Nota publicada na última edição da revista Época traz a informação de que, finalmente, estaria para começar a mais temida das delações premiadas da operação Lava Jato. A Procuradoria-Geral da República já teria acordado com o engenheiro Ricardo Pessoa, da UTC, os termos de sua delação.
Coordenador do cartel das empreiteiras, Pessoa é o personagem que faltaria para expor Lula, Vaccari e José Dirceu. Pessoa já revelou a pessoas próximas que pagou despesas pessoais do ex-ministro José Dirceu, deu 30 milhões de reais em 2014 a candidaturas do PT, incluindo a presidencial de Dilma Rousseff – tudo com dinheiro desviado da Petrobras. Além disso, seria o grande conhecedor da atuação do cartel de empreiteiras nos demais órgãos do governo.
Ele já teria começado a falar tudo o que sabe, mas o conteúdo explosivo só tem valor processual após a homologação do acordo pelo relator do processo da Lava Jato no STF, ministro Teori Zavascki.
Na outra ponta, Dilma teria confidenciado a interlocutores que estariam próximas a acontecer a soltura dos presos preventivamente pela operação Lava Jato, entre eles o próprio Ricardo Pessoa.
A avaliação é de que, se essa previsão se confirmar, a tendência seria os empresários abandonarem as negociações com os procuradores, tornando praticamente nulas as possibilidades de colaborarem com as apurações.
Dilma fez tal prognóstico ao se referir ao julgamento que a Segunda Turma do STF fará, nos próximos dias, do pedido de libertação do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC.
Como ela teria conhecimento de decisões ainda não proferidas pela mais alta corte do país, é algo que não se sabe.
Vamos analisar os fatos: embora Dilma esteja com apenas 12% de aprovação, o governo não deve estar assistindo inerte os fatos acima descritos. Usará todos os meios – republicanos ou não – que tiver a seu alcance de evitar esses fatos, que tem potencial avassalador.
Nos meios políticos já se comenta, abertamente, que a Força Tarefa do Ministério Público Federal tem indícios para implicar pessoas do último pavimento. Principalmente aquele que já teve foro privilegiado e hoje não o detém.
Até onde irão a motivação, as condições e a vontade de Dilma para continuar no Palácio do Planalto com aprovação de 12 % e em queda, é uma grande dúvida.
O potencial de traição e debandada do barco de Dilma é óbvio ululante.
Some-se a isto a crise econômica em curso. Falta pouco para o Brasil evoluir de uma recessão já visível para uma depressão.
Com a crise política se intensificando, resta saber de que lado será o primeiro personagem a enfartar.
Esse poderá ser o melhor indício de para o qual o lado a balança irá pender.
Se as manifestações do domingo vindouro forem da envergadura com que estão previstas, Dilma Rousseff terá que sair do poder.
O dia de ontem mostrou o tamanho do desastre da desarticulação política da presidente Dilma Rousseff. Sua inabilidade e falta de realismo levou-a a um beco sem saída. Para piorar, está colhendo os frutos dos graves erros de decisão que tomou desde que a campanha eleitoral foi encerrada, refletidos nos índices de preços e da produção. A irritação dos brasileiros com seu governo está expressa nas elevadíssimas taxas de rejeição que ela sofre, as maiores desde que são medidas.
A coincidência da elevação dos índices de preços com a impopularidade não é ao acaso. Dilma Rousseff errou profundamente ao fazer realinhamento de preços do setor elétrico. Não é possível imaginar que houvesse um descompasso de 50% nos preços e a decisão ficou parecendo como a uma maneira de extorquir os contribuintes com mais impostos indiretos. Ocorre que a conta de luz é democrática e chega a cada um dos lares. Ninguém se esquecerá facilmente desse tarifaço. Parece óbvio que o mais sensato teria sido um reajuste paulatino, sem tentativa de arrecadar mais com os preços de monopólio.
