Piketty é um best seller, não porque as pessoas se interessam por economia, mas porque elas acreditam em algo metafisicamente impossível, que deveríamos ser todos iguais.
Ao criticar a desigualdade, o economista francês transformou seu livro em uma Bíblia para os ressentidos, uma espécie de manual para a superação do que seria o mal nesta era da pós modernidade, a de que somos todos absolutamente diferentes, o que para eles é sinônimo de injustiça.
Não é à toa que tiranos genocidas como Pol Pot se inspiraram nos pensadores e filósofos da França, onde o germe do igualitarismo, do coletivismo fraterno, vem sendo cultivado, ali, há séculos e especialmente no séc XX, como nunca antes havia sido.
Pol Pot foi o grande promotor da justiça segundo os ditames da escola de pensamento francesa, que quer que sejamos todos iguais, mesmo que para isso, tenhamos que ser aniquilados para que nossas diferenças sejam eliminadas.
Ninguém colocou em prática as teses comunistas com maior afinco, do que o líder do Khmer Vermelho, que baniu a propriedade privada, suprimiu a liberdade, expulsou as populações das cidades, matou os mais ricos, depois matou os mais sábios, depois matou os mais inteligentes, depois matou os mais espertos, depois matou os mais saudáveis, até que, finalmente foi tirado do poder.
Tivesse continuado, aniquilaria a população inteira, pois seu objetivo de fazer com que todos fossem iguais, ainda não havia sido alcançado e é certo que jamais seria, porque onde há um ser humano com vida, há um indivíduo, e onde há dois indivíduos, há dois seres humanos com propósitos e habilidades diferentes.
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Antes que algum marxista-socialista-comunista reclame que esta exposição está incompleta, gostaria de lembrar que se trata de um artigo, não de um livro ou mesmo um ensaio. Logo, não poderá tratar de todos os pontos minuciosamente e sim da visão geral.
A grande mentira a que me refiro é a mentira histórica que coloca no ringue o capitalismo contra o socialismo, como se estivéssemos falando de coisas com a mesma natureza. Não são. Que você acharia de ver no tatame um lutador de judô sendo desafiado por um cabrito? A disputa entre um rinoceronte e uma abóbora? Seria muito estranho, pois a natureza diferente dos rivais não tornaria a disputa coerente.
Quando falamos de capitalismo, estamos falando de um sistema econômico. Iniciativa privada, acúmulo de capitais, propriedade privada dos meios de produção. O capitalismo tem haver somente em como os homens produzem. Se perguntássemos ao capitalismo algo sobre a natureza do homem, sua origem, seu destino, enfim, sobre as grandes questões filosóficas da humanidade ele diria para procurar uma religião ou sistema filosófico. O capitalismo nada sabe das “leis que regem a história” ou do estado futuro da humanidade. Ele é limitado em suas proposições.
Já as ideias de Marx vão muito além da economia. Claro que essas ideias assumiram diversas correntes e formas, mas desde o seu princípio o marxismo-socialismo-comunismo proclamou seu caráter messiânico. Viera para redimir a humanidade e livrá-la dos inimigos que impediam sua felicidade. Em seu seio se abriga o ateísmo, o evolucionismo, a dialética, o materialismo histórico. Não era uma resposta para a economia, era uma resposta aos enigmas do universo e do homem. Mais do que um sistema econômico, nasceu como uma cosmovisão. Proclamou seu inimigo a burguesia com todos os seus valores e entre eles o cristianismo.
Exagero? Veja o que Marx escreveu com respeito ao comunismo.
O comunismo é a abolição positiva da propriedade privada e por conseguinte da auto-alienação humana e, portanto, a reapropriação real da essência humana pelo e para o homem… É a solução genuína do antagonismo entre homem e natureza e entre homem e homem. Ele é a solução verdadeira da luta entre existência e essência, entre objetivação e auto-afirmação, entre liberdade e necessidade, entre indivíduo e espécie. É a solução do enigma da história e sabe que há de ser esta solução” (Karl Marx, Vida e Pensamento, David MacLellan, Vozes, p. 133).
Seu socialismo “científico” sem dúvida era mais utópico do que os socialismos utópicos que ele combateu.
Foi e é um grande engano histórico e mesmo filosófico contrapor capitalismo e socialismo como se referindo à coisas com natureza semelhante. Capitalismo é economia, socialismo é ideologia, é messianismo, é religião. Como dizia Sun Tzu, não conhecer o inimigo em uma guerra é uma deficiência.
Entretanto a desproporção não termina por aí. Há outra disparidade nesse conflito.
O capitalismo é uma realidade histórica. O socialismo apenas uma realidade teórica. Sei muitos dirão que ele existiu em boa parte do mundo e que ainda subsiste em Cuba e Coréia do Norte. Se você, porém, conversar com seus defensores eles dirão que o que existiu até hoje foi um “capitalismo de Estado”. O socialismo real, puro, como tem que ser e como foi idealizado por Marx ainda não chegou, apenas está a caminho e eles estão lutando por isso.
Em outras palavras, o capitalismo deve ser destruído e substituído por e em nome de um sistema idealizado e não por um sistema concreto. O presente real deve morrer pelas armas de um futuro hipotético. Esse futuro, depois de quase dois séculos de mortes, prisões e torturas em seu nome, ainda não chegou. Apesar de dominar o pensamento acadêmico ele ainda não teve uma existência concreta que alguém pudesse dizer: “Olha aqui o socialismo funcionando”. Mesmo assim temos que acabar com qualquer coisa ligada ao capitalismo, temos de sacrificá-lo no altar de uma teoria que nunca conseguiu provar que funciona. Perigoso.
