• Humberto Fontova
  • 27 Dezembro 2014

Front Page Magazine, 22 de Dezembro de 2014.

[http://www.frontpagemag.com/2014/humberto-fontova/obama-comes-to-castros-rescue/].
Tradução: Bruno Braga.

Você notou o exato momento da salvação econômica dada por Obama a Castro, de acordo com o anúncio do dia 17 de Dezembro, sob o pretexto de "mudar [nossas] relações com o povo [a ênfase é minha] de Cuba"?

Não? Mas você tem observado os preços nas bombas de gasolina, certo? Estas duas questões estão intimamente ligadas. Ah, por falar nisso, todas as evidências indicam que o "povo" real de Cuba, na verdade, quer as sanções americanas contra o regime stalinista que o tortura [1]. Por isso, o Presidente Obama deveria parar de insultar a inteligência dos Observadores de Cuba com a pretensão de falar e agir em nome deles. Eis a reação que tiveram nesta semana com o presente de Natal antecipado que Obama deu ao ditador stalinista que os tortura:

"Infelizmente, o Presidente Obama tomou a decisão errada. A liberdade e a democracia não serão alcançadas para o povo cubano através dos benefícios dados por ele - não ao povo cubano - mas ao governo de Cuba. O governo cubano só vai aproveitar para fortalecer a máquina repressiva, reprimir a sociedade, o povo, e permanecer no poder" - Berta Soler, líder do "The Ladies in White", o maior grupo dissidente de Cuba.

"[Alan Gross] não foi preso pelo que ele mesmo fez, mas pelo que poderia ser ganho com a sua prisão. Ele era simplesmente uma isca, e eles estavam cientes disso desde o começo... O Castrismo venceu" - Yoani Sanchez, a dissidente cubana mais famosa no exterior.

"Sinto-me como se tivesse sido abandonado no campo de batalha" - Dr. Oscar Elias Biscet, ex-preso político cubano premiado com a Medalha Presidencial da Liberdade pelo Presidente Bush.
A lista de dissidentes cubanos apunhalados e indignados é muito, muito maior.

De qualquer forma, a Venezuela - o "papaizinho" [2] pós-soviético de Cuba - está atualmente em situação econômica difícil com a queda abrupta do preço do petróleo, seu principal produto de exportação. A salvação econômica do regime de Castro parece incerta, daí o "Aqui vou eu para salvar o dia" do Presidente Obama.

Mas vamos encará-lo. Por mais de meia década, o regime stalinista de Castro prendeu, torturou e assassinou milhares de pessoas (incluindo cidadãos americanos), mas a maioria dos americanos parece não dar a mínima. Muito bem. Então vamos consultar mais um dissidente cubano - um que consome um pouco de carne vermelha. Vamos avisar ao cidadão comum e à dona de casa (que de forma muito compreensiva acham todas essas coisas de direitos humanos relativas a um país estrangeiro totalmente irrelevantes) que talvez seja a hora de prestar mais atenção ao problema:
"Se os Estados Unidos permitem financiamento para Cuba, então seriam os contribuintes americanos que sustentariam o regime Castro. Uma vez que ele corre para bater à porta [por crédito], o regime Castro está focado agora nos Estados Unidos" - Rene Gomez Manzanoin, dissidente cubano e três vezes considerado prisioneiro de consciência pela Anistia Internacional.

Bom, a Câmara de Comércio dos Estados Unidos, o lobby agrícola, o Council on Foreing Relations e os agentes de influência de Castro (e eu me repito) evitam de forma compreensiva esta questão como uma praga, daí a sua invisibilidade na mídia. Portanto, ouça: por mais de uma década, o chamado embargo americano, tão difamado pelo Presidente Obama, estabeleceu que o regime stalinista de Castro pague um "adiantamento" [3] por todos os produtos agrícolas americanos através de um banco de terceiros; nenhum Exportador-Importador - contribuinte americano - financia vendas desse tipo. E é isso que enfurece Castro e motiva seus agentes de influência dos Estados Unidos [4].

Promulgada pela equipe de Bush em 2001, essa política de adiantamento [5] tem sido monumentalmente benéfica para os contribuintes americanos, colocando-os entre os poucos no mundo que não são trapaceados pelo regime Castro, que proporcionalmente à população é o maior devedor do mundo, com uma dívida externa estimada em 50 bilhões de dólares, uma classificação de risco próxima à da Somália e um registro ininterrupto de calotes. A Standard & Poors se recusa até mesmo a avaliar Cuba, considerando os dados econômicos apresentados pelo seu apparatchiks stalinista como absolutamente falsos. Só neste ano os russos perdoaram 30 bilhões de dólares que os Castro ainda os devia.

