• Percival Puggina
  • 21/04/2017
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"CHEGAMOS AQUI ATRAVÉS DO VOTO POPULAR!"

 

É o que tenho ouvido de muitos congressistas empenhados em drenar da dignidade do voto algumas gotas de virtude para substituir os hectolitros dessa mesma substância moral que deixaram verter pelo caminho.

Como assim, Excelência? Não dá para resgatar a honra do voto popular se ele foi obtido por péssimos meios para ainda piores fins. O que a cada dia fica mais evidente perante os olhos da sociedade brasileira é que um número substancial de mandatos em pleno uso de seu poder de fogo são mandatos usurpados, obtidos fora das regras do jogo e perverteram a representação democrática.

A questão já foi posta por outros analistas, mas cabe reavivá-la aqui: o que é social e moralmente mais danoso? Fazer uso de dinheiro roubado para robustecer o patrimônio pessoal, ou para perverter a democracia mediante abuso do poder econômico durante a disputa eleitoral? Parece claro que atacar a virtude da disputa política, viciar a representação, corromper o voto popular é muito mais funesto. A certeza se extrai de realidade palpável porque - feitas as muitas devidas, honradas e honrosas exceções -, é impossível negar que tais práticas têm contribuído, de modo crescente, para desqualificar a representação, apetrechando o país com uma cada vez menos confiável, menos competente e menos esclarecida elite política.

Converse com antigos servidores de qualquer poder legislativo e ouvirá o testemunho do fato: a cada legislatura decai a qualidade da representação parlamentar, até sermos arrastados às atuais societas sceleris. Depois, observe os resultados dos pleitos presidenciais e me diga se alguma empresa, de capital aberto ou fechado, com acionistas ou proprietários, entregaria seu comando a pessoas como Lula e Dilma Rousseff. No entanto, o Brasil confiou-se a eles em quatro pleitos sucessivos.

Acompanhei em Porto Alegre, a última eleição da Câmara Municipal e sei o quanto ela, com recursos limitados a pequenas doações pessoais, dependeu principalmente da atividade voluntária de apoiadores e do trabalho diuturno dos candidatos. Bem diferente do que estava habituado a observar, quando, às primeiras horas do início efetivo das campanhas, a cidade amanhecia com suas principais avenidas tomadas por material publicitário de meia dúzia de candidatos.

Obviamente, a democracia ganha muito mais quando quem tem que buscar voto é a pessoa do candidato, quando é ele que trabalha e não sua máquina eleitoral, formada por legiões de militantes pagos, frotas de veículos e muito recurso sonante para atender demandas de cabos eleitorais espalhados de uma forma que lembra a tomada de território em guerra de ocupação.

Não venham, então, os que se locupletam com caixa dois, os mercadores de emendas, os que mascateiam favores, os beneficiários de exuberantes e mal havidos fundos partidários, advogar, em benefício dos próprios pescoços, por listas fechadas, abuso de autoridade, anistia de caixa 2. A nação dispensa tais trabalhos! É hora, então, de os bons congressistas se unirem para o expurgo dos maus.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


 


roberto.tesck@gmail.com -   01/05/2017 21:03:27

Magistral! Leio-o, com alguma frequência, no "Diário do Poder", com crescente respeito e admiração. Dito isto, farei algumas considerações. -O sistema obrigatório e universal de voto, em um País de analfabetos, de fato ou funcionais, não poderia nos levar a outro resultado. O voto deveria ser voluntário. Deveria ser vetado a Analfabetos e menores. Colocaste bem e ouso complementar: Lula ou Dilma jamais seriam eleitos Síndicos de um condomínio, simplesmente por que os condôminos tem voto de qualidade e zelam por seu dinheiro e patrimônio. Grato.

Miguel Ponte -   27/04/2017 11:03:23

O voto obrigatório é um dos pilares de nossa tragédia.

