• Eguinaldo Hélio Souza
  • 19 Maio 2015

Seria bom se isso fosse apenas uma especulação. No entanto, isto é história. Passada e presente.

Como temos dito o Manifesto Comunista é apenas uma síntese do pensamento marxista. Nele é possível conhecer ao menos em resumo o que pensa o socialismo sobre vários assuntos. Por sua síntese o conhecereis. Logo, não podemos esperar daqueles que o consideram uma exposição de verdades qualquer simpatia com o cristianismo. Nele está escrito:

Mas o comunismo quer abolir estas verdades eternas, quer abolir a religião e a, moral, em lugar de lhes dar uma nova forma e isso contradiz todo o desenvolvimento histórico anterior.[1]

Se uma ideologia diz que quer abolir verdades eternas, religião e moral ela está declarando abertamente uma guerra ao cristianismo, porque ele proclama verdades eternas, é uma religião e apresenta um código moral. Nada mais lógico.

E quando essa ideologia se apossa do Estado e de seus recursos bélicos, com certeza levará esse conflito da esfera do pensamento para esfera da realidade física e social. Em outras palavras, se as ideias do Manifesto se concretizam, o ataque aos cristãos é inevitável.

Seria bom se isso fosse apenas uma especulação. No entanto, isto é história. Passada e presente.

A rejeição de qualquer tipo de religião pelo marxismo é uma necessidade de sua própria natureza. Como definiu James W. Sire em O Universo ao lado, o marxismo é o naturalismo na prática, uma visão do mundo sem espaço para Deus ou para qualquer coisa que não seja matéria. Se o cristianismo está certo, então o marxismo está errado e isso, segundo os seguidores de Marx, seria inconcebível.

“Posso entender”, escreveu um pastor que passou anos sendo torturado por sua fé, “Posso entender que os comunistas prendam padres e pastores como contra-revolucionários. Mas por que os padres foram forçados a dizer a missa sobre excrementos e urina, na prisão romena de Piteshti? Por que cristãos foram torturados para tomarem a comunhão com esses mesmos elementos? Por que a obscena zombaria da religião?” (Era Karl Marx um satanista?, p. 47). Respondo. Porque ele é anticristão em sua essência.

Marx era ateu muito antes de ser comunista.[2] “Numa só palavra: odeio todos os deuses”, escreveu ele em sua tese de doutorado.[3] E fez do ateísmo o fundamento para o seu socialismo. Por isso comunismo tornou-se sinônimo de perseguição religiosa e a morte aos cristãos ainda é uma realidade nos países que conservam a ideologia comunista[4]. Todo esse ódio concreto dos governos ao cristianismo tem como fonte o ódio concreto do próprio Marx. “Para Marx, de qualquer forma, a religião cristã é uma das mais imorais que existe”[5]

Lênin, que pôs em prática o pensamento marxista dizia que “toda ideia religiosa é uma abominação”. E acrescentava:

A guerra contra quaisquer cristão é para nós lei inabalável. Não cremos em postulados eternos de moral, e haveremos de desmascarar o embuste. A moral comunista é sinônimo da luta pelo robustecimento da ditadura proletária.[6]

Se a educação foi se tornando cada vez mais antirreligiosa e cada vez mais anticristã, devemos isso, em boa parte, ao marxismo. É quase impossível hoje fazer um curso em uma universidade sem ser inoculado com uma forte dose não de mero ateísmo, mas de um anti teísmo doentio que responsabiliza o cristianismo por todos os males da humanidade.

Os detentores das cátedras de história, geografia, direito, sociologia, psicologia, filosofia, política e mesmo matérias aparentemente inócuas, fazem ataques constantes aos cristãos. Não admira o grande número de ateus na faixa etária pós faculdade.

Quer um exemplo de educação marxista antirreligiosa?

A escola soviética, constituindo instrumento para dar educação comunista às gerações, não pode, por princípio, ter outra atitude em face da religião que a de luta intransigente. A base doutrinal da educação comunista é, com efeito, o marxismo, e ele é inimigo irredutível da religião. O marxismo é materialismo, disse-o Lenin; como tal, impiedoso inimigo da religião, à exemplo dos enciclopedistas do século XVIII ou do materialismo de Feuerbach.[7]

O anticristianismo marxista não é acidental. Ele é essencial. Não é um desenvolvimento pós Marx. É o próprio Marx despejando seu ódio anticristão sobre os que acreditam em Deus. “Desejo vingar-me Daquele que governa lá em cima”, escreveu ele em um de seus poemas da juventude. Como muitos ateus, ele dizia não crer em Deus, mas o odiava por via das dúvidas. E esse ódio foi e continua sendo a causa do sangue cristãos, derramado através do mundo e da história.

Para abolir as verdades eternas, a religião e a moral, conforme diz o Manifesto Comunista, o comunismo persegue, prende, tortura e mata desde o primeiro momento em que chegou ao poder. Assim foi, é e será. Não podemos como cristãos esperar nada melhor da parte dele.

[1] MARX, K. e ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Global Editora, 1986, p. 35
[2] ZILLES, Urbano. Filosofia da religião. São Paulo: Paulus, 1991, p. 123.
[3] WILSON, Edmund. Rumo à estação Finlândia. São Paulo: Companhia das Letrs, 2006, p. 147.
[4] MARSHALL, Paul, GILBERT, Lela e SHEA, Nina. Perseguidos – o ataque global aos cristãos. São Paulo: Mundo Cristão, 2013, pp. 35-74
[5] MCLELLAN. David. Karl Marx – Vida e pensamento. Petrópolis: Vozes, 1990, p. 54
[6] V. Souvenirs, de Clara Zetkine sobre Lenine, 1929.
[7] E. I. Petrovsky. L.Éducation athée à l’école – Sovietskaia pedagógica, 1955, nº 5


Pastor, jornalista, professor de teologia e história no Vale da Bênção. Palestrante nas áreas de apologética, seitas, escatologia, Israel e vida matrimonial. Colaborador da Bíblia Apologética de Estudos. Articulista das revistas Povos e Apologética Cristã. Criador do curso de Apologética Aplicada pela FAETESF e locutor da rádio Saber & Fé. Autor dos livros Lições de Amor e Novas Lições de Amor (casais), Israel Povo Escolhido, Visitação de Deus e Quem é o Perdido?
 