É interessante que um dissidente cubano possa compreender este assunto com mais precisão do que aqueles "defensores dos contribuintes americanos", Rand Paul e Jeff Flake, que aplaudiram fortemente o presente de Natal que Obama deu esta semana a Castro. Da Casa Branca, "Informe: Traçar um novo curso para Cuba":
* Instituições americanas terão permissão para abrir contas correspondentes em instituições financeiras cubanas para facilitar o processamento de transações autorizadas.
* A definição regulamentar do termo estatutário "dinheiro adiantado"será revisada para especificar que ele significa "dinheiro antes da transferência do título"; isso proporcionára um financiamento mais eficiente do comércio autorizado com Cuba.
Opa! Apesar de um pouco superficial, certamente soa como se estivéssemos nos movendo na direção contra a qual Rene Gomez nos alertou. Essa questão foi explicada recentemente com mais detalhes por um colunista do interior no SunNews network do Canadá [6].

Obama alega que temos "isolado" Cuba. Novamente, pare de insultar nossa inteligência, Senhor Presidente. A saber:

Em 1957, quando Cuba era uma "colônia econômica dos Estados Unidos", como é dito constantemente pela mídia (embora os investimentos americanos em Cuba representassem apenas 14% do PIB da ilha), os Estados Unidos exportaram 347,5 milhões de dólares em valor de mercadoria para Cuba.

Em 2013 (quando Cuba estava sendo "estrangulada pelo bloqueio econômico americano", como constantemente é dito pela mídia), os Estados Unidos exportaram 457,3 milhões de dólares para Cuba. De fato, para cada ano de Obama no gabinete do "Cuba-embargo", os Estados Unidos exportaram mais bens para Cuba que em 1957.

Em 1957 (quando Cuba era um "parque de diversão para turistas americanos", como constantemente é dito pela mídia), 263.000 pessoas dos Estados Unidos visitaram Cuba.

Em 2013 (quando Cuba estava sendo diabolicamente "bloqueada" pelos Estados Unidos, de acordo com a mídia), estima-se que 500.00 pessoas dos Estados Unidos visitaram Cuba. Então, com Obama, visitam Cuba duas vezes mais pessoas que nos anos de ouro da década de 1950.

Em 1958, - com um "ditador apoiado pelos Estados Unidos", com os americanos "controlando a economia cubana" (de acordo com a mídia, embora, de fato, as companhias americanas empregassem 7% da força de trabalho de Cuba) - a equipe da embaixada dos Estados Unidos em Cuba era de 87 pessoas, incluindo os funcionários cubanos.

Hoje, que supostamente não há qualquer relação diplomática com Cuba (de acordo com a mídia) a equipe da Seção de Interesse dos Estados Unidos tem 351 pessoas, incluindo os funcionários cubanos. Na verdade, por mais de uma década os Estados Unidos tiveram o dobro de funcionários diplomáticos em Havana que no Canadá e no México juntos. Na zona cinzenta ocupada pela mídia americana isso é "isolamento diplomático".

De ordem executiva em ordem executiva, o Presidente Obama já aboliu as restrições de viagens e envios do Presidente Bush ao feudo patrocinador do terrorismo de Castro. Abriu o oleoduto a um ponto em que o fluxo de caixa dos Estados Unidos para Cuba foi estimado em 4 bilhões de dólares no último ano; enquanto Cuba - uma orgulhosa província da União Soviética - recebia anualmente de 3 a 5 bilhões de dólares dos Sovietes. Em resumo, quase todos os anos desde que Obama assumiu a presidência, escoou mais dinheiro dos Estados Unidos para Cuba que dos Sovietes no auge do seu patrocínio à ilha caribenha. Na zona cinzenta ocupada pelos principais órgãos de mídia isso é conhecido como "embargo econômico".

Em suma, a demonstração é: registro de turismo e investimento estrangeiro em Cuba = registro de repressão do povo cubano. Cada fragmento de evidência observável prova que viajar para Cuba e fazer negócios com essa mafia stalinista enriquece e consolida estes proprietários da economia de Cuba fortemente armados e treinados pela KGB. Desta maneira, eles continuam sendo os mais empolgados guardiões do status quo do Stalinismo e Patrocínio-do-Terror de Cuba.