“O socialismo acabou”. É o que muitos vão dizer. Ele teria sido sepultado sob os escombros do Muro de Berlim. Então por que tantos “Partidos Socialistas”? Então porque os estudantes são bombardeados por marxismo e tantos professores interpretam a história e o mundo segundo a cosmovisão marxista? Por que as razões reais do fracasso socialista não são estudas a fundo e apresentadas à nova geração? Por que o Foro da São Paulo, o “socialismo ou morte” de Chaves (nosso vizinho) e o gramscismo nas escolas? Uma ideologia não morre tão fácil assim, muito menos uma ideologia tão destruidora como essa. Ela fica impregnada na humanidade e embora possa metamorfosear-se sempre que necessário, não se torna por isso mais fraca ou menos perigosa.
Para terminar, temos que pensar no que disse o próprio Marx:
Por causa desta divergência devemos levar as obras teóricas o mais possível a sério. Estamos firmemente convencidos de que não é o esforço prático, mas antes a explicação teórica das ideias comunistas que é o perigo real. Tentativas práticas perigosas, mesmo aquelas em larga escala, podem ser respondidas com canhão. Mas as ideias conseguidas por nossa inteligência, incorporadas ao nosso modo de ver, e forjadas em nossa consciência, são correntes que nós mesmos não podemos romper sem partir nossos corações; elas são demônios que não podemos vencer sem nos submetermos a eles. (David MacLellan, op. Cit.) [Negrito e grifo nossos]
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"Foro de São Paulo". A expressão, antes pronunciada com heroísmo por alguns poucos, está cada vez mais presente nos debates sobre a situação política do país. Nos últimos protestos contra a Presidente Dilma e contra o PT, que levaram milhares de pessoas às ruas, ela compôs gritos de denúncia, apareceu nas faixas e cartazes empunhados pelos manifestantes. Miopia aguda ou surdez dissimulada, não há outra forma de explicar a omissão da imprensa de não destacá-la.
O Foro de São Paulo foi criado por Lula e por Fidel Castro em 1990. O objetivo era - e é - reunir a esquerda latino-americana, de partidos políticos a quadrilhas de narco-guerrilheiros, para transformar o continente na "Pátria Grande" socialista-comunista. Porém, dúvidas e suspeitas são lançadas contra o audacioso projeto. Uma reação natural de desconfiança por causa do impacto da denúncia ou um artifício para ofuscar a gravidade das acusações. Mas, seja lá o que for, a documentação pode ser examinada por qualquer um que tenha interesse no assunto. E, para dissipar qualquer nuvem de incerteza, basta ler "A estrela na janela: ensaios sobre o PT e a situação internacional" [1]. O livro foi escrito por Valter Pomar, que o apresenta como a "prestação de contas" do seu trabalho de oito anos à frente da Secretaria de Relações Internacionais do PT e da Secretaria Executiva do Foro de São Paulo (2005-2013) (pp. 07-08).
"O Foro de São Paulo já é parte indissolúvel da história da esquerda latino-americana durante a última década do século XX e a primeira do XXI" (p. 256). O mapa do continente não foi pintado de vermelho de forma espontânea: "o Foro participou e contribuiu para esta mudança de correlação de forças na América Latina e Caribe" (p. 244). Pomar observa que, "quando o Foro foi criado, havia apenas um governo encabeçado pela esquerda: Cuba. Hoje governamos parte importante dos países da região. Isto se deve, ao menos em parte, à ação dos partidos que integram o Foro" (p. 267) [2].
As palavras do petista dão uma idéia da importância do Foro de São Paulo para a configuração do atual cenário político e da dimensão monstruosa que adquiriu este projeto de poder que é sim comunista [3]. Valter Pomar escreve como parte do movimento revolucionário. Ele enaltece a herança soviética, elogia o "modelo" cubano, faz da Unidade Popular do Chile uma fonte de inspiração, é um entusiasta das relações entre Brasil e China. O ex-secretário executivo do Foro de São Paulo fala abertamente sobre o horizonte perseguido pela organização:
[...] "o termo 'comunismo' é recusado ou simplesmente deixado de lado por amplos setores da esquerda, inclusive por alguns que se proclamam revolucionários. Mas, desde o ponto de vista teórico, o uso do termo é essencial, uma vez que permite distinguir entre o que é a 'transição' e o que é o 'objetivo final' (ou seja, a forma madura de sociedade que se pretende construir)" (p. 93).
Pomar ressalta que "a luta pelo poder pode se resolver no prazo de anos, mas a construção de outra sociedade é um projeto de décadas e séculos" (p. 117). As conquistas até o momento são inegáveis: "o potencial da esquerda latino-americana é confirmado, ao longo dos anos 1990 e adiante, com o surgimento do Foro de São Paulo; a gestação do Fórum Social Mundial; e a eleição de uma onda de presidentes progressistas" (p. 139). Porém, não basta estar no "governo" para "controlar o poder" (p. 155). O esquema comunista deve ser ampliado em uma "segunda etapa" (p. 206), e por duas vias: "aprofundar as mudanças e acelerar a integração" (p. 247).
"Temos que mudar o Estado, mudar sua natureza, não apenas sua forma" (p. 221). Pomar observa que as mudanças devem ser feitas com rapidez, porque as crises "externas" ou "internas" poderiam colocar "em questão nossa permanência no governo" - [...] "o tempo é curto, a janela é pequena, pode se fechar" (p. 213). Para ele, "reformas estruturais" precisam ser promovidas: a reforma política (p. 211); o controle do judiciário e dos meios de comunicação - o domínio da indústria cultural e do sistema educacional (p. 221).
A reforma política é imprescindível para o Foro de São Paulo:
"Nós precisamos fazer uma REFORMA POLÍTICA, mas não conseguimos, desde 2003 até hoje, fazer que este debate ganhe a sociedade. Não há como fazê-lo desde o governo nem desde o parlamento. Haveria que desencadear um movimento político-social, que tenha o partido [o PT] e os partidos de esquerda aliados como protagonistas" (p. 211).