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  • Pilar Rahola
  • 19 Maio 2015


Os mineiros tinham, até bem adiantado o século XX, uma técnica infalível para proteger-se nas profundidades da rocha: os canários. A pequena ave, mais sensível que o homem à falta de oxigênio e aos gases tóxicos, morreria primeiro que estes se nas minas houvessem gases venenosos ou demasiado monóxido de carbono. Se os mineiros vissem os canários morrerem ou asfixiarem-se, sabiam que deviam abandonar a mina à toda velocidade. O canário era o primeiro que sofria por um mal que acabaria por matar a todos.

Em Skopje, na ex Iugoslávia, encontrei certa vez um ancião que havia sobrevivido à história eriçada de guerras de seu país. Me contou o segredo de sua sobrevivência: “Quando os judeus são perseguidos ou escapam – disse com sua boca desdentada – é hora de fazer as malas”.

O ancião iugoslavo tinha razão: na história moderna os judeus foram os “canários” do mundo. Elementos minoritários e vulneráveis da sociedade, os judeus foram sempre o primeiro alvo dos movimentos de destruição e desumanização. Na Inglaterra covarde do “apaziguamento”, Winston Churchill denunciava o verdadeiro caráter da Alemanha Nazi. Um regime que começa perseguindo os judeus – dizia Churchill – cedo ou tarde ameçaria a liberdade e a vida de todos.
A temperança moral do mundo é posta à prova. Se os judeus podem ser perseguidos ou assassinados impunemente – raciocinam os tiranos – então pode-se passar para o próximo passo. Todas as grandes ditaduras de nossa época – nazismo, stalinismo, esquerda, direita – tiveram os judeus como o alvo predileto e como coelhinhos da índia de sua violência assassina. Todas terminaram por causar milhões de mortos de todas as nações.

Se o gás mata o canário, cedo ou tarde matará o mineiro. E isto é o que sucede hoje em dia com o fundamentalismo islâmico. O integralismo é o novo totalitarismo que ameaça as sociedades ocidentais. Sob um verniz de conceitos religiosos, o fundamentalismo é uma doutrina política totalitária e fascista. Israel e os judeus foram seu primeiro alvo e, graças à indiferença do mundo, agora o flagelo estende-se por qualquer lugar como uma impiedosa epidemia.
Quando israelitas morrem despedaçados pelas bombas terroristas, o mundo cala. Vozes de condenação se levantam contra Israel e não contra os assassinos. Os algozes e não as vítimas recebem a solidariedade do mundo. O judeu entre as nações ocupa o mesmo lugar que o judeu entre as gentes: o eterno culpado, o vilificado, o causador de problemas. Israel é acusado de causar o terrorismo islâmico. Na realidade, o estado judeu é sua primeira vítima e é um campo de provas para os assassinos.

A covardia e a indiferença do mundo em lidar com o terrorismo, convenceu os assassinos de que poderiam atacar os Estados Unidos, a Europa e a Ásia.
Assim, o terrorismo – que poderia ter sido entendido com uma ação combinada e enérgica – converteu-se em um mal em escala mundial.
Houve também outros “canários” na história moderna. Em 1938 o estado pacífico e democrático da Checoslováquia foi a primeira vítima de Hitler. Foi um balão de ensaio do Nazismo. Se Praga caísse, cairiam também Varsóvia, Amsterdam, Paris e Londres. No infame tratado de Munique, as potências democráticas claudicaram ante Hitler que, convencido de sua debilidade, sentiu-se confiante para lançar a Segunda Guerra Mundial.

A lógica de Munique continua viva, tanto na Europa quanto nos assassinos. Quando a voracidade de Hitler reclamava a Checoslováquia, França e Inglaterra assinalavam o pequeno país centro-europeu como o culpado de uma tensão que levaria à guerra. “Esse país insolente deve ceder – dizia Chamberlain, referindo-se à Checoslováquia – para salvar a paz”.
Praga foi forçada a ceder, a Checoslováquia desapareceu e assim começou a guerra. Hoje em dia a mesma lógica se aplica a Israel. Frente ao terrorismo, Israel deve ceder, para salvar a paz. A falácia desse argumento é óbvia: o fundamentalismo islâmico não busca tal ou qual reivindicação territorial, senão a destruição de Israel e do Ocidente em seu conjunto. Frente a esta realidade, o Ocidente e especialmente a Europa são suicidamente cegos.

Se, como a Checoslováquia, Israel cai ante o fundamentalismo, qual será o próximo passo? França, que tem em seu seio milhões de muçulmanos e onde os grupos fundamentalistas ganham cada vez mais poder? Inglaterra, onde imãs fundamentalistas queimam bandeiras inglesas?

O que o Ocidente parece não entender é que Israel é o campo de batalha onde lança seu próprio futuro. Se Israel cai frente ao terrorismo, então todo o Ocidente estará ameaçado. As mesmas redes de tráfico de armas e dinheiro que os terroristas usam para atacar Israel, são utilizadas para atacar os Estados Unidos e outros países ocidentais.
Im’ad Magnia, o assassino do Hezbollá que organizou o atentado à AMIA, foi ativo na rede que permitiu a tragédia do 11 de setembro. Ramzee Yussef, o líder do primeiro atentado às torres gêmeas em 1993 fez suas primeiras armas no Hamas. O Irã arma o Hezbollá e com as mesmas redes comandou o assassinato de dissidentes nas ruas de Berlim.
Em Istambul, a estratégia dos “judeus primeiro, depois o resto” é ensaiada com sangrenta eficácia: duas sinagogas são atacadas e só uns poucos dias depois alvos ingleses e turcos também o são.

Berlim e Jerusalém: Durante a Guerra Fria, o mundo pareceu ter aprendido. O Ocidente se deu conta de que Berlim era o canário que não podiam deixar morrer. Enquanto a ditadura comunista construía o muro de Berlim, John F. Kennedy visitou a cidade sitiada e clamou “Eu sou um berlinense”. Estava enviando uma mensagem clara e forte: Se Berlim é atacada, todo o Ocidente o é. Se deixamos Berlim cair, isolada e fechada em um mar de forças hostis, então nós seremos os próximos. Israel – curioso paradoxo – é como Berlim: um oásis democrático e ocidental rodeado de forças hostís e de um mundo árabe em crescente radicalização. Assim como Berlim podia ser deglutida pela “maré” soviética, Israel pode desaparecer sob 20 ditaduras árabes.