Esta semana eles estão todos brindando com Obama, rindo e esfregando as mãos. Então, protejam suas carteiras, amigos [7].


Referências.

[1]. Cf. [http://www.capitolhillcubans.com/2014/06/over-830-cuban-democracy-activists-sign.html].
[2]. "Sugar-daddy", "o velho rico que sustenta a jovem namorada".
[3]. "Cash up front".
[4]. Cf. [http://www.amazon.com/Longest-Romance-Mainstream-Media-Castro/dp/1594036675/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1376276049&sr=1-1&keywords=the%20longest%20romance%20humberto%20fontova&tag=viglink20738-20].
[5]. "Cash-up-front policy".
[6]. Cf. [http://www.sunnewsnetwork.ca/video/3949008632001].
[7]. Cf. [http://www.amazon.com/Longest-Romance-Mainstream-Media-Castro/dp/1594036675/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1376276049&sr=1-1&keywords=the%20longest%20romance%20humberto%20fontova&tag=viglink20738-20].
 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 26 Dezembro 2014


TRÉGUA NATALINA
Diante do sempre oportunista governo Dilma Neocomunista Rousseff, que se aproveita ainda mais dos momentos festivos para tirar o máximo de obstáculos possíveis do caminho que nos conduz ao Bolivarianismo, não há como se entregar à -politicamente correta-Trégua de Natal.

FALTA TEMPO
Aliás, se existe algo que deva ser comemorado, neste fatídico 2014, é que estamos a apenas cinco dias do seu encerramento. Ou seja: graças à limitação imposta pelo calendário faltará tempo para o governo Dilma completar a sua grande obra, qual seja a de destruir de vez com a economia brasileira.


TRIPÉ DESTRUÍDO
Através de uma -Retrospectiva-, como sugerem quase todos os meios de comunicação a cada fim de ano, fica claro e evidente que ao longo de 2014 o PT simplesmente derrubou o TRIPÉ DE SUSTENTAÇÃO MACROECONOMICA, criado lá no governo FHC.

SUBSTITUIÇÃO

O tripé, que era composto por :
1) METAS DE INFLAÇÃO, com autonomia do Banco Central para chegar lá;
2) CÂMBIO FLUTUANTE; e;
3) RESPONSABILIDADE FISCAL,
foi substituído por um outro, com muito mais presença e força, representado por:
1-MENTIRAS;
2-CORRUPÇÃO; e
2-INCOMPETÊNCIA.


MENTIRAS
Ficando apenas com as MENTIRAS ECONÔMICAS, o ministro Mantega, legítimo ventríloquo de Dilma, abriu 2014 prometendo:
1- Crescimento de 4% do PIB;
2- Inflação de 4,5%; e
3-Superávit Fiscal suficiente para pagar os juros da dívida pública.


REALIDADE
Faltando menos de uma semana para o encerramento do exercício, a realidade é vista totalmente fora da curva:
1- A Economia não deve crescer mais do que 0,2%. Se tanto...
2- A Inflação deve fechar com alta de 6,5%.
3- Quanto ao Superávit, o governo precisou recorrer à alquimia (por lei) para não fechar no vermelho.
4- O Câmbio só não disparou mais devido ao controle do governo (sem livre flutuação, portanto)


CORRUPÇÃO
No item CORRUPÇÃO, este governo já é considerado como -hors concours-. Se em algum momento, por ventura, o PT teve alguma preocupação em propor uma limitação de roubo e safadeza, o fato é que, pelo tamanho que as falcatruas já chegaram, não há similar na face da Terra de algo parecido. A Petrobrás (apenas ela) que o diga.


INCOMPETÊNCIA
Como se as MENTIRAS e CORRUPÇÃO não bastassem, o governo Dilma ainda foi, simplesmente, brilhante em termos de INCOMPETÊNCIA.
Vide, por exemplo, o papel da figura (horripilante) da presidente da Petrobrás, Graça Foster. Mesmo (pelo que se sabe até agora) não sendo beneficiada pelo roubo, a sua absoluta incompetência para presidir foi mais do que revelada até aqui. Pois, só por isso Dilma faz questão de mantê-la no posto. Pode?
 

