• Bruno Braga
  • 13 Favereiro 2015

No dia 24 de Janeiro, Leonardo - quer dizer - Genézio Boff recebeu o prêmio "Luta pela Terra". Ele foi "agraciado" durante as comemorações dos 30 anos do MST e dos 10 anos da Escola Nacional Florestan Fernandes, o centro de "formação" e de treinamento de militantes do movimento sem-terra, onde foi realizada a cerimônia.

É o reconhecimento do trabalho de Genézio. Não por conta da questão agrária propriamente, mas pelos serviços prestados ao próprio MST. Principalmente pelo esforço de tentar maquiar as ações criminosas dos sem-terra com os embustes da Teologia da Libertação - um simulacro de teologia forjado para tomar de assalto a Igreja Católica, para distorcer a fé, instrumentaliza-la e promover o projeto de poder totalitário socialista-comunista. Projeto hoje dirigido pelo Foro de São Paulo - organização fundada por Lula e por Fidel Castro em 1990 -, sendo o MST um de seus mais ativos integrantes e Genézio Boff parte de sua milícia de "intelectuais" - nas eleições fraudadas do ano passado, ele atuou como um dos principais cabos eleitorais da Presidente petista Dilma Rousseff.

Enfim, a "escola" do MST - que recentemente serviu de palco para que os sem-terra firmassem um acordo com a Venezuela, comprometendo-se o aliado bolivariano, que também é membro do Foro de São Paulo, a doutrinar e treinar os seus militantes em táticas de guerrilha - celebrou com foices erguidas o "apostolado" de Genézio Boff em favor da revolução socialista-comunista.

PS. Entre outros, o MST também premiou com o "Luta pela Terra" a Irmã Anne, Irmã Alberta Girardi, Frei Henri dês Roziers, Dom Erwin Krautler, Dom Pedro Casaldáliga - e fez uma homenagem póstuma a Dom Tomás Balduino.
 

http://b-braga.blogspot.com.br

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  • Guilherme Fiuza
  • 12 Favereiro 2015

Revista Época

Com todas as tormentas que rodeiam o governo Dilma, nada poderia ser mais grave e ameaçador do que o que se passou na primeira reunião ministerial do segundo mandato. Pior que a inflação, a recessão, o apagão e o petrolão: o TelePrompTer travou. E, sem TelePrompTer, a República prendeu a respiração.

O Brasil é um país irresponsável. Está cansado de saber que, quando Dilma começa a mentir muito, ela trava. Foi assim na campanha eleitoral, quando após um debate na TV ela teve de ser socorrida. Numa entrevista ao vivo, a mente presidencial mergulhara numa tal ciranda desconexa que o equipamento enguiçou.

Nem João Santana, com uma junta de mecânicos e eletricistas de última geração, poderia evitar que aquele fusível queimasse. Daí a importância vital do TelePrompTer para os rumos da nação. É a segurança dos brasileiros que está em jogo.

Ainda assim, não obstante todos os alertas e advertências, o pior aconteceu. Dilma abria solenemente a primeira reunião com seu novo ministério de notáveis, no clima de esperança e euforia que cerca seu segundo mandato, quando tudo ruiu. O TelePrompTer, pilar da democracia companheira, que garante que a presidente diga coisa com coisa, começou a ralentar. Sinais de angústia tomaram as feições presidenciais, enquanto o discurso ia se enchendo de pausas, numa tentativa de adaptação ao ritmo defeituoso do equipamento golpista. Mas não adiantou.

O TelePrompTer foi então abandonado pela chefe da nação. Ela ainda tentara fazê-lo pegar no tranco, esculhambando ao vivo seu operador - em mais uma cena típica do instinto maternal da "presidenta" mulher. O teor de mentira do discurso de Dilma estava altíssimo naquele momento, e quem sabe pode ter sido essa a causa do apagão no TelePrompTer, porque as máquinas também têm lá sua dignidade. Nem é preciso entrar muito em detalhes sobre o que Dilma estava pregando diante de seu novo e virtuoso ministério. Basta dizer que ela estava defendendo a... Petrobras. E o nacionalismo. Quando se deu o apagão, a presidente estava dizendo algo como "toda vez que tentaram desprestigiar o capital nacional, estavam tentando na verdade..." Aí travou. Nem o TelePrompTer aguenta mais tamanha carga de cara de pau. Só o cidadão brasileiro ainda tem estômago para isso.