Porém, a lucidez do mundo – em especial da Europa – durou pouco. A cegueira judeofóbica não deixa ver o óbvio e empurra a Europa para uma espiral suicida. Em vez de olhar o problema na cara, os europeus consideram Israel como “um perigo para a paz”. Igualmente ridículo que houvesse sido considerar Berlim – e não aos que a ameaçavam- como um perigo para a paz. A mesma cegueira que fez com que Chamberlain chamasse Benes (o líder checoslovaco) de insolente e não a Hitler.

Aos franceses, que por moda ou ódio judeofóbico acusam Israel de ser “o país que mais ameaça a paz mundial”, lhes perguntaria: Se o Hamas vence, como deterão os fundamentalistas da França? Na mente dos fundamentalistas, a queda de Israel aplanará o caminho para futuras conquistas, no coração mesmo da Europa.
Devido à cegueira e à covardia de Munique, a França passou a ser de primeira potência do mundo a um patético país de terceira e a Europa perdeu para sempre seu espaço de preeminência. Agora, graças a seu anti-semitismo e à sua hipocrisia, permitirá ao fundamentalismo islâmico reinar sobre o continente.

A Europa pensa “se Israel não existisse, o mundo seria um lugar mais seguro” da mesma maneira que pensava “se a Checoslováquia não existisse, a Europa estaria mais segura”.
É tão ridículo como um mineiro que veja o canário sofrer se enoje com ele, em vez de pensar que ele e seus companheiros correm perigo.

A “correção política” e a covardia não deixam atacar o problema na raiz. Experts alemães realizaram, a pedido da União Européia, um estudo sobre os atos de anti-semitismo que assolam a União. A conclusão foi taxativa: elementos radicais muçulmanos estavam por trás da onda de violência anti-judaica e a “nova esquerda” dava legitimação e sustento ideológico aos ataques. A demonização de Israel nas mídias, coadjuvava a violência. 

A reação das autoridades frente a este estudo mostra porquê a Europa vai direto ao desastre: a reportagem foi engavetada por considerar-se demasiado “ofensiva”. Em vez de fazer frente ao problema e tomar medidas enérgicas, a comissão encarregou outra reportagem “mais lanceada”.

Alguém dirá: “Sim, porém, e os palestinos?” “Eles são os oprimidos e não Israel”.
A atitude da Europa não tem nada a ver com os justos reclamos dos palestinos.
Também durante Munique os alemães dos Sudetes (região Oeste da Checoslováquia) eram considerados oprimidos. Eles foram a desculpa de Hitler para reclamar o desmantelamento do pacífico país centro-europeu, apesar de que Praga havia acedido a quase todas as demandas de autonomia dos germanófobos dos Sudetes.
Israel, tal como os judeus, não é odiado pelo que faz, senão pelo que é.
Israel é odiado por ser um oásis democrático e ocidental em um mar de ditaduras. Israel é odiado por apoiar-se em valores de humanidade e liberdade cercado de tiranias sangrentas. Israel é odiado porque apresenta um exemplo nefasto para ditadores e tiranos. Não são os defeitos de Israel o que os terroristas odeiam – os quais existem em abundância -, senão suas virtudes.
A intifada não foi lançada por causa da falta de negociações de paz, senão para fazê-las fracassar. Os atentados suicidas começaram em pleno processo de paz, foram causa e não conseqüência de seu fracasso. Aos olhos da Europa Arafat ganhou popularidade e legitimidade precisamente após rechaçar a paz e lançar uma guerra.

A falácia de que maiores concessões por parte de Israel deterão o terrorismo é tão óbvia quanto perigosa. Ainda os que cremos, como a autora destas linhas, na justiça do reclamo palestino e na necessidade de um Estado Palestino ao lado de Israel, devemos saber que o terrorismo – e a hostilidade da Europa – têm pouco a ver com essa reivindicação.
A solidariedade com os palestinos é, talvez, uma das maiores hipocrisias do século. A Europa que colonizou o mundo árabe, que oprime suas próprias minorias muçulmanas e que cala complacente frente às tiranias que assolam o mundo muçulmano, se descobre como campeã dos direitos humanos precisamente no tema palestino.
A Europa, que - como a França – interveio dezenas de vezes em suas ex-colônias africanas, lava suas culpas nas costelas de Israel. A Europa que inventou o colonialismo, o genocídio e o totalitarismo converte as vítimas em culpados.
A Europa jamais protestou quando os palestinos eram submetidos pelo Egito, Síria e Jordânia. Tampouco quando o Kuwait expulsou 300.000 palestinos de seu território. Só quando Israel é o suposto “perpetrador”, a solidariedade se faz ver.
Longe de ser solidária, a Europa trata outra vez de “apaziguar” assassinos. Os que pagam, são outra vez os judeus.
Se não temos canários – pensaria um mineiro néscio e suicida – então não haverá gás tóxico na mina. Se não existisse Israel – pensam europeus covardes e anti-semitas – então não haveria fundamentalismo islâmico.
Os europeus são – nas palavras do grande Milan Kundera – “os engenhosos aliados de seus próprios coveiros”.
Israel, é como disse um jornalista israelense, um país “on probation”. O problema não são os territórios ocupados, nem o conflito palestino. O tema é o direito de Israel existir. A legitimidade mesma da existência de um Estado Judeu. Nenhum outro país do mundo tem sua existência mesma questionada. Inclusive os que cremos na necessidade de entregar territórios em troca da paz, não devemos enganar-nos. A hostilidade da Europa não tem nada a ver com os territórios.
Em uma notória pesquisa, 19% dos italianos disseram que Israel deveria deixar de existir. Mais revelador que o resultado é propriamente a pergunta: Por que é legítimo para um pesquisador europeu pôr em dúvida o direito de Israel existir e não o da Índia, Síria, França ou Itália?

Israel tem que pedir permissão e perdão pelo mero fato de existir. Quem acompanha atentamente as emissões televisivas européias verá que já não se debate acerca de tal ou qual plano de paz, nem acerca de regras territoriais. O debate centra-se em deslegitimizar a existência do Estado.
A “nova esquerda”, que na realidade tem pouco de nova e muito de ranço stalinista totalitário, converteu em legítimo e cool o anti-semitismo e a deslegitimização de Israel. Os anti-semitas modernos já não são velhos nazis ou fascistas repulsivos, senão intelectuais progressistas e da moda. Como dizem Alain Finkielkraut, “é o tempo dos anti-semitas simpáticos”.