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  • Carlos I.S. Azambuja
  • 26 Dezembro 2014

“Divide e impera”, ensinava Maquiavel

Ao final da II Guerra Mundial, foi constituída na Hungria uma Frente Nacional integrada por todos os partidos antifascistas. Em novembro de 1945 foram realizadas, em forma totalmente livre, eleições parlamentares. A maioria absoluta foi obtida pelo Partido dos Pequenos Proprietários Agrícolas com 57% dos votos. Em segundo lugar chegaram os socialistas do Partido Social Democrata, com 17,41%. Em terceiro lugar os comunistas, com 16,92%, e finalmente o Partido Nacional Camponês, criado e controlado pelos comunistas, com 6,87%. A pequena quantidade de votos restante foi diluída entre os partidos Liberal e Radical.

Com base nesses resultados foi constituído um governo formado por 7 membros do Partido dos Pequenos Proprietários, 3 comunistas, 3 socialistas e um do Partido Camponês. O Ministério do Interior e, portanto, toda a Polícia, ficou em mãos dos comunistas.

Apesar de contar com menos de 17% dos votos, o Partido Comunista passou a afirmar que “o programa e a política do partido expressavam os verdadeiros interesses de todo o povo” e que agora, face aos resultados eleitorais, era mister “afastar as forças reacionárias da Frente Nacional e da coalizão governamental”.

O primeiro e imediato objetivo dos comunistas era o partido majoritário, dos Pequenos Proprietários Agrícolas. Com esse fim, em março de 1946, o PC isolou esse partido criando dentro da frente única que assumira o governo, um Bloco de Esquerda dirigido pelo Partido Comunista Húngaro e desse Bloco faziam parte o Partido Social Democrata, o Partido Nacional Camponês e os sindicatos, controlados os dois últimos pelos comunistas e com uma forte infiltração entre os socialistas.

A tática utilizada contra os Pequenos Proprietários, partido heterogêneo formado por diversas agremiações, foi assim descrita cinicamente pelo dirigente comunista da época, Matyas Rakosi: “Prosseguia o desmascaramento, separação e isolamento dos elementos reacionários do Partido dos Pequenos Proprietários. Sem lhes dar trégua, esse partido foi obrigado a excluir e expulsar seus membros comprometidos. A isto se denominou a tática do salame, que consistia em despachar, dia a dia, fatia por fatia, a reação que se ocultava no Partido dos Pequenos Proprietários. Mediante essa luta sem trégua, desgastamos a vitalidade do inimigo e lesionamos seu prestígio ante as massas camponesas” (Matyas Rakosi, “A Via da Nossa Democracia Popular”, Revista Sociológica, Budapeste, março/abril de 1952).

Para a adequada aplicação da tática do salame os comunistas procedem à formação de um bloco de partidos e logo o vão liquidando, por fatias, como se fosse um salame, apoiando-se em cada ação naqueles que serão as próximas vítimas. Em resumo: é a liquidação das maiorias por uma minoria ativa.

Na primeira série desse processo eliminatório, os comunistas lograram seu objetivo apoiados em uma feroz campanha propagandística contra os Pequenos Proprietários, auxiliados por agentes comunistas dentro desse partido e inclusive com a suicida colaboração oportunista dos socialistas. Uma vez preparado o clima psicológico apropriado, acusados de reacionários e até traidores da Pátria, todos os anticomunistas destacados do partido, o Ministério do Interior passou a “descobrir” complôs contra o governo. A seguir, em fins de 1946, “foi desmascarado e liquidado um complô”, iniciando-se uma ampla luta contra as forças da reação. Em conseqüência disso, os principais representantes da burguesia foram postos para fora da coalizão e do governo. Assim, em janeiro de 1947, o Secretário-Geral do Partido dos Pequenos Proprietários, Bela Kovacs, foi detido pela polícia secreta sob a acusação de espionagem militar. E logo a seguir, em junho, renuncia e foge do país o Primeiro-Ministro, também desse partido.

Nessas condições as eleições seguintes, em agosto de 1947, apresentavam excelentes perspectivas para os comunistas. Além dos partidos que constituíam a Frente Nacional, foi permitida a apresentação de candidatos da oposição. Essa circunstância foi aproveitada pelos comunistas para criar a União das Mulheres Cristãs e o Partido Democrata Independente, com a finalidade de dividir e ramificar o movimento anticomunista e tirar votos do já combalido Partido dos Pequenos Proprietários. Os socialistas, por sua vez, que começavam a ser fortemente atacados pelos comunistas, denunciaram a intervenção do Ministério do Interior nas eleições. Os resultados das pesquisas apresentaram uma brusca queda dos Pequenos Proprietários: de 57% em 1945 para 15,2% em 1947; os comunistas subiram de 16,9% em 1945 para 21,5%, e seus aliados do Partido Nacional Camponês, de 6,87% para 8,7%, enquanto os socialistas perdiam votos: de 17,41% para 14,8%.

