O Ministro Berzoini pretende discutir o controle da imprensa no Brasil, mas diz que não no seu conteúdo, visto que a Constituição assegura a liberdade dos meios de comunicação.
Reiterando posições do presidente de seu partido, Rui Falcão, de que a imprensa precisa ser “democratizada” e que a concentração de capital no controle de jornais e canais de TV macularia tal liberdade, sustenta que a diluição desse controle entre outros participantes levaria a uma imprensa “mais democrática”.
À evidência, não faz menção ao controle governamental da imprensa oficial, esta com conteúdo definido exclusivamente pelo governo. A imprensa oficial, não desvenda os porões e as podridões do poder. Só a imprensa livre o faz e, quando o faz, surgem idéias semelhantes às dos que advogam uma “democratização conduzida” dos meios de comunicação, como na Argentina ou na Venezuela. Sabe-se o que efetivamente ocorre. Os governos financiam grupos dóceis ao seu controle, que assumem jornais e os meios de comunicação audiovisuais.
Basta ver o que aconteceu com o principal canal de TV da semiditadura venezuelana e o que a Presidente Kirchner tem feito com o jornal Clarin, exclusivamente por terem mostrado, na Venezuela, a violação de direitos fundamentais e, na Argentina, o fracasso econômico do governo.
Na mesma linha, tentou o governo, com os denominados Conselhos populares, criar um poder paralelo ao do Congresso Nacional, com eleições teleguiadas por correligionários, para definir políticas para os esclerosados e inchados Ministérios de 39 cadeiras, no melhor estilo de conselhos semelhantes existentes em algumas ditaduras e semiditaduras, com as quais o governo federal tem estreitas relações e a presidente Dilma, principalmente com a ditadura cubana, particular afinidade.
À evidência, as últimas eleições demonstraram uma fragilização do PT, com uma presidente eleita por estreita margem de votos e por 38% dos eleitores inscritos. 62% dos eleitores não votaram na presidente. De há muito o partido perdeu suas raízes de defensor da ética, quando na oposição, convivendo hoje com o maior assalto público ao dinheiro do contribuinte. São bilhões de reais desviados, por culpa (omissão, negligência ou imperícia) ou por dolo (fraude ou má-fé), beneficiando correligionários e aliados, durante pelo menos oito anos, seja no caso do “mensalão”, seja no do “petrolão”. E a imprensa teve papel fundamental neste desventrar, ao lado da Polícia 2 Federal e do Ministério Público - órgãos que não prestam vênia ao Poder -, o maior escândalo da história do Brasil.
O “petrolão” será examinado pelo Poder Judiciário, pois no “mensalão” já houve decisão. Causa, todavia, particular estranheza que, neste momento, em que o povo começa a descobrir como agiu o governo por culpa ou dolo –não faço avaliação prévia— no desvio do dinheiro público, venha-se novamente falar em controle indireto da imprensa, através do controle das direções dos jornais.
Não conheço o Ministro Berzoini, embora conheça Rui Falcão, com quem, no passado, tive debates na Assembléia e na TV e de quem sempre tive boa impressão. Entendo que a liberdade de imprensa é, todavia, cláusula pétrea da Constituição Federal, por dizer respeito ao mais sagrado direito de uma sociedade de ser informada da verdade, não pelos detentores do poder, mas pela imprensa. Não podem, portanto, ser modificados os fundamentos do “caput” do artigo 220 da Lei Suprema. Além de não ser o momento de discuti-los, fica-se com a impressão que o governo, em conjuntura delicada, na qual se examina sua moralidade, pretende calar a imprensa.
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Um poeta já disse que nada acontece na realidade política de um país sem antes já ter acontecido em sua literatura. Como no Brasil e na América Latina a literatura anda em baixa, a vida real tem imitado os discursos do PT e de seus aliados no continente. A realidade brasileira e latino-americana está cada vez mais parecida com as falas das presidentes Dilma e Cristina: sem lógica, sem direção, povoadas de clichês e ruídos incompreensíveis. Nas raras vezes em que se compreende alguma coisa do que as mandatárias quiseram dizer, pode-se ter certeza de que o oposto ocorrerá. Não é por obra do acaso que Dilma teve o pior início de governo na história da humanidade.