ANTONIO FALLAVENA -   24/04/2017 13:37:26

Lamento não ter escrito sábado ou domingo. Mesmo atrasado, quero deixar registrado minha opinião. Afinal, escrever ao amigo Puggina e aos demais colaboradores, é motivo de alegria. O tema é por demais complexo. No entanto, o foco final sempre deixa transparecer sim, a falta de qualidade do voto. Já uma análise profunda para conhecer os partidos, suas práticas internas e externas e as pessoas que deles se apossaram, dos grupos massificados e das escolhas para representa-los, precisaríamos de muito tempo. Chegamos a este ponto por uma sequencia de erros, tal qual ocorre em uma acidente aéreo de grande porte. Partidos/empresas; lideranças aéticas e amorais; filiados – na maioria, só na ficha assinada; militância com interesses particulares e pessoais; candidatos profissionais, representantes de segmentos, sem escrúpulos e desqualificados para a função e, finalmente, com a MAIORIA DOS ELEIORES desinteressados, desinformados, sem cultura política, com interesses próprios e pessoais, nos levaram a situação atual. E mais: se mantido o quadro e o declínio constante, poderemos alcançar dias piores. E tudo isto ocorre com todos os partidos e com a maioria absoluta dos participantes e de “nossos representantes”. Enquanto a maioria da sociedade não alcançar a compreensão de tais fatos, continuaremos a cair. Infelizmente a realidade é assim, mesmo que muitos tentem reduzi-la para agradar seu coração. Abraço e muita saúde, ao amigo Puggina e amigos deste blog maravilhoso. Fallavena

Áureo Ramos de Souza -   23/04/2017 21:48:41

Nós votamos pensando que todos eram honestos mesmo sabendo que existia já esta corja. Acontece que o buraco era maior e lá estavam eles com um técnico de primeira qualidade "LULA". São tantos craques que fica difícil escalar para isso Sergio Moro aos poucos vai eliminando alguns para ver se alguns pode continuar na equipe.

João Guilherme Maia -   23/04/2017 16:03:41

E o Brasil vai continuar com o voto popular. É lógico que até na Democracia aparecem corruPTos como aconteceu no Brasil nos governos do PT. Através da pregação de uma falsa Democracia eles conseguiram enganar o povo e chegaram ao poder e deu no que deu, ou seja, afundaram o país moralmente e economicamente. Mas o povo de bem do Brasil, que ainda é a maioria dos brasileiros, não irão desistir do voto e irão tirar eles de vez do poder através do voto nas eleições Majoritárias de 2018. Tanto é verdade que o povo já deu a primeira resposta nas eleições Municipais de 2016, quando o PT fez apenas um prefeito numa Capital em todo o Brasil.

jose P.Maciel -   23/04/2017 03:15:33

Para muitos o Brasil está num Beco-sem-Saída.Entendem que o Executivo está minado,que o presidente é um fantoche,que a política em execução é altamente impopular e assim por diante.Verdade?mentira não é porque analisando a situação surge um pessimismo irrefreável. Na opinião do vizinho comentarista,a solução seria a instalação de um Estado Novo à la Getúlio Vargas em 1937, ou Revolução de l964,e confiar no futuro.Verdade?mentira também não é porque lembrando outro insano presidente diríamos:"governar com esse congresso é impossível"(Janio,vassoureiro,anos 1950). Opinião nossa(talvez ingênua):recomendar que a abarrotada Justiça prenda o sr.Luiz Inácio Lula da Silva e a sra.Dilma Roussef por agitadores e por obstaculizarem a Justiça,em primeiro lugar(é o que o povo deseja);porque outra coisa eles não fazem direta ou indiretamente;por onde vai ela continua insistindo no famigerado GOLPE. A prisão dos principais líderes seria benéfica para todos e no fundo bem aceita. A seguir,Esperar,esperar,PACIÊNCIA,deixar este governo provisório trabalhar com mais alento e segurança,acreditando que o povo aplaudiu!