Com os partidos de oposição, que obtiveram 36,8%, a tática do PC não foi diferente. Logo o Partido da Independência (16,1%) foi dissolvido quando seu chefe máximo foi acusado de haver sido protetor de fascistas. O Partido Democrático Popular (14,4%) se desintegrou quando seu principal dirigente foi perseguido e teve que fugir para o estrangeiro. A União das Mulheres Cristãs e o Partido Democrático Independente (7,7% no total), como criaturas que eram do PC, solicitaram seu ingresso na Frente Única, fazendo o mesmo o Partido Radical (1,7%).

Enquanto prosseguia a liquidação sistemática do já decaído Partido dos Pequenos Proprietários, o PC centrava o fogo contra os socialistas, seja intensificando pressões mediante provocações e perseguições nas fábricas, seja tentando seus dirigentes.

A ala esquerda do Partido Social Democrata, cujos dirigentes eram, em sua maioria, agentes comunistas, manobrava contra os elementos realmente democratas do partido. Era a tática do salame novamente em ação. Conforme a opinião científica de Matyas Rakosi, o crescente poder do PC dava a possibilidade de “assestar um golpe decisivo nas forças inimigas incorporadas ao Partido Social Democrata. Cada vez mais – continua Rakosi –colocávamos a descoberto as manobras por meio das quais os dirigentes da Social-Democracia se opunham ao desenvolvimento de nossa democracia popular e ajudavam, assim, os inimigos de nosso povo. Assim, mobilizamos os trabalhadores social-democratas de Budapeste que se opunham crescentemente à política de seus dirigentes. Em 1947, como resultado dessa ação, em Budapeste ocorreu uma crise na cidadela dos organismos social-democratas. Dessa forma, colocamos em evidência, com exemplos concretos, a colaboração de certos dirigentes social-democratas com os fascistas ou espiões imperialistas” (Rakjosi, “A Via da Nossa Democracia Popular”, Revista Sociológica, março/abril de 1952).

O Ministério do Interior, por sua vez, “descobria” novos complôs, agora organizados pelos socialistas. Vários dirigentes foram deportados para a Sibéria enquanto outros eram condenados a trabalhos forçados. Em fins de 1947, finalmente, foi montado um espetacular processo por “alta traição”, sendo condenados, entre outros, um membro da Executiva do partido. Essa perseguição e liquidação dos dirigentes socialistas anticomunistas permitiu que a ala esquerda, pró-comunista, se apoderasse do partido. Entre março e junho de 1948, a “limpeza” realizada pelos agentes do PC dentro do Partido Socialista eliminou mais de 40 mil socialistas anticomunistas e no Parlamento húngaro foram “inabilitados” 35 dos 67 deputados socialistas.

Os comunistas lograram, assim, a destruição do socialismo democrático na Hungria e a capitulação dos restos do Partido Social Democrata, podendo dizer o dirigente comunista G. Kallai: “A reação foi derrotada. Em junho de 1948 se unificaram os dois partidos operários, constituindo-se um partido único, revolucionário, marxista-leninista da classe operária. Com isso foram concluídas as mudanças: a revolução política socialista havia triunfado. A classe operária havia conquistado o Poder” (Revista Internacional nº 10, 1965).

Com essa fusão e o ingresso no Partido Comunista dos restos dos demais partidos, se instaurou na Hungria a “ditadura do proletariado” e o comunismo emergiu como dono absoluto do campo político.

Nas eleições de 1949 – apenas 4 anos depois de cortada a primeira fatia do salame - os eleitores votaram em uma lista única.

 *Historiador

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  • Carlos Fernando Souto
  • 26 Dezembro 2014

 

O presidente do TCU disse dias atrás que o escândalo da Petrobras é o maior caso de corrupção que já tramitou na história do Tribunal. Um procurador federal afirmou que não se está dando conta de defender a República dos, palavras dele, ratos que estão corroendo suas estruturas e que vamos ter um escândalo de corrupção ainda maior do que o da Petrobras. E será no BNDES.

Ministro do STF asseverou recentemente: “Como alguém, alguma pessoa jurídica que pega empréstimo nos bancos públicos a juros subsidiados (...) para promover emprego e desenvolvimento social da nação e, aí, parte disso vira aplicação em campanha eleitoral. (...) Não há ilegalidade se (o valor) estiver dentro dos 2% sobre o faturamento. Mas é um escândalo”. Uma empresa brasileira, cliente do BNDES, doou R$ 353 milhões na última eleição.

