• Guilherme Fiuza
  • 12 Abril 2015


Delações indicaram que algumas centenas de milhões de reais escoaram do esquema para a campanha de Dilma
Se Dilma fosse uma ópera, ela se chamaria “Erenice”. Uma ópera em dois atos: 2010, a ascensão; 2015, a queda. A presidente ainda não caiu, mas o Brasil já está caindo. Ainda não se sabe se no abismo ou na real.

Dilma Rousseff declarou que sua campanha não recebeu “dinheiro de suborno”. Já o Lobo Mau declarou que não comeu a vovozinha. Cada um com a sua tática. Se os caçadores da floresta não tivessem aberto a barriga do Lobo, ele teria devorado também a Chapeuzinho. Os caçadores da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça estão abrindo a barriga do PT e tirando um mundo lá de dentro. Mas a cabeça falante do partido continua jurando inocência pela boca da presidente da República. E a Chapeuzinho verde-amarela, coitada, continua na dúvida se acredita.

Antes de voltarmos à ópera, uma última contribuição à fábula. Querida Chapeuzinho: se o seu plano é ser devorada, fique à vontade. Continue acreditando em Dilma quando ela diz, por exemplo, que vai salvar a Petrobras. O humorista inglês John Oliver já caiu na gargalhada diante da presunção de inocência da presidente brasileira — e riu não por ser humorista, mas por ser inglês. Se bem que já há estrangeiros em vários países não achando a menor graça nessa novela. São investidores lesados pelo petrolão e, ao contrário da cordial Chapeuzinho, resolveram chamar a polícia. E lá a chantagem emocional dos guerreiros do povo não protege ninguém. Bandido é bandido.

As delações premiadas de ex-diretores da Petrobras e de empreiteiras convergiram com a do doleiro Alberto Youssef e cravaram: o PT transformou propinas do petrolão em doação legal ao partido. Em mais uma contribuição progressista para a História, os companheiros inventaram a propina oficial. Nada dos arcaicos recursos não contabilizados do mensalão: tudo certinho, tudo declarado, enfim, um roubo absolutamente dentro da legalidade. E as delações indicaram que algumas centenas de milhões de reais escoaram do esquema para a campanha presidencial de Dilma — aquela que não recebeu “dinheiro de suborno”. O acusado de operar esse milagre é o tesoureiro do PT, João Vaccari, que por essas e outras acaba de virar réu no processo da Operação Lava-Jato.

Vejam como Dilma Rousseff realmente é uma ópera. Toda essa engenhosa sucção nacionalista foi montada sob a presidência dela no Conselho de Administração da Petrobras. Está gravado e filmado para quem quiser ver: o ex-diretor da estatal e protagonista do escândalo, Paulo Roberto Costa, acha “estranho” que Dilma não soubesse do esquema. Mais estranho ainda sabendo-se que a montagem do esquema é atribuída a figuras-chave do partido dela, às quais a presidente jamais negou solidariedade — inclusive àquelas condenadas pelo mensalão. O que a inocência de Dilma foi fazer no meio dessa podridão?

Melhor reler o libreto. Está lá, no primeiro ato. Ano de 2010, eleição presidencial (na qual, maldita coincidência, outro delator aponta “dinheiro de suborno” na campanha de Dilma). Ali, nasce uma estrela: Erenice Guerra, braço-direito da candidata à Presidência, entra para a História ao levar a Casa Civil para as páginas policiais, demitida e investigada por tráfico de influência. Erenice era a mulher de confiança de Dilma, preparada por ela para ser sua superministra. Claro que os métodos de Erenice Guerra e a inocência de Dilma Rousseff jamais se cruzaram nos corredores do palácio. É estranho à beça, como diria Paulo Roberto Costa, mas a vida é assim mesmo. Estranha.

Saltando para 2015, o libreto da ópera faz ressurgir a grande personagem. Na Operação Zelotes da Polícia Federal, quem surge no seio de um escândalo bilionário envolvendo a Receita Federal? Erenice Guerra, agindo como principal assessora da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Mas Chapeuzinho verde-amarela continua chupando o dedo e ouvindo Dilma dizer que vai limpar tudo e nunca viu dinheiro de suborno. Adivinhem o que vai acontecer com essa menina distraída em mais quatro anos de ópera?

Quando Vaccari entrou na CPI da Petrobras, ratos foram soltos no recinto. Mas logo se deixaram capturar. Amadores. Vaccari admitiu que esteve no escritório do doleiro Alberto Youssef, mas disse que não sabia por que foi parar lá. Questão de ginga.