Essa decisão, ao lado das eloquentes revelações dos processos do petrolão, são os dois ingredientes decisivos na derrocada da popularidade de Dilma Rousseff. Já a relação deteriorada com o Congresso Nacional se deve a um fator exógeno ao PT: a vitória parlamentar do PMDB nas últimas eleições, que foi feita às custas do PT. E também porque o Congresso se deu conta do regime semi parlamentarista em vigor, tendo passado a exercer seus plenos poderes constitucionais. O Executivo fragilizou-se imediatamente. Ainda ontem a presidente parece ter abdicado da palavra final das coisas do Governo ao conceder a Michel Temer que a Casa Civil não terá a palavra final sobre os acordos políticos. O ministro deveria se demitir depois dessa.
Há ainda um outro fator determinando a queda da popularidade: o preço dos combustíveis. Toda gente sabe que a cotação do petróleo no mercado internacional caiu à metade, enquanto que a Petrobras, surrupiada pelo PT, pratica os maiores preços do planeta, absorvendo margem desproporcional. O fato está refletido nos índices de preços e nas pesquisas de opinião. Podemos dizer: o povo não é bobo.
O governo de Dilma Rousseff, enquanto proposta articulada para o país, acabou ontem, com a abdicação de seu poder sobre as decisões políticas. Michel Temer virou uma espécie de regente, à espera do desenlace final de um eventual processo de impeachment. A história ensina que um governo não sobrevive sem o apoio de seu próprio povo. As manifestações do próximo dia 12 de abril deverão servir de marco no rumo de uma eventual transição de poder.
O PT esgotou-se de tanto mentir. A propaganda eleitoral de Dilma Rousseff, dizendo que não haveria ajuste fiscal para, em seguida, fazê-lo corroeu as bases da legitimidade do poder. Foi uma traição direta aos seus eleitores. Um desastre de comunicação dessa envergadura só pode ocorrer se se achar que as pessoas não perceberiam o abismo entre a prática e o discurso de véspera. O povo não é bobo, não.
Agora é esperar os próximos passos. Se as manifestações do domingo vindouro forem da envergadura com que estão previstas, Dilma Rousseff terá que sair do poder, por bem ou por mal. Até porque as manifestações não serão esgotadas no domingo. Outras virão, agora provavelmente em meio dos sintomas mais tenebrosos da crise econômica, a começar pela elevação da inflação e do desemprego. O PT perdeu qualquer legitimidade com suas mentiras.
Quem viver verá.
"Quando teníamos todas las respuestas se cambiaram las perguntas" ( frase pichada em um muro, em Quito, Equador, logo após a queda do socialismo real )
"O Furor e o Delírio" é o título de um livro escrito por Jorge Masetti, editado em 1999 na Espanha. Jorge Masetti, nascido na Argentina, é filho de Ricardo Masetti, jornalista argentino que chegou a Cuba em 8 de janeiro de 1960, com sua mulher e filho, então um menino, no mesmo dia em que Fidel Castro entrava em Havana à frente de seus guerrilheiros.
Nesse mesmo ano Ricardo Masetti fundou a agência de notícias "Prensa Latina", que existe até hoje. Tornou-se amigo de Che Guevara e, em 1965, foi mandado para chefiar um grupo guerrilheiro em Salta, Argentina, onde foi morto.
O menino Jorge Masetti, então com 9 anos, tornou-se um protegido de Manuel Piñero Losada, responsável pelos Serviços de Inteligência de Cuba. Posteriormente, ainda muito jovem, com 17 anos, recebeu treinamento armado e passou a integrar o Departamento América (órgão de Inteligência vinculado ao Comitê Central do Partido Comunista Cubano), sob as ordens de Piñero.
Durante toda sua vida desempenhou atividades clandestinas em diversos países da América e África, bem como lutou na Nicarágua junto às forças da frente Sandinista de Libertação Nacional.
Um dos capítulos do livro (páginas 134 a 137), refere-se às suas atividades no México, nos anos de 1981. Esse relato revela a estratégia empregada pelo Departamento América e o apoio aos grupos guerrilheiros de então, na América Latina, bem como as atividades desenvolvidas para conseguir dinheiro, "de qualquer jeito".
"Minhas tarefas foram diversificadas cada vez mais. Fui encarregado de conseguir contatos que nos emprestassem seus nomes para abrir contas bancárias que utilizaríamos para depositar o dinheiro que obtínhamos com o que chamávamos de "centrífugas", operações que consistiam em facilidades a todos os que viajavam a Cuba através do Departamento, fornecendo dinheiro mexicano para que comprassem os 500 dólares autorizados pelo governo. Eu trocava esses dólares no câmbio negro e os depositava nessas contas e, após, comprávamos dólares novamente. Então, a diferença entre o preço do dólar oficial e o negro era de quase cem por cento. Viajavam a Cuba cerca de 20 a 30 pessoas por semana.
