• Igor Morais
  • 08 Maio 2015


(Publicado originalmente no pontocritico.com. O autor é economista e presidente da Fundação Estadual de Economia (RS) e membro do Grupo Pensar+)


Não há dúvida sobre o ganho de confiança que se desenha para o Brasil na concretização de uma mudança de Presidente que, fundamentalmente, representa a troca de visão sobre a economia. Porém, devemos estar prontos para ver apenas isso, exatamente porque, na verdade, o novo presidente assume com uma crise já contratada e que tem repercussões para vários anos.

REFORMAS ESTRUTURAIS
Mas, sejamos otimistas. Imagine que, em 60 dias, diversas reformas estruturais que estiveram ausentes na agenda da esquerda dos últimos anos sejam aprovadas. Isso seria fantástico, fazer em dois meses o que não fizemos em 13 anos. Mesmo assim, os impactos sobre o lado real serão lentos e o ano de 2016 deverá ter mais uma queda do PIB de 3,6% a 4%, aumento do desemprego podendo chegar a 14% e totalizando 15 milhões de desempregados, outro déficit primário no Tesouro Nacional e aumento da dívida pública.

GRAU DE INVESTIMENTO
Por fim, ainda vai demorar para que as agências de classificação de risco recoloquem o Brasil como Grau de Investimento. Mas ainda há um lado perverso reservado para um futuro ainda mais longínquo, que é a piora da distribuição de renda.

RENDA
Sabemos que a renda de uma família é composta por praticamente quatro tipos: salário, renda de aluguel, de comercialização de patrimônio e de juros. Famílias mais pobres conseguem ter renda apenas de salário. Já as mais ricas, absorvem rendas diversas, seja do aluguel de uma sala comercial, quando vende um bem mais caro que comprou ou então de juros. Vejamos esse último caso.

DÍVIDA EM PODER DO BANCO CENTRAL
Atualmente o total de dívida interna em mercado que vence em 5 anos é de R$ 1,7 trilhão e 80% desse total é de títulos prefixados que pagam juros médios de 14% ao ano. Mesmo no melhor dos cenários daqui em diante, com juros perto de 8%, os detentores desses papéis prefixados irão receber bem mais que isso, o que irá adicionar renda ao seu patrimônio.
Por outro lado, as famílias mais pobres não terão essa oportunidade. O FMI projeta taxa média de crescimento de 0,5% ao ano para o Brasil entre 2016 e 2021. Se iremos crescer pouco, criaremos pouca oportunidade de emprego e as famílias de baixa renda irão ter dificuldade de adquirir renda de salário.

CONSERTAR É MUITO MAIS DIFÍCIL
Já dá para perceber que o resultado líquido de juros mais altos com menor crescimento será uma piora da distribuição de renda no Brasil. Algo que, certamente, já está contratado para os próximos cinco anos. Consertar é muito mais difícil.

 

 

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  • Igor Morais
  • 07 Maio 2015

Que a economia brasileira estava em um processo de desaceleração desde meados de 2014 e que isso iria atingir o mercado de trabalho em determinado momento, não há dúvida. A expectativa estava centrada na magnitude desse ajuste. A cada mês a realidade que se mostra configura um cenário perturbador. A divulgação da taxa de desocupação do mês de março da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), feita pelo IBGE, naquilo que entendemos como taxa de desemprego, é preocupante. O resultado de 6,2% é o maior, para meses de março, desde 2011, sinaliza que há 1,5 milhões de pessoas procurando emprego nas seis regiões metropolitanas onde a pesquisa é realizada e que não encontrou e é o pior início de ano desde 2006.

O número final em si já é motivo de preocupação, apesar de esperado por analistas. Mas há algo que precisa ficar claro. Esse reflete um resultado para apenas seis regiões metropolitanas, não contemplando todas as capitais do Brasil e nem cidades consideradas de menor porte, como Santos, Caxias do Sul, Uberlândia e por aí vai. O leitor já percebeu o problema. A atual taxa de desemprego não consegue captar o que está acontecendo nesses lugares. Como exemplo, vou analisar nesse artigo a indústria, um setor que emprega quase nove milhões de pessoas no Brasil. Sabemos que as indústrias estão, em sua maioria, fora dos grandes centros urbanos, em muitas dessas cidades de porte médio e totalizando 6,5 milhões de empregos, ou seja, 73% do setor. Como esse está em crise há vários anos, podemos deduzir que os empregos perdidos nessas regiões ainda não estão nas estatísticas e provavelmente não irão aparecer. Ou seja, a situação é pior do que os dados revelam. Outro ponto que corrobora com a tese de que “estamos pior do que se imagina” é que uma parte significativa de trabalhadores ainda recebe o seguro-desemprego, e isso limita a busca por uma nova colocação. Lembre-se que o indicador de desemprego reflete a sequência de eventos: procurou emprego e não achou. Se achar, não é desempregado. Se não procurou, também não é desempregado.