As principais propostas de reforma política oferecidas para o público são a execução da estratégia descrita por Pomar. Para conquistar a adesão das pessoas, a coleta de assinaturas para a convocação de um Plebiscito Constituinte e para a legitimação do projeto de lei de "iniciativa popular" da "Coalizão pela Reforma Política Democrática" é propagandeada como mobilização da "sociedade civil organizada". Porém, os "movimentos sociais" envolvidos, as ONG's e sindicatos, ou estão a serviço do PT, ou estão de alguma forma alinhados com o partido. Pior. As propostas preveem - entre outros absurdos - a inserção desses mesmos grupos em instâncias decisórias da administração pública, promovendo aquilo que tanto quer o petista Valter Pomar: a ampliação sorrateira do esquema de poder do Foro de São Paulo [4]. Para a vergonha dos católicos - porque contraria escandalosamente os princípios e as orientações da Igreja, a CNBB apoia a convocação do Plebiscito Constituinte e assina o projeto da "Coalizão pela Reforma Política Democrática" [5].
A respeito da instrumentalização da Igreja Católica pelos comuno-petistas - algo que ocorre há décadas com a pregação de um engodo criado pela KGB e batizado por ela de "Teologia da Libertação" [6] - Pomar observa o estusiasmo da esquerda latino-americana com Francisco, o Papa argentino que poderia ser explorado para a promoção dos seus planos (p. 259).
Pomar - que esteve presente na fundação do Foro de São Paulo como representante do Instituto Cajamar, a "escola de quadros" do PT (p. 07) - destaca a importância da educação e da cultura para as pretensões da organização comunista. "A construção deste pensamento de massas, de uma cultura de massas, é, dentre as tarefas de longo prazo, talvez a mais estratégica" (p. 255). Trata-se de um ardil conhecido, sobretudo nos moldes gramscianos. Ocupação das universidades; formação de professores militantes; doutrinação nas escolas; "intelectuais" e artistas engajados - e a colaboração ingenua dos "idiotas úteis". Uma estratégia eficiente, que não só consagrou o comunista e "apóstolo" da Teologia da Libertação, Paulo Freire, como patrono da educação brasileira, mas forjou a falsa reputação que tanto contribuiu para a ascensão do PT ao poder [7].
Dentro do plano de promoção das "reformas estruturais", a reeleição de Dilma Rousseff, alertava Pomar, era imprescindível. "Não se trata da vitória de uma pessoa, mas sim da vitória de um projeto, de uma aliança, de um Partido" - o governo Dilma, no segundo mandato, "com reformas, com mudanças profundas, nos aproxima do socialismo" (p. 88). E a candidata petista foi de fato reeleita. Uma fraude eleitoral escandalosa conservou a marionete do Foro de São Paulo na Presidência da República [8].
Quanto à "integração", ela não é outra coisa que a construção da "Pátria Grande" comunista na América Latina. Trata-se de uma "integração de amplo alcance", que possa consolidar "laços econômicos, sociais, políticos, militares e ideológicos" entre os países governados pela organização (p. 37). "Esta compreensão de uma integração de amplo escopo constitui o pano de fundo da criação da Comunidade Sul-Americana de Nações (2004), cujo nome foi posteriormente alterado para UNASUL (2007)" (p. 141). O Foro de São Paulo é um dos "laboratórios" encarregados de planejar a institucionalidade da "integração" comunista (p. 268).
No entanto, observa Pomar: "Não haverá integração sem Brasil. Talvez sejamos o país menos latino-americano da região, mas somos também o capitalismo mais potente, que tem melhores condições para ajudar a financiar a integração" (p. 204). Os investimentos em "infraestrutura" são estratégicos, e devem subordinar "a ação das empresas brasileiras aos interesses da política externa e convertendo nossa política externa de política de governo em política de Estado" (p. 245). Porto em Cuba, metrô na Venezuela, estradas na Bolívia, hidrelétrica na Nicarágua. Um mar de dinheiro público, em vez de ser investido em obras que o país tanto precisa, é canalizado para patrocinar - com o disfarce de "integração" - o totalitarismo na América Latina.
Enfim, esta síntese da "prestação de contas" do ex-secretário executivo do Foro de São Paulo deixa à mostra o nefasto projeto de poder comunista. O petista diz que agora, da "planície", continuará contribuindo com a "luta pelo socialismo", com o Partido dos Trabalhadores (p. 08). O PT, contudo, permanece no altos postos de poder. Por isso, uma observação de Valter Pomar - feita quando ainda estava à frente da organização fundada por Lula e por Fidel Castro - é importante para concluir: "o PT valoriza extremamente o Foro de SP" [...] "Devemos, portanto, combinar a necessária luta ideológica em favor do socialismo, com uma estratégia e uma política organizativa mais amplas" [...] "para nós, do PT, o Foro de São Paulo é prioritário" (p. 87).
"Democratização das armas": a "desmilitarização" e o poder do Foro de São Paulo
Valter Pomar também apresentou no livro a "prestação de contas" do seu trabalho como secretário executivo do Foro de São Paulo [9]. Nela, o petista enaltece as conquistas da organização fundada por Lula e por Fidel Castro, principalmente a de ter instalado mandatários comprometidos com o seu projeto em diversos países da América Latina. Mas, Pomar observa que estar no "governo" não é suficiente para "controlar o poder" (p. 155). Para isso, é necessário promover uma série de "reformas estruturais" - entre elas: a reforma política, o controle do judiciário e dos meios de comunicação. Reformas que têm uma espécie de coroa:
"A conquista do poder de Estado é um processo complexo, cujo PONTO DE CRISTALIZAÇÃO é o MONOPÓLIO DA VIOLÊNCIA" (p. 95).
https://youtu.be/jlE1YlYEOIk
A maioria dos católicos e dos bispos do Brasil não apoiaram a proposta de "reforma política" da Coalizão
Qualquer plebiscito que termine com um resultado de 99,6% contra 0,4% encerra qualquer debate. Houve a entrega do projeto de reforma política apoiado por esta Coalizão ao Congresso Nacional, com cerca de 630.000 assinaturas, entre presenciais e eletrônicas.