Se for preciso buscar alguma referência literária para o Brasil petista e a América Latina bolivariana, teríamos de ir ao livro 1984, de George Orwell. No país imaginado pelo escritor inglês, havia o Ministério da Verdade (que divulgava a mentira), o Ministério da Paz (que fazia a guerra), o Ministério da Fartura (que escondia a miséria) e o Ministério do Amor (que promovia o ódio). A diferença é que em 1984 havia apenas quatro ministérios; aqui são 40.
Cristina Kirchner é 1984 puro. Basta ver suas reações à morte do promotor Alberto Nisman. Primeiro, a Grande Irmã disse que ocorrera um suicídio. Depois, ela se convenceu de que fora um assassinato. Não me espantarei se amanhã ela disser que a culpa é de Israel, dos Estados Unidos ou do Clarín. Aliás, o que estou dizendo? Na internet, já tem gente culpando George W. Bush.
Também não ficarei surpreso se personagens incômodos para a esquerda brasileira começarem a ter fim semelhante ao do promotor argentino. É sempre bom lembrar que vivemos no país de Celso Daniel, Toninho do PT e 60 mil homicídios por ano. Por sinal, dias atrás morreu um dos delegados que investigaram a morte de Celso Daniel. Pelas minhas contas, é a oitava morte de pessoas ligadas ao caso – e não foi suicídio.
Há 40 anos, o jornalista Vladimir Herzog foi torturado e morto nas dependências do Dops. Os carrascos da ditadura militar tentaram simular um suicídio, mas a comunidade de São Paulo – especialmente a judaica – não aceitou. Ali o regime dos generais começou a morrer. Penso que a morte de Alberto Nisman será também um marco na luta contra os regimes do Foro de São Paulo. Até lá, usarei a minha arma nesta guerra: o Santo Rosário. Rezo uma Ave-Maria por Alberto Nisman, que era judeu, assim como Jesus e sua Mãe.
Na política, dizem que não há melhor pesquisa qualitativa do que uma conversa com um taxista. A minha versão pessoal é o meu cabelereiro – ou barbeiro, na tradução heterossexual. Talvez por isso eu converse com tanto interesse com o sujeito que apara minha cabeleira há uns 15 anos em um salão bacana na orla do Rio. Em nosso último bate-papo, chamou-me a atenção que ele se queixava da perda de vários clientes fiéis por um motivo: estavam todos se mudando do Brasil.
O mesmo assunto dominava o jantar no fim de semana na casa de um amigo na Barra da Tijuca. Dos presentes, entre executivos, empresários e escritores, quem não estava de mudança do Brasil invejava os demais. E assim tem sido, de forma cada vez mais frequente: amigos, fornecedores e até concorrentes me confidenciam que deixarão o Brasil, sem data para voltar. O motivo principal varia, muitos citam a violência, outros a bolivarização do ensino e da mídia, e tantos mais mencionam o inóspito ambiente para negócios, mas o pano de fundo é sempre o mesmo: a completa falta de esperança no Brasil.
O fenômeno, inclusive, parece generalizado, mas, para evitar o terreno subjetivo, sinto-me obrigado a citar exemplos reais. Em meu ramo, mesmo com toda a pujança, recebi a notícia de que a Host Hotels (dona de diversos hotéis no mundo, inclusive os da rede Marriott no Brasil), ao final do ano passado, fechou o escritório do Brasil e cuidará de seus interesses remotamente, de Miami. Algo parecido aconteceu com a gigante Starwood Hotels (dona das marcas Sheraton, Meridien, W, dentre outros), que também cerrou seu escritório de desenvolvimento no Brasil.
Ainda digna de nota foi a verdadeira história recente de outro projeto de hotelaria de altíssimo luxo, cujos investidores – que estão habituados a projetos no Caribe, Angola e Senegal – deixaram o país e encerraram os seus investimentos por aqui com a melancólica frase: “Fuck Brazil!”. Preferiram abandonar as obras pela metade e assimilar um prejuízo multimilionário a permanecer no país que, ainda nas palavras deles, “tem o ambiente de negócios mais hostil que já viram na vida”.
