• Lobão
  • 14 Abril 2016

Caros amigos.

Há uma semana escrevi uma carta aberta a vocês e ,como já poderia prever, não houve nenhum sinal significativo de resposta .

Saliento comovido e contente o meigo e solitário depoimento de Gil ao aceitar as minhas desculpas. Contudo, se Gil se dispusesse a ler o texto com atenção constataria que o cerne da questão gira em torno de um outro intento: uma convocação.

Chico deixou bem claro que sequer se interessara em ler a mensagem quanto mais respondê-la e Caetano adotou uma atitude evasiva eximindo-se de qualquer manifestação a respeito.

Pois bem, apesar desse comportamento um tanto lacônico por parte de vocês três, sou forçado a constatar que a carta causou um forte impacto entre oposicionistas , governistas , populares , isentões e intelectuais dos mais variados sexos, feitios e tamanhos. Reações que variaram entre o rejúbilo, o amor, a compreensão do meu gesto (era essa a minha meta) ,e o repúdio, a indignação e o desprezo( para o meu espanto!) sendo que nessa segunda categoria de reações descontroladamente apaixonadas , expressaram seu veemente protesto , tanto alguns muitos oposicionistas me criticando por ter "amarelado " diante de "artistas vendidos", como governistas explodindo de indignação por acharem o cúmulo dos cúmulos um nada como eu pleitear uma conversa com o Olimpo "da nossa MPB.

A que ponto chegamos, não é verdade? Entretanto, nutrido pelos sinceros sentimentos que me guiam somados a uma necessidade premente de esclarecimentos e mudanças, não somente na mentalidade como também nos desígnios políticos em que se enredou a nossa classe, retorno ao teclado do computador para redigir-vos mais um insistente apelo.
Optarei , como recurso didático e adequado para essa ocasião , adotar a abstrata condição de nada. Portanto, a partir de agora , me apresentarei assim: Muito prazer, meu nome é Nada .

Ser Nada muito me convém para que meus motivos se ergam das névoas da dúvida. Ser o Sub do Mundo é uma condição que muito me convém para ser mais bem sucedido em mostrar a vocês três os absurdos , discrepâncias e cacoetes comportamentais que doravante exporei.

Vou dividir meu carinhoso pito em duas partes: A primeira caberá a Caetano e Gil , a segunda a Chico. Prossigamos.
Querido Gil , você ocupou o cargo de ministro da Cultura durante os oito anos da administração Lula e prossegue , na administração Dilma com forte penetração no ministério , pois o atual ministro Juca Ferreira é homem de sua inteira confiança tendo atuado como seu subordinado no tempo em que você foi o titular da pasta. Não sei se é apenas uma estranha coincidência, mas foi exatamente durante todo esse período que as perversidades e aberrações da Lei Rouanet começaram a pulular em total descontrole. Foi aí inaugurada a era em que artistas consagrados com grande nicho de público e mercado , começaram a pautar seus eventos , shows , projetos , discos e DVD por intermédio de subvenção de incentivos hospedados no bojo dessa lei , transformando o mainstream cultural num antro de parasitas , chapas-brancas e castrados de opiniões confiáveis.

Essa lei proporcionou que a criação artística decrescesse a níveis alarmantes pois os tais editais dos quais se extrai a grana dos medalhões privilegiam as enfadonhas comemorações de aniversários de carreira , reuniões insólitas entre aristas improváveis , homenagens pouco sinceras a astros falecidos , festas sem algum sentido real de se comemorar e outras chicanas lamentáveis para justificar o uso do dinheiro público.

Para piorar a situação , como se isso só não bastasse, esse grupo de parasitas passa a atuar como um grupo de ardentes defensores do governo. É a Era do Artista Chapa-Branca. Uma era a ser esquecida.