Brasília, 22 de Maio de 2015 (ZENIT.org)
Este capítulo da coleta de assinaturas para uma proposta de "reforma política" redigida por uma "coalizão" com entidades de esquerda, sindicais, corporativas e eclesiais parece ter sido encerrado no último dia 20 de maio. Houve a entrega do projeto de reforma política apoiado por esta Coalizão ao Congresso Nacional, com cerca de 630.000 assinaturas, entre presenciais e eletrônicas.
Não quero discutir mais os defeitos e a linha ideológica do projeto. Já o fiz diversas vezes em outros artigos publicados aqui mesmo, como este , este ,este e este . Como já foi dito, não se nega nem a necessidade de fazer-se, no Brasil, uma reforma política urgentemente, nem a necessidade de repensar a forma de financiamento de campanha. Mas incomoda aos católicos a adoção, por parte de uma instituição eclesial, de um determinado modelo em preferência a todos os outros, sem claras razões de fé e moral, a apontar pendores estritamente ideológicos em matéria opinável. Mas a meditação agora é outra.
Como foi possível reunir tão poucas assinaturas?
Trata-se de pensar como foi possível que uma coalizão que existe há mais de três anos, e que é composta por entidades como a OAB e a CNBB, não tenha conseguido chegar senão a pouco mais de um terço do número mínimo de assinaturas necessárias para que a proposta se transformasse em projeto de lei de iniciativa popular. É interessante proceder a esta reflexão, até por um imperativo bíblico: sempre foi critério, para reconhecer uma eventual profecia ruim, examinar os respectivos frutos.
Nem falo aqui dos descaminhos da esquerda bolivariana em toda a América Latina. Estes são por demais visíveis: falência dos respectivos países em que se instalou, aumento da violência e da miséria, destruição dos respectivos regimes democráticos e instauração de ditaduras que se proclamam "populares e libertadoras", mas cujos frutos estão bem claros para quem os quiser enxergar. Devemos lutar para que esta situação jamais se instale no Brasil.
Mas falo agora das lições que devemos refletir, nós católicos, sobre a forma com que este episódio foi conduzido, para que possamos amar mais verdadeiramente a Igreja, compreendê-la mais a fundo e colaborar efetivamente para a sua santificação, que é o objetivo de todos, leigos e clérigos igualmente. Não podemos pecar, nem por atos, nem principalmente por omissão.
Avaliando a quantidade de assinaturas, nota-se que não foi, nem de longe, representativa de qualquer popularidade da ideia entre os fiéis católicos. Ponderemos que o último Censo, bem como as últimas pesquisas populacionais do IBGE, apontam que cerca de 64% da nossa população é de católicos. Seriam cerca de 132 milhões de católicos no país, dos quais pelo menos 30% declara ir à missa todos os domingos – cerca de quarenta milhões de pessoas.
Assim, apesar de dispor de um rebanho deste porte, e de contar com várias entidades que se declaram "representativas " e "populares", ao longo de três anos a Coalizão só conseguiu convencer um grupo de "assinantes" que representa menos de 1,5% dos católicos que vão à missa todo domingo, e menos de 0,4% do total de brasileiros que se declaram católicos. Considerando que há diversas assinaturas obtidas por outros membros da Coalizão, como a OAB e diversos órgãos de classe e associações feministas e de "gênero", isto significa que muito mais do que 99,6% dos católicos não assinaram o documento, ou que pelo menos 98,5% dos católicos que costumam ir à missa no domingo não o fizeram.
Ainda que se descontem deste total os católicos que não são eleitores, como os mais idosos e os adolescentes, a proporção ínfima deve ser bem significativa: os católicos, em massa, rejeitam as ideias da Coalizão. Então o assunto acabou.
Não se alegue que a Coalizão, por qualquer motivo, não teve acesso ao grosso dos católicos. Se isto de fato ocorreu, é uma notícia muito animadora para nós, leigos. Isto significa que este setor da Igreja que se quer "popular" ou "social", e que se comprometeu com este setor ideológico da política brasileira, não tem, nem de longe, a relevância numérica que ele próprio acredita ter, entre os bispos. Não podemos duvidar que nossos santos bispos têm o poder de mover milhões de pessoas em direção á verdade de Jesus. Ora, somente a Jornada Mundial da Juventude colocou três milhões de católicos numa praia do Rio de Janeiro, ano passado. Esta coalizão, em três anos, e valendo-se de inúmeras ONGs além da CNBB, não conseguiu ultrapassar os seiscentos mil apoiadores – alguns dos quais, inclusive, pode-se supor, apenas católicos devotos que assinaram por temor reverencial, e não por convicção política.
Restar-nos-ia concluir, caso optemos pela primeira resposta, que este projeto da Coalizão tem uma esmagadora rejeição entre os católicos. Qualquer plebiscito que termine com um resultado de 99,6% contra 0,4% encerra qualquer debate. Perdeu.
Caso a interpretação seja a de que a Coalizão de alguma forma não teve acesso ao grosso da população católica para obter suas assinaturas, deve-se então concluir que a imensa maioria dos bispos agiu com extrema sabedoria e prudência neste assunto, e que simplesmente não apoia a atuação da Coalizão. De fato, pesquisando-se na Internet, descobre-se facilmente que não mais que meia dúzia de bispos estão com seus nomes vinculados a esta proposta, e nem todos dentre estes declararam-se incondicionalmente favoráveis. Quanto aos outras quatrocentos e tantos bispos, se simplesmente não deram prosseguimento prático a este intento nas suas próprias dioceses, estão demonstrando o que sempre se soube: o pastoreio efetivo do rebanho, no final das contas, cabe a cada Bispo em sua Igreja particular, e não às Conferências Episcopais nacionais como instituição colegial. Estas são sempre estruturas de apoio, de diálogo, não de substituição. A verdade na Igreja Católica jamais foi decidida e defendida no voto. Mas é muito bom ver que ela pode prevalecer estrondosamente mesmo quando é submetida ao voto.