Além disso, o contingente de trabalhadores que ficam em “disponibilidade” em casa, esperando a empresa melhorar para voltarem a atividade, não são contabilizados como desempregados. Mesmo assim, somente nos três primeiros meses de 2015 foram gastos R$ 10,7 bilhões com seguro-desemprego contra R$ 10,1 bilhões no mesmo período do ano passado. E olha que a partir de 1º de março o Governo começou a tornar mais difícil aos trabalhadores obter esse benefício. O que isso significa para a economia? A situação está ruim e pode ficar pior? É possível determinar um prazo final para esse cenário? Em primeiro lugar o impacto imediato de uma perda ou queda da renda é sobre o consumo, atingindo o comércio.

Os números só não são piores, por dois motivos. Primeiro que a pesquisa do setor não capta o comportamento dos micro e pequenos negócios, também concentrados nas regiões menores. Em segundo, devido o amortecedor de renda que é o seguro-desemprego. Mas, esse benefício tem prazo, portanto, espere por vendas em queda, em especial para produtos supérfluos. Sim, com a queda da renda podemos ter um aumento da inadimplência e mais restrições de crédito a frente, realimentando o ciclo restritivo. Qual seria o prazo final para esse cenário? Como essa parcela da população que solicitou o seguro desemprego recentemente deve ter o benefício por um determinado período, é natural imaginar que, em meados do ano, provavelmente entre julho e agosto, os números do mercado de trabalho mostrem uma piora na situação.

Portanto, é possível sim que a situação fique pior quando se trata de dados do mercado de trabalho até agosto ou setembro de 2015. E quando é que termina essa crise? A notícia boa é que não há mal que perdure. Um dia realmente ela irá passar. Os números mostram que iniciamos o processo de desaceleração em julho/agosto de 2014. Considerando um ano inteiro perdido, como o de 2015, a chance da economia começar a sair dessa crise no primeiro trimestre de 2016 aumenta isso porque poucas foram as situações no qual o Brasil atravessou um ciclo tão extenso de crise como deve ser o atual. O que pode fazer com que essa previsão não se concretize é a piora na situação política ou um novo choque negativo de preços, câmbio ou então externo e que pode realimentar um novo ciclo de queda na confiança, vendas, produção e com impactos sobre o mercado de trabalho. A questão é que tal como colocado o plano macroeconômico de enfrentamento da atual situação, a economia ficará moribunda por vários meses. É um pacote a conta gotas. Não há robustez no controle de gastos e o Banco Central faz mudanças pontuais nos juros, sem penalizar os bancos públicos, que continuam a expandir moeda. E mais problemas podem aparecer. Com menor número de pessoas com carteira assinada, o INSS arrecada menos, o Governo recolhe menos impostos e gasta mais com benefício social e reduz o funding do BNDES. Está faltando sim mais energia, por parte do Governo, no enfrentamento dessa crise. Acontece que até essa ficou cara nos últimos meses.

http://igoracmorais.com.br/
 

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  • Hermes Rodrigues Nery
  • 06 Maio 2015

1 - O Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Coalizão encabeçada pela CNBB-OAB não foi objeto de deliberação na 53ª assembleia dos Bispos. Estamos falando do PL em si [http://www.reformapoliticademocratica.org.br/…/projetodelei…]. O PL não foi nem discutido nem votado por todos os Bispos presentes na Assembléia. Não estamos nos referindo à NOTA do momento nacional [http://www.cnbb.org.br/…/16376-cnbb-divulga-nota-sobre-o-mo…] que foi votada, e que faz apenas uma ligeira menção à "proposta da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, da qual a CNBB é signatária, se coloca nessa direção", mas ao PL em si, que deveria ter sido analisado, com a devida contextualizaçaõ e suas implicações, etc. O PL em si não foi deliberado. 