Imagine você , Gil, faça um exercício de alteridade e experimente o meu espanto em saber um ministro da Cultura ter um camarote no carnaval de Bahia subvencionado com uma grana possante da lei Rouanet ! Isso , definitivamente não é bonito . E para agravar a situação , é de se prever que artistas periféricos sem a metade de seu talento se estimulem e muito em se lambuzar nesse mesmo estilo sem o menor prurido de consciência , não é mesmo?

Quanto a você , Caetano , pilotando uma outra desastrosa escaramuça temos o Procure Saber capitaneado por sua esposa , arregimentando algumas dezenas de artistas a impor goela abaixo , a toque de caixa , uma lei absurda que estatiza os direitos autorais aprovada com uma celeridade inexplicável extraída dos parlamentares diante daquele decadente espetáculo no Congresso Nacional protagonizado por nada mais nada menos que Roberto Carlos cercado de uma plêiade de artistas circunstantes . Roberto que aceitou ser anexado ao grupo em troca de vossas presenças , Caetano Gil e Chico na defesa a censura das biografias não autorizadas .

Isso também não é bonito.
E o resultado disso? Se vocês ainda não sabem, procurem saber! A lei que estatiza os direitos autorais designando ao ministério da Cultura o controle das entidades de arrecadação, provocou uma decréscimo dramático na arrecadação de mais de 350mil autores, compositores e músicos em todo o Brasil. Sem falar das demissões em massa de funcionários no ECAD e nas Associações de músicos e compositores.
Eu tenho aqui comigo os dados e se vocês tiverem maior interesse, posso mostrá-los com mais detalhes assim que vocês o desejarem.

E é como Nada que me dirijo a vocês, como um anônimo entre esses autores e músicos que tocam nos bares , botequins , churrascarias , quermesses , puteiros e coretos , como par desses artistas que estão apartados de grandes eventos , que não têm acesso a leis de incentivos , que não são residentes de trilhas de novelas de grande emissoras , que não contam com o beneplácito dos editorias de cultura dos jornais...É como um Nada amalgamado àqueles que não fazem parte de cortes de subservientes a posar como um entorno cenográfico de coronéis da canção que profiro um apelo angustiado : Seria plausível vocês reverem suas posições quanto a essa lei de direitos autorais e nos ajudar a revogá-la? Ainda é tempo . O STF está analisando nosso pedido de revisão e o relator é o Ministro Fux . Seria lindo nos aliarmos nesse momento de tamanha gravidade . Seria mais lindo ainda derrubar a Lei Rouanet como vigora e tentarmos direcionar seus benefícios àqueles que realmente dela precisam(Sou o Nada mas , mesmo nessa hipótese continuaria a não me incluir como beneficiário).

Seria muito triste vocês , que tanto fizeram pela música e a cultura brasileiras , se resumissem , se reduzissem já entrados nos seus setenta anos , como ícones de uma era vergonhosa , como defensores de um governo execrável , incompetente, corrupto , criminoso . É disso que estou falando . Ainda há tempo ! Só o perdão liberta ! Posso dizer de coração , uma vez que vim a público vos pedir o meu . O arrependimento lhes concederá uma verdadeira bênção , podem crer.

Chico , te deixei por último , longe de ser o menos , pois hei de fazer aqui uma ressalva em sua defesa por ter sabido através de uma amiga em comum ser você contrário a utilizar pessoalmente da Lei Rouanet e perceber , até onde posso conceber o que é justiça , não ser você responsável por aparentados seus nem mesmo o diretor que fez um filme sobre sua obra , todos estes , maiores de idade , serem beneficiários dos incentivos da dita-cuja. Se isso realmente procede , preciso de dar-lhe meus parabéns "localizados".

Localizados sim , pois gostaria muito de ampliá-los ao resto de sua conduta , no entanto é na clave da tristeza e da angústia o diapasão que domina todo o restante da minha mensagem .

