• Percival Puggina
  • 28/04/2017
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PROTAGONISMO RETRÔ

 

 Neste momento em que escrevo, militantes a serviço da organização criminosa que desgraçou o país põem em curso uma tentativa de greve geral que virou algo tipo "Vamos queimar pneus e parar o Brasil na porrada e no miguelito". Todos sabiam o que iria acontecer e não imagino o Conselho Permanente e o Secretário Geral da CNBB, que apoiaram o movimento, tão ingênuos a ponto de desconhecerem as infames técnicas de "mobilização" utilizadas pelos companheiros da CUT. É assim o protagonismo do retrocesso.

Atuam com bastante vigor em nosso país grupos que oferecem resistência cerrada ao futuro. Ou, para dizer o mesmo com vocábulos de sua predileção: "dialogam" com o passado e "problematizam" o progresso. De bom grado, se pudessem, parariam o relógio. Aferram-se a uma idiossincrasia da nossa cultura que, embora reconhecendo inegáveis defeitos na ordem política e social, preferem que nada mude. Está errado, sim, mas não mexe. Tem sido muito perceptível sua atuação nestes dias em que o Congresso Nacional tenta promover algumas reformas indispensáveis ao país. Por contraditório que pareça, dizem-se "progressistas". CUT progressista? CNBB progressista? Já eram retrógrados nos anos 80! Nem toda militância e nem todo protagonismo social impulsiona o progresso. Atribuir malignidade a quem deseja promover reformas no país porque a vida, a demografia e o mundo do trabalho mudaram é maniqueísmo raso, primitivo, retrô.

 É ele que mobiliza as energias do atraso contra a reforma trabalhista, por exemplo. Considera como núcleo de uma atividade política essencial a contribuição sindical obrigatória, mantenedora do parasitismo pelego e da transferência de recursos dos trabalhadores para os coletivos que aparelha e manipula. E que atividade política é essa que se realiza pela via sindical? Ela se chama corporativismo, um dos maiores e mais renitentes males do Estado brasileiro. Ops! Corporativismo? Mas não é ele a própria essência do Estado fascista? Leia, a propósito, o discurso de Mussolini sobre o Estado Corporativo proferido em 14 de dezembro de 1933. Claro que o corporativismo, nesse mesmo discurso do Duce, pressuporá em seu desenvolvimento um Estado totalitário, mas qual é o conceito de Estado postulado pelas atuais corporações? E em que tipo de ente estatal desembocariam as corporações vigentes no país se todas as rédeas lhes forem soltas? Pois é.

 O protagonismo retrô ama a CLT. Jamais mencione suas analogias com a Carta del Lavoro porque, novamente, ops! A Carta del Lavoro é um documento essencial do fascismo, já bem conhecida como tal quando inspirou a legislação trabalhista brasileira. As muitas centenas de adendos e supressões que recebeu ao longo do tempo não lhe alteram a vertente. E a vertente não lhe retira, aos olhos do protagonismo retrô, sua suposta sacralidade.

 O protagonismo retrô ama o Estado, de paixão. Se o Estado tivesse foto oficial, estaria emoldurado e exposto na parede, com marcas de batom. "Tudo no Estado, nada contra o Estado e nada fora do Estado". Ops! Isso também é fascismo, é Mussolini falando, mas não diga porque a constatação os aborrece. Então, quando algo bom para a sociedade surge fora do controle do Estado, como o Uber, ou o Cabify, eles precisam, desesperadamente, estabelecer o modo pelo qual tais iniciativas sejam trazidas para o controle do Estado, para benefício do Estado e para dentro do Estado.

Acontece, leitor amigo, que, por mais que dialoguemos com o passado, por mais que o protagonismo retrô tente, sempre, deixar tudo como está, mesmo se tudo errado, é impossível deter o futuro, tanto quanto repetir a vida vivida. Impõe-se evitar, portanto, que algo assim se transforme em plataforma política e seja imposto a uma nação cujo presente lhe deixa muito claro: ou busca o futuro, ou vai estagnar em página virada. E eu não estou falando da Venezuela nem de Cuba, que tantos amores suscitam entre os protagonistas retrô.


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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Joma Bastos -   04/05/2017 10:46:42