2 - O Cân. 454 do Código de Direito Canônico é explícito em dizer que "nas assembléias gerais das Conferências dos Bispos, o voto deliberativo compete ipsu iure, aos Bispos diocesanos" [§1º], e "compete o voto deliberativo ou consultivo, de acordo com as prescrições dos estatutos da Conferência; esteja firme" [§2º]. O fato é que nem todos os Bispos estão conscientes das implicações desta "reforma política", não há consenso nesta questão, pois nem todos leram e estudaram o assunto, a fundo, e muito menos votaram, com firmeza, conforme requer o Cân. 454, referente às decisões da Assembléia das Conferências episcopais.

3 - Quando dizemos que o Projeto de Reforma Política da Coalizão encabeçada pela CNBB-OAB favorece o PT e muitos fazem cara de espanto e indagam: "aonde está escrito que favorece o PT no PL?", é porque não sabem ou não querem fazer a leitura devida do documento. Pois bem, damos aqui um exemplo: No art. 18 do referido PL diz claramente que, com o financiamento público de campanha, "os recursos do Fundo Democrático de Campanhas serão distribuídos entre os partidos políticos na seguinte proporção: [...] 75% (setenta e cinco por cento) divididos entre os partidos políticos de forma proporcional em relação ao número de deputados federais eleitos no pleito anterior". Isso quer dizer que, nas eleições de 2018, caso seja aprovada esta "reforma política" o PT terá a maior parte do recurso público porque possui atualmente a maior bancada na Câmara dos Deputados: [http://g1.globo.com/…/pt-e-pmdb-encolhem-mas-mantem-maiores…]

4 - A Reforma Política da Coalizão encabeçada pela CNBB-OAB, portanto, favorece o PT e seu projeto de poder totalitário exposto no Caderno de Teses e nas atas do Foro de São Paulo, projeto este declaradamente socialista, inclusive, dentre outros pontos de sua agenda, a legalização do aborto no País, etc. Tais propósitos do PT conflitam flagrantemente com a sã doutrina moral e social da Igreja, daí os questionamentos de muitos católicos quanto ao apoio da CNBB a este específico projeto de "reforma política", com o agravante do PL em si não ter sido objeto de deliberação na Assembleia.

Questionamentos estes legítimos, que querem preservar a Igreja Católica da ideologização da fé e instrumentalização de ideologias e forças políticas contrárias á fé cristã.
 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 04 Maio 2015

 

IMPOSTO SINDICAL
É de se imaginar que todos os trabalhadores (os) formais, contratados com carteira assinada, saibam que, não por vontade própria, mas por determinação legal, são obrigados a contribuir com seus sindicatos através do imposto sindical.

CUT
Por outro lado imagino que pouquíssimos sabem que a CUT, maior central sindical brasileira, que congrega 3.438 entidades com mais de 22 milhões de trabalhadores (as), é umbilicalmente ligada ao PT (leia-se governo Lula/ Dilma), que administra (??), de forma absurdamente irresponsável, o dinheiro dos trabalhadores que compõe o FGTS e o FAT, por exemplo.

FGTS
Pois, antes que o dinheiro simplesmente desapareça (não falta muito), sugiro que os confiantes trabalhadores, inocentes e mal informados, exijam que a Caixa Econômica Federal mostre, de forma detalhada e transparente, as operações de empréstimos feitos com recursos do FGTS, cuja -administração- desse Fundo é de sua responsabilidade. Mas, preparem-se, pois não há dúvidas de que vão ficar apavorados. 

FAT
Da mesma forma também sugiro que exijam que o BNDES, que -administra- o FAT -Fundo de Amparo dos Trabalhadores-, identifique as operações de empréstimos feitas, não só com esses recursos que pertencem aos trabalhadores, mas os recursos do Tesouro, que pertencem aos pagadores de impostos.
Mas, atenção: antes de olhar as contas proponho que tomem um remédio forte para aguentar a decepção.

ACELERAR O CRESCIMENTO (???)
Como bem lembra FHC, através do texto publicado ontem, no Estadão, -no afã de "acelerar o crescimento" usando o governo como principal incentivo, as contas públicas passaram a sofrer déficits crescentes. Pior: dada a conjuntura internacional negativa e o pouco avanço da produtividade nacional, também as contas externas apresentam índices negativos preocupantes quando comparados com o PIB brasileiro (cerca de 4%, com viés de alta).