Independentemente de exemplos pontuais, desafio o leitor a examinar sua rede de relacionamentos e me jurar que não conheça alguém que esteja deixando o Brasil. O destino geralmente é Miami (“o Rio de Janeiro que deu certo”), mas pode variar. O importante é que, em minha vida, não consigo me lembrar de um fenômeno deste tipo e nesta magnitude, incluindo o grande êxodo de cariocas após a onda de sequestros no início dos anos 90.
Mas o que me causa grande preocupação não é propriamente a quantidade de pessoas que têm ido embora, mas a qualidade do material humano que nos deixa. Estamos perdendo alguns dos nossos melhores empresários, advogados, engenheiros, cientistas e até intelectuais. Em outras palavras: estamos perdendo aqueles que carregam o Brasil nas costas.
É impossível não estabelecer um paralelo com o livro da filósofa Ayn Rand, A Revolta de Atlas (também publicado com o título “Quem é John Galt?”). Para quem não leu o romance (leia!), trata-se de uma distopia onde, em um país controlado pelo governo e em uma sociedade dominada pelo relativismo e pelo coitadismo, todos os melhores cidadãos produtivos resolvem desistir de seus ramos e se exilar secretamente em um território inalcançável. Não estarei estragando nenhuma surpresa ao dizer que a massa que fica passa a pedir mais intervenção do governo, que é, naturalmente, inútil. Não restava mais ninguém de quem a riqueza pudesse ser sugada e todo o sistema entrava em colapso.
Nada disso aparece em alguma estatística do IBGE, nas projeções do IPEA ou mesmo no relatório Focus do Banco Central. Entretanto, metas de inflação, ajustes no orçamento, PACs, estímulos pontuais a setores, empréstimos do BNDES, regulamentações, programas de distribuição de renda e todas as ações que o governo brasileiro conseguir inventar não surtirão nenhum efeito se aqueles que carregaram o Brasil nas costas até hoje não estiverem mais aqui para fazê-lo. Como andam dizendo, o último que sair não precisará apagar a luz, pois já não haverá energia elétrica.
A primeira excursão de retaliação, no exterior, contra o terrorismo, foi realizada em 28 de dezembro de 1968, após o atentado no aeroporto de Atenas, dois dias antes. Comandos Sayeret – força especial subordinada ao chefe do Estado-Maior do Ministério da Defesa – foram enviados a Beirute, de onde haviam partido os terroristas. No Aeroporto Internacional de Beirute, um grupo, chegado de helicóptero, à noite, explodiu 13 aviões vazios da Middle East Arlines do Líbano e outras empresas árabes. O Ministro da Defesa de Israel era, então, o general Moshe Dayan.
Em 1969-1970, durante a chamada Guerra de Atrito, em que disparos aleatórios de artilharia mataram milhares de egípcios e israelenses, comandos Sayeret voltaram a realizar um golpe espetacular, explodindo um complexo de radar de fabricação soviética no lado egípcio do Golfo de Suez. Na noite de 26 de dezembro de 1969, os Sayeret, utilizando dois helicópteros, retiraram do Egito e transportaram para Israel uma estação completa de radar, com suas antenas giratórias e painéis de controle, pesando cerca de 7 toneladas.
A luta contra o terrorismo intensificou-se em 1972. Em 8 de maio desse ano, quatro palestinos seqüestraram o avião da SABENA que realizava o vôo 571 de Bruxelas para Tel-Aviv, quando do pouso previsto no aeroporto de Lod, em Israel. Mantendo 100 passageiros e tripulantes como reféns, exigiram a liberdade de 317 guerrilheiros palestinos presos em Israel. Às 04:22 horas do dia seguinte, 9 de maio, um comando Sayeret, disfarçado com os macacões do pessoal de manutenção, invadiu o Boeing e matou dois dos quatro terroristas, prendendo os outros dois. Um passageiro israelense morreu e 97 reféns foram libertados.
Muitas nações, depois, criaram suas próprias unidades de comando baseadas no modelo israelense. Alemanha Ocidental, Inglaterra e outros países enviaram agentes de segurança e comandos militares a Israel, onde receberam treinamento ministrado pelo Sayeret. Posteriormente, a Alemanha Ocidental criou uma força semelhante, denominada GSG-9.