Ismael de Oliveira Façanha -   23/04/2017 01:13:19

O voto distrital baratearia as campanhas eleitorais, como as para vereador. Como está, os partidos e os políticos representam o poder econômico, as grandes fortunas controlam a política, esta sendo a face oculta, mas nem tanto, da Democracia, que lá no fundo, é uma plutocracia. Estas mesmas forças econômicas almejam mais que tudo, a extinção do IMPOSTO SINDICAL, onde os trabalhadores encontram apoio para suas trajetórias na política. Tratam de transformar a Previdência Social em uma cornucópia para encher os cofres da União. O governo Temer não tem uma boa cara, e as pesquisas de opinião mostram toda a extensão do desastre. No Vaticano certamente não seria bem vinda uma visita do nosso posudo presidente, que não é querido nem por Deus nem pelos homens...

Antonio Augusto d Avila -   23/04/2017 00:32:41

Discursos moralistas não levam a lugar nenhum. Precisamos de reformas e já. O nosso sistema eleitoral é uma excrescência. Em qual país civilizado vigora algo parecido? Quanto às últimas eleições para vereador de Porto Alegre, 62% do eleitorado, ou seja, a esmagadora maioria não votou nos candidatos eleitos ou em seus partidos (voto de legenda). A maioria foi escorraçada.

Afonso Pires Faria -   22/04/2017 22:11:08

Eu somaria de que o PT fez os dois. Desviou para si e para o partido.

maria-maria -   22/04/2017 22:05:02

As quantias astronômicas, galácticas destinadas ao imoral fundo partidário devem ser uma excrescência das republiquetas desgovernadas por cretinos ladravazes. Se os ilustres querem candidatar-se, que se responsabilizem por apresentarem suas intenções ao respeitável público e deixem de publicidade enganosa como se fossem um sabonete milagroso. Não gostaria de crer que todos os componentes da praça dos três poderes são o rebotalho da nacionalidade, mas como pensar diferentemente se as quatro dezenas de deputados federais já identificados na ladroagem não são defenestrados pelos quatrocentos e tantos supostamente corretos? No senado, os dois terços de senadores ainda não implicados oficialmente serão meros reféns dos coleguinhas?

Dagoberto Lima Godoy -   22/04/2017 21:26:25

Cada vez melhor, caro Percival!

Jorge Ernesto Macedo Geisel -   22/04/2017 20:39:05

Excelente artigo, como sempre! Um dos maiores problemas dos partidos, são provenientes de seus processos de escolhas de candidatos. Não há demolcracia neles.

Renato Carminatti -   22/04/2017 15:13:49

Como sempre o magistral Puggina faz uma excelente análise do que se poderia esperar de políticos sérios que deviam honrar o voto do povo mas usam este mesmo expediente para se locupletar e ao invés de pensar nos seus eleitores só pensam no próprio umbigo. Sou a favor de uma intervenção militar pois penso que só assim poderíamos fazer uma limpeza no Congresso e nas demais casas geridas por políticos e/ou politicagem pois o povo brasileiro por falta de educação e/ou motivos financeiros se vende por qualquer vintém e continurá votando neste maus políticos.

mario -   22/04/2017 02:22:05

Como sempre, muito bom, Puggina. No entanto, como lhe dizer, faz-se necessário termos essa objetividade recomendando uma prática maior em busca de resultados, ou então estaremos sempre estagnando no óbvio. Os cérebros de nosso povo estão em férias.

Genaro Faria -   22/04/2017 00:43:58

E como Sua Excelência poderia chegar se não pelo voto popular? Antes de referir-se ao voto que recebeu do eleitor como instrumento que legitima seu mandato, o eleit0 deveria lembrar-se do seu próprio voto como promessa de representar seu eleitor. Promessa que, se não for cumprida, deslegitima o mandatário como infiel representante de quem o elegeu. Por exemplo, quem se elege com um discurso de defesa da vida não pode depois votar a favor do aborto. (A propósito, eu defendo a igualdade de direitos entre homens e mulheres, lembrando que o homem não tem o direito de abortar.)