Há notícias de que este abaixo-assinado parece ter circulado efetivamente em pouquíssimas dioceses. Não tenho dados concretos. Mas se isto ocorreu, foi um grande alento para nós, católicos: nossos pastores exercem, muitas vezes heroicamente, silenciosamente, seu pastoreio efetivo dentro das respectivas dioceses, onde são assistidos pelo Espírito Santo; e são sábios o suficiente para fazer com que projetos inadequados como este simplesmente não vinguem, por simples falta de apoio prático, poupando o rebanho da exposição pública das eventuais dissidências eclesiais frente a um ou outro mais entusiasmado neste ou naquele caminho político.
É aí que se mostra a força da Igreja: na sua aparente fraqueza.
É hora, pois, de louvar o fim deste procedimento. Acabou. Que bom. Que morra assim, silenciado e superado, para que a Igreja inicie, no Brasil, um novo capítulo de sua história. Embora, é claro, as notícias veiculadas no próprio site da Coalizão nos ameace com a continuação deste abaixo assinado. O que seria, no entanto, um absurdo lógico: ninguém entrega ao legislativo federal um abaixo assinado que ainda não terminou. Isto não seria sério. Ninguém levaria a sério.
Mas não podemos ficar desatentos: a crise política no país é gravíssima, e está longe de terminar. Precisamos deste mesmo trabalho silencioso e santo para manter a Igreja no seu rumo divino. Mas precisamos mais: queremos ser efetivamente Igreja, queremos ser ouvidos e representados, nós, os 99,6% de silenciosos. The end.
"Como se reconhece um comunista? Bem, é alguém que lê Marx e Lênin. E como se reconhece um anticomunista? É alguém que compreende Marx e Lênin..." (Ronald Reagan)
A virtude principal do comunista, convocado para a transformação do mundo, suposto portador da ideologia social mais avançada, consiste em... não pensar!
Os partidos comunistas só podem cumprir o seu papel se forem organizados de forma mais centralizada, se possuírem uma disciplina férrea, próxima à militar, e se o seu organismo central estiver dotado de amplos poderes para exercer uma autoridade indiscutível. Cada comitê deve ser onipresente em face dos comitês inferiores e impotente face aos superiores.
A teoria do socialismo em um só país foi convertida na doutrina oficial da Internacional Comunista e passou a ser o princípio diretor da concepção da revolução mundial formulada no programa aprovado no VI Congresso do PCUS, em 1928, que assinalou: "A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Essa desigualdade se agrava e acentua na época imperialista. Disto resulta que a revolução proletária internacional não pode ser considerada uma ação única, simultânea e universal (...) Conseqüentemente, o proletariado internacional, do qual a URSS é a única pátria, a fortaleza de suas conquistas, o fator essencial de sua libertação internacional, tem o dever de contribuir para o êxito do socialismo na URSS e defendê-la por todos os meios contra os ataques das potências capitalistas. A luta de classes em cada país e a luta de libertação nacional dos povos oprimidos pelo imperialismo continuam sendo fatores importantes da revolução mundial, mas o fator essencial é a construção do socialismo na URSS. Daí, que a ditadura do proletariado na URSS detenha a hegemonia do movimento revolucionário mundial".
Nas características adquiridas pela Internacional Comunista, desde os momentos iniciais, exerce notável influência a forma como ela foi criada. Partindo da idéia de que a revolução mundial comunista estava em marcha irresistível, que as grandes massas estavam em movimento e que tudo dependia da existência de uma vanguarda intransigente em face do reformismo e do centrismo, foram adotadas, desde o princípio, medidas drásticas para assegurar a pureza dos novos partidos. Essa foi a finalidade das chamadas "21 Condições", modelo de sectarismo e de método burocrático. Como se declara em sua introdução, o objetivo das "21 Condições" era impedir o ingresso na Internacional Comunista de grupos e partidos "que não se tornaram verdadeiramente comunistas" e o critério para reconhecer "os verdadeiramente comunistas" era a aceitação integral, incondicional, das "21 Condições". Nelas se resume a concepção de partido comunista, para que todos os postos nos órgãos da imprensa, frações parlamentares, sindicatos, cooperativas, prefeituras, fossem ocupados por comunistas "firmes e provados", eliminando-se os reformistas de qualquer matiz.
Sob a influência das "21 Condições" e, em geral, dos métodos adotados pela Internacional Comunista na luta contra o reformismo e o centrismo, implantou-se fortemente nos partidos comunistas de todo o mundo, desde o primeiro dia, um espírito sectário e dogmatizante, embalado num verbalismo revolucionário que dissimulava a perda de noção da realidade. Esse espírito sectário e dogmatizante permanece até hoje, embora o comunismo seja uma doutrina falida.
Em suma, a Internacional Comunista foi concebida em março de 1919, como uma organização semi-militar, constituída por revolucionários profissionais assalariados (Comitê Executivo, rede de delegados, instrutores, assessores e assistentes), voltados para a direção da guerra revolucionária internacional e, nesse sentido, exigia a criação de partidos bolcheviques quimicamente puros do dia para a noite, a partir de uma classe operária que durante decênios se educara no espírito reformista, na ação sindical e parlamentar. Isso significou que os revolucionários profissionais de cada partido comunista ficaram subordinados a esse corpo central, a IC. Os bolcheviques cristalizaram numa teoria acabada para todo o mundo a tática a que foram compelidos pelas condições de uma Rússia atrasada e medieval, e através da Internacional Comunista passaram a recomendar ao proletariado internacional a sua imitação como modelo de tática socialista.