O desmonte do Brasil e de muitos outros países latinos, começou em 1990 no Foro de São Paulo, um congresso internacional com a finalidade de tornar a América Latina uma frente socialista/comunista da luta anti-imperialista de Fidel Castro. Desde então, o comunismo/socialismo, o narcotráfico e a corrupção "trabalharam" conjuntamente para destruir o nosso Brasil e a América Latina. A sociedade conformar-se-á??? com a sorte cruel de um regime corrupto???,.... pois os políticos já não têm nem sentem medo de se assumirem como suspeitos de corrupção devidamente identificados pelas delações premiadas.? A justiça brasileira acabou-se desde que o STF está tomando decisões inconstitucionais neste país. O STF já tem procedimento idêntico à da corte suprema da Venezuela, ao ter comportamentos anti-democráticos, anti-sociais e anti-constitucionais. Os três poderes estão podres. Já não há democracia neste Brasil! Que tal o futuro STF trabalhar apenas como Tribunal Constitucional e Tribunal Superior Administrativo e eliminar a sua Função de Judiciário? A função de Judiciário ficaria apenas no STJ. E que tal no STJ fazerem parte apenas Juízes de Togado, sem quaisquer indicações do poder político? É necessária a total independência dos três poderes, mantendo somente a necessária harmonia entre si. Queremos um Brasil Liberal e livre de corrupção! Estamos SEM GOVERNO. Estamos SEM CONGRESSO. Estamos sem JUDICIÁRIO. Não há como acreditar em mais ninguém. Este EXECUTIVO e este CONGRESSO, estão repletos de protagonistas SEM-VERGONHA que legislam em causa própria para se safarem da cadeia. Este EXECUTIVO e este CONGRESSO, por estarem infestados por suspeitos de corrupção devidamente comprovados pelas delações da Lava-jato, já não têm legitimidade para serem dignos representantes do povo brasileiro.

Sérgio A.Oliveira -   01/05/2017 01:33:18

O Conselho Permanente e o secretário da CNBB "ingênuos? Desde quando?

DAGOBERTO LIMA GODOY -   30/04/2017 13:18:59

BRAVO!!!!

Geremias -   30/04/2017 02:53:40

Caro Puggina, O senhor sabe o que essa dita reforma vai mudar? Vai beneficiar o trabalhador brasileiro? Por que essa reforma trabalhista foi montada e está para ser aprovada em definitivo de maneira tão acelerada? Não seria o Michel Temer (a mesma coisa que a Dilma e todo o PT) cumprindo sua agenda de promessa de retribuição aos grandes empresários e comerciantes com os quais compactuou-se? O senhor conhece a vida de um trabalhador rural e o que está sendo proposto em sua aposentadoria? Pense: por que o Governo não muda nada no salário dos políticos eleitos? Não estaria sacrificando os pobres em prol de uma falsa utopia de melhoria do País? Não sou comunista! Mas nem por isso vou deixar de criticar este Michel Temer do PMDB (ou PT 2?), partido esse oportunista que só anda de "carona". Não vamos atacar a esquerda fechando os olhos à covardia que o Governo está fazendo com os brasileiros pobres, a maioria da população do País!

Walter Hoff -   29/04/2017 18:20:14

Professor Puggina, vamos relembrar também a alteração nas regras para reclamações trabalhistas. Daí a chiadeira da OAB, que vai perder a galinha dos ovos de ouro das ações trabalhistas, nas quais há 99% de chances de ganhar alguma coisa. Também os magistrados e demais atores da Justiça do Trabalho estão apoiando essa "greve geral" pois temem o esvaziamento de seus papéis. Cada um puxando a brasa pra sua picanha...

Miguel Angelo Bernardi -   29/04/2017 18:18:42

O que é que o professor quis dizer com :...na porrada e no miguelito...

Rafael -   29/04/2017 01:07:17

De certa forma a esquerda mostrou que sabe inovar. Afinal, conseguiu fazer uma greve geral sem povo.

Genaro Faria -   28/04/2017 19:02:21

O revolucionário só reconhece como legítimo o tempo futuro que ele cria em sua patológica imaginação. O passado é uma invenção burguesa que ele recria a partir do futuro. E o agora, o presente, é uma consequência funesta dessa invenção que somente sua utopia delirante vai corrigir mediante a completa transformação do ser humano adaptado ao mundo ficcional que ele toma como realidade do advento que se cocretizará no ... futuro. Sempre no futuro que sua ideologia profetiza mas jamais realizou, certamente porque o futuro sempre estará no progresso do presente para um pouco mais adiante. Para que se antecipe esse paraíso terreno é preciso massacrar e queimar na fogueira das ilusões a história da humanidade e do rescaldo ressurgir o "homem novo" - criação genial de sua loucura raciocinante. E para tanto é inprescindível concentrar todo o poder em sua mãos iluminadas. Ora, a história demonstrou, incontestavelmente, que a concentração totalitária do poder em torno de uma ideologia utópica é a fórmula infalível para a implantação de um regime monstruoso e genocida.

Odilon Rocha -   28/04/2017 16:26:26

Caro Professor Não desmerecendo o texto todo, mas a passagem 'que algo assim se transforme em plataforma política ' é o miolo da alcatra. É o que fiquei aqui pensando... . É aquele cara, que para recuperar a sua imagem no burgo, ateia fogo no circo e aparece rapidinho com um caminhão-pipa. Apaga o incêndio, é aplaudido e ganha uma medalha. Ah, sim! E mantém o emprego.

Jonny Hawke -   28/04/2017 15:15:53

Professor pelo menos essa greve vai trazer uma coisa boa: a rejeição total do povo contra os sindicatos e os partidos de esquerda. O povo veja o que aconteceu no Santos Dumont e acorde de uma vez que nem segurança contra esses pelegos eles querem nos dar. Só aqui uma minoria faz o que quer contra a maioria!