Quase ao mesmo tempo que Dilma denunciava os que tentam desprestigiar o capital nacional, a Operação Lava Jato comprovava como o PT fez para prestigiar o assalto à Petrobras. O consultor Julio Camargo confirmou à Justiça que o pagamento de propinas a Renato Duque, fantoche da turminha de Dilma na Diretoria de Serviços da estatal, era a "regra do jogo" Em seguida, a informação que num país com um pouco de juízo teria derrubado imediatamente o governo: o empresário Augusto Ribeiro Mendonça Meto, do grupo Toyo Setal, confirmou ter sido orientado a pagar parte da propina por negócios com a Petrobras em forma de doação oficial ao PT.

É preciso repetir, porque muitos leitores a esta altura estão certos de que houve erro de redação na frase acima. O que está escrito lá não faz o menor sentido. Vamos à repetição: está confirmado que o PT inventou a propina legal. Para ganhar contrato com a Petrobras, o fornecedor não tinha de pagar "um por fora" ao diretor da estatal, mas "um por dentro" ao PT. Corrupção transformada em doação oficial ao Partido dos Trabalhadores. Aquele do mensalão, sabe?

O que mais o Brasil quer ver? O que mais você está esperando, prezado cidadão brasileiro, para sair às ruas e enxotar esses cordeirinhos socialistas que estão arrancando as calças da nação? Está esperando a quadrilha dizer a você que só chegará luz a sua casa se você der "um por dentro" ao PT?

Contando, ninguém acredita. Numa tarde quente de domingo, a base parlamentar irrigada pelo petrolão tomava posse alegremente no Congresso Nacional, com direito a selfies sorridentes com seus familiares. Assistindo na TV ao domingo feliz no jardim zoológico, o brasileiro comum bancava.
 

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  • Carlos I.S. Azambuja
  • 10 Favereiro 2015

(Por um lapso faltou-me publicar o primeiro artigo desta importante série de autoria do historiador Carlos I. S. Azambuja)

O Serviço de Inteligência é a batalha das mentes e cérebros e a função dos equipamentos é ajudar o ser humano em seu desafio conceitual. Mas na integração do homem e da máquina o fator humano é decisivo, mormente no Serviço de Inteligência” (Meir Amit, diretor do MOSSAD de 1963 a 1968)


Trinta e dois séculos após Moisés ter acatado a ordem de Deus, escolhendo 12 eminentes israelitas para se infiltrarem na Terra Prometida, o Estado de Israel foi criado, em 1948, e Ben Gurion, seu primeiro presidente, fez exigências rigorosas a seus agentes secretos: que fossem motivados pelo patriotismo; que representassem os melhores aspectos da sociedade israelense; que obedecessem ao postulado singular de comedimento; e que se lembrassem que defendiam uma democracia e não um Estado monolítico. Nesse sentido, Israel é um país singular sob muitos aspectos, um dos quais tem sido o total apoio de seus cidadãos aos Serviços de Inteligência, considerados entre os melhores do mundo.

Os Serviços de Inteligência de Israel, assim como os de outras nações, são um reflexo de suas sociedades, das quais trazem seu poder de inspiração. Cada país possui uma estrutura de Inteligência moldada à sua própria imagem, refletindo a índole e as características culturais da Nação.

O que está no centro dos Serviços de Inteligência de Israel, diferenciando-os dos demais serviços de qualquer outra Nação, é a imigração. Desde a sua formação a comunidade de Inteligência de Israel empenhou-se em proteger os judeus em todo o mundo e ajudá-los a emigrarem para sua Pátria bíblica.
Quem pode imaginar a CIA, por exemplo, com a tarefa de proteger cada possuidor de passaporte dos EUA através do mundo?