Ficar assistindo a esse show de inocência não é para qualquer estômago. O Brasil já desceu da arquibancada uma vez, e vai descer de novo. Os roedores não estão nem aí — continuarão ostensivamente oprimidos, anunciando que o petróleo salvará a educação, e roendo em nome da lei. Até que os brasileiros se cansem dessa cândida obscenidade e os enxote da sala.

Ou pararam de pagar ?

Abs,

* Jornalista

 

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  • Hermes Rodrigues Nery
  • 12 Abril 2015

O que é preciso evitar é que o governo e a mídia manipulem as manifestações, dizendo que as ruas querem a "reforma política popular" que eles próprios pretendem implementar.


O legado do PT no poder foi o de ter tirado as bases morais da democracia brasileira e provocar a maior crise política (crise sistêmica), nunca antes vista na história do País, em que não há o mínimo de confiança entre representantes e representados, em todos os níveis, em todos os aspectos. As instituições se tornaram simulacros, esvaziadas quase que inteiramente de qualquer vigor para fazer valer a defesa de princípios e valores humanos, sendo instrumentalizadas para os fins perversos de uma facção de poder, que utiliza a democracia como método revolucionário. Os que tem postos de decisão nas instituições optam pelo silêncio, por declarações ambíguas, pelo cinismo e por formas abomináveis de covardia. Os que detém algum poder nas instituições, preferem deixar serem usados e até prostituídos ou fazer de conta que vivem no melhor dos mundos possíveis, segundo a lógica de Pangloss. Muitos sabem que estão reféns desta facção de poder, mas preferem a omissão, o politicamente correto, até mesmo o recurso à mentira, ao marketing e tudo mais, na mais abjeta cumplicidade com o mal. Nunca se viu uma população inteira sem saber o que fazer, sem saber ao que se ater, sem confiar seja lá em quem for, por que não há lideranças, não há rumo, apenas a realidade gelatinosa [por isso perigosa] por extrair a perspectiva projetiva da realidade nacional. Muitos tombam no conformismo, sentindo-se impotentes diante do quadro que aí está, as poucas vozes conscientes vão sendo aquietadas, sofrendo até a exaustão, de muitas formas, enquanto se acentua, cada vez mais, a corrosão dos valores.

A Presidente Dilma Roussef age como se não houvesse crise, os convocados à CPI dizem que nada sabiam, que nada fizeram, que tudo é golpismo da oposição. Nem mesmo Sófocles se inspiraria tanto para escrever uma tragédia tão intensa. Todas estas personagens que frequentam as CPIs e vão e voltam ao Palácio do Planalto parecem mesmo viver "nas nuvens", como diria Aristófanes. Perderam o chão da realidade e vivem num teatro que não se sabe mais se é trágico ou cômico, mas que é terrível, porque ninguém sabe como irá terminar.

Há o apelo falacioso das forças revolucionárias pela "democracia direta", por uma reforma política que é apenas retórica, para radicalizar ainda mais o processo de desmonte das insitituições, de acirramento das vulnerabilidades, para que a facção de poder, em meio ao pântano que se tornou o cenário político, junto a outras forças, inclusive internacionais, possam se mover com mais avidez de poder, de controle, manipulação e perversão social. Nesse contexto, os fracos não podem mais contar com a legislação, pois que a lei se tornou a arma do forte, com seus embustes cada vez mais sofisticados, com suas hermenêuticas mais favoráveis aos que tem o poder, o mando, e as astúcias dos que assaltaram o Estado brasileiro e o aparelharam, vão conduzindo a uma consoliação ainda maior da facção de poder, ideologicamente cada vez mais à esquerda, com todo o populismo e o clientelismo, e toda espécie de trapaças que fariam Maquiavel se empalidecer diante de tanto pragmatismo e imoralidade.

Resta saber que rumo irão tomar as manifestações de rua, que desde o dia 1º de novembro vem clamando pelo "Fora Dilma, "Fora PT", "Fora Foro de São Paulo", etc. A indignação da população não pode ser convertida astutamente pelos marqueteiros do Palácio do Planalto como argumento a justificar a agenda que o próprio governo quer implantar, com o pretexto de combater a corrupção, que eles mesmos fizeram chegar a um nível tão extremo, com o mensalão, petrolão e tudo mais. O que é preciso evitar é que o governo e a mídia manipulem as manifestações, dizendo que as ruas querem a "reforma política popular" que eles próprios pretendem implementar, com o discurso já defendido pela CNBB, por exemplo, em seu documento 91, ainda em 2010, de radicalização da democracia. Não se sabe quem são títeres e quais forças exatamente estão os movendo. O fato é que o tempo atual requer vigilância, pois não será tão fácil libertar o Brasil da facção de poder que o levou a esta crise sistêmica.