O filósofo judeu-francês – que, diga-se de passagem, é um antigo militante pela causa palestina – queixa-se amargamente: “os debates nos quais participamos não são discussões, senão tribunais”. Aceita-se a terrível irracionalidade de ser anti-semita como condição necessária para ser liberal e anti-racista. O “direito de solo” que os intelectuais judeus têm que pagar para serem aceitos continua subindo: se antes tinha que ser pró-palestino, agora há que franca e plenamente negar o direito a Israel de existir.
A sociedade e os meios de comunicação colaboram ativamente. “Quando Le Pen – líder da extrema direita francesa – atacava os judeus, era condenado unanimemente; quando Tarik Ramadam – pseudo intelectual muçulmano de esquerda – lança uma lista de ‘judeus suspeitos’, é convidado a explicar sua posição em ‘tout le monde en parle” (um programa da atualidade muito em moda na elite artísitica e intelectual francesa).
Se houvesse objetividade, se poderia lutar com a mesma força pelos direitos dos palestinos e pelo direito de Israel de existir livre e seguro, como um estado judeu e democrático.
Paradoxalmente, as posturas israelenses mais extremas se vêem fortalecidas por esta atitude. Se o que se nega é a existência mesma do Estado, inclusive em suas fronteiras de 1967, - pensa a extrema direita – então, de que serve fazer dolorosas concessões?

Se o que se deslegitimiza é Tel Aviv, então para que renunciar a Hebron? O argumento é logicamente irreprochável. Para que ceder territórios que se tenham no coração da consciência histórica judaica, se esse sacrifício não nos assegurará a paz, o reconhecimento e a segurança?
Frente a isto, a esquerda se vê esvaziada de argumentos e impelida aos extremos, e os que desejam um acordo baseado em concessões mútuas sentem-se como ingênuos que ignoram os verdadeiros motivos de seus adversários.
Quando o presidente francês Daladier voltou de Munique esperava ser linchado por sua claudicação ante Hitler. Em vez disso, foi recebido por uma multidão que o ovacionava por ter salvado a paz. Ninguém queria “morrer pela Checoslováquia”. Fingindo um sorriso, voltou-se para seu ministro das Relações Exteriores e murmurou: “Quels cons!” “(Que imbecis!)”.

As similitudes com a época atual são arrepiantes. Líderes que legitimam ditadores e assassinos são tratados como “heróis da paz”, enquanto asseguram um futuro de mais guerra e terrorismo. Me pergunto se enquanto desfrutava de seu orgasmo midiático anti-americano e anti-israelense, Jacques Chirac se havia voltado para Dominique de Villepin para dizer “Quels cons”...
Canários indóceis. Agora bem, suponhamos que em uma mina, os canários dizem basta! Basta de morrer para alertar os mineiros de perigos iminentes. Basta de sofrer, porque de todos os modos os mineiros não nos prestam atenção e seguem envenenando-se lentamente com os gases tóxicos da mina.
Basta de morrer gratuitamente, porque a triste verdade é que aos mineiros não importa.
Basta de asfixiar-nos por nada, porque a única coisa que recebemos é o ódio e não a solidariedade dos mineiros aos quais salvamos. Basta, porque os mineiros jamais aprenderão a lição e jamais entenderão que se nós morrermos, morrerão eles também. Basta, porque nem sequer cuidam de nós, para cuidarem-se a si mesmos.
Basta. Nos negamos a ser as cobaias da mina; vamos fazer o que fazem todos os demais: defender nossa própria vida antes de tudo.
Esta é a legítima eleição de Israel hoje.

* Pilar Rahola foi deputada no Parlamento espanhol pela "Izquierda Republicana Catalana" e 

vice-prefeita da cidade de Barcelona. Escreve nos jornais El País, El Periódico e Avui (em
catalão). Dirige o programa de entrevistas na TV espanhola. Além disso, participa de
debates públicos e congressos internacionais sobre a temática da mulher e da infância. Tem vários livros publicados em catalão e castelhano.

  ** Tradução de Marcos L. Susskind

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  • Paulo G. M. Moura
  • 19 Maio 2015

(Publicado oroginalmente em http://professorpaulomoura.com.br/coplexidade-e-imprevisibilidade-os-vetores-da-conjuntura/

O início do segundo mandato da presidente Dilma foi marcado por uma mudança qualitativa da conjuntura, cujo marco central é perda de popularidade e de apoio político do governo. Sob circunstâncias normais o protagonismo do jogo político costuma ser, sempre, do governo. O Executivo, quando sustentado por maioria no parlamento, é quem pauta o Legislativo e a sociedade com suas iniciativas e projetos. Circunstancialmente a oposição consegue protagonizar algum lance capaz de incomodar o governo, mas esses casos são exceções.

A inversão da balança do poder entre Executivo e Legislativo não é o único elemento (des)estruturante do novo quadro conjuntural. Transformações importantes também estão em curso entre os partidos e dentro dos principais partidos políticos brasileiros. O marco central dessa transformação parece residir na constatação, por parte dos principais players da política brasileira, de que o PT não é apenas mais uma das legendas partidárias nacionais, mas sim, uma organização movida por uma estratégia hegemonista, orientada por um projeto de perpetuação no poder que passa pela destruição dos demais partidos, especialmente do PMDB e do PP.

A corrupção, nesse contexto, além de forma de financiamento desse projeto de poder, é usada pelo PT como ferramenta para destruir alguns dos principais personagens da política brasileira e seus partidos. O fato de que a filha de José Sarney, Renan Calheiros e Eduardo Cunha estejam envolvidos no escândalo do Petrolão e correndo sério risco de condenação e prisão introduz um ingrediente dramático ao jogo político, dada a centralidade desses personagens no controle do PMDB, partido que se constitui no fiel da balança da governabilidade há décadas; que se posicionou no controle do Congresso Nacional e usa suas posições no parlamento como arma para enfrentar o PT e barrar o projeto do partido de Lula.

A fragmentação da base alugada e as contradições e conflitos entre Calheiros e Cunha, nesse cenário, embora se constituam em elemento importante da disputa de poder dentro do PMDB e entre os partidos, interfere, de fato, como um elemento complicador para a articulação de vitórias em plenário por parte do Palácio do Planalto. Os peemedebistas se servem da confusão para encarecer o preço de seu apoio ao governo no parlamento.

A percepção, por parte dos demais partidos, da natureza do projeto de poder do PT levou ao isolamento dos petistas. O envolvimento do partido no escândalo do Petrolão está produzindo um abalo de grandes proporções na imagem e no poder do PT, cuja hemorragia em praça pública recém está no seu início e ameaça, inclusive, a própria existência da legenda.