A tarefa de defender não apenas o Estado, mas também “todo o povo de Israel” é a missão precípua dos Serviços de Inteligência de Israel: MOSSAD (Inteligência Externa, criado em1951), AMAN (Inteligência Militar, criado em 1949), SHIN BET (Segurança Interna, criado em 1948), Serviço de Ligação (para a Imigração Judaica, criado em 1958), LAKAM (com a funçãoprimária de resguardar o programa nuclear secreto e obter dados científicos e tecnológicos noexterior, criado em 1957) e Departamento Político do Ministério do Exterior, criado em 1948.
Desde sua criação, o Estado de Israel vê-se cercado por um círculo de nações árabes hostis. Todas essas nações, todavia, possuem minorias étnicas e religiosas e Israel sempre pôs em prática o desenvolvimento de amizades com essas minorias, que sofrem, como Israel, em maior ou menor grau, com a ascensão do nacionalismo e radicalismo árabes. A idéia por trás dessa tática pode ser resumida em uma frase: “os inimigos do meu inimigo são meus amigos”.

Qualquer força que lute ou se oponha ao nacionalismo árabe é considerada por Israel uma aliada em potencial: a minoria maronita no Líbano, os drusos na Síria, os curdos no Iraque e os cristãos do Sul do Sudão, todos sofrendo o jugo das maiorias muçulmanas de seus países. Oconceito de manter contato com todos eles tornou-se conhecido para as lideranças israelenses como “a aliança periférica”.

Desde 1951, quando foi criada, a agência externa, o MOSSAD, possui acordos de cooperação com a CIA. Mas a grande abertura dos altos escalões dos Serviços de Inteligência ocidentais para com o MOSSAD decorreu de uma vitória conseguida na Europa em 1956, quando os israelenses conseguiram superar a CIA, o MI6 inglês, franceses, holandeses e outros Serviços de Inteligência ocidentais que buscavam o texto de um discurso: o discurso secreto pronunciado por Nikita Kruschev no XX Congresso do PCUS, em fevereiro de 1956, que praticamente sepultou a era Stalin ao relatar, pela primeira vez, os horrores dos gulags, dos julgamentos encenados, dos assassinatos e das deportações de populações inteiras.

A partir de então, a reputação do MOSSAD tornou-se uma lenda.
Em suas memórias, Isser Harel, que dirigiu o MOSSAD de 1952 a 1963 e o SHIN BET de 1948 a 1952, escreveu: “Fornecemos a nossos equivalentes americanos um documento que é considerado uma das maiores realizações na história da espionagem: o discurso secreto,completo, do 1º Secretário do PCUS”. Harel, entretanto, não revelou como conseguiu o discurso.

Como qualquer outro país, o MOSSAD possui agentes secretos trabalhando nas embaixadas, sobcobertura diplomática. Onde não é possível estabelecer relações oficiais ou estas são cortadaspor divergências políticas, os diplomatas alternativos do MOSSAD desempenham tarefas quenormalmente não são da competência dos Serviços de Inteligência. Especificamente, na África, a CIA forneceu milhões de dólares para financiar as atividades clandestinas de Israel, pois sempre foram consideradas do interesse geral do Ocidente.
De acordo com o conceito periférico do primeiro diretor do MOSSAD, os vínculos sigilosos de Israel com a Etiópia, Turquia e Irã nunca deixaram de existir. Tanto Israel quanto o Irã ajudaram a revolta dos curdos contra o governo do Iraque; agentes do MOSSAD no Iêmen do Sul ajudaram os realistas a combater os egípcios; no Sul do Sudão aviões israelenses lançaram suprimentos para os rebeldes cristãos; e, no fundo da África, o MOSSAD operou num lugar tão distante como Uganda, em outubro de 1970, ajudando Idi Amin a depor o presidente Milton Obote.

Em todos os países há Estações do MOSSAD, sempre operando sob a cobertura diplomática,dentro das embaixadas.