* Coordenador do Movimento Legislação e Vida 

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  • Maria Lucia Victor Barbosa
  • 10 Abril 2015

Observando o que acontece com o PT fica-se a pensar na possibilidade desse partido não ter construído sozinho suas estratégias para alcançar o poder e lá permanecer. Afinal, parece não haver mentes brilhantes na grei petista.

Tampouco Lula da Silva é um gênio do jogo político ou um estadista como exageram alguns. Sem dúvida, foi escolhido pela cúpula petista e algo acima por sua retórica verborrágica que faz dele um enganador bem-sucedido. Além disso, Lula se ajustou hipoteticamente à ideologia marxista como uma espécie de proletário. Ajudou sua origem simples e o fato de ter passado rapidamente pelas lides metalúrgicas. Construiu-se, então, a imagem do homem comum tão bem aceita pela massa por transmitir aquela agradável sensação de identidade: ele é um de nós que chegou lá.

Habilmente a propaganda consumou o culto da personalidade que ampliou o poder de enganação do “pobre operário”, contra o qual toda crítica foi tomada como preconceito e heresia. Lula da Silva consagrou o detestável politicamente correto que inibiu os que poderiam arranhar seu santo nome.

Com medo de sua popularidade qualquer oposição, partidária ou institucional, calou-se diante de seus desmandos, de suas gafes, de seu linguajar chulo e insultante à língua portuguesa. E essa aceitação incondicional, mais a propaganda de fazer inveja a Goebells deram aos “mandarins” petistas e a Lula da Silva a força que parecia os tornar invioláveis.

No entanto, se Lula foi hábil como orador de porta de fábrica, perito como politiqueiro, nunca administrou o país. Seu negocio foi jogar futebol, comer churrasco e fazer viagens dignas de um emir. Em suma, Lula é um falsário e uma fraude construída não só pelo PT, mas por uma organização internacional, o Foro de São Paulo, fundado por Lula, Fidel Castro e outros do figurino esquerdista. O objetivo do Foro é promover a integração da América Latina e formar a Pátria Grande Comunista através de partidos, entidades de classe, ONGs, movimentos sociais.

Na quarta tentativa o PT chegou ao poder mais alto da República. Não foi preciso dar um tiro sequer. Lula vestiu Prada, mudou o discurso, deslumbrou a hoje achincalhada classe média composta por intelectuais, estudantes, professores, artistas, religiosos, profissionais liberais, jornalistas, funcionários públicos, que fizeram de sua ideologia uma religião, do PT uma seita e sentiram-se guerreiros imortais da luta de classes. Lula prometeu tirar os pobres da pobreza. Aos ricos garantiu mais lucros.

Ao tomar posse a nova classe dirigente deu continuidade a politica macroeconômica do governo anterior, antes criticado de modo estridente, inclusive, aos berros de fora FHC. Não foi dado calote no FMI nem se rompeu com os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, utilizou-se a política econômica antes xingada de entreguista e neoliberal.

Por outro lado, avançou a centralização do PT que dominou o Legislativo, o Judiciário e significativa parcela dos meios de comunicação. Na mesma linha intervencionista e autoritária houve várias tentativas de censurar a imprensa, como as Comissões de Redação, a criação da ANCINAV (Agência Nacional de Cinema e Áudio Visual) e a instituição do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo). Agora o governo petista fala em regulação da mídia e Rousseff apontou a necessidade de punir os “crimes” cometidos na Internet.

Mas se o Foro de São Paulo é comunista, como poderia dar certo se esse sistema fracassou em todo mundo? Quer melhor exemplo de fracasso econômico e social do que o da Venezuela, Bolívia, Argentina? Quanto a Lula da Silva, se surfou por 12 anos na demagogia encontrou o fim de todo malandro: foi engolido por sua esperteza. Isso se deu quando ele elegeu o “poste” Rousseff. Nos quatro anos em que continuou como presidente de fato, ele e sua criatura que não consegue juntar uma frase com outra, detonaram a economia Brasileira, enquanto a corrupção desenfreada atingia seu auge com o escândalo do petrolão.