RESPONSÁVEIS PELO FRACASSO
Ora, se o PT está claramente destruindo a economia brasileira, por vontade própria, a CUT tem muito (ou tudo) a ver com isso. Como a Central Única dos Trabalhadores é sustentada pelos 22 milhões de trabalhadores (as) filiados, através de seus sindicatos, todos esses, mal ou bem informados, precisam saber que o simples desconhecimento dos fatos não lhes tira a responsabilidade do fracasso.

FACHIN
Bom seria se esses 22 milhões se interessassem em saber que seus recursos estão sendo desviados por absoluta incompetência misturada com populismo e assistencialismo. Caso isso venha a ocorrer precisam saber que estarão abrindo o caminho para tirar o país do projeto -bolivariano-petista-.
Outra importante sugestão aos enganados pela CUT: tratem de pedir aos seus senadores que não aprovem o nome do Luiz Edson Fachin, como novo ministro do STF. Fachin, para quem não sabe, está alinhado com os propósitos do Foro de São Paulo. Ou seja: as decisões judiciais devem coincidir com as decisões do PT. Que tal?


 

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  • Sacha Calmon
  • 04 Maio 2015

(Publicado originalmente no Correio Braziliense - 03/05/15)

Houve um caso em Minas, em encerros de liquidação extrajudicial do Banco Agrimisa pelo Banco Central. Esse banco fez um mútuo a empresa do Grupo Rural no valor de US$ 10 milhões em Belo Horizonte. O Banco Rural, na agência em Salvador, a seu turno, emprestou ao grupo controlador do Agrimisa o mesmo valor, com a mesma taxa de juros e o mesmo dia de vencimento. Tratava-se de uma operação cruzada envolvendo dois bancos: o Agrimisa e o Rural, e duas empresas ligadas a eles – o que é proibido pela legislação do BC ( até a presente data).

Na verdade, o Agrimisa estaria “emprestando” R$10 milhões a uma empresa do Banco Rural e este outro tanto ao grupo controlador do Agrimisa. Operações reais simulando negócios lícitos entre empresas diversas mas juridicamente volteando a lei para ocultar “financiamentos” desses bancos às empresas dos seus grupos. Mais tarde o caso resolveu-se e houve a conversão da liquidação do Agrimisa em ordinária.

Ante os papéis bisonhos da AGU, do BC e do Ministério da Justiça, que negam ter o BB, a CEF e o BNDES “emprestado” dinheiro ao Tesouro para fechar as contas deficitárias do governo, detectadas pelo TCU, que é o órgão de fiscalização a serviço do Poder Legislativo (CF, art. 71) veio a calhar a lembrança desse caso.

O que significa o negócio jurídico do mútuo se não a entrega atual de certo montante monetário, a prazo, vencendo juros e com dia certo no futuro do retorno do principal? O que é uma operação de crédito se não tomar dinheiro à vista ou, quando for preciso, de terceiros, com a obrigação de devolvê-lo com juros e demais deveres acessórios?
A legislação brasileira está de acordo com a legislação internacional que juramos respeitar quando assinamos Tratado Bancário Internacional nesse sentido. Diz ainda que concorda com transparência e se coaduna com a Lei de Responsabilidade Fiscal a obrigar União, Estados e Municípios a não se endividarem indiretamente mediante transações bancárias além dos limites previstos na Lei de Diretrizes Orçamentárias, sejam os bancos controlados ou não pelos governos.

Qual é a razão? Obrigar os governantes a não extrapolarem os limites orçamentários (seriedade e responsabilidade na administração da coisa pública). Caso contrário, que se volte ao tempo da conta movimento o BB, que era saco sem fundo à disposição do governo federal. E que voltem os bancos oficiais a fornecer dinheiro graciosamente aos controladores. A Lei de Responsabilidade Fiscal, ao lado da estabilização do real, da privatização das teles e das siderúrgicas que só davam prejuízos e hoje lucram, são os grandes feitos de FHC. A preservação das conquistas é imperiosa.

Ao não cumprir o superávit primário, obrigando o Congresso a alterar o Orçamento no final do exercício, o governo Dilma cometeu crime de responsabilidade. Ao tomar R$ 40 bilhões da CEF, do BC e do BNDES, instituições bancárias sob seu controle para maquiar as contas que não fechavam, Dilma cometeu pela segunda vez grave crime de responsabilidade, capaz de levá-la ao impeachment.