O chefe da Estação, todavia, não comunica suas atividades ao embaixador e remete seus relatórios diretamente para o MOSSAD, em Tel-Aviv. Suas missões incluem ligações oficiais com os Serviços de Inteligência do país-anfitrião, mas também operam suas próprias redes, sem o conhecimento do país-anfitrião. A ênfase em atividades semi-diplomáticas concentra-se basicamente em dois continentes: África e Ásia.

O sucesso do SHIN BET em controlar os territórios tomados em junho de 1967, na Guerra dos Seis Dias (margem ocidental da Jordânia, Sinai e Faixa de Gaza do Egito, e as colinas de Golan) teve um preço: a sociedade israelense passou a ser julgada no mundo exterior pelo que se podia observar a respeito de sua política de segurança. A subversão e os atentados com os homens e mulheres-bomba foram e vêm sendo esmagadas, mas a boa vontade para com Israel no resto do mundo diminui, graças, fundamentalmente, à mídia. Em vez de admirado por grande parte da opinião política internacional, o Estado judaico tornou-se abominado para muita gente.
O SHIN BET, forçado pelas circunstâncias passou a ser encarado como uma força opressora de ocupação. Teve que aumentar seus efetivos, os critérios de recrutamento foram facilitados e o perfil social de seu pessoal mudou.

Os novos agentes baseavam sua atuação mais na força doque na inteligência. A natureza diferente da missão também determinou novos métodos. Numaépoca em que dois mil árabes era detidos para interrogatórios, em que carros explodiam e hotéis e aviões passaram a ser alvo dos terroristas, o essencial era extrair informações tão rápido quanto possível. O fator tempo – aliás, como em todas as guerras sujas - passou a ser o elemento mais importante e a ação rápida passou a exigir a brutalidade. Isso também ocorreu no Brasil na guerra suja dos anos 70.

Em 23 de julho de 1968, um Boeing 707 da El AL, num vôo de Roma para Tel-Aviv, foi seqüestrado e aterrisou na Argélia. Os seqüestradores eram três árabes, militantes da Frente Popular pela Libertação da Palestina. Esse foi o primeiro e último seqüestro bem sucedido de um avião israelense. A partir daí Israel introduziu um esquema de segurança radicalmente novo em seus aviões de passageiros, colocando homens do SHIN-BET, armados, em cada vôo, viajando em poltronas comuns, disfarçados de passageiros, tornando a EL AL a empresa mais segura do mundo.

O mundo, no entanto, só tomou conhecimento dessas medidas quando um desses agentes respondeu a um ataque terrorista, em Zurique, em fevereiro de 1969, na pista do aeroporto de Kloten. Em 1968, Meir Amit, diretor do MOSSAD desde 1963, foi surpreendentemente substituído pelo general Zvi Zamir, sem experiência anterior no Serviço de Inteligência. Segundo as especulações, ele havia sido substituído por ser eficiente demais. Os líderes do Partido Trabalhista, então no Poder, não desejavam um chefe do Serviço de Inteligência que fosse forte demais...

Dados bibliográficos:

Noticiário da imprensa nacional e internacional e livro “Todo o Espião é um Príncipe”, Imago Editora, 1991, de Dan Ravin e Yossi Melman.

 

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  • Francisco Ferraz
  • 10 Favereiro 2015


 A reunião comemorativa dos 35 anos do PT não conseguiu impressionar pelo entusiasmo que se esperaria de quem, há poucas semanas, venceu pela 4ª. vez a eleição presidencial.

É compreensível. Os resultados colhidos até agora são muito ruins para a presidente reeleita e seu partido.

A economia vai de mal a pior literalmente; a derrota da presidente na eleição para a presidência da Câmara realizou o pior dos temores; as revelações intermináveis da corrupção na Petrobrás são estarrecedoras; a pressão pela substituição da diretoria da Petrobrás criou situações constrangedoras para a presidente Dilma e para Graça Foster; as ameaças trazidas por novas investigações no exterior e, pelos processos movidos por acionistas da Petrobrás nos EUA, são obviamente muito preocupantes; o anúncio das medidas econômicas de seu governo teve o efeito de um placebo e ainda açulou a resistência do PT ao ministro do mercado; o aumento do custo da energia elétrica e do combustível, assim como o seu conhecido efeito sobre o custo de vida e sobre o índice da inflação, fez a crise que a presidente minimiza chegar ao bolso do cidadão; fala-se abertamente de uma relação conturbada entre Lula e Dilma; e os resultados da última pesquisa Datafolha confirmaram que o povo parece ter esgotado sua paciência e tolerância com erros, malfeitos e desculpas e explicações dos governantes.