Posteriormente, começamos também a utilizar essas contas para depositar o dinheiro que as organizações revolucionárias da América Latina colocavam aos cuidados de Cuba.
Essa era uma forma de conseguir autofinanciamento para complementar o estreito orçamento oficial. Desde Cuba, as pressões eram cada vez maiores para que conseguíssemos, de qualquer maneira, divisas. A partir de então, começamos a desenvolver todos os tipos de atividades, cada vez mais comprometedoras.
De Havana recebemos ordem para prestar apoio técnico a grupos guerrilheiros latino-americanos que operavam no México. Desde assaltos a bancos até a joalherias. O responsável em Cuba era Armando Campos, Primeiro Vice-Chefe do Departamento América ( Armando Campos Ginestra responde, até hoje, por uma das chefias do Departamento América ).
O êxito de algumas operações montadas por esses grupos em outras latitudes estimulou Cuba a lançar-se, indiscriminadamente, a esse tipo de atividades, dando apoio financeiro e logístico em qualquer país. O México, por suas facilidades para emigrar, ineficiência policial, pela densidade da sua população e pela presença de um numeroso exílio, apresentava vantagens excepcionais.
Aquilo que começou sendo uma atitude conjuntural converteu-se em tarefa permanente e. por que não admití-lo, em um fim em si mesmo. Houve companheiros que se especializaram nesse tipo de missões, gerando o desenvolvimento de uma bandidagem revolucionária. Essas ações outorgavam um poder, uma capacidade de manipulação e uma autonomia de recursos muito acima das que dispunham o restante dos militantes, inclusive aqueles que se encontravam em uma verdadeira situação de clandestinidade em seus países.
Essas operações permitiam a Cuba não só reduzir a ajuda que desembolsava, como, também, como administradora desses fundos, arrogar-se ao direito de dispor de maiores orçamentos para apoiar o movimento revolucionário que desejasse e, inclusive, financiar os deslocamentos dos funcionários do Departamento América. A princípio, a colaboração não era de grande envergadura. A mala diplomática era utilizada para introduzir o armamento necessário, mas logo começou a colaboração em matéria de informações e, inclusive, colocávamos em contato grupos de origens distintas para desenvolver operações de maior alcance e estimulávamos aquelas organizações que ainda não estavam implicadas nesse tipo de atividades a preparar grupos especiais. Nós, do escritório do México, em mais de uma oportunidade lhes demos apoio e facilitamos contatos.
Recordo que uma vez um dos funcionários que trabalhavam com Armando Campos viajou ao México e tentou recrutar-me para que me incorporasse diretamente com um desses grupos, o que não foi aceito pelo meu chefe imediato na embaixada: "Alejandro" ( Armando Coma. Seria Fernando Pascual Comas Perez, até hoje integrante do Departamento América ).
Nós dávamos apoio e entregávamos aos grupos operacionais o que chegava de Havana: armas, dinheiro para a montagem das operações e passagens, caso algum deles tivesse que viajar a Cuba para entrevistar-se diretamente com Armando.
Recordo de uma vez, quando entregamos armas. Nessa mesma semana foram assaltados dois bancos que estavam na mesma esquina, em Concepción Beistegui com Avenida Coyoacán. A imprensa comentava que, pelo nível de especialização e sangue frio dos atacantes, só poderia tratar-se de ex-policiais afastados. Nós sabíamos de quem se tratava e, poucos dias depois, obtínhamos a confirmação quando a pessoa à qual havíamos entregado as armas nos passou uma soma de "traveler's checks" em banco para que os negociássemos.
Os assaltos continuaram e, na mesma medida, a introdução de armas e as viagens dos funcionários que trabalhavam com Armando.
Em uma ocasião, também, demos apoio a um grupo de "Los Macheteros", que lutava pela independência de Porto Rico".