Além disso, o conteúdo das medidas de ajuste fiscal a que o governo se vê obrigado a recorrer para corrigir as distorções econômicas produzidas a partir do segundo mandato de Lula constitui-se em mais um elemento desagregador do petismo, forçando-os a engolir suas próprias contradições para salvar seu governo moribundo, e gerando um uma fieira de traições e deserções puxadas pela saída de Marta Suplicy do partido.

Num cenário com esses ingredientes, o duro ajuste fiscal necessário e estratégico para que o país saia do quadro de inflação com recessão produzido pela política econômica petista virou moeda de troca nos jogos de poder intragovernistas. O vice-presidente Michel Temer, alçado à condição de articulador político do governo vem comemorando as parcas vitórias que costurou pescando votos na oposição para passar o ajuste fiscal, mas o fato é que os congressistas estão mitigando o ajuste das contas públicas com um jogo cínico no qual, ao mesmo tempo que aprovam as medidas do governo, paralelemente, aprovam outros gastos capazes de corroer o esforço fiscal e comprometer a saúde da economia e a sobrevida do governo Dilma.

O ministro Joaquim Levy, diante dessa situação, anuncia a necessidade de mais aumentos de impostos e de contingenciar R$ 78 bilhões do orçamento para compensar os novos gastos criados pelo parlamento. No entanto, logo encontra os limites de suas ameaças ao se defrontar com o risco de o remédio, nessa dose, matar o doente. Isto é, paralisar completamente o governo e asfixiar as forças de mercado já sobrecarregadas com a carga tributário escorchante que esfola o ímpeto empreendedor das empresas e indivíduos, desestimulados pela transferência descomunal transferência da riqueza socialmente produzida para sustentar um Estado ineficiente, gastador e corrupto.

Por mais malabarismos que faça o ministro Joaquim Levy e por mais que os editoriais da grande imprensa se esforcem para puxar as orelhas dos políticos que teimam em não colaborar para o sucesso do esforço fiscal, a cada dia que passa vai ficando claro que a variável política está impedindo o fechamento das contas que o ministro do Bradesco precisa entregar redondas.

Por outro lado, a reforma política, dessa vez pautada pelo Congresso como forma de conter o petismo e que aparentava dessa vez avançar em medidas saneadoras do jogo eleitoral, também, a cada dia que passa, vai se revelando um novo fogo de palha a ser apagado pelo balde de água gelada da falta de consenso entre os políticos sobre a ameaçadora mudança das regras com as quais se elegeram.

E, para tornar ainda mais complexo o cenário, o dono da UTC, empreiteiro Ricardo Pessoa, tido como capo do conluio de empreiteiras agenciadas pelo projeto de poder do petismo, assinou seu acordo de delação premiada revelando que dinheiro do Petrolão abasteceu os cofres da campanha da chapa Dilma/Temer, lançando a mácula da corrupção e da ilegitimidade sobre o mandato dos recém-eleitos, passíveis de cassação sem a necessidade de um processo de impeachment.

Não obstante essa possibilidade de desfecho judicial e a guerra de pareceres entre advogados de um lado e outro, o fato é que a possibilidade do impeachment, com ou sem a cassação do mandato da chapa eleita em 2014, segue pairando como um fantasma a assombrar as noites do petismo.

A inflação sobe, a recessão se aprofunda, o desemprego cresce, os panelaços se espalham pelo país, e dia 27 de maio próximo, mais um capítulo do movimento civil pelo impeachment terá seu desfecho com a chegada em Brasília da Marcha pela Liberdade, protagonizada pelo Movimento Brasil Livre, que pretende lotar a esplanada dos ministérios para pressionar o Congresso Nacional a acatar o processo de impedimento desse governo.

Assim, se alguém se julga tranquilo e confiante com o destino do ajuste fiscal e do governo Dilma, ou está mentindo ou não está entendendo nada.

(Grupo Pensar+)

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  • Roberto Rachewsky
  • 17 Maio 2015

Em qualquer economia, quem cria a demanda é a oferta.

Somente num mercado livre, onde a capacidade criativa do homem pode ser exercida sem impedimentos, gerando oferta, e consequentemente demanda, há crescente abundância e riqueza.

Economias centralizadas não permitem que os indivíduos ofertem o que bem entenderem, inibindo a geração de novas demandas, emperrando a economia e empobrecendo a sociedade.

Não é a demanda que cria a oferta. Nenhum consumidor pode demandar algo que não existe, não foi criado ou não foi produzido. Há, por outro lado, ofertas que não criam demanda, por isso que há empresas que vão à falência.

Antes de ser inventado o smartphone, por exemplo, ninguém demandava o produto. Quando ele foi oferecido, criou-se instantaneamente a demanda por eles. A BlackBerry, para exemplificar, criou uma demanda específica que prosperou até a Apple criar demandas ainda mais exigentes, fazendo com que a oferta de BlackBerrys se tornasse inútil, pois não criava mais demandas como sua concorrente fazia.

O processo de criação de demanda desenvolvido pela Apple, fez com que sua lucratividade e geração de caixa a tornassem a maior empresa do mundo e, para poder adquirir seus produtos, cada consumidor, por sua vez, teve, tem e terá que ofertar algo, gerando demanda, para criar valor suficiente para si e para os outros, com o propósito de adquirir o que a Apple oferece ou vier a oferecer.

Por essa lógica simples, que muitos economistas ou governantes não conseguem compreender, é que se explica porque incentivar o consumo através da criação de moeda ou crédito não gera riqueza, mas cria apenas inflação e posteriormente pobreza. Governos para garantirem desenvolvimento em uma sociedade, devem antes de qualquer coisa, para não dizer apenas, proteger os direitos dos indivíduos à liberdade e à propriedade, para que estes se sintam seguros para criar oferta, gerando demanda presente e futura, propiciando que o círculo virtuoso da criação de valor se forme de maneira espontânea e voluntária, encaminhando aquela sociedade para a prosperidade de forma sustentável e permanente.

Para acessar outros artigos, visite:
http://robertorachewsky.blogspot.com.br

 

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  • Ion Mihai Pacepa - Trad. Ricardo R. Hashimoto
  • 16 Maio 2015

 

Durante a Guerra Fria, a KGB era um estado dentro do estado. Agora, a KGB – rebatizada de FSB – é o próprio Estado.