Há ainda um terceiro fato, sabido, mas ainda não imputado, que a faz ré de crime de responsabilidade. Violou a competência exclusiva do Congresso Nacional ao financiar, sem autorização, o porto de Mariel em Cuba. Art 49 da Constituição Federal: “ É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I – resolver definitivamente sobre tratados, acordo ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. E diz o art.85: São crimes de responsabilidade os atos do presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: I - ...; II – o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; III- ...; IV-...;V- a probidade na administração; VI- a lei orçamentária ; VII- o cumprimento das leis e das decisões judiciais”.

Que a nação é leniente, como país latino-americano que somos, compreende-se. O que não se entende é o senhor Fernando Henrique Cardoso dizer”que há um fato objetivo ou não há”. Estou convidando-o a explicar à nação para fins de impeachment, nos termos da Constituição, o que é , ao fim e ao cabo, o seu enigmático “fato objetivo “.
Estamos fartos de meias palavras e de panos quentes . Curvo-me aos seus cabelos brancos, embora os tenha igualmente. Sua palavra vale mais. O grande entrave é a autorização de 2/3 do Congresso Nacional para iniciar o processo de impedimento, segundo penso. Questão de conveniência e oportunidade. Questão política, jamais questão jurídica ou constitucional.

*Ex-professor titular da UFMG e da UFRJ, advogado e coordenador da especialização em direito tributário das Faculdades Milton Campos

    

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  • Marcelo Madureira - entrvistado
  • 04 Maio 2015

Ricardo Mioto
EDITOR-ADJUNTO DE "COTIDIANO" - FOLHA


O humorista Marcelo Madureira, 56, acha que o PT promove no país a vitória da parasitagem do Estado: a classe média quer um emprego público, os pobres querem bolsas assistencialistas e os ricos querem "Bolsa BNDES".
Enquanto isso acontece, os artistas, que ficaram reféns de dinheiro público, se omitem, afirma. "Em um momento como este, cadê o Caetano Veloso, o Chico Buarque?"
Madureira é um entusiasta dos protestos contra o PT e esteve nos eventos de março e abril, inclusive discursando aos manifestantes.
Ele, que foi militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na juventude, diz que a esquerda contemporânea tem "formação política tabajara" e não tem senso de humor. Leia, abaixo, a entrevista concedida à Folha.

Folha - Existe agora uma nova direita no país?
Marcelo Madureira - Não dá para limitar a discussão aos termos esquerda e direita. A pergunta é que tipo de sociedade queremos. Aí eu digo: certamente não é a que o PT quer. Certamente não é aquelas que as pessoas que se dizem de esquerda propugnam, mesmo porque elas não sabem bem o que querem. É muito estranho. Hoje as pessoas se dizem de esquerda, mas não sabem dizer se são a favor ou contra a propriedade privada dos meios de produção.

Uma crítica comum é que existe uma "esquerda de Facebook", que não se dedicou muito à leitura...
Sim, é toda uma geração politicamente despreparada. A esquerda de hoje tem uma formação política tabajara. Você precisa perceber algo: o que as pessoas querem é ser legais, parecer legais, querem ser do bem. Na minha época era mais fácil. A direita era o mal, a esquerda era o bem.

Mas isso não existe mais. O mundo se apresentou muito mais complexo. Essa tentação de ter resposta para tudo não convence mais.
Mas sempre houve a noção de que os fins justificam os meios
Mas os fins serem a conta bancária da cunhada? [risos]

Sua crítica maior ao PT é a corrupção?
Não. Muito pior que a roubalheira, é a incompetência. A questão na Petrobras não é só roubar, é a gestão desastrosa. O que nos alivia é: embora tenham batido os recordes, talvez sejam incompetentes para roubalheira também.
O pior é que o PT reforça a vitória do atraso. Que sociedade é essa que você quer construir em que o sonho das pessoas se limita a, se for da classe média, passar em um concurso público; se for pobre, arranjar Bolsa Família; e, se for rico, conseguir uma "Bolsa BNDES"? Todo mundo passa a querer ser parasita do Estado. Não há país que dê certo assim.

Mas, enquanto isso foi acontecendo, o que se viu na oposição foi certo silêncio.

A oposição deixou a desejar? Deixou. Foi omissa, em alguns momentos até cooptada. O preço disso está sendo pago.