Caro Chico , você já tem 50 anos de vida pública , pelo menos . Com a sua inteligência e talento é de assustar sua impermeabilidade diante da falência absoluta de suas crenças ideológicas . E por isso mesmo , um exemplo vivo do modelo do intelectual brasileiro a viver na infâmia da delinquência intelectual .

Se todos nós concordamos que toda a ditadura é algo injustificável , mais injustificável ainda atacar uma ditadura defendendo outra e é exatamente assim que você agiu no período da ditadura militar e vem assim se jactando imune a dúvidas no transcorrer de todas essas décadas .
Para deixar escancarada a minha angústia , gostaria de invocar um Nelson Rodrigues descendo do céu em que atualmente habita , com seu olhar sampaco , suas bochechas ondulantes , com as mãos apoiadas nos cotovelos a dirigir-lhe entre baforadas de Caporal Amarelinho uma súplica daquelas , rodrigueanas...algo como : Chico Buarque , só o perdão liberta ! Encha de ar vossos pulmões e brade forte e alto como jamais outrora ousara bradar dirigindo-se contrito ao povo brasileiro : Povo brasileiro , me perdoe. Me perdoe por ignorar seu descontentamento , suas desgraças e sua legitimidade em protestar contra esse governo criminoso. Me perdoe por aviltá-lo chamando de golpista toda uma nação genuinamente enfurecida.

Me perdoe povo brasileiro por ser um charlatão em posar contra uma ditadura militar e ser amigo durante todos esses anos de um dos maiores ditadores genocidas da história , Fidel Castro.

Me perdoe , povo brasileiro por defender o indefensável , por interferir com o meu prestígio logrando a confiança que milhões de brasileiros depositaram em meu chamado , por defender uma presidente que beira a demência , por defender um psicopata que anseia se perpetuar no poder através do crime , do suborno e da falcatrua. Me perdoe , povo brasileiro por defender uma organização criminosa como nunca dantes na história da humanidade ocorreu aqui em terras brasileiras e que é dirigida pelo Foro de SP tendo como os irmãos Castro centro de todas as ações criminosas perpetradas em toda América Latina. Me perdoe por ser leniente com narco ditaduras como a Venezuela e a Bolívia , com seus milhares de assassinatos e presos políticos , por esse regime brega , retrógrado , autoritário e cafona que é o bolivarianismo.

Me perdoe , povo brasileiro por ser cúmplice de toda essa ignonímia , e por isso mesmo , carregar minhas mãos respingadas com o sangue desses incontáveis que tombaram sob o jugo de assassinos . Me perdoe , povo brasileiro por ser eu , um mimado por uma corte de intelectuais flácidos ao meu redor me tornando imune a qualquer drama de consciência e insistir em subscrever um ideário comunista que tem sob seu manto a opacidade dos medíocres , cujo o único brilho que emana de seus anseios é o da inveja , da revanche e do ódio . Enfim , povo brasileiro, me perdoe por te trair."

Desincorporando Nelson e retornando a minha condição de Nada , de Sub-do-Mundo quero terminar essa carta ressaltando mais uma vez esse momento terrível que o Brasil está passando , as nossas responsabilidades diante desse momento e de nossa boa vontade independente de quais lados nos posicionemos , esperando que as linhas desse Nada que vos escreve possam fazer alguma diferença (para melhor) nesse impasse a nos envolver. E que elas tenham alguma chance real com a vossa determinante ajuda , em contribuir para um Brasil mais adulto , mais justo e mais unido.

Um forte abraço. LOVE , LOVE , LOVE
Lobão (SP, 3 de abril de 2016)
 

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  • João Cesar de Melo
  • 13 Abril 2016

(Publicado originalmente em http://www.institutoliberal.org.br/)

Uma das piores coisas do sistema capitalista é a imposição de que temos que estudar, trabalhar e assumir responsabilidades para talvez conseguirmos usufruir de certos confortos e prazeres. Talvez! O capitalismo nunca nos garante nada.