O círculo vicioso da violência atingiu o auge nos Jogos Olímpicos de Munique, em 5 de setembro de 1972, quando sete terroristas árabes capturaram onze atletas israelenses na Vila Olímpica. Os terroristas disseram-se membros do Setembro Negro, uma ramificação da OLP, e passaram a exigir a libertação de 250 terroristas palestinos presos em Israel. O governo israelense manteve-se firme em sua política de nunca negociar com terroristas.
O governo alemão-ocidental não permitiu que Israel enviasse um comando Sayeret para cuidar do caso, que ficou entregue às autoridades locais, e Zvi Zamir, diretor do MOSSAD, que se deslocara para Munique, assistiu, da torre de controle do aeroporto militar da cidade, os reféns israelenses sendo mortos, já sentados e algemados nos helicópteros, na pista, em represália a um desastrado ataque de atiradores alemães mal equipados e mal adestrados.
Golda Meir, então na direção do Estado de Israel determinou pessoalmente que “aqueles que haviam matado deveriam ser mortos, onde quer que estivessem” (“vamos matar os que mataram”, disse ela), assumindo a decisão histórica, mas ultra-secreta, de assassinar todos os terroristas do Setembro Negro envolvidos, direta ou indiretamente, no planejamento, preparo e execução do massacre dos atletas olímpicos. A missão não previa a captura de ninguém. Tratava-se, pura e simplesmente, de levar o terror aos terroristas. Decisão muito semelhante, independente de ordens de quem quer que seja, foi adotada nos anos 70 por aquele grupo de militares e civis que, no Brasil, nas cidades e nos campos combateu o terrorismo, os seqüestros, os assassinatos seletivos, os assaltos e os justiçamentos.
Mike Harari, um dos veteranos agentes do Departamento de Operações do MOSSAD foi incumbido da tarefa de matar os que mataram.
O primeiro a morrer foi Adel Wael Zwaiter, em Roma, em outubro de 1972, apenas um mês após o Massacre de Munique. Nos 10 meses seguintes a equipe de Mike Harari matou 12 palestinos do Setembro Negro, em Paris, Roma e Nicócia, no Chipre. Além disso, dois comandantes do Setembro Negro – Muhammad Najjar e Kamal Adwan -, bem como o porta-voz da OLP, Kamal Nasser, foram mortos em suas casas, no centro de Beirute, em 10 de março de 1973, por um comando Sayeret, em uma operação organizada conjuntamente pelo AMAN e MOSSAD.
Em julho de 1973, no entanto, a equipe de Mike Harari cometeu um terrível erro, que pôs fim à operação. Em Lillehammer, pequena cidade da Noruega, foi morto um garçon marroquino, na noite de 21 de julho, confundido com Ali Hassan Salameh, oficial de operações do Setembro Negro na Europa e comandante da Força 17, uma unidade da OLP responsável pela segurança de Yasser Arafat. Seis agentes do MOSSAD foram presos pela polícia norueguesa e encontradas provas que ligavam o grupo aos assassinatos sem solução de palestinos em diversos países. Somente Mike Harari conseguiu escapar da Noruega.
Cerca de cinco anos depois, em 22 de janeiro de 1979, outra equipe israelense estacionou um carro cheio de explosivos à beira de uma estrada, em Beirute, e o detonaram, por controle remoto, no exato momento em que outro carro passava pelo local. O terrorista Ali Hassan Salameh e seu carro foram pulverizados.
Sabe-se que a CIA não ficou satisfeita com essa operação, pois Ali Hassam Salameh era a ligação secreta entre a OLP e a CIA. Esse fato comprova que os Serviços de Inteligência, assim como as nações, não têm amigos. Apenas interesses frios e objetivos.
O aspecto espantoso da história do LAKAM (Departamento de Ligação Científica) é que, apesar de todas as suas atividades de espionagem, as agências de Inteligência estrangeiras parece nunca terem tido conhecimento de sua existência. O LAKAM tornou-se parceiro da África do Sul em projetos clandestinos, inclusive a pesquisa nuclear e de mísseis.