Posteriormente, em 1988, em Havana, "Tony de La Guardia" ( como era conhecido o Coronel Antonio de La Guardia, com cuja filha, Ileana, Jorge Masetti posteriormente se casou ), que lutara no Líbano e na Nicarágua e que no Chile, durante o Governo Allende, chefiara um grupo cubano das Forças Especiais, dirigia um grupo que dependia da DGI ( "Direción General de Informaciones" ). Esse grupo tinha por tarefa tentar romper o bloqueio norte-americano obtendo tecnologia para os diversos ramos da indústria e da medicina. Devia também buscar divisas de qualquer forma, pois Cuba não contava com o orçamento necessário para a aquisição do abastecimento de que precisavam os diversos ministérios. O nome da seção especial dirigida por "Tony", no seio da DGI, era MC, que significava “moeda conversível", ou seja, Fidel Castro lhe havia outorgado uma espécie de "patente de corsário" para buscar dinheiro.
Antonio de La Guardia viria a ser julgado e fuzilado em 1989, em Havana, pois na sua busca por "moeda conversível", para atender às necessidades cada vez maiores do Estado cubano, foi acusado de "ligação com o narcotráfico".
Em 1990, Jorge Masetti e Ileana exilaram-se na Espanha, onde vivem atualmente.
No final do livro, Jorge Masrtti faz uma autocrítica demolidora:
"Quando observo o que foi a minha vida e a de tantos outros, caio em conta de que a revolução não foi mais que um pretexto para cometer as piores atrocidades tirando-lhe todo vestígio de culpabilidade. Escudávamo-nos na meta de buscar fazer o bem à humanidade, meta que era uma falácia. Éramos jovens irresponsáveis, aventureiros. Éramos uma casta à parte, inclusive à parte dos revolucionários que operavam localmente em seus países, os quais se viram obrigados a adotar a luta armada pelas circunstâncias políticas. Nós, em troca, éramos uma mescla de James Bond com umas gotas de marxismo muito superficiais, aos quais tudo era permitido, sobretudo viver de maneira diferente de como o faziam os militantes que realizavam o obscuro e anônimo trabalho de massas para construir uma organização política. Éramos a vanguarda da revolução cubana, os meninos mimados de Fidel e de Manuel Piñero, que não fomos eleitos nem por nossa inserção nas massas nem por nosso espírito de sacrifício cotidiano. Éramos eleitos por não pertencer a nada, sem religião nem bandeira, com uma capacidade de aventura muito desenvolvida e com um grau de cinismo não menos importante. Hoje, posso afirmar que por sorte não ganhamos, pois, caso contrário, tendo em conta nossa formação e o grau de dependência com Cuba, teríamos afogado o continente em uma barbárie generalizada. Uma de nossas palavras de ordem era fazer da Cordilheira dos Andes a "Sierra Maestra" da América Latina, onde, primeiro, teríamos fuzilado os militares, depois os opositores, e logo os companheiros que se opusessem ao nosso autoritarismo. Eu sou consciente de que atuaria dessa forma.
É muito cômodo invocar o argumento de que fomos manipulados, como é muito cômodo, também, escudar-se por trás das lutas contra as ditaduras militares para justificar os abusos. É necessário revelar a parte obscura, essa parte inconsciente relacionada com a fascinação pelo poder, vizinha da tendência de praticar a crueldade, porque não só tratamos de destruir nossos inimigos, como destruímos nossos companheiros, nossos filhos e os colaboradores. Em realidade, durante todos esses anos de luta, destruímos sem construir nada. Nós vivíamos num mundo fechado entre nós, freqüentando lugares especiais onde só íamos nós. Eu não ia a pizzarias, onde come todo o mundo. Eu freqüentava os restaurantes onde comiam os chefes. Esse era o meu mundo.
O que eu vivi desde minha chegada a Cuba será sempre uma ferida aberta. Uma fratura entre o antes e o depois. Entre as ilusões do furor guevarista, o delírio da luta armada e a época do desencanto".