Ainda sobre a Petrobras, um gerente comprometeu-se, via acordo, a devolver US$ 100 milhões desviados. Uma outra gerente informou a diretoria da empresa, por vários anos, de que algo havia de errado. Pagamentos de R$ 58 milhões foram efetuados para serviços que nunca foram prestados. Custos de R$ 4 bilhões a serem pagos pela Petrobras viraram R$ 18 bilhões num passe de mágica. Erros de orçamentos em 15% eram corriqueiros. E assim vai. A despeito dos incontáveis avisos, rigorosamente nada foi feito para se corrigir.

A lista é maior, mas não há espaço. Mas precisa mais?

Como pode? Como pode ninguém, espontaneamente, se responsabilizar em nome do governo brasileiro e pedir desculpas à população? Como pode não haver uma única renúncia que seja de algum cargo de alto escalão da República? Em que país nos tornamos?

Não deveríamos ter apenas soluções jurídicas para esses ilimitados casos de corrupção, eufemisticamente denominados de malfeitos. Deveríamos, antes, ter repercussões espontâneas e individuais minimamente aceitáveis a partir de um padrão de ética rigoroso; que essa turma que tomou conta do público tivesse ao menos vergonha e medo – arrependimento talvez seja pedir demais – do que tem feito e das consequências geradas.

Mas não. O governo brasileiro, com seu silêncio ensurdecedor, assiste à moral derreter no que sobrou do Brasil. Afinal, onde foi parar o prazer pelas boas ações?

*Advogado
 

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  • Jorge Hernández Fonseca
  • 25 Dezembro 2014

 Há uma confusão - generalizada entre observadores não cubanos - a respeito da especial situação que surgiu a partir da aproximação entre os EUA e Cuba. É a mistura que se faz entre o chamado "problema de Cuba" e o tradicional "conflito entre Estados Unidos e Cuba", que vai além do meio século de existência. Ambos os casos estão relacionados logicamente, mas são bem diferentes em natureza e essência.

 "O problema de Cuba" é o nome genérico da situação especial que atravessa a ilha desde que Fidel Castro tomou o poder "pela força" (como ele gosta de dizer) quase 56 anos atrás. Este "problema" para os defensores da ditadura cubana - em geral pessoas de esquerda - é "positivo e quase providencial", enquanto que para a maioria das pessoas da ilha - e para mais de 20% de a população cubana forçada a exilar-se ou a "emigrar", como a ditadura diz, é uma situação deplorável que destruiu o país.

 "A disputa entre Cuba e os EUA", por sua vez, é a ampla deterioração das relações entre os dois países desde que Fidel Castro tomou o poder em Cuba. Seu ponto de partida foi a filosofia anti-americana expressa por escrito pelo líder cubano. Isso ficou claro mesmo antes de ele chegar ao governo e levou à ruptura das relações diplomáticas, em parte pelo confisco, sem compensação, de bens e negócios de cidadãos norte-americanos na ilha (razão também do embargo) e em parte pelo apoio dos EUA à oposição cubana em suas tentativas de derrubar o governo por via beligerante durante a guerra civil nas duas primeiras décadas do governo comunista cubano.

 Podemos dizer, então, que a "disputa entre Cuba e os EUA" é um dos resultados mais conhecidos do "problema cubano", mas não é a única, ou mesmo, a mais importante, embora seja a aresta internacionalmente mais conhecida. Sendo "o problema cubano" a causa real da "disputa Cuba-EUA" tem certa lógica se relacionar a solução da disputa entre os dois países com a solução do problema que lhe deu origem e que é a chave para as inferências erradas feitas sobre o objeto desta análise.

 O "problema cubano" trouxe uma série de consequências fora do "litígio Cuba-EUA". O castrismo é, antes de mais nada, a implantação de uma ditadura totalitária contra a sociedade cubana da ilha; é a nacionalização forçada de todos os negócios em Cuba, sem olhar a sua nacionalidade. Com efeito, não apenas os americanos foram confiscados. Cubanos, espanhóis e, em geral, qualquer empregador no interior da ilha foi violentado economicamente. O "problema cubano" é, também, a interferência política e militar nos países latino-americanos, aos quais Cuba enviou guerrilheiros para impor uma guerra de conquista, que visava submetê-los, a exemplo da lha, a um regime comunista.