Assim, a verdade da Revolução Bolchevique convertia-se em verdade da revolução em todas as latitudes, com ajustamentos táticos – é certo – conforme as "condições nacionais". Uma política abstrata e ineficaz que transformou a IC numa instituição alienada e alienante a serviço da nova classe burocrática soviética. Os partidos comunistas nutriam-se, basicamente, das obras de Stalin e chegavam a Lênin através de Stalin. Marx vinha em um remoto terceiro lugar e a maioria dos comunistas só o conheciam de ouvir falar...
No entanto, quando da criação da Internacional Comunista, contrariamente ao que Lênin pensava, ainda não haviam amadurecido as condições objetivas para a revolução comunista. Portanto, a Internacional Comunista foi concebida e criada para atuar em condições inexistentes e teve que enfrentar uma tarefa fundamentalmente diferente: ganhar as massas proletárias para uma política revolucionária em condições não revolucionárias.
É importante assinalar que do II (julho de 1920) ao VI Congresso (julho de 1928) da Internacional Comunista, os seus Estatutos foram sendo modificados sempre no sentido de acentuar a centralização e os poderes do Comitê Executivo, onde se acotovelavam os cappos da instituição. Os estatutos aprovados no II Congresso determinavam que as instruções do Comitê Executivo "têm força de lei" para todas as seções nacionais. O V Congresso, por sua vez, afirmava que as diretivas do Comitê Executivo "são imperativas" e têm que ser "imediatamente aplicadas".
Uma fórmula similar foi adotada pelo Foro de São Paulo quando da realização do seu II Encontro, em junho de 1991, no México. Esse Encontro foi precedido de uma reunião preparatória do Grupo de Trabalho do Foro (uma espécie de Comissão Executiva, da qual faz parte o Partido dos Trabalhadores), realizada na cidade do México em março de 1991, na qual foi definido, mediante acordo, que a partir desse II Encontro seria firmado o conceito do caráter consultivo e deliberativo dos Encontros. Isso significou que, a partir de então, as decisões aprovadas em plenárias e constantes das Declarações Finais passavam a ser consideradas deliberativas e decisórias em termos de aceitação e cumprimento pelos partidos e organizações membros do Foro, subordinando-os, dessa forma, aos ditames dos Encontros na ação a ser desenvolvida em nível internacional e nos respectivos países, fato que transfere para um segundo plano os interesses nacionais, fere os princípios de soberania e autodeterminação, viola a Lei Orgânica dos Partidos Políticos e ignora a Constituição.
Voltando à Internacional Comunista, o VI Congresso, finalmente, criou uma série de "birôs" para auxiliar o Comitê Executivo a dirigir os âmbitos regionais. Ou seja, aumentou consideravelmente o aparato burocrático do Comitê Executivo. Além disso, concedeu a este o direito de enviar "representantes" e "instrutores" às seções nacionais. Sobre essas decisões, Trotski comentou em 1930, em seu livro "Revolução Permanente", referindo-se à Internacional Comunista: "Atualmente todos os pensamentos e todas as ações humanas se dividem em duas categorias: as indiscutivelmente justas, que se inserem na 'linha geral do partido', e as indiscutivelmente erradas, que se desviam da 'linha geral do partido'. O que, é claro, não impede que se declare hoje errado o que ontem se proclamou como absolutamente justo".
A partir do momento em que a construção do socialismo na URSS foi considerada como o fator essencial, determinante, da revolução mundial, todos os outros movimentos revolucionários passaram objetivamente a ter um papel subordinado e assim foram enquadrados pela estratégia e pela tática da Internacional Comunista. Desnecessário é dizer que o princípio da "subordinação" dos interesses parciais do movimento revolucionário a seus interesses gerais foi adotado pela Internacional Comunista desde o seu nascimento e o VI Congresso apenas o reafirmou: "A coordenação das ações revolucionárias e sua boa direção impõem ao proletariado uma disciplina internacional de classe (...) que deve expressar-se na subordinação dos interesses parciais e locais do movimento a seus interesses gerais e permanentes".
Taticamente, até a viragem realizada no VII Congresso, quando a Internacional Comunista optou pela construção das frentes populares – que deveria unir comunistas e social-democratas na luta contra o fascismo – a Internacional sempre preconizou a formação de sovietes a cada vez que pressentia a chegada de uma situação revolucionária em determinado país. Todavia, essa palavra-de-ordem, manejada abstratamente, nunca surtiu efeitos práticos em qualquer país capitalista.
Giorgy Dimitrov, Secretário-Geral da Internacional Comunista, reafirmou esses dogmas no VII Congresso, em julho-agosto de 1935, advertindo em seu discurso de encerramento do Congresso: "Aquele que tentar violar a unidade de ferro de nossas fileiras através de uma ação fracionista qualquer aprenderá, por experiência própria, o que significa a disciplina bolchevique que nos ensinaram Lênin e Stalin. Que isto sirva de aviso aos poucos elementos que, em certos partidos, pensam poder aproveitar as dificuldades passadas, as feridas, as derrotas e os golpes assestados pelo inimigo para realizar seus planos fracionistas ou prosseguir com seus interesses de grupo! Acima de tudo o partido! Defender a unidade bolchevique do partido como a menina dos nossos olhos! Esta é a lei primeira, a lei suprema do bolchevismo!". Só faltou dizer, mas deu a entender, que aqueles que não agirem assim serão"justiçados".