A especialidade do LAKAM era adaptar – e não apenas copiar – as invenções de outros países. Assim, o míssil MD-660, fornecido pela França, gerou uma família de mísseis: primeiro, o Luz; depois, o Jericó.
Após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, o presidente Charles de Gaulle impôs a Israel um embargo de armamentos, recusando-se até mesmo a entregar munição, embarcações e aviões que Israel já havia pago. As cinco lanchas lançadoras de mísseis adquiridas pela pequena Marinha israelense antes do anúncio do embargo, ficaram retidas no porto de Cherbourg. O impasse diplomático para a entrega dessas embarcações foi resolvido quando o MOSSAD adotou a ação direta. Agentes secretos, que haviam verificado todos os pontos vulneráveis do estaleiro de Cherbourg, conduziram algumas dezenas de militares da Marinha israelense à França, em fins de 1969 e, na véspera do Natal, o grupo apossou-se das lanchas, levando-as para o porto de Haifa, em Israel, a uma distância de cinco mil quilômetros. A parte burocrática da operação, incluindo falsos contratos e outros documentos, foi resolvida por empresas do Panamá controladas pelo MOSSAD.
O LAKAM tinha o sentimento de tomar tudo o que precisava mas não conseguia obter através de negociações. O roubo, o suborno e outros esquemas ilegais sempre foram usados para obter tesouros valiosos que ninguém se dispunha a vender.
Uma dessas manobras ocorreu na Suíça, onde o Adido Militar de Israel, coronel Dov Sion – que por acaso era genro do general Moshe Dayan – recrutou um engenheiro suíço, Alfred Fravenknechet, que trabalhava em uma fábrica de motores para o avião francês Mirage.
Seis meses depois, Israel contava com um novo avião de guerra, o Nesher, que aproveitava um pouco da tecnologia do Mirage. A 29 de abril de 1975, Israel apresentou orgulhosamente o seu mais novo caça a jato, o Kfir, que tem extraordinária semelhança com o Mirage.
A reputação do LAKAM na comunidade de Inteligência israelense adquiriu proporções míticas na década de 70, e havia a convicção disseminada de que Israel alcançaria seu objetivo de entrar para o seleto clube nuclear através do reator de Dimona – montado em instalações ultra-secretas no deserto de Negev -, cedido pela França em 2 de outubro de 1957, através de um documento secreto assinado pelo Primeiro-Ministro Bourge-Maunnoury, 24 horas antes de ser substituído no cargo.
* Historiador
Dados bibliográficos: Noticiário da imprensa nacional e internacional e livro “Todo o Espião é um Príncipe”, Imago Editora, 1991, de Dan Ravin e Yossi Melman.
Muita gente critica as chamadas redes sociais. Mas bem usadas elas são uma excelente ferramenta de informação.
Dias atrás vi uma publicação no Facebook que dizia assim:
“Estupidez: conhecer a verdade, ouvir a verdade, ver a verdade e ainda acreditar na mentira”.
Não é perfeito? Pois basta ler as manchetes dos veículos de comunicação dos últimos sete dias para constatar o quanto há de verdade na afirmação.
"Após ganhar favor milionário do governo, empresário doa R$ 17 milhões para campanha de Dilma - Walter Faria, dono da cervejaria Itaipava, conseguiu renegociar em 24 horas empréstimo camarada com o Banco do Nordeste. Cinco dias depois, depositou R$ 5 milhões na conta do comitê da petista" (Época)
Outra (essa é fantástica):
"Ex-ministro Gilberto Carvalho saiu em defesa do ex-ministro José Dirceu; ele afirma que as (novas) acusações contra Dirceu na Lava Jato seriam uma tentativa da oposição de criminalizar o partido e impedir a volta de Lula em 2018: "Eles querem nos levar para as barras dos tribunais. Não vamos subestimar a capacidade deles para nos criminalizar, nos identificar com o roubo, para nos chamar de ladrão, para tentar nos isolar e inviabilizar em 2018 a candidatura do Lula (...)"- 27 DE JANEIRO DE 2015 ÀS 05:13
Ou:
“A Fundação Perseu Abramo do PT, divulgou um boletim no qual coloca em dúvida os efeitos do “ajuste recessivo” de Dilma A Fundação Perseu Abramo recebe pelo menos 20% dos recursos do Fundo Partidário destinados ao PT.” (O Globo)
Chega? Que tal essa? "Presidenta é acusada indiretamente por três executivos presos no esquema de corrupção - Será que a paciência dos brasileiros não tem limite?" - por Juan Arias (El Pais)
Pois é. Será que não tem?