O capitalismo diz que precisamos estar sempre nos aperfeiçoando, combinando talentos à dedicação e à sabedoria na tomada de decisões cotidianas, porém, nada nem ninguém nos garante que isso nos renderá apartamentos em bairros descolados, viagens ao exterior, atendimento médico nos melhores hospitais privados e dinheiro suficiente para cervejas artesanais, roupas de grifes e jantares bacanas – coisas que todas as pessoas deveriam ter acesso.

Pergunto: Não há outra forma de se conquistar essas coisas?
Respondo: Sim. Através do socialismo.

Primeiramente, é importante compreender que o socialismo amadureceu muito, está mais moderno, ajustado às mudanças globais. O socialismo não quer mais acabar com o mercado. Hoje, o socialismo quer apenas fazer o mercado trabalhar em função dos socialistas.

Abaixo, enumero treze razões para se desejar viver num país governado por partidos de esquerda.

1 – Escolas sem opressão.
Lembrando que todo sucesso profissional depende de uma boa educação fundamental, os governos socialistas garantem que as escolas não sejam ambientes opressores. Os jovens não precisam cumprir metas de rendimento. Ninguém passa por constrangimentos. Ninguém precisa tirar boas notas. Todos os alunos são aprovados porque todos são seres humanos. Todos recebem diplomas para que todos tenham as mesmas oportunidades no mercado.

2 – Livre acesso as universidades.
Comprovando que o socialismo é o sistema da igualdade de oportunidades, o ingresso na universidade não é condicionado ao histórico escolar do estudante. Quem conseguir ser aceito a partir de suas notas, tudo bem. Quem não conseguir, deve apenas procurar o governo, se apresentar como membro desse ou daquele grupo e pedir para ser incluído em algum programa de cotas.
Obs: Recomenda-se cursos da área de humanas, já que nas áreas de exatas e de biomédicas há uma obsessão por resultados, o que oprime qualquer ser humano com ideais progressistas no coração. Os cursos de artes e de ciências sociais são perfeitos para quem deseja conquistar os confortos e prazeres da vida moderna construindo um mundo melhor, gratuito e de qualidade para todas as pessoas.

3 – Liberdade.
Na universidade pública, gratuita e de qualidade, o jovem terá acesso à total liberdade para sexo, drogas e doideiras de todos os tipos, o que será primordial para o amadurecimento de sua consciência política. Terá acesso também a viagens organizadas pelos centros acadêmicos e por outras representações socialistas. Tudo de graça!

4 – Carreira acadêmica.
O jovem universitário que manifesta o pensamento progressista contará com a atenção especial dos professores, que irão conduzi-lo de um período ao outro sem pressões. Ao se formar, conseguirá também um tratamento diferenciado na recomendação e na seleção para bolsas de mestrado e também na admissão na própria universidade, o que lhe renderá um bom salário, muitos benefícios e a tão merecida estabilidade de emprego. Poderá dar aulas apenas nas horas vagas!

5 – Carreira no governo.
Caso não queira seguir a carreira acadêmica, o jovem progressista poderia se utilizar dos contatos feitos na faculdade para conseguir um bom emprego no governo ou em alguma empresa estatal, o que também lhe renderia um bom salário, muitos benefícios e a tão merecida estabilidade de emprego. Poderia trabalhar na batida do humor de casa dia!

6 – Valorização do engajamento.
Governos de esquerda também facilitam a vida de quem quer criar uma organização não-governamental financiada pelo governo. São várias possibilidades. Pode-se criar uma ONG que lida com a causa gay, ou com a causa negra, ou com a causa indígena, ambiental, social etc, qualquer coisa que tenha viés progressista, ou seja, que cobre a intervenção do estado. Isso garante o acesso a grandes doações do governo, o que lhe renderá tudo do bom e do melhor sem que tenha que se submeter à competição do sistema capitalista.