Em nada ajuda a revelação da incompetência e imprevisão das autoridades públicas de todos os níveis, na questão da falta de água, sobretudo em São Paulo e do risco de apagão em relação ao qual o ministro Eduardo Braga das Minas e Energia, a cada fala sua, consegue aumentar mais ainda a intranquilidade. Em São Paulo o desgaste sobrou também para o governador Alkmin e o prefeito Haddad, segundo a mesma pesquisa.

Lula no seu discurso por ocasião do aniversário do PT parece ter dado o sinal para a reação a este quadro. Convocou o PT para as ruas, para defender o PT e o governo. O problema é que nem Lula, nem Dilma, nem Rui Falcão e, nem mesmo a maioria da militância do PT, admite reconhecer erros. Para eles erros são os outros que cometem.

A técnica da vitimização é usada em todos os níveis do partido, por todos os seus líderes e para qualquer hipótese. O excesso de uso desta técnica, e os casos em que chega a ser absurdo seu uso, a desgasta e em breve vai torná-la universalmente ineficiente.

A vitimização é a contrapartida, para situações de dificuldade, da euforia descabida e mentirosa, usada para situações favoráveis com aquela expressão que Lula tornou corrente: “Nunca antes na história deste país...”. Ambas são produto do exagero do marketing político defensivo ou ofensivo.

Este é um momento delicado para o governo e partido. O desafio agora é enorme. O partido, Lula e a presidente gastaram as sobras e agora que precisam mais não há reservas.

Não se trata mais de ‘tirar coelho da cartola’. Este número o povo já viu várias vezes e não se espanta mais. Se o mágico insistir em coelhos vai ser vaiado. Para ser aplaudido neste momento, o mágico terá que tirar rinoceronte da cartola.
 

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  • Fernando Schüler
  • 09 Favereiro 2015

 

(Artigo publicado originalmente na Revista Época, 09, 02,2015)
O PT é, de longe, o maior caso de sucesso na história do sistema partidário brasileiro. O Partido tem cinco governadores, a maior bancada na Câmara dos Deputados, e terá permanecido por 16 anos à frente do Governo Federal, quando se encerrar o mandato da Presidente Dilma Rousseff.

Sucesso que deriva, em primeiríssimo lugar, de seus próprios méritos. Partido com a maior e mais aguerrida militância, feito objeto de crença e via de ascensão social para milhares de pessoas, com um líder cujo carisma e senso estratégico não parece ter rival na política brasileira. Além disso, a sorte. O Partido governou o Brasil na época de ouro das commodities, na esteira da bem sucedida estabilização econômica do País, nos anos 90, e da grande mutação social que varreu a América Latina, no início do século, resultando na formação disso que se convencionou chamar de “nova classe média”.

Esta semana, o Partido comemora seus trinta e cinco anos. Em tempos sombrios. A economia parou, a miséria voltou a crescer, a corrupção não sai das manchetes, e nossa maior Empresa pública está na lona. Para qualquer partido, seria o fim. Não para o PT, que retribuirá ao País com uma grande festa, em Belo Horizonte. A frase mais ouvida, ao longo desses dias, será a de que o partido deve “voltar às origens”. Volta e meia, este discurso aparece. Lula faz cara de sério, restringe as aparições públicas, reúne antigos amigos para discutir a identidade do partido. Dá até uma boa mídia, isso tudo. Depois passa, e a política segue no ritmo de sempre.