“Documentos conseguidos pelo Jornal Nacional mostram que a Justiça decretou a quebra dos sigilos fiscal e bancário de José Dirceu A empresa dele, JD Consultoria, recebeu quase R$ 4 milhões de empresas envolvidas no esquema." (Globo)
Mais:
"Apontado pelos investigadores da Operação Lava Jato como coordenador do “clube” de empreiteiras que fraudavam licitações na Petrobras, o empresário Ricardo Pessoa, da UTC-Constran, negocia um acordo de delação premiada com os procuradores que atuam no caso." (Folha de S.Paulo)
É mole? Então vejam essa:
"Amigo íntimo do ex presidente Lula é investigado no petrolão. Ele tinha acesso livre ao Palácio do Planalto na gestão Lula e até hoje resolve problemas de sua família”.(Revista Veja)
Estamos mesmo lá fora. Vejam:
"Reportagem da TV Portuguesa expõeLula envolvido em esquema internacional de corrupção e propinas – Reportagem da ‘TVI 24’diz que Lula estaria sendo investigado por autoridades portuguesas em razão de um suposto suborno de 2 milhões de euros que teriam sido pagos por Miguel Horta e Costa, então presidente da Portugal Telecom para financiar o PT" – (Folha Política)
Muita gente desgostosa poderia até dizer que isso é invenção contra o atual governo. Mas está em todos os lugares, no mundo inteiro. Inclusive, acho uma graça as reportagens de TV – especialmente do Jornal Nacional - mostrando o consumo de energia de cada eletrodoméstico, em meio a(s) crise(s) que atravessamos. Nem ao menos relembram que Lula incentivou o povo a gastar o que não tinha, via endividamento, no desespero para conter o tsunami econômico de 2008, que insistia em chamar de "marolinha". Foi uma irresponsabilidade econômica e a conta chegou. O que ele faz? Tenta fazer descolar de Dilma, claro.
Mas é pior ainda. O pouco que já se sabe dos elementos e provas fornecidas por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef , põe por terra qualquer tentativa de amenizar o momento inédito que atravessamos.
Se vai dar cadeia, isso dependerá do judiciário. Existe pressão por transformar em multas o que deveriam ser penas exemplares. O advogado de Alberto Youssef, garante que "essa situação foi coordenada e tramada a partir da própria Petrobras. Há claros e fortes indícios de participação dos políticos, que não vou nomear, pois isso deve ficar a cargo da investigação. Meu cliente não é líder de nada. Eles (os políticos) é que vão atrás e criam o sistema para o esquema de manutenção no poder. O esquema na maior estatal do país só pode funcionar com a anuência dos políticos. Isso era fato notório dentro da empresa".
Youssef demonstrou ao juiz Sérgio Moro que o esquema de corrupção na Petrobras vinha de cima. Explicou como o sistema remunera políticos com a grana desviada do setor público. Nenhuma novidade. É a mesma mecânica do Mensalão, só que muito maior. A diferença foi colocar o dinheiro de corrupção como doação legal a partidos e campanhas. O sistema funcionou para financiar grupos e partidos políticos e quando migrou para a doação legal a campanhas e partidos atingiu o núcleo da democracia, pois, quando alguns partidos passam a deter o domínio de uma grande verba, há um desequilíbrio no sistema eleitoral. Lembram das palavras de Joaquim Barbosa na sentença do Mensalão?
Estamos em meio a um golpe econômico/financeiro nas instituições. Não enxergá-lo é estupidez.