7 – Carreira intelectual.
Governos de esquerda são muito generosos com quem escreve livros e dá palestras enaltecendo as maravilhas do socialismo e denunciando as desgraças que o capitalismo trouxe a humanidade.

8 – Jornalismo independente e progressista.
Governos de esquerda também são muito generosos com os jornalistas e com quaisquer pessoas que se utilizam da mídia para distorcer a realidade e difamar os adversários em nome da defesa de um mundo mais tolerante, justo e sem desigualdades.

9 – Arte.
A combinação de arte como engajamento socialista sempre é devidamente recompensada. Tendo ou não tendo talento, basta ao jovem se apresentar como artista crítico do capitalismo e militante de partidos de esquerda para ter acesso a patrocínios estatais de todos os tipos.
Esta opção oferece grandes vantagens, já que na medida em que se faz sucesso, menos se tem a necessidade de produzir. Cantores famosos só precisam fazer meia dúzia de shows por ano. Artistas plásticos não precisam vender muitos trabalhos. Ninguém precisa se render ao capitalismo para ter uma vida recheada de prazeres.

10 – Sindicalismo.
Caso o jovem não queira ingressar na universidade nem desenvolver uma carreira artística, ele pode tapear o capitalismo ao se permitir ser contratado por alguma empresa para, no dia seguinte, entrar para o sindicato. De acordo com sua performance na mobilização das massas contra a exploração dos patrões, ele pode galgar diversas posições no movimento sindical que lhe renderá muitos benefícios, viagens e convites para cargos no governo.

11 – Carreira política.
Os próprios partidos de esquerda se encarregarão de selecionar e financiar as campanhas daqueles que se destacam no movimento sindical. Eleito, o companheiro de movimento será abraçado por um conjunto de benefícios que o tornará uma pessoa acima da lei que rege a vida daqueles que precisam trabalhar duro todos os dias. Além de estabilidade financeira, o parlamentar ou governante de esquerda contará com amplos poderes para se promover a justiça social, incluindo a liberdade para intermediar as relações entre estado e empresas capitalistas, o que também rende bons dividendos.

12 – Agente de justiça social.
Caso uma pessoa não queira seguir nenhuma das alternativas listadas, pode se apropriar das posses dos mais ricos sob a justificativa de estar fazendo justiça social para si mesmo. O que os capitalistas chamam de “roubo”, governos socialistas chamam de reparação.
O problema dessa opção é que algumas pessoas, tomadas de egoísmo, se negam a entregar suas posses e até reagem com violência. Corre-se o risco de levar uma surra.

13 – Ser uma pessoa de boa.
Caso uma pessoa não queria nada além de ter uma vida tranquila, caminhando e cantando pelas ruas, praias e praças fazendo artesanato e falando sobre a beleza do amor e da natureza, ela pode procurar um órgão competente do governo e preencher um formulário para ter acesso a um dinheirinho que garantirá pelo menos o baseado de cada dia.
Em resumo, só se rendem ao sistema opressor e injusto do capitalismo os idiotas, aqueles que acreditam que um ser humano deve trabalhar duro para ter as coisas que deseja.
 

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  • Renato Sant'Ana
  • 11 Abril 2016

(Do Alerta Total)

Bizarro! Deputados governistas (em 07/04) foram ao Supremo Tribunal Federal conversar com o presidente da casa, Ricardo Lewandowski. Conversar? Como colegiais que vão à secretaria da escola se queixar de coleguinhas que "estão enticando", os petistas Afonso Florence (BA), Wadih Damous (RJ) e Paulo Teixeira (SP), além da comunista Jandira Feghali (RJ) foram reclamar, entre outras coisas, da possibilidade de votação do impeachment pelo plenário em um domingo.

Por que não no domingo? O petista Wadih Damous exprime a inquietação: "Permitir que milhares, talvez milhões de pessoas venham para a Praça dos Três Poderes em um clima de conflagração, isso não é efetivamente um processo democrático, isso é uma tentativa de condicionar o resultado do processo." Tradução: os petistas não querem o povo por perto.