 Como se deduz do anterior, a questão que tem afetado os cubano-americanos e todos os latino-americanos é o "problema de Cuba" e não a "disputa Cuba EUA". O "problema de Cuba" é a "grande mãe" de tantas conflitos que ainda afetam a América Latina em geral, e os EUA em particular. Como os EUA - com todos os aspectos de seu poder global - havia imposto sanções políticas e econômicas sobre a ditadura cubana (em reação ao confisco adotado pelo regime de Fidel Castro) a população da ilha esperava que, quando EUA decidissem negociar com a ditadura as diferenças entre os dois países, fossem incluídos nas negociações elementos que favorecessem a solução do "problema de Cuba" na certeza de que, ao resolvê-lo, estaria beneficiando também seus próprios interesses, ao eliminar um foco de sentimentos negativos entre os EUA e a América Latina.

 Certamente é uma prerrogativa de cada país garantir seus interesses acima dos interesses estrangeiros. Não há dúvida quanto a isso. No entanto, para muitos, a continuação do "problema de Cuba", reforçada pelas grandes vantagens que, sem dúvida, obterá a ditadura como resultado das negociações entre Raul e Obama, redundará em desvantagem para os interesses dos EUA no seu próprio país e no resto da América Latina, onde a influência da ditadura de Fidel Castro é fortemente sentida.

 É verdade que as negociações conduzidas pela equipe de Obama - segundo tem sido afirmado - foi vista como forma de "entrar" na ilha, com o objetivo de influenciar e determinar de maneira próxima e determinante a mudança geracional que está prestes a ocorrer em Cuba. Também é verdade que um grande grupo de empreendedores cubanos e cubano-americanos têm defendido uma solução deste tipo na certeza de que sua influência será fundamental para os futuros líderes da ilha na transição que se desenhará a partir da morte dos Castro.

 Não há dúvida de que a "mexida" que se promove dentro da ilha com esta mudança substancial nas relações Cuba-EUA reserva surpresas. Elas são próprias do retumbante fracasso do regime. Fracasso econômico, pois a sociedade socialista cubana não produz, sendo parasita por natureza. Fracasso político, pois impõe uma ditadura totalitária longa e cruel há mais de meio século. Fracasso social, pois mais de 20% da população cubana viu-se na necessidade de exilar-se e os que permanecem na ilha têm o exílio como objetivo principal e imediato. Fracasso moral, pois, na sociedade socialista cubana, vigora o princípio do "cada um por si", ante o qual tudo é possível.

 Considero pertinente afirmar, agora, que eu conheço bem a posição atual do governo e da elite norte-americana. Ela está alinhada muito mais com a estabilidade dentro da ilha do que com a derrota do totalitarismo (evitando um êxodo "balseiro"). Reconheço, igualmente a dificuldade que teve a oposição política cubana, dentro e fora do país, de ser identificada aos olhos dos EUA e do resto do mundo, incluída a Europa e a América Latina, como uma opção confiável de poder, capaz de impedir a infiltração do tráfico de drogas na futura estrutura de governo da ilha. Essa é a mais provável razão pela qual os EUA reconheceram a ditadura e o forte controle que ela exerce em todo o território nacional e nas águas adjacentes, evitando surpresas de um futuro incerto.

 No entanto, neste artigo, vemos criticamente o fato de os EUA terem desperdiçado suas melhores armas de negociação, entregando-as à ditadura cubana sem pedir nada em troca. Li textos defendendo essa abordagem como a melhor maneira de influenciar na sociedade cubana com o objetivo de hierarquizar a transição para uma sociedade democrática. Tal tarefa, desde meu ponto de vista pessoal, teria sido melhor executada se o levantamento das sanções entrasse na mesa de negociações "para" a democratização.

 Creio que, da maneira como as coisas foram feitas, para tentar solucionar seu conflito com a ilha, os EUA pretendem preservar "parte" de seus interesses. Sim, a bem da verdade, apenas uma parte deles. Castro é um perigo político potencialmente superior ao narcotráfico, como ficou evidenciado pela infiltração do regime de Fidel Castro na Venezuela, no Equador, na Bolívia e na Nicarágua, seguindo-lhes muito de perto o Brasil, a Argentina, o Uruguai, o Chile e El Salvador. Além disso, gostaria de poder ler, a partir de defensores das atuais negociações Raul-Obama, uma seqüência fundamentada e lógica de ações que, derivando da entrega das cartas que os EUA propiciaram aos irmãos Castro, sem pedir nada em troca, nos levem, num tempo razoável, à democratização da ilha. Essa é a única maneira de resolver o "problema cubano" e as suas consequências para seu sofrido povo, bem como promover a estabilidade democrática na América Latina, em vez de resolver apenas o "conflito Cuba-EUA", como foi pretendido nesses acordos.