O PT tenta resistir, fala em hegemonia do partido, propõe tirar verbas da imprensa não domesticada, proclama-se inocente. Entretanto, não há governo que resista quando a economia vai mal. Em pânico, os dirigentes petistas percebem que até Lula da Silva não é mais o mesmo. Rousseff, a incompetente, totalmente desacreditada é descartável e já foi substituída por seu vice Michel Temer (PMDB), mas sem Lula o PT acaba, pois quem poderá substituí-lo em 2018? Mercadante? Haddad? Marco Aurélio Garcia? Rui Falcão? Impossível.

Então, quem sabe se por inspiração do Foro de São Paulo, Lula da Silva já sonha com a criação de uma Frente Ampla, que esconderia o PT desmoralizado e englobaria partidos de esquerda, ONGs, ditos movimentos sociais, enfim, tudo que compõe a tranqueira esquerdista do Brasil. Os candidatos não sairiam pelo PT, mas da Frente Ampla do Atraso. Uma ideia engenhosa. Resta saber se vai daR CERTO.

* Socióloga.

ww.maluvibar.blogspot.com.br 

 

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  • Thomas Korontai
  • 10 Abril 2015

 

Queremos todos, ou pelo menos 95% da população brasileira, retirar esse grupo do poder central. Não há mais dúvida. E isso é ótimo pois dá uma brecada nos planos do Foro de São Paulo, que quer implantar um novo modelo de socialismo. No fundo, todos são iguais, pois suprimem os valores da Sociedade Humana – a liberdade, a propriedade e a vida. Sim, a vida, pois transformam todos em zumbis.
 

O QUE FAREMOS?
Dia 12 é mais um dia especial para o Povo Brasileiro forçar a saída de quem ainda insiste em ficar no Poder. Quem sabe esse grupo insólito saia do poder de uma vez já na próxima semana. Seja por renúncia, seja por impeachment. E isso é absolutamente democrático. Mas, e depois? O que faremos? Um novo grupo político ao entrar, assume e ainda vai ter que enfrentar os problemas e desafios cujas dimensões ainda não se tem muita certeza, verdadeiros icebergs, cujos pedaços vem sendo revelados dia após dia, em cada nova operação policial.
 

COMBATER A CAUSA
O que é melhor e mais efetivo? Combater efeitos ou causas? Certamente, a causa. O Brasil está adoentado há longa data, desde o início de sua existência, quando o Estado se instalou antes do Povo. Ok, nada podemos fazer em relação ao passado, mas em relação ao futuro, sim. Qual é a causa então? Simples, atávico, lógico demais para ser despercebido, mas assim sempre o foi: a concentração excessiva de poderes e dos recursos públicos.
Cerca de 75% de toda a arrecadação tributária vai para Brasília. Praticamente todo o poder político se concentra em Brasília. E os modelos de organização, tanto do Estado, quanto dos Poderes, quanto das esferas de poder, que colocaram o município como “ente federativo” criaram esse Frankenstein federativo, que é na verdade, um modelo absolutista disfarçado de democracia.

REFUNDAR O BRASIL
O que fazer? Refundar o Brasil. Sim, parece radical, mas se você observar todo o sistema, em todos os setores da vida pública e até empresarial do País, tudo apodreceu. Uma constituição que tem 2/3 que nada valem, garante esse quadro cada vez mais surreal. Um conjunto de normas tributárias que passam dos 4,2 milhões desde 1988, juntamente com mais de 80 emendas constitucionais, revelam o mar de insensatez tupiniquim.
A solução é desconcentrar os poderes, em todos os sentidos. Financeiro, político, legislativo, administrativo e judiciário. Refundar o Brasil para uma verdadeira Federação de estados autônomos e cidades que possam escolher seus prefeitos sob contrato ou eleição sem partidos políticos. E porque não conselheiros voluntários no lugar de vereadores pagos? Precisa mexer no queijo de todos.

BENEFÍCIOS
Quais os benefícios de uma refundação? Um novo modelo federativo, sob um novo texto constitucional, de princípios, tal como a Carta americana com 7 artigos e apenas 27 emendas ao longo de 225 anos desde sua independência.
Tal modelo permitirá todas as reformas que tanto queremos: do sistema tributário, do sistema político, do sistema legislativo reformando o modelo de representatividade, possibilitando a completa abertura do mercado brasileiro, interno e externo. Rever o papel das empresas, que devem deixar de ser recolhedoras de impostos para apenas produtora de bens e serviços. Nenhuma nação funciona sem o sangue monetário, sem atividade econômica.