Mikhailov e a sua KGB, rebatizada FSB, estão fazendo o possível para apagar por edição de imagem a barra da saia que os liga à teologia da libertação.

A História costuma se repetir, e, se você tiver vivido duas vidas como eu vivi, talvez tenha a oportunidade de ver uma repetição com os próprios olhos.

A teologia da libertação, sobre a qual pouco se falou nas últimas duas décadas, está de volta às notícias. Mas ninguém está falando nada sobre a sua origem. Ela não foi inventada pelos católicos latino-americanos. Foi concebida pela KGB. O homem que hoje é o chefe da Igreja Ortodoxa Russa, Patriarca Kirill, trabalhou secretamente para a KGB sob o codinome “Mikhailov” e passou quatro décadas promovendo a teologia da libertação, à qual, nós, do topo da comunidade de inteligência do leste europeu, demos o apelido de Marxismo Cristianizado.

A teologia da libertação tem sido normalmente entendida como um casamento entre Marxismo e Cristianismo. O que ninguém entende é que ela não foi inventada por cristãos que foram atrás do Comunismo, mas por comunistas que foram atrás dos cristãos. Eu descrevi o nascimento da teologia da libertação em meu livro Disinformation, escrito em coautoria com o professor Ronald Rychlak. A sua gênese foi parte do Programa de Desinformação do Partido/Estado, altamente secreto, aprovado formalmente em 1960 pelo chefe da KGB, Aleksandr Shelepin, e pelo membro do Politburo Aleksei Kirichenko, na época o segundo na hierarquia do partido, logo abaixo de Nikita Khrushchev.

Em 1971, a KGB enviou Kirill – recém-elevado ao grau de arquimandrita (NT: algo equivalente a abade na Igreja Católica) – a Gênova como emissário da Igreja Ortodoxa Russa para o Conselho Mundial de Igrejas (World Council of Churches). O CMI era, e ainda é, a maior organização religiosa internacional depois do Vaticano, representando cerca de 550 milhões de cristãos de diversas denominações em 120 países. A principal tarefa de Kirill/Mikhailov era envolver o CMI na disseminação da recém-criada teologia da libertação por toda a América Latina. Em 1975, a KGB conseguiu infiltrar Kirill no Comitê Central do CMI – posição que manteve até ser “eleito” patriarca da Rússia, em 2009. Logo após ter entrado no Comitê Central, Kirill informou à KGB: “Agora, a agenda do CMI é a nossa agenda”.

Durante os anos de Kirill na direção do CMI, a teologia da libertação lançou raízes profundas na América Latina – cujo mapa hoje tem expressivos retalhos vermelhos. Navios de guerra e bombardeiros russos estão de volta a Cuba pela primeira vez desde a crise dos mísseis de 1962, e a Rússia também enviou recentemente navios e bombardeiros para a Venezuela.

O Papa João Paulo II, que conhecia bem a cartilha comunista, não se deixou enganar pela teologia da libertação soviética. Em 1983, o seu amigo e homem de confiança, Cardeal Ratzinger (mais tarde Papa Bento XVI), na época chefe da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, classificou como marxista a idéia da teologia da libertação de que a luta de classes seja essencial para a história. O Cardeal chamou a teologia da libertação de “heresia ímpar” e a dinamitou como uma “ameaça fundamental” para a Igreja.

É claro, era e continua sendo uma ameaça – uma ameaça deliberadamente concebida para minar a Igreja e desestabilizar o Ocidente por meio da subordinação da religião a uma ideologia política ateísta, que é quem vai lucrar geopoliticamente com isso.

Hoje, nomes como Oscar Romero e Miguel d´Escoto Brockmann, não pronunciados desde os anos 1980 quando a União Soviética ainda existia, estão novamente no noticiário internacional. Lá vai! Os promotores de uma ideologia religiosa concebida pela KGB, que no passado abraçaram a revolução marxista violenta, agora negam a ligação da teologia da libertação com o marxismo e com a KGB.

Cada sociedade reflete o seu próprio passado. Desde o início dos tempos, todos os que se sentaram no trono do Kremlin – czares autocráticos, líderes comunistas, presidentes democradicamente eleitos – estiveram ocupados em controlar todas as expressões de religião que porventura pudessem atrapalhar as suas ambições políticas. Quando, em 1547, Ivan IV – O Terrível – se auto coroou o primeiro czar russo, também se auto proclamou chefe da Igreja Ortodoxa Russa. Czarismo e comunismo podem ter sido tragados pela areia do tempo mas o Kremlin dá continuidade essa tradição.

Ao longo de toda sua história, a Russia tem sido uma samoderzhaviye, tradicional forma russa de autocracia totalitária na qual o senhor feudal domina o país e a igreja com o auxílio da sua força política policial. Esta, sempre que teve um problema difícil de imagem, simplesmente trocou de nome – de Okhrana para Cheka, para GPU, para OGPU, para NKVD, para NKGB, para MGB, para MVD, para KGB – e fingiu ser uma organização novinha em folha.

Muitos dos falecidos oficiais da KGB devem ter virado no túmulo na véspera do Ano Novo de 1999 quando o seu antigo chefe, Vladimir Putin, meu colega da KGB durante algum tempo, entronou-se no Kremlin. Durante a Guerra Fria, a KGB era um estado dentro do estado. Agora, a KGB – rebatizada de FSB – é o próprio estado. De acordo com um estudo publicado no jornal russo Novaya Gazeta, em 2003, cerca de seis mil ex-oficiais da KGB estavam tocando os governos locais e federal russos. O respeitado jornal britânico The Guardian noticiou que o presidente Putin acumulou secretamente cerca de 40 bilhões de dólares, tornando-se o homem mais rico da Europa.

Na Rússia, quanto mais as coisas mudam, mais parecem ficar do mesmo jeito.

Isso nos leva de volta a Kirill/Mikhailov. Em 2006, a fortuna pessoal do arcebispo Kirill foi estimada em 4 bilhões de dólares pelo Moscow News. Não se espante. Em meados dos anos 1990, o Departamento de Relações Exteriores da Igreja Ortodoxa Russa, dirigida por Kirill, ganhou o privilégio de importar cigarros com isenção de impostos como recompensa por sua lealdade à KGB. Não demorou muito para que ele se tornasse o maior fornecedor de cigarros importados da Rússia.