Observe-se que o discurso raivoso de Dimitrov tinha razão de ser, considerando o desastre político que precedeu o VII Congresso. Entre as seções da Internacional Comunista, o Partido Comunista Alemão era o melhor organizado e o numericamente mais forte. Tinha profundas raízes na classe operária e o respaldo das chamadas massas. Em fins de 1932 tinha 360 mil membros e 6 milhões de eleitores, que somados aos da Social-Democracia ultrapassavam em cerca de 1,5 milhão os do partido nazista. Todavia, em janeiro de 1933, o marechal Paul Ludwig Von Hindenburg (1847-1934), presidente da República de Weimar, entregou o poder aos nazistas. E logo a seguir, em março, por decreto, Hitler dissolveu o Partido Comunista, confiscou seus bens, ocupou suas sedes, expulsou do Parlamento os seus 100 deputados e começou a encarcerar massivamente seus membros. Pouco depois fez o mesmo com o Partido Social-Democrata, tudo isso sem qualquer resistência das chamadas massas. Assim, o partido-modelo da Internacional Comunista desapareceu da cena histórica. Esse foi o maior desastre da história da Internacional Comunista, mesmo porque a Alemanha figurava na sua estratégia como o cenário mais provável de uma nova ruptura revolucionária do sistema capitalista, e para os destinos da Revolução de Outubro era vital que essa hipótese se confirmasse.
Mas a história do VII Congresso da Internacional Comunista é longa, pois foi aí que se aprovou e impôs a todos os partidos comunistas uma mudança de tática, ordenando a aliança entre os comunistas e os social-democratas, com a constituição das famosas Frentes Populares, tática que consistia, basicamente, em subordinar o movimento de massas aos limites admissíveis em cada momento pela ala burguesa ou reformista da "Frente". O papel essencial das "Frentes" era o de dar "um empurrão" na irresistível dinâmica histórica, facilitando às grandes massas populares compreender que a única salvação estava no poder soviético. Ou seja, fazê-las marchar atrás da vanguarda (os PCs), mesmo sem saber exatamente para onde iam. Facilitando também aos grupos sociais, partidos políticos e entidades estatais – que, no final da festa, deveriam desaparecer de cena – que caminhassem para esse destino ignorado oferecendo o mínimo de resistência. Segundo as análises da Internacional Comunista, a extrema caducidade das estruturas políticas e econômicas capitalistas conduzia velozmente toda a sociedade para o "Hic Rhodus, hic salta!"("Aqui está Rhodes, salta aqui!", passagem extraída de uma fábula de Esopo e utilizada por Marx em "O 18 Brumário de Luís Bonaparte").
Desde o momento em que a construção do socialismo na URSS foi definida como o fator permanente, essencial, determinante da revolução mundial, a Internacional Comunista passou a ser igualmente a representante por excelência dos "interesses gerais e permanentes" do movimento revolucionário. Todos os demais – "parciais e locais" – passaram a subordinar-se a ele. Mas como a expressão franca dessa subordinação se prestava ao ataque dos inimigos, às suas "calúnias", como disse Stalin em 1943, quando dissolveu a Internacional Comunista – dissolvendo as "calúnias" - era conveniente negá-las. Havia que negar a subordinação dos partidos comunistas do mundo para que ela se tornasse realmente efetiva.
A teoria do socialismo em um só país, convertida em fundamento teórico da estratégia da Internacional Comunista significou, em resumo, subordinar a revolução mundial – em cada uma de suas fases e episódios – às exigências da construção do socialismo na URSS. As estruturas ultracentralizadas da Internacional Comunista, o todo poderoso Comitê Executivo (do qual Luiz Carlos Prestes fazia parte), no topo da pirâmide controlado, por seu turno, pela direção do partido soviético e, em última análise pelo seu Secretário-Geral, o papai Stalin, constituíam o mecanismo idôneo para assegurar, na prática, a subordinação.
Como se sabe, Trotski foi o principal contraditor teórico de Stalin no que tange ao socialismo em um só país, criticando a degeneração burocrática e nacionalista da revolução russa. Trotski, todavia, não foi além dos velhos esquemas de Marx e Lênin, rubricando-os com a etiqueta de "revolução permanente".
Conforme a observação de Gramsci, a teoria da revolução permanente "é apenas uma previsão genérica que se apresenta como um dogma e se destrói a si mesma porque não se expressa nos fatos". No Programa de Transição, Trotski escreveu: "As forças produtivas da humanidade pararam de crescer (...) As premissas objetivas da revolução proletária não só estão maduras; já começam a apodrecer. Tudo depende do proletariado, isto é, tudo depende, antes de mais nada, da sua vanguarda revolucionária. A crise histórica da humanidade se reduz à crise da direção revolucionária". A saída é... a Quarta Internacional.
A perspectiva da construção integral do socialismo em um só país não foi uma meta cientificamente elaborada, mas um mito que se agitou ao povo soviético para justificar os imensos sacrifícios que lhes eram requeridos. E, por isso, justamente por isso, não serviu para formar as massas como sujeito consciente, exigente e crítico de sua própria obra mas, ao contrário, serviu para cultivar nelas uma atitude acrítica, conformista, convertendo-as em objeto de fácil manipulação. Como todos os mitos que respondem a exigências reais não resolvidas cientificamente, o da construção integral do socialismo, ao fim de uns quantos planos qüinqüenais, desempenhou um papel instrumental eficaz, despertou ilusões, estimulou a fé, favoreceu a mobilização das massas e a liquidação de toda oposição crítica. Mas quando os prazos se cumpriram e houve que declarar: este é o socialismo, já está sendo construído – o mito entrou em derrocada. A fé começou a ser substituída pelo ceticismo, os sentimentos generosos pelo cinismo, a ebulição política pelo apoliticismo e, para dar relevo ao mito, houve que recorrer ao terror. Os problemas se tornaram cada vez mais complexos e suas dimensões quantitativas cederam lugar às qualitativas, mas o nível teórico para abordá-los era cada vez mais baixo, mais escassas as idéias em circulação, os cérebros mais atrofiados pelo terror e, sobretudo, pelo hábito de não pensar por conta própria, com a própria cabeça. Foi esse o esquema ideológico-organizacional que passou a vigir nos partidos comunistas de todo o mundo – isso até hoje -. Sua lógica conduz a considerar que a virtude principal do comunista, convocado para a transformação do mundo, suposto portador da ideologia social mais avançada, consiste em... não pensar!