PAUTA COMO NAÇÃO
Para quem compreendeu, por estas simples linhas, o que é CAUSA e o que é EFEITO, vai ficar fácil perceber que os benefícios advindos de um novo modelo federativo, pleno, colocará o Brasil olhando para o II Milênio, deixando de olhar para trás, como sempre fez até agora. E compreenderá que, como dizia Einstein, é insanidade imaginar que se possam obter resultados diferentes fazendo as mesmas coisas de sempre.

Dia 12, nas ruas? SIM! Mas está na hora de revermos nossa agenda, nossa pauta como Nação.

 

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  • Rafa Bandeira
  • 10 Abril 2015

Dia 15 de março foi um dia histórico. Em todo o país, milhões de pessoas saíram às ruas para protestar contra os desmandos de um governo que perdeu a confiança do povo de uma maneira poucas vezes vista na história do Brasil.

O Movimento Brasil Livre tem orgulho de fazer parte dessa história. Nunca pretendemos posar de “donos” dessas manifestações, que foram a maior mobilização popular da história do Brasil. Somos estudantes, trabalhadores assalariados, empresários, profissionais liberais, funcionários públicos – somos brasileiros indignados com os rumos da política nacional e dispostos a gastar nosso tempo e energia para que possamos viver em um país melhor. Nosso objetivo foi e segue sendo o de atuar como um grupo que influencie positivamente a pauta dos protestos, defendendo sempre a democracia, as liberdades individuais e o Estado democrático de direito. Somos contra qualquer ditadura, seja de cunho político ou econômico.

Fomos às ruas no dia 15 de março e voltaremos no dia 12 de abril. Nossa pauta seguirá sendo o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Trata-se de um mecanismo democrático garantido por nosso ordenamento jurídico e visa a resguardar a instituição da Presidência da República em situações extremas envolvendo o ocupante do cargo.

Foi utilizado para remover Collor por seu envolvimento em um escândalo de corrupção. Os baixíssimos índices de popularidade da presidente Dilma também lembram os de Collor na antevéspera do impeachment e são um reflexo da justificada insatisfação popular que vem tomando conta do Brasil.

Em Porto Alegre, foram 120 mil pessoas saindo às ruas por um Brasil melhor, mais justo e verdadeiramente livre e democrático. E hoje entendemos que a construção do país em que queremos viver passa pela abertura do processo. O povo brasileiro não permitiu que fosse feito de bobo em 1992, e certamente não permitirá em 2015. Essa é a pauta que nos anima, movimenta o Brasil e que está nas ruas.

*Porta-voz do Movimento Brasil Livre no RS
 

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  • Demétrio Magnoli
  • 10 Abril 2015

(Publicado originalmente em O Globo)
• Sem a cumplicidade brasileira, o governo venezuelano não teria meios para persistir no rumo da implantação de uma ditadura

Fidel Castro costumava jogar basquete. Logo mais, pela primeira vez, a NBA fará uma visita a Cuba, promovendo um seminário sobre o desenvolvimento profissional do esporte na Ilha. Amanhã, no Panamá, abre-se a VII Cúpula das Américas, que assinala o retorno de Cuba ao Sistema Interamericano. Contudo, o drama histórico, possibilitado pelo reatamento entre Washington e Havana, será desfigurado pela ópera bufa da crise venezuelana. No lugar de um debate apontado para o futuro, a América Latina experimentará, novamente, uma reencenação da farsa anti-imperialista. Só será assim porque o Brasil aceitou reduzir-se ao papel de sentinela diplomática do regime moribundo de Nicolás Maduro.

Havia espaço para falar sobre uma Cuba pós-castrista, capaz de reconhecer o princípio da pluralidade política. Premido pela crise na Venezuela, Raúl Castro convenceu-se do imperativo de acelerar as reformas econômicas cubanas, eliminando gradualmente o sistema de preços fixados centralmente, as cadernetas de racionamento e o câmbio duplo. Na Ilha, aos poucos, florescem os pequenos negócios familiares e o trabalho por conta própria, enquanto surge um mercado imobiliário. O reatamento com os EUA obedece à finalidade estratégica de estimular um fluxo sustentado de investimentos estrangeiros. As democracias latino-americanas tinham a chance de dizer a Castro que o embargo americano já não pode ser usado como pretexto para calar a divergência política.