No livro de Jorge Masetti podem ser encontradas as raízes, em 1982 / 1983, no México, da estratégia dos Serviços de Inteligência de Cuba no apoio a "operações" em toda América Latina, a fim de buscar equilibrar os orçamentos do país. São essas as origens dos seqüestros de Abílio Diniz, do banqueiro Beltran Martinez e dos publicitários José Salles, Geraldo Alonso e Washington Olivetto, no Brasil; de Christian Edwards Del Rio ( filho do dono do jornal "El Mercurio"), no Chile; e outros, no Panamá e no México, todos utilizando a mão-de-obra ociosa de antigos revolucionários do continente. Nesses seqüestros, como não é segredo, os Serviços de Inteligência de Cuba sempre atuaram nos bastidores.
Os liberais e conservadores deste país nunca hão de tirar o pé da lama enquanto continuarem acreditando que nada mais os separa dos esquerdistas senão uma divergência de idéias, apta a ser objeto de polidas discussões entre pessoas igualmente honestas, igualmente respeitáveis. A diferença específica do movimento revolucionário mundial é que ele infunde em seus adeptos, servidores e mesmo simpatizantes uma substância moral e psicológica radicalmente diversa daquela que circula nos corações e mentes da humanidade normal. O revolucionário sente-se membro de uma supra-humanidade ungida, portadora de direitos especiais negados ao homem comum e até mesmo inacessíveis à sua imaginação.
Provar que o esquerdista esta errado, não significa nada. Você tem é de mostrar como ele é mau, perverso, falso, deliberado e maquiavélico por trás de suas aparências de debatedor sincero, polido e civilizado.
Quando você discute com um esquerdista, ele se apóia amplamente nesses direitos, que você ignora por completo. A regra comum do debate, que você segue à risca esperando que ele faça o mesmo, é para ele apenas uma cláusula parcial num código mais vasto e complexo, que confere a ele meios de ação incomparavelmente mais flexíveis que os do adversário. Para você, uma prova de incoerência é um golpe mortal desferido a um argumento. Para ele, a incoerência pode ser um instrumento precioso para induzir o adversário à perplexidade e subjugá-lo psicologicamente. Para você, a contradição entre atos e palavras é uma prova de desonestidade. Para ele, é uma questão de método.
A própria visão do confronto polêmico como uma disputa de idéias é algo que só vale para você. Para o revolucionário, as idéias são partes integrantes do processo dialético da luta pelo poder; elas nada valem por si; podem ser trocadas como meias ou cuecas.
Todo revolucionário está disposto a defender “x” ou o contrário de “x” conforme as conveniências táticas do momento. Se você o vence na disputa de “idéias”, ele tratará de integrar a idéia vencedora num jogo estratégico que a faça funcionar, na prática, em sentido contrário ao do seu enunciado verbal. Você ganha, mas não leva. A disputa com o revolucionário é sempre regida por dois códigos simultâneos, dos quais você só conhece um. Quando você menos espera, ele apela ao código secreto e lhe dá a rasteira.
Você pode se escandalizar de que um desertor das tropas nacionais seja promovido a general post mortem enquanto no regime que ele desejava implantar no País o fuzilamento sumário é o destino não só dos desertores, mas de meros civis que tentem abandonar o território. Você acha que denunciando essa monstruosa contradição acertou um golpe mortal nas convicções do revolucionário. Mas, por dentro, ele sabe que a contradição, quanto menos explicada e mais escandalosa, mais serve para habituar o público à crença implícita de que os revolucionários não podem ser julgados pela moral comum. A derrota no campo dos argumentos lógicos é uma vitória psicológica incomparavelmente mais valiosa. Serve para colocar a causa revolucionária acima do alcance da lógica.
Você não pode derrotar o revolucionário mediante simples argumentos. A eles é preciso acrescentar o desmascaramento psicológico integral de uma tática que não visa a vencer debates, mas a usar como um instrumento de poder, até mesmo a própria inferioridade de argumentos.
Em cada situação de debate é preciso transcender a esfera do confronto lógico e pôr à mostra o esquema de ação em que o revolucionário insere a troca de argumentos e qual o proveito psicológico e político que pretende tirar dela para muito além do seu resultado aparente.
Mas isso quer dizer que o único debate eficiente com esquerdistas é aquele que não consente em ficar preso nas regras formais num confronto de argumentos, mas se aprofunda num desmascaramento psicológico completo e impiedoso.