O PT é um caso inédito, em nossa história, de resiliência política. Protagonista, em sequencia, de dois casos espetaculares de corrupção “sistêmica”, envolvendo ícones da vida brasileira, como a Petrobrás, o Partido não se abala. Não reconhece seus delitos, ganha as eleições, não perde parlamentares, transforma apenados em heróis, e seus militantes, alguns já meio grisalhos, continuam firmes, mandando ver, em geral nas redes sociais.

Em parte, a resiliência do Partido se explica nas alegorias que compõem a cultura política brasileira. Desde criancinha, aprendemos que a “direita” é sempre autoritária e corrupta, e a “esquerda”, sempre democrática e bem intencionada. O sujeito elogia os irmãos Castro e continua certo de que é um democrata (dia desses li um artigo chamando Kim Jong un de “líder moderno”, e ninguém achou estranho). O mito da esquerda x direita vem do fundo da nossa cultura. É ensinado pelos professores, no colégio, nas universidades, e aceito acriticamente por boa parte de nosso jornalismo político. O mito resiste aos fatos, e suas conseqüências são evidentes. A corrupção da esquerda é sempre “política”, e não “pessoal”. Por isso o sujeito pode ir pro xadrez, em um camburão da Polícia Federal, não sem antes erguer o braço esquerdo, punho cerrado. E a imagem ainda vira peça de campanha do partido.

A matriz ideológica do PT vem dos anos 80. Talvez da transição para os anos 80, período final e melancólico do ciclo autoritário brasileiro. Época de profundo vazio político, em que a velha tecnoburocracia civil-militar, instalada no poder, há muito perdera qualquer legitimidade, ao mesmo tempo em que a oposição democrática, liderada pelo MDB, formava uma frente heterogênea, de corte parlamentar, envelhecida, carente de programa ou utopia, incapaz de entusiasmar a juventude que voltava a se interessar pela política, no retorno da democracia.

Nesse ambiente, o PT surge como um extraordinário experimento de participação política. Partido ordenado sob estatutos democráticos, alternativos à normatização burocrática da LOP - Lei Orgânica dos Partidos. Organizado em células de base, com um amplo leque de correntes de opinião. O PT nasce como um grande partido de base não parlamentar, intenso no debate e na deliberação coletiva. Algo raro na história política brasileira. É evidente que isto iria se perder, à medida em que o Partido passa a ocupar, crescentemente, posições de Estado. Mas não totalmente.
Já nos anos 80, percebia-se o paradoxo: nascido “da sociedade”, e com uma estrutura moderna, o Partido cultiva uma visão programática pobre, recheada dos clichês tradicionais da esquerda acadêmica. Revolucionário sem revolução, socialista sem socialismo, o PT aprendeu, desde o início, a não levar muito a sério tudo que dizia e escrevia em seus documentos. As palavras estavam lá, a “estatização dos bancos e da indústria farmacêutica”, o “rompimento com o FMI.” Ninguém sabia bem o que isto significava, o que também não tinha a menor importância. Na constituinte de 1987/88, o Partido chegou a defender posições como a concessão de estabilidade no emprego pra todo mundo, no setor privado, aos noventa dias de trabalho. O curioso é perceber que até hoje, na lenda partidária, propostas “progressistas”, como esta, foram barradas pela maioria “conservadora“ que dominava a constituinte.

A ideologia cumpre, na história do PT, uma função ambivalente. O militante típico realmente acredita que políticas de “austeridade” são coisas do capeta, amaldiçoa os bancos, e vai passar o fim de semana exorcizando o “neoliberalismo”, na festa de Belo Horizonte. Ao mesmo tempo, Joaquim Levy está lá, no comando do ministério da Fazenda. Foi assim, em 2002, com a “Carta ao Povo Brasileiro”, e a posterior nomeação de Henrique Meireles para o Banco Central. Não há nada errado com isso. A ambivalência foi uma via para os grandes acertos do Partido. Da sabedoria em revisar, de quando em quando, suas posições. O problema é a ambivalência moral. O engano sistemático. Onde uma “ética da convicção” (para usar a expressão weberiana), fundada em um tipo de discurso, serve à militância, enquanto uma ética da responsabilidade, fundada na negação deste mesmo discurso, serve ao governo.
Uma segunda ambivalência diz respeito à visão republicana. Estridente no discurso ético em relação à esfera pública, desde o início, considerava perfeitamente normal colonizar estruturas sindicais e estudantis. Os anos 80 foi o tempo do pequeno patrimonialismo. Da máquina dos sindicatos, instituições públicas, usadas em proveito de um ente privado: o Partido. A justificativa? Muito fácil. Um, como o outro, não defendiam os mesmos “interesses de classe”? A ideologia como verniz do costume patrimonialista. Foi um bom exercício para o que viria depois.