Cuba conhece uma tímida, oscilante, abertura política. Levantaram-se as restrições a viagens ao exterior, a internet começa a decolar e os dissidentes, ainda reprimidos, operam mais ou menos publicamente nas redes sociais. A publicação digital “14Ymedio”, criada pela blogueira Yoani Sánchez mas ainda bloqueada pelos servidores da Ilha, oferece aulas diárias de jornalismo para os cinzentos veículos oficiais. Rosa Maria Payá, filha do falecido líder oposicionista Oswaldo Payá, viajou ao Panamá e participa de um fórum pela democracia paralelo à Cúpula das Américas. Era a hora de pressionar Havana a saltar um novo degrau, admitindo que as liberdades econômicas devem ter sua contrapartida nas liberdades políticas. Mas, sob o signo do lulopetismo, o Brasil figurará como cúmplice da tirania sem futuro do sucessor de Hugo Chávez.

Acossado pelo desastre econômico, o regime venezuelano apela à truculência aberta, encarcerando oposicionistas eleitos e instaurando um estado de exceção no qual Maduro governa por decreto. O objetivo do que resta do poder chavista é evitar uma provável catástrofe eleitoral no pleito legislativo previsto para o segundo semestre. Semanas atrás, uma delegação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) visitou Caracas pedindo garantias de que as eleições serão realizadas. Vergonhosamente, porém, a Unasul não solicitou a libertação dos presos políticos, entre os quais se encontram o líder opositor Leopoldo López e o prefeito da capital, Antonio Ledezma. A reação de Barack Obama foi a imposição de sanções pessoais, meramente simbólicas, contra algumas autoridades venezuelanas, o que deflagrou a ópera bufa.

No Panamá, Maduro protestará contra a “ingerência imperialista”, secundado por governantes que fazem do antiamericanismo uma ferramenta para silenciar sobre a violação das liberdades públicas. O jogral “anti-imperialista” terá a participação ativa de Cuba: na ordem de prioridades de Castro, a defesa do princípio ditatorial tem precedência sobre os interesses da abertura econômica. Mas ele só se sustenta porque conta com as vozes das duas grandes democracias do Mercosul, que são o Brasil e a Argentina. A relevância de Dilma Rousseff é, obviamente, muito maior que a de Cristina Kirchner. Sem a cumplicidade brasileira, o governo venezuelano não teria meios para persistir no rumo da implantação de uma ditadura. Por uma triste ironia, a ex-presa política que ocupa a cadeira presidencial no Palácio do Planalto funciona, de fato, como carcereira dos opositores venezuelanos.

A posição brasileira torna-se menos sustentável na razão direta do agravamento da crise do chavismo. O antigo primeiro-ministro espanhol Felipe González anunciou que se engajará pessoalmente na defesa dos presos políticos venezuelanos. Os ex-presidentes Fernando Henrique, do Brasil, e Ricardo Lagos, do Chile, aceitaram o convite de González para constituir um grupo empenhado na libertação de López e Ledezma. Na mesma linha, Aécio Neves invocou o Protocolo de Ushuaia, do Mercosul, para cobrar de Dilma uma atitude compatível com os compromissos internacionais do Brasil.

A leniência com a escalada autoritária já não conta com o silêncio unânime dos governos da América Latina. “Há mais de 30 anos, o Uruguai viveu as mesmas condições que parte dos venezuelanos está vivendo hoje”, constatou o uruguaio Rodolfo Nin Novoa, ministro das Relações Exteriores de um governo de centro-esquerda que não admite medir a liberdade com a régua da ideologia. Os presidentes do Uruguai, do Chile e da Costa Rica foram convidados por Obama para uma reunião, durante a Cúpula das Américas, que certamente discutirá o impasse na Venezuela. Ao mesmo tempo, Washington articula um projeto de cooperação energética com países caribenhos envolvidos pela política chavista de fornecimento subsidiado de petróleo.

O conceito de América Latina tem uma longa história, mas sempre expressou o desejo de separar os EUA do restante do continente. No cenário geopolítico atual, a cunha não serve para acelerar a modernização econômica ou afirmar a soberania política das nações latino-americanas. Ao contrário, funciona unicamente como muralha protetora de regimes autoritários. Dilma, a carcereira, consumirá os próximos dois dias na defesa de um tirano sem futuro. Falará como representante de um partido e de uma ideologia, não como presidente de todos os brasileiros.

* Sociólogo
 

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