A II Guerra Mundial chegou quando esse processo se iniciava, quando apenas uma minoria começava a tomar consciência da existência do mito. Essa minoria pagaria alto preço pela sua lucidez. Os sentimentos patrióticos vieram em ajuda ao mito e, afinal, a vitória conferiu-lhe nova seiva mas por pouco tempo, pois o XX Congresso do PCUS, em fevereiro de 1956, tirou todas as dúvidas: na URSS ainda não existia socialismo. Segundo o kamarada Kruschev expôs nesse Congresso, durante 30 anos existira uma autocracia burocrática – graças à qual, diga-se, ele chegou ao cargo de Secretário-Geral -, não uma democracia proletária. E sem democracia proletária não há propriedade social dos meios de produção. Na União Soviética existiam – e continuaram a existir até que ela desapareceu, em dezembro de 1991 – relações de produção não capitalistas e não socialistas, cuja caracterização teórica, do ponto de vista marxista, ainda está por ser feita. Por agora - e não se sabe até quando - é mais seguro defini-las por aquilo que não foram.
Por fim, devemos recordar que em 2 de março de 1969, exatos 50 anos desde a fundação da Internacional Comunista, os comunistas chineses e soviéticos se matavam no Usuri. Meses antes os tanques soviéticos foram lançados contra os comunistas checoslovacos. Anos antes, idem contra os comunistas húngaros, e apenas 5 anos depois que a Internacional Comunista foi dissolvida, em 1943, por Stalin, o movimento comunista internacional declarava guerra aos iugoslavos. Depois de tudo isso, Boris Ponomariov (membro do Comitê Central do PCUS e na década de 70 responsável pelo Departamento Internacional, encarregado das relações com os partidos comunistas do Ocidente), em seu livro "O Comunismo num Mundo em Mudança", editado em 1985, teve o desplante de escrever que "a Internacional Comunista criara os fundamentos sólidos e duradouros do internacionalismo, não apenas entre os comunistas, mas no conjunto do movimento operário mundial..."
* Historiador
(Publicado no Estudantes Pela Liberdade e reproduzido pelo Rodrigo Constantino)
Olá, eu preciso desabafar com vocês! E digo que é com vocês porque sou Pedagoga em formação, estudo no faculdade de educação da UERJ e estava mostrando para meus amigos os absurdos que aprendo sobre “o que é ser um professor” e um deles me deu a ideia de falar isso para vocês.
Bem, como eu já disse, faço pedagogia e um dia darei aula para os filhos de vocês, mas, em relação a mim, os senhores não precisam se preocupar, não quero ser doutrinadora, quero ser professora, e por isso não levo a sério o que os professores da universidade falam e estudo por mim mesma em casa, com livros, pela internet e por outros métodos. Mas gostaria de explicar melhor porque não posso e nem devo levar a sério o que meus professores universitários (ou doutrinadores?) me passam sobre o que é ser um professor.
Primeiro, esses profissionais informam que tudo que há de ruim no mundo é culpa do capitalismo e da pedagogia tradicional. Se seu filho não sabe ler direito aos 14 anos, é culpa do capitalismo e da pedagogia tradicional. Seu filho não sabe fazer conta? o professor vai dizer que é culpa do capitalismo e da pedagogia tradicional. Todavia, observem as ideias de autores adorados na Pedagogia: “O professor deve trazer à atenção dos alunos aquelas ideias que deseja que dominem suas mentes. Controlando os interesses dos alunos, o professor vai construindo uma massa de ideias na mente que, por sua vez, não vão favorecer a assimilação de ideias novas.”, frase de Johann Friedrich Herbart. Há algo de libertador nisso? Não. Nada mais que doutrinação pura. E o tempo todo recebo ensinamentos de como “superar a escola tradicional”, e fico me perguntando o que há de tão errado no ensino tradicional, já que as melhores escolas do Brasil tem ensino puramente tradicional, como por exemplo as escolas Santo Agostinho e São Bento, as escolas presbiterianas, escolas salesianas e os Colégios Militares. E também aprendo que tenho que ensinar seus filhos sobre classe social. Para exemplificar, em uma página de uma das minhas apostilas está escrito “classe social” umas 20 vezes.
Aprendo que o ensino está ruim por culpa do capitalismo opressor, que organiza as escolas de uma forma em que os filhos das pessoas mais ricas tenham um ensino que os façam permanecer em suas classes acreditando que conseguiram suas coisas por mérito próprio e que filhos de pessoas mais pobres tenham um ensino ruim para que ele continue na pobreza. Agora me explique, amigo socialista: se a chamada elite tem uma educação de qualidade, como estes mesmos dizem, porque ao invés de inventar um método novo (Paulo Freire) não imita o que já existe (nos colégios religiosos e militares) e não passa para os pobres? Vai saber, né!
Pois bem, nesse meu discurso enorme vocês viram em alguma parte eu dizer que boa parte professores nos ensinam a como ensinar a criança a ler? Não, né? Porque esses magísteres não nos ensinam.
São discutidas questões políticas, colocam a culpa no capitalismo, se fazem de vítimas do sistema, mas na hora de ensinar as crianças a ler e a escrever, não o fazem. Ensinar as crianças a fazer operações matemáticas, também não! Está aí a explicação para uma educação de pouca qualidade. Começa na formação dos professores. Eu pesquiso por fora, compro livros, assisto vídeos que possam me ajudar, mas e quem não faz isso e sai da faculdade acreditando nessas barbárie? Eu te respondo: eles, os professores, que um dia estavam na faculdade sendo doutrinados, um dia doutrinarão seus filhos. Tomem cuidado!
*Jenifer Castilho é estudante de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e participante do Grupo de Estudos Frèderic Bastiat (EPL/UERJ).