Nos anos 90, os ventos da modernização econômica e da reforma do Estado chegaram ao Brasil. E o PT saiu atirando. Ficou contra o Plano Real, contra o modelo das Organizações Sociais, contra a privatização de empresas como a Embraer, Vale do Rio Doce e Cia Siderúrgica Nacional. Por um instante, penso no que teria ocorrido a todas estas empresas, caso permanecessem, até hoje, nas mãos do Governo. Talvez tivessem um destino melhor do que a Petrobrás. Difícil saber.

A rejeição da reforma do Estado, nos anos 90, estabeleceu as bases para a dicotomia que marca, há mais de duas décadas, a política brasileira. De um lado, a aposta na impessoalidade do Estado, no realismo fiscal, na autonomia das agências reguladoras. A ênfase na eficiência, na competitividade econômica e no realismo fiscal. Do outro, o capitalismo orientado pelo Estado, a política dos “campeões nacionais”, a explosão do gasto público, a defesa do modelo burocrático de gestão pública consagrado na constituição de 1988. Modelo da estabilidade rígida de emprego, das autarquias e repartições públicas prestadoras de serviços, da recusa da meritocracia no setor público.

É interessante como um partido nascido “na sociedade” tenha se tornado, gradativamente, porta voz de uma “ideologia do Estado”. Talvez isto decorra da influência que as corporações do setor público sempre tiveram, em seu interior. Talvez seja nosso passado colonial. Do Estado que sempre precedeu a sociedade, por estes trópicos. Seu traço mais característico é a permanente confusão entre o “público” e o “estatal”. O militante entoa slogans a favor da “educação pública e gratuita”, mas quando você vai ver o que ele quer dizer, descobre que é pura e simplesmente a defesa do modelo estatal de ensino. A agenda dos sindicatos de “trabalhadores da educação” no setor público. A mesmíssima agenda que colocou nossos alunos no 58º lugar na última edição PISA, entre 65 países avaliados.
Na área da saúde, o mesmo eufemismo. O sujeito defende a “saúde pública e gratuita”, mas basta raspar um pouco da tinta ideológica para descobrir que ele está falando, de fato, do sistema tradicional de hospitais estatais. O modelo não funciona, as filas estão cheias, os indicadores de atendimento são pífios, mas não dá nada. A classe média descobriu como se proteger, contratando planos privados de saúde e bons colégios particulares. Aos mais pobres, que não tem escolha, resta o Estado.

O PT não é, por óbvio, o único porta voz da ideologia do Estado. É apenas o seu campeão. Ela pertence ao cerne da nossa cultura política. Forma uma ideologia própria, com justificações à “esquerda“ e à “direita”. Vai daí o casamento harmonioso entre a liderança petista e nossas velhas oligarquias regionais.

Alberto Carlos Almeida, em seu A Cabeça do Brasileiro, mostrou a força do viés estatista e antiliberal, em nossa cultura. 51% da população mostrou-se favorável ao controle estatal dos bancos. O número vai num crescendo, até chegar a 77%, entre os analfabetos. 83% acha que o governo deve socorrer empresas em dificuldades, e mais da metade acha que o governo deve controlar os preços de todos os produtos. Almeida conclui dizendo que o Brasil é “hierárquico, familista, patrimonialista, e aprova tanto o jeitinho como um amplo leque de comportamentos similares”. Não deveria surpreender a ninguém um discurso anti-privatizações continue rendendo votos, ainda que contra toda evidência empírica. Tão pouco que o Partido consiga reeleger a presidenta da República, mesmo com seus dois últimos presidentes e seu tesoureiro na cadeia, por corrupção. O PT navega a favor, não contra, a tradição brasileira.
 

