proporcionou às suas campanhas mediante a laboriosa e continuada ação de tesoureiros, operadores, doleiros e marqueteiros.

O mandato de que tanto se orgulha a senhora do banco dos réus está coberto de infâmia. A titularidade do poder não deveria ser colhida mediante meios mal havidos, não poderia ser produto da mentira nem da dissimulação. Tivesse minimamente dito a verdade à nação durante o pleito de 2014, ela jamais teria sido reeleita. E não lhe faltaram oportunidades, nos debates que antecederam à eleição, de pôr um fim à ocultação e permitir que o povo brasileiro conhecesse a realidade cuidadosamente escamoteada.

Ao medir-se com a régua de Cunha, ao se comparar com ele, a senhora do banco dos réus não se homenageia. Bem ao contrário, escolhe um parâmetro terrível. Mais um passo e comparará seu governo com o Comando Vermelho. Embora tenha escalado Eduardo Cunha para ser seu Inimigo Número 1, há outros adversários que habitam dentro de si e no grupo político com o qual se foi afinando ao longo dos anos. Refiro-me, especialmente, a uma ideia fraturada de democracia, que transforma o regime num conjunto de cacos em conflito e a uma doutrina que vê o poder como objeto de conquista, não como serviço. Esse ânimo marcou seu governo e se expressou em todas as manifestações que produziu desde o banco dos réus. Seu infausto governo - que vê perfeito e irretocável! - não teria cometido um erro sequer que reconheça. E a tempestade em que nos meteu seria consequência aziaga de fatores externos. Reitera-se aqui, ante os olhos e os ouvidos da nação, a velha desafeição à verdade. Se os fatores apontados têm existência real, também é verdadeiro que independentemente deles, a economia mundial continuou e continua crescendo, enquanto a nossa, embalada pelas estratégias eleitorais petistas, entrou em profunda recessão. E o conjunto da obra que ela descreve se desfaz em ruínas.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

26/08/2016


 O PT nasceu com aspirações à santidade. Tão metido a santo que nunca hesitou em atirar a primeira pedra. Não porque necessariamente houvesse pecado, mas porque havia pedras.


 Não há impositiva relação de causa e efeito entre crime de responsabilidade e impeachment. Não poderia haver este sem aquele, mas poderia haver aquele sem este. No caso atual, é o desastroso conjunto de pecados que determina, ante o crime de responsabilidade cometido, a condenação num juízo político. A propósito, aprendi no catecismo que o pecado pode acontecer por pensamentos, palavras, atos e omissões. Informo a quem considere piegas esta informação, que a vida, com enxurrada de exemplos, me ensinou o quanto ela é correta. É através desses meios que cometemos todas as nossas faltas. E para o ser humano, não as reconhecer, em qualquer das quatro formas, é o mais danoso de todos os erros.


 Enquanto assisto a primeira sessão do juízo final de Dilma Rousseff, percebo, em sua defesa, a continuidade dos mesmos pecados. A mensagem que recentemente (16/08) leu à Nação e ao Senado registra pela primeira vez a palavra "erro", ainda que numa frase com sujeito oculto. Erro de autoria não identificada. Tornou-se evidente, ali, a contradição entre a Dilma do dia 15 de agosto, mergulhada "num pote até aqui de mágoas", tomada pela ira e arrogância, e a Dilma que acordou no dia seguinte humilde, propondo diálogo e união em torno da pauta que lhe convinha. Qual a Dilma real? Se algum dia existiu, evaporou-se entre Lula e João Santana. Personagens tão divergentes quanto os que ela encarna só podem ocorrer numa encenação. Um deles é falso. Ou todos o são. Na política isso é pecado mortal.


 A situação se agrava quando assistimos o comportamento da defesa da presidente afastada no Senado Federal. Primeiro, rasga e joga no lixo a carta do dia 16 de agosto (no que vai bem porque o inaproveitável programa ali proposto prorroga por dois anos o sanatório institucional em que temos vivido). Em seguida, reitera o velho e conhecido sintoma da psicopatologia petista. Entenda-se: o PT é um partido que nasceu em sacristias e conventos, com aspirações de santidade. Tão metido a santo que nunca hesitou em atirar a primeira pedra. Não porque necessariamente houvesse pecado, mas porque havia pedras.


 Quis ser, e por bom tempo muitos o viram assim, um guia de peregrinos, objeto de veneração. Ainda sem pieguices, torna-se oportuno outro ensino de catequese: ou nossa vida se modela segundo aquilo em que cremos ou nossa crença se conforma ao modo como vivemos. Então, o petismo não reconhece os males que causou ao país. Só tem dedos para o peito alheio. Não tem unzinho sequer para as próprias culpas. Com três tesoureiros presos, o partido se considera um santo incompreendido e, para evitar martírio, extingue a função. Na história universal é o primeiro partido político com muita grana e sem tesoureiro.


Voltemos, porém, à primeira sessão do juízo final de Dilma Rousseff. Lá estão seus senadores usando todas as manhas possíveis para retardar o andamento dos trabalhos. Depois de seu governo haver feito tudo que fez, depois de ter caído na mais profunda desgraça, seus senadores estão servindo à nação mais e mais do mesmo. Não ruborizam pelos malefícios causados ou pela quadrilha instalada no coração do governo. Declaram-se ofendidos, isto sim, porque alguém os acusa de retardar o andamento das sessões e de todo o julgamento. E a nação a tudo vê. Temos aqui um dos muitos motivos da desgraça moral em que afundou o partido que governou o Brasil durante 13 anos consecutivos. É o pecado mortal de se achar sem pecados, de negar o que fez e faz, mesmo quando todos assistem aquilo que é feito. Eis a definitiva essência do conjunto da obra.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.