Há muita crítica ao papel do PSDB neste momento.

Eu votei no Aécio, até fiz um videozinho para a campanha. O PSDB tem certo reconhecimento de que há uma perplexidade, essa complexidade nas coisas. Há discussões densas que têm de ser feitas, as soluções não são simples, precisamos pensar também no longo prazo.
Mas, sim, eu vejo uma parcela grande da juventude querendo fazer política, e com frequência eles não encontram representação. Em alguns casos, o que acaba surgindo entre eles é até uma ideia meio exagerada de política liberal, de Estado mínimo. Eu não comungo totalmente com isso. É algo que precisa ser discutido com calma.

Talvez seja um pouco uma reação pendular, uma maneira de reforçar a oposição ao pensamento estatista.
Sim, é um movimento pendular, você vai em busca de um oposto, mas neste caso me parece oposto demais.

Essa é uma contradição que a esquerda aponta: nas manifestações recentes, tem o liberal de Chicago, o conservador cristão, até o cara que pede a volta dos militares.

Vejo isso como pluralismo, acho até admirável, desde que se respeite as regras da democracia. Eu não tenho nada contra os cristãos, contra o pessoal do quartel. Mas acho suprema ignorância pedir a volta dos militares.

Você se incomoda de ser chamado de coxinha?
Eu não. Meu único ponto é que as coxinhas de São Paulo são muito melhores do que as do Rio. Vou mandar trazer um monte e fazer uma "Coxinha's Party". Quem não tem senso de humor, não sabe rir de si mesma, é a esquerda.

Eu não frequento muito o meio artístico, prefiro ficar em casa lendo, vendo filme. Mas é lamentável o papel da classe artística. É digno de pena. Em um momento como esse, os artistas completamente omissos. Cadê o Caetano Veloso, o Chico Buarque?

Muitos artistas e até jornalistas têm hoje situação muito complicada de dependência de dinheiro público, não?

Sim, e não foi só a classe artística. Foi o meio acadêmico, uma parcela dos intelectuais. Veja o MST [Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra] também. Está todo mundo imbricado de verbinhas. A explicação? Bom, no fundo, como sempre, basta seguir o dinheiro.
No nível pessoal, creio que tenha perdido oportunidades de trabalho, de comerciais. Não vou aqui falar apontando nomes, mas acontece isso de "não, o Madureira não".

Influenciou sua relação com os colegas do "Casseta"?
Não, nesse caso não. Alguém inventou que tínhamos brigado. Nada disso. Sempre fomos pluralistas e, para falar a verdade, o pessoal lá não pensa muito diferente de mim, não...

Vocês fizeram piada com vários governos.
Sim, embora não se faça muita piada política no Brasil. Eu atribuo o fato de o "Casseta & Planeta" ter saído do ar à pouca disposição da TV Globo de deixar a gente fazer piada política.

Mas vocês fizeram isso por quase 20 anos.
Sim, mas aí começaram cortes, cortes e mais cortes de conteúdo. Não acho que isso seja censura, veja bem. Cada empresa tem suas regras. Se você não concorda, você pede demissão. Censura vem do Estado.
Mas, de qualquer forma, o programa foi perdendo "punch", aquela verve crítica, que era vital. Mas isso é uma decisão dos empresários.

Você foi militante do PCB. É inevitável ser de esquerda na juventude?
Posso falar do meu caso. Eu fui procurando ao longo do tempo pensar, ter senso crítico, falar "pô, eu tô errado". Já defendi até o Partido Comunista da União Soviética. E agora? Não vou ficar aqui fazendo revisionismo histórico da minha própria vida.
Na época, era o que parecia mais certo. Não faço, digamos, que nem "O Globo" fez, aquele papel ridículo. [Em 2013, o jornal publicou que apoiar o golpe de 1964 tinha sido um erro.]

MARCELO MADUREIRA
FORMAÇÃO
Engenharia de produção pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
TRAJETÓRIA
Trabalhou no BNDES. Criou o jornal "Casseta Popular", que se fundiria ao "Planeta Diário" e viraria a revista "Casseta & Planeta". Na Globo, foi roteirista da "TV Pirata" e escreveu e atuou em "Dóris para Maiores" (92) e "Casseta & Planeta, Urgente!" (1992-2012). Assinou com Hubert, por 25 anos, a coluna Agamenon em "O Globo".

 

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