http://www.cubanet.org/author/jorge-hernandez-fonseca/

Traduzido do espanhol por Percival Puggina

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  • Martha E. Ferreira
  • 24 Dezembro 2014

 

Os estudos da Transparência Internacional mostram que, num ranking de 177 países, o Brasil é o 69º no índice de percepção da corrupção mundial. Então, todo santo dia, quando abro os jornais me pergunto: qual será o escândalo de hoje? São Ministros de Estado envolvidos em esquemas fraudulentos; presidentes, diretores e funcionários de estatais metidos até o pescoço em desvios bilionários; políticos fichas sujas roubando como ratos; e juízes sem noção libertando criminosos de toda espécie.

   O governo deixou de aplicar R$ 131 bilhões na saúde pública, desde 2003, e está em último lugar num levantamento da Bloomberg, que monitora a eficiência dos serviços de saúde, em 48 países. O descaso é total: um relatório da ONU aponta que a infecção pelo vírus HIV cresceu 11% no Brasil, entre 2005 e 2013, na contramão da tendência global; estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil nos coloca na 112ª posição, no quesito saneamento básico - em um conjunto de 200 nações -, atrás de muitos países da África, Oriente Médio e América Latina; e, de acordo com a ONG Contas Abertas, somente 01 de cada 10 obras de unidades de saúde do PAC foi executada; das 503 UPA’s previstas, apenas 14 ficaram prontas; 08 em cada 10 obras de abastecimento de água não foram entregues; e 09 em cada 10 obras de saneamento não foram concluídas.

A OCDE mantém um ranking da educação que compara resultados de provas de matemática, ciência e leitura, e também índices como taxa de alfabetização e aprovação escolar, em 36 países. O Brasil amarga a penúltima posição, à frente somente do México. Entretanto, a União já prevê déficit de R$ 1,9 bilhão para educação básica, em 2015.

Por aqui, são 154 assassinatos por dia. Com esse número, o Brasil foi alçado ao posto de 7º país mais violento do mundo, entre os 100 analisados pelo Mapa da Violência. Na última década, nossas fronteiras foram escancaradas, permitindo a passagem de toneladas de drogas, que transformaram o país no maior mercado de crack do planeta e o segundo maior de cocaína. De acordo com a UNICEF, o Brasil tinha 100 mil crianças prostituídas, em 2001, e esse número saltou para 500 mil, em 2012, dados que alçaram o país para o primeiro da lista de exploração sexual infantil, na América Latina, e para o segundo no ranking mundial. Mesmo com esses dados alarmantes, que nos conferem uma liderança deprimente e inaceitável, a União deixou de investir R$ 21 bilhões em segurança pública nos últimos 12 anos.

O PIB brasileiro é uma vergonha. O FMI o revisou para baixo, pela sexta vez seguida, e a previsão de crescimento em 2014 despenca para um minúsculo 0,3%, o menor entre os principais emergentes, pelo 4º ano seguido.

Conforme pesquisas da ONG Contas Abertas, quando se trata de infra-estrutura, só 35% das obras de energia do PAC foram concluídas; as Companhias Docas executaram somente 14,1% dos investimentos nos portos; apenas 36 das 108 obras previstas para o setor de aeroportos estão prontas; das 421 obras para expansão do sistema rodoviário, somente 126 estão concluídas; dos 48 empreendimentos em ferrovias, apenas 12 foram executados; e até o final deste ano o governo só irá inaugurar 02 das 11 grandes obras prometidas nos palanques.

Ah, e tem Minha Casa, Minha Vida, também: no grupo de renda de zero a três salários mínimos, segmento onde se concentra 90% do déficit habitacional do país, a conclusão dos imóveis não chega a 2%.
O principal mercado consumidor do Brasil, o interno, apresenta sinais de que vai morrer na praia. A inflação alta está corroendo os salários; os escândalos de corrupção, a confiança; e a incompetência do governo se ocupa em detonar o resto.

E de mentira em mentira, de fracasso em fracasso, o governo continuará claudicando por mais 04 anos. Como vai ser muito, mas muito mais do mesmo, sugiro que você pise no freio e aperte o cinto, porque o pior ainda está por vir.

* Economista e consultora de negócios

http://www.marthaferreira.com.br
  
 

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