Provar que um esquerdista está errado não significa nada. Você tem é de mostrar como ele é mau, perverso, falso, deliberado e maquiavélico por trás de suas aparências de debatedor sincero, polido e civilizado. Faça isso e você fará essa gente chorar de desespero, porque, no fundo, ela se conhece e sabe que não presta. Não lhe dê o consolo de uma camuflagem civilizada tecida com a pele do adversário ingênuo. *Olavo de Carvalho
Triste é o mundo em que uma frase ou mesmo uma palavra fora do lugar podem destruir a vida de uma pessoa. A milícia do pensamento está de plantão para nos apanhar em flagrante delito diante de qualquer termo que ofenda o ideário politicamente correto. Qualquer um pode ser a próxima vítima: eu, você, o seu filho, o seu pai, a sua mãe, o seu vizinho. A não ser que você seja militante de esquerda. Nesse caso, tem salvo-conduto e pode dizer a besteira que quiser, desde que não ofenda Maomé.
Uma passagem bíblica que me emociona sempre é a resposta do centurião romano quando Jesus se oferece para ir até a casa dele: “Eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e meu servo será salvo”. Essa frase encantou Jesus, que declarou não ter visto uma fé tão grande mesmo entre os filhos de Israel. O diabo – nome cujo sentido é “aquele que acusa” ou “aquele que divide” – afirma-nos exatamente o contrário: “Dizei uma palavra e sereis morto”.
Conheço um homem que passou um longo período na prisão – onde foi diariamente violentado – por ter escrito uma frase infeliz. O que me assombra, no caso, não é a reação das pessoas contra uma palavra, mas a impossibilidade de perdão.
No romance “A Marca Humana”, de Philip Roth, um professor universitário americano faz uma piada sobre alunos que nunca apareceram nas aulas. Chama-os de “spooks” (fantasmas). Ocorre que os alunos, os quais o professor nunca tinha visto, eram negros. E “spooks”, descobre-se depois, vem a ser uma antiga gíria racista em desuso. O professor tem a sua vida e carreira destruídas. Sem perdão.
Aristóteles diz que a política é a arte de promover o bem das pessoas. Mas ele também alerta: quando desvirtuada, a política transforma o homem no pior dos animais. Os patrulheiros da linguagem utilizam a política como forma de aniquilação do oponente. Nesse sentido, eles são os verdadeiros adeptos do golpe. Golpista é aquele que destrói o inimigo por uma única palavra.
No final do ano passado, o então deputado Renato Simões (PT-SP) declarou em plena Câmara Federal: o Brasil é governado - não pela Presidente Dilma Rousseff - mas pelo Foro de São Paulo [1]. Uma declaração assim, aberta e sem o menor pudor, é por si só escandalosa. Porém, o espanto pode ser ainda maior se ela e quem a enunciou forem inseridos na análise de um dos principais temas do debate público atual: a reforma política.
Renato Simões participou de reuniões promovidas pelo Foro de São Paulo no exercício do seu mandato parlamentar [2]. Mas, antes mesmo de compor a Câmara dos Deputados, o petista frequentou os encontros da organização fundada por Lula e por Fidel Castro como Secretário de Movimentos Sociais do PT - é preciso destacar: como Secretário de MOVIMENTOS SOCIAIS do PT. Por exemplo, estava ele em Caracas, na Venezuela, participando ao lado do tiranete Hugo Chávez e de seu futuro herdeiro, Nicolás Maduro, do XVIII Encontro do Foro de São Paulo [3].
Muito bem. Atualmente, Renato Simões está empenhado na promoção de duas propostas de reforma política: uma, que seria desenvolvida por meio de um Plebiscito Constituinte; a outra, um projeto de lei dito de "iniciativa popular" apresentado por uma tal "Coalizão para a Reforma Política Democrática"
As duas propostas de reforma política têm o apoio da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), apesar de estarem em total desacordo com os princípios e orientações da Igreja Católica. E, embora aparentemente distintas, elas têm o mesmo objetivo: inserir nas instâncias decisórias da administração pública os chamados "movimentos sociais", que são grupos ligados diretamente ao PT ou que de alguma forma são aliados do partido [4]. O MST é o caso mais emblemático. Os sem-terra - que assinam as duas propostas - são parceiros históricos do Partido dos Trabalhadores e um braço do Foro de São Paulo, um braço armado e treinado em atividades de guerrilha [5]. Portanto, não é difícil notar que a reforma política "democrática" é uma fraude. Trata-se propriamente de iniciativas maliciosas que promovem "movimentos sociais" comprometidos com o comuno-petismo para ampliar e fortalecer o seu projeto de poder totalitário.