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  • Bruno Braga
  • 09 Favereiro 2015


Primeiro foi um "pacto" firmado com Dilma Rousseff [1] - com a Presidente da República petista que se reelegeu por meio da fraude: a maquiagem de sua biografia de terrorista comunista; denúncias contra as urnas eletrônicas por todos os cantos do país, urnas programadas por uma empresa cubano-venezuelana sobre a qual recaem uma série de acusações; a apuração secreta dos votos [2].

Mas agora - para levar adiante o "apostolado" da reforma política - a CNBB - na pessoa de seu Presidente, Dom Raymundo Damasceno - está de mãos dadas com Miguel Rossetto.

Rossetto é o atual Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República. Ele ocupou antes o Ministério do Desenvolvimento Agrário - durante o governo do Presidente Luiz Inácio e no primeiro mandato de Dilma Rousseff. Nesta pasta, Rossetto participou de inaugurações de "escolas" do MST - ergueu os braços junto com o invasor de terras João Pedro Stédile; assistiu a crianças cantarem de punhos erguidos o hino da Internacional Socialista [3]. No ano passado, o Ministro protagonizou uma cena grotesca na Câmara dos Deputados, com uma reação que se tornou símbolo do cinismo petista: disse que "nada sabia" a respeito do acordo de "cooperação" entre o MST e a Venezuela, no qual o governo bolivariano se comprometia com a doutrinação socialista-comunista dos sem-terra e com o treinamento deles em táticas de guerrilha [4].

E mais. Rossetto - ligado à ala trotskista do PT - foi um dos responsáveis pela coordenação da campanha eleitoral de Dilma Rousseff nas últimas eleições. Uma campanha delinquente que hoje torna-se ainda mais vergonhosa diante das medidas inaugurais do novo mandato da Presidente, deixando à mostra as farsas e mentiras utilizadas para ludibriar o eleitor.

É assim - de mãos dadas com Rossetto - que a CNBB se suja - ainda mais - para promover uma proposta de reforma política que ela reivindica para que se tenha "eleições limpas". Que anuncia como "democrática" - apesar de a proposta conter em seus termos ardilosos a ampliação e o fortalecimento do esquema de poder totalitário comuno-petista [5]. Como se já não bastasse: é essa proposta nefasta de reforma política que o Presidente da Conferência dos Bispos pretende inserir na "Campanha da Fraternidade" de 2015, levando ao engano uma série de fiéis, contrariando os princípios e orientações da Igreja Católica.


NOTAS.

[1]. "CNBB firma PACTO com Governo PETISTA: promover a reforma política SOCIALISTA-COMUNISTA" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/08/cnbb-firma-pacto-com-governo-petista.html].
[2]. "Eleições em cheque: uma coletânea de denúncias e ocorrências" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/11/eleicoes-em-cheque-uma-coletanea-de.html]; "Se a CNBB realmente quer eleições limpas..." [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/11/se-cnbb-realmente-quer-eleicoes-limpas.html].
[3]. "Não sabe de nada, inocente?" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/11/nao-sabe-de-nada-inocente.html].
[4]. "O Foro de São Paulo, o MST e a revolução 'comuno-bolivariana' no Brasil. Fraudes, suicídios, recrutamento de jovens e crianças, e eleições presidenciais" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/12/o-foro-de-sao-paulo-o-mst-e-revolucao.html].
[5]. "Padres pregam proposta de reforma política. Fiéis, não assinem!" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/07/padres-pregam-proposta-de-reforma.html]; "A reforma política da CNBB. Católicos, não assinem!" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/08/a-reforma-politica-da-cnbb-fieis.html]; "O 'poder econômico' no projeto de reforma política da CNBB" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/09/o-poder-economico-no-projeto-de-reforma.html].

 

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