Poucos anos atrás, quando Kirill estava visitando a Ucrânia como novo Patriarca da Rússia, um jornal publicou uma foto na qual o prelado aparecia com um relógio de pulso Breguet, com custo estimado em 30 mil euros. O jornal russo Kommersant acusou Kirill de abuso de privilégio de importação de cigarros sem pagamento de impostos e o apelidou de “metropolitano do tabaco”. Kirill negou possuir tal relógio. Disse que a foto devia ter sido alterada por seus inimigos, e postou a fotografia “real” no seu website oficial. Um estudo minucioso desta fotografia “real”, entretanto, mostra que o relógio Breguet havia sido apagado do seu pulso por edição da imagem mas o reflexo do relógio ainda está nitidamente visível na superfície da mesa abaixo do seu braço.

Mikhailov e a sua KGB, rebatizada FSB, estão fazendo o possível para apagar por edição de imagem a barra da saia que os liga à teologia da libertação. Não podemos deixar que eles consigam.


O general Ion Mihai Pacepa é o oficial de mais alta patente que desertou do Bloco Soviético. O seu livro mais recente, Disinformation, em co-autoria com o professor Ronald Rychlak, publicado pelo WND, está sendo filmado em Hollywood.

Publicado no National Review.

Tradução: Ricardo R Hashimoto 

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  • Bruno Braga
  • 16 Maio 2015

(Publicado originalmente em http://b-braga.blogspot.com.br)

"Foro de São Paulo". A expressão, antes pronunciada com heroísmo por alguns poucos, está cada vez mais presente nos debates sobre a situação política do país. Nos últimos protestos contra a Presidente Dilma e contra o PT, que levaram milhares de pessoas às ruas, ela compôs gritos de denúncia, apareceu nas faixas e cartazes empunhados pelos manifestantes. Miopia aguda ou surdez dissimulada, não há outra forma de explicar a omissão da imprensa de não destacá-la.

O Foro de São Paulo foi criado por Lula e por Fidel Castro em 1990. O objetivo era - e é - reunir a esquerda latino-americana, de partidos políticos a quadrilhas de narco-guerrilheiros, para transformar o continente na "Patria Grande" socialista-comunista. Porém, dúvidas e suspeitas são lançadas contra o audacioso projeto. Uma reação natural de desconfiança por causa do impacto da denúncia ou um artifício para ofuscar a gravidade das acusações. Mas, seja lá o que for, a documentação pode ser examinada por qualquer um que tenha interesse no assunto. E, para dissipar qualquer nuvem de incerteza, basta ler "A estrela na janela: ensaios sobre o PT e a situação internacional" [1]. O livro foi escrito por Valter Pomar, que o apresenta como a "prestação de contas" do seu trabalho de oito anos à frente da Secretaria de Relações Internacionais do PT e da Secretaria Executiva do Foro de São Paulo (2005-2013) (pp. 07-08).

"O Foro de São Paulo já é parte indissolúvel da história da esquerda latino-americana durante a última década do século XX e a primeira do XXI" (p. 256). O mapa do continente não foi pintado de vermelho de forma espontânea: "o Foro participou e contribuiu para esta mudança de correlação de forças na América Latina e Caribe" (p. 244). Pomar observa que, "quando o Foro foi criado, havia apenas um governo encabeçado pela esquerda: Cuba. Hoje governamos parte importante dos países da região. Isto se deve, ao menos em parte, à ação dos partidos que integram o Foro" (p. 267) [2].

As palavras do petista dão uma idéia da importância do Foro de São Paulo para a configuração do atual cenário político e da dimensão monstruosa que adquiriu este projeto de poder que é sim comunista [3]. Valter Pomar escreve como parte do movimento revolucionário. Ele enaltece a herança soviética, elogia o "modelo" cubano, faz da Unidade Popular do Chile uma fonte de inspiração, é um entusiasta das relações entre Brasil e China. O ex-Secretário Executivo do Foro de São Paulo fala abertamente sobre o horizonte perseguido pela organização:
[...] "o termo 'comunismo' é recusado ou simplesmente deixado de lado por amplos setores da esquerda, inclusive por alguns que se proclamam revolucionários. Mas, desde o ponto de vista teórico, o uso do termo é essencial, uma vez que permite distinguir entre o que é a 'transição' e o que é o 'objetivo final' (ou seja, a forma madura de sociedade que se pretende construir)" (p. 93).
Pomar ressalta que "a luta pelo poder pode se resolver no prazo de anos, mas a construção de outra sociedade é um projeto de décadas e séculos" (p. 117). As conquistas até o momento são inegáveis: "o potencial da esquerda latino-americana é confirmado, ao longo dos anos 1990 e adiante, com o surgimento do Foro de São Paulo; a gestação do Fórum Social Mundial; e a eleição de uma onda de presidentes progressistas" (p. 139). Porém, não basta estar no "governo" para "controlar o poder" (p. 155). O esquema comunista deve ser ampliado em uma "segunda etapa" (p. 206), e por duas vias: "aprofundar as mudanças e acelerar a integração" (p. 247).

"Temos que mudar o Estado, mudar sua natureza, não apenas sua forma" (p. 221). Pomar observa que as mudanças devem ser feitas com rapidez, porque as crises "externas" ou "internas" poderiam colocar "em questão nossa permanência no governo" - [...] "o tempo é curto, a janela é pequena, pode se fechar" (p. 213). Para ele, "reformas estruturais" precisam ser promovidas: a reforma política (p. 211); o controle do judiciário e dos meios de comunicação - o domínio da indústria cultural e do sistema educacional (p. 221).

A reforma política é imprescindível para o Foro de São Paulo:
"Nós precisamos fazer uma REFORMA POLÍTICA, mas não conseguimos, desde 2003 até hoje, fazer que este debate ganhe a sociedade. Não há como fazê-lo desde o governo nem desde o parlamento. Haveria que desencadear um movimento político-social, que tenha o partido [o PT] e os partidos de esquerda aliados como protagonistas" (p. 211).
As principais propostas de reforma política oferecidas para o público são a execução da estratégia descrita por Pomar. Para conquistar a adesão das pessoas, a coleta de assinaturas para a convocação de um Plebiscito Constituinte e para a legitimação do projeto de lei de "iniciativa popular" da "Coalizão pela Reforma Política Democrática" é propagandeada como mobilização da "sociedade civil organizada". Porém, os "movimentos sociais" envolvidos, as ONG's e sindicatos, ou estão a serviço do PT, ou estão de alguma forma alinhados com o partido. Pior. As propostas preveem - entre outros absurdos - a inserção desses mesmos grupos em instâncias decisórias da administração pública, promovendo aquilo que tanto quer o petista Valter Pomar: a ampliação sorrateira do esquema de poder do Foro de São Paulo [4]. Para a vergonha dos católicos - porque contraria escandalosamente os princípios e as orientações da Igreja, a CNBB apoia a convocação do Plebiscito Constituinte e assina o projeto da "Coalizão pela Reforma Política Democrática" [5].