Renato Simões já não é mais Deputado Federal. No entanto, ele passou a integrar uma equipe de trabalho na Secretaria Geral da Presidência da República, que tem entre suas principais atribuições a de intermediar as relações do governo federal com as "entidades da sociedade civil", com os chamados "movimentos sociais". Simões - que pertence à "Militância Socialista" do PT - aceitou o convite do ministro Miguel Rossetto - que é da "Democracia Socialista", a ala trotskysta do Partido dos Trabalhadores. O ministro da Presidente Dilma Rousseff que mantém uma relação estreita com o MST [6] e que se comprometeu com a CNBB - com um aperto de mãos - com a promoção da reforma política [7].
Renato Simões aparece ao lado de Miguel Rossetto - antes de integrar oficialmente a equipe do Ministro. A foto acompanha uma publicação da Secretaria Geral da Presidência da República que tem o título - "Ministro Miguel Rossetto OUVE MOVIMENTOS SOCIAIS sobre a reforma política" - e explica que "o encontro faz parte dos DIÁLOGOS entre o ministro e a SOCIEDADE para debater o assunto" (Cf. [http://www.secretariageral.gov.br/noticias/2015/fevereiro/04-02-2015-ministro-miguel-rossetto-ouve-movimentos-sociais-sobre-reforma-politica]). A publicação coloca Renato Simões - um agente do Foro de São Paulo, e que nem deputado federal era mais - como um "representante da sociedade".
Para preparar a conclusão, é importante observar que no seu XIX Encontro - que em 2013 contou com uma saudação especial da Presidente Dilma Rousseff - o Foro de São Paulo estabeleceu: "Temos que REPOSICIONAR O ESTADO e APROFUNDAR A DEMOCRACIA, ASSEGURAR A HEGEMONIA e a ESTABILIDADE POLÍTICA para a realização das MUDANÇAS e GERAR NOVOS ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR NA GESTÃO PÚBLICA e no cumprimento dos direitos básicos da população" [8]. No encontro do ano passado, que aconteceu na Bolívia, a organização comunista ressaltou o "compromisso com o conteúdo de declarações anteriores, em particular a do XIX Encontro, realizado em São Paulo", afirmou o princípio da "DEMOCRACIA e PARTICIPAÇÃO POPULAR" - com o protagonismo dos "MOVIMENTOS SOCIAIS" - para o "ROMPIMENTO RADICAL com O SISTEMA patriarcal de ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA" [9].
Diante do exposto, as propostas de reforma política promovidas por Renato Simões atualizariam aquela sua despudorada declaração na Câmara dos Deputados. O Plebiscito Constituinte e o projeto de lei dito de "iniciativa popular" são - assim como o decreto 8.243-14 [10] - mecanismos e ferramentas para permitir que o Foro de São Paulo continue governando o Brasil.
Referências.
[1]. "O Foro de São Paulo governa o Brasil" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/03/o-foro-de-sao-paulo-governa-o-brasil.html].
[2]. Idem.
[3]. Cf. [http://forodesaopaulo.org/o-pt-e-o-foro-de-sao-paulo/].
[4]. Cf. [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/07/padres-pregam-proposta-de-reforma.html].
[5]. Cf. [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/12/o-mst-e-o-foro-de-sao-paulo.html].
[6]. Cf. [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/11/nao-sabe-de-nada-inocente.html].
[7]. Cf. [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/02/de-maos-dadas-pela-reforma-politica.html].
[8]. XIX Encontro do Foro de São Paulo, Declaração final, São Paulo, 2013 [http://forodesaopaulo.org/declaracion-final-sao-paulo-2013/].
[9]. XX Encontro do Foro de São Paulo, Declaração final, Bolívia, 2014 [http://forodesaopaulo.org/declaracao-final-do-xx-encontro-do-foro-de-sao-paulo/].
[10]. "O decreto do Foro de São Paulo" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/06/o-decreto-do-foro-de-sao-paulo.html].