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Quando, na década de 1970, eu era uma criança, estudei numa escola pública. Morando a cerca de cem quilômetros de Porto Alegre, meu pai era médico numa cidadezinha que, na época, não tinha mais do que 30 mil habitantes. Lembro, um por um, dos nomes das professoras que chamávamos de “tias”. Toda vez que uma delas entrava em sala de aula, era nosso costume se levantar e não se começava lição alguma sem antes rezar o “Pai Nosso” ou a “Ave Maria”. Esses hábitos, firmados pelo tempo e pelo costume, davam sentido ao meu universo, então o universo de um menino, alheio à vida política do país..alheio a qualquer necessidade ou obrigação da rotina adulta que aos poucos nos vai roubando essa impressão de realidade fantástica em que transcorre o cotidiano do mundo infantil.
Tenho, desse tempo, uma lembrança inesquecível: em certas ocasiões faltava, por um motivo ou outro, uma de nossas professoras. Era costume então que uma outra “tia” nos levasse a um grande salão – na verdade imenso aos olhos de uma criança – onde assistíamos filmes que a secretaria estadual de educação distribuía em suas unidades pelo Rio Grande do Sul. Eram eles, os filmes, pequenos documentários...pequenas aulas sobre países e fatos da história ou da natureza que, no Brasil dos anos 70, constituíam uma raridade...uma verdadeira iguaria numa década em que sequer se poderia imaginar uma coisa chamada internet...Escutar rádio em ondas curtas era o que de mais próximo havia para quem buscava escapar do Jornal Nacional, da Novela das Oito, do Cassino do Chacrinha ou dos Trapalhões.
Nessa época, em 1976 ou 77, eu não tinha a menor ideia de quem eram Médici ou Geisel...eu não conseguia entender o significado das palavras ditadura ou democracia e olhava curioso para multidão que se reuniu, quase em frente à casa em que morávamos, para receber a estátua do General Costa e Silva numa praça da cidadezinha em que eu vivia e na qual ele havia nascido. Naqueles dias, ninguém me poderia explicar por que os temas dos documentários que a escola nos mostrava eram tão distantes da realidade brasileira...Por que nós precisávamos assistir filmes sobre a vida na China antiga ou sobre as usinas termoelétricas da Alemanha?...Qual o sentido de mostrar a um menino de 11 ou 12 anos, nascido no Rio Grande do Sul, os filmes em super oito que os consulados em Porto Alegre pareciam oferecer como presente para minha imaginação que, uma vez despertada, obrigava meu pai a voltar da antiga Livraria do Globo com sacolas e mais sacolas de livros?
Quarenta anos depois disso que eu descrevi...depois de tudo que aconteceu no país...depois de homem feito e pai de família, não é difícil dar sentido aos filmes que a escola me apresentava. Era o próprio distanciamento, o próprio esquecimento do Brasil que se fazia necessário impor nos bancos escolares: a ditadura nos oferecia “viagens”...nos mostrava outros países e outras histórias...Não se “politizava” estudantes...Não se alimentava a “subversão”...
Ontem, 26 de janeiro de 2015, durante todo o dia, eu tive pela TV, pelo rádio e pela internet brasileiros, uma quantidade maior de informações sobre a tempestade de neve nos Estados Unidos do que qualquer outro assunto. Eu fiquei sabendo tudo sobre a preparação de Nova Iorque para enfrentá-la. Eu assisti entrevistas, eu vi o prefeito dando declarações..vi comparações com tempestades anteriores...Eu vi tudo isso na mesma semana em que o Brasil do PT, em virtude da falta d'água, desliga sua segunda usina hidroelétrica e a maior cidade do mundo abaixo da linha do Equador, São Paulo, segue ameaçada por apagões e pelo racionamento de luz e de energia..Eu voltei no tempo e me senti mais uma vez um menino da década de 70...uma criança para quem as palavras “atentado à bomba” ou “subversão” precisavam ser esquecidas nos documentários que eu assistia e que marcaram minha vida para sempre...Vida que hoje, já no seu outono, ainda enxerga esse mundo de 2015 com os mesmos olhos de um menino da Taquari da década de 70 assistindo quietinho, impressionado, no salão da velha escola um filme lindo e sem sentido repetido dezenas e dezenas de vezes ….. “A Primavera no Japão”
Para o meu pai...que me ensinou a ler...
Porto Alegre, 27 de janeiro de 2015.