A respeito da instrumentalização da Igreja Católica pelos comuno-petistas - algo que ocorre há décadas com a pregação de um engodo criado pela KGB e batizado por ela de "Teologia da Libertação" [6] - Pomar observa o estusiasmo da esquerda latino-americana com Francisco, o Papa argentino que poderia ser explorado para a promoção dos seus planos (p. 259).

Pomar - que esteve presente na fundação do Foro de São Paulo como representante do Instituto Cajamar, a "escola de quadros" do PT (p. 07) - destaca a importância da educação e da cultura para as pretensões da organização comunista. "A construção deste pensamento de massas, de uma cultura de massas, é, dentre as tarefas de longo prazo, talvez a mais estratégica" (p. 255). Trata-se de um ardil conhecido, sobretudo nos moldes gramscianos. Ocupação das universidades; formação de professores militantes; doutrinação nas escolas; "intelectuais" e artistas engajados - e a colaboração ingenua dos "idiotas úteis". Uma estratégia eficiente, que não só consagrou o comunista e "apóstolo" da Teologia da Libertação, Paulo Freire, como patrono da educação brasileira, mas forjou a falsa reputação que tanto contribuiu para a ascensão do PT ao poder [7].

Dentro do plano de promoção das "reformas estruturais", a reeleição de Dilma Rousseff, alertava Pomar, era imprescindível. "Não se trata da vitória de uma pessoa, mas sim da vitória de um projeto, de uma aliança, de um Partido" - o governo Dilma, no segundo mandato, "com reformas, com mudanças profundas, nos aproxima do socialismo" (p. 88). E a candidata petista foi de fato reeleita. Uma fraude eleitoral escandalosa conservou a marionete do Foro de São Paulo na Presidência da República [8].

Quanto à "integração", ela não é outra coisa que a construção da "Patria Grande" comunista na América Latina. Trata-se de uma "integração de amplo alcance", que possa consolidar "laços econômicos, sociais, políticos, militares e ideológicos" entre os países governados pela organização (p. 37). "Esta compreensão de uma integração de amplo escopo constitui o pano de fundo da criação da Comunidade Sul-Americana de Nações (2004), cujo nome foi posteriormente alterado para UNASUL (2007)" (p. 141). O Foro de São Paulo é um dos "laboratórios" encarregados de planejar a institucionalidade da "integração" comunista (p. 268).

No entanto, observa Pomar: "Não haverá integração sem Brasil. Talvez sejamos o país menos latino-americano da região, mas somos também o capitalismo mais potente, que tem melhores condições para ajudar a financiar a integração" (p. 204). Os investimentos em "infraestrutura" são estratégicos, e devem subordinar "a ação das empresas brasileiras aos interesses da política externa e convertendo nossa política externa de política de governo em política de Estado" (p. 245). Porto em Cuba, metrô na Venezuela, estradas na Bolívia, hidrelétrica na Nicarágua. Um mar de dinheiro público, em vez de ser investido em obras que o país tanto precisa, é canalizado para patrocinar - com o disfarce de "integração" - o totalitarismo na América Latina.

Enfim, esta síntese da "prestação de contas" do ex-Secretário Executivo do Foro de São Paulo deixa à mostra o nefasto projeto de poder comunista. O petista diz que agora, da "planície", continuará contribuindo com a "luta pelo socialismo", com o Partido dos Trabalhadores (p. 08). O PT, contudo, permanece no altos postos de poder. Por isso, uma observação de Valter Pomar - feita quando ainda estava à frente da organização fundada por Lula e por Fidel Castro - é importante para concluir: "o PT valoriza extremamente o Foro de SP" [...] "Devemos, portanto, combinar a necessária luta ideológica em favor do socialismo, com uma estratégia e uma política organizativa mais amplas" [...] "para nós, do PT, o Foro de São Paulo é prioritário" (p. 87).


Referências.

[1]. POMAR, Valter. "A estrela na janela: ensaios sobre o PT e a situação internacional". Editora Fundação Perseu Abramo: São Paulo, 2014.

[2]. Em 2012, o ex-Presidente Luiz Inácio enalteceu o papel do Foro de São Paulo na construção do projeto de poder comunista na América Latina: "hoje governamos um grande número de países, e mesmo onde somos oposição, os partidos do Foro têm uma influência crescente na vida política e social" (Mensagem enviada para o XVIII Encontro do Foro de São Paulo, realizado em Caracas. Cf. [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/07/sob-o-efeito-do-encanto.html]).

[3]. Cf. "Um desajuste nocivo" [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/07/um-desajuste-nocivo.html].

[4]. Cf. "A reforma política para o Foro de São Paulo continuar governando o Brasil" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/04/a-reforma-politica-para-o-foro-de-sao.html].

[5]. Cf. "Padres pregam proposta de reforma política. Fiéis, não assinem!" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/07/padres-pregam-proposta-de-reforma.html]; "O porta-voz comunista da reforma política celebrada por padres" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/07/o-porta-voz-comunista-da-reforma.html]; "A reforma política da CNBB. Católicos, não assinem!" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/08/a-reforma-politica-da-cnbb-fieis.html]; "Se a CNBB realmente quer 'eleições limpas'..." [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/11/se-cnbb-realmente-quer-eleicoes-limpas.html].

[6]. PACEPA, Ion Mihai. "A KGB criou a Teologia da Libertação" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/01/a-kgb-criou-teologia-da-libertacao.html]. Tradução do Capítulo "Liberation Theology" (15), que é parte do livro "Disinformation": former spy chief reveals secret strategis for undermining freedom, attacking religion, and promoting terrorism (WND Books: Washington, 2013). ______. "A Cruzada religiosa do Kremlin". Trad. Bruno Braga [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/04/a-cruzada-religiosa-do-kremlin.html].

[7]. Cf. "A 'pedagogia' do Foro de São Paulo" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/04/a-pedagogia-do-foro-de-sao-paulo.html].

[8]. Cf. "O Foro de São Paulo governa o Brasil" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/03/o-foro-de-sao-paulo-governa-o-brasil.html].

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