Por segurança? Não! Esses luminares nada fizeram, por exemplo, quando Lula ameaçou todo mundo com o "exército do Stédile"! Calaram também quando há poucos dias outro petista, Aristides Santos, em evento no Palácio do Planalto, ameaçou invadir propriedades, casas, fazendas, enfrentar com violência quem está contra o governo.

Tudo claro: mesmo com a militância paga e com o apoio da pelegada dos sindicatos, o PT vem tendo pouca gente em qualquer manifestação popular. Por isso estão pleiteando que o Judiciário atropele o Legislativo e impeça votação no domingo. Ora, quem tem tempo, durante a semana, para manifestações? Só petistas! Quem trabalha não têm!

A reação petista, cheia de temor, mostra a importância das manifestações livres - como a grandiosa do último 13 de março! Estão mudando o Brasil!

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  • Francisco Ferraz
  • 11 Abril 2016

Da série "Antes que me esqueça", oportuníssimo à Universidade brasileira nestes dias.

 Acredito que este texto seja oportuno no atual momento do Brasil, em que as universidades e suas autoridades estão longe de desempenhar o papel que delas e deles se esperava, em razão de suas relações de alinhamento político com o governo federal. O texto relata o último discurso de Miguel de Unamuno, então reitor da Universidade de Salamanca (Espanha) numa sessão comemorativa realizada no salão nobre.

Salamanca se encontrava em territóriodominado pelos nacionalistas de Franco e,para aquela sessão universitária, um público formadopor falangistas havia sido organizado para impedir o sucesso do evento.

Era 12 de Outubro de 1936, comemorava-se a descoberta da América por Colombo como o “dia da raça”.
Encontravam-se no grande hall da universidade várias autoridades e intelectuais.Lá estavam o bispo de Salamanca e o famoso general nacionalista MillánAstray, criador e comandante da Legião Estrangeira da Espanha, que se distinguira nas colônias africanas e depois na Espanha, por sua sanguinária crueldade com a população civil.
MillánAstray, cujo próprio nome despertava medo, era cego de um olho usava um tapa-olho, tinha apenas um braço e o outro terminava com uma mão mutilada nos dedos.

Havia uma tensão quase elétrica na solenidade. O reitor da Universidade, Miguel de Unamuno, o grande filósofo basco, símbolo da geração de 1898, conservador e humanista cristão faria o discurso principal, frente aMillánAstray, o general que há pouco abrira mão de competir pelo comandodas forças nacionalistas em favor de Franco.

Foi ali, naquele 12 de outubro de 1936, que o histórico confronto entre o intelectual, reitor, humanista e o selvagem general, que criara para seu regimento o execrável grito de guerra“Viva lamuerte”, ocorreu.

Começada a cerimônia, os oradores atacaram os republicanos, o nacionalismo Basco e Catalão e, com entusiasmo, saudaram o fascismo que, segundo eles iria exterminar a ambos os nacionalismos anti falangistas.

No fundo do salão um homem gritou o lema da Legião “Viva lamuerte”. A seguir MillánAstray berrou “Espanha” e a resposta se fez ouvir “Uma”; Millán gritou novamente “Espanha” e seus simpatizantes gritaram “Grande”; por fim Millán novamente gritou “Espanha” e veio a resposta “Livre”.

Vários falangistas (franquistas) em suas camisas azuis fizeram então o gesto da saudação fascista para o retrato de Franco, que estava pendurado na parede.

Unamuno então se ergueu para encerrar a sessão dizendo:
“Todos vocês estão aguardando minhas palavras. Vocês me conhecem e sabem que eu sou incapaz de permanecer em silêncio. Há momentos em que ficar em silêncio é mentir. Pois o silêncio pode ser interpretado como aquiescência.

Eu quero então comentar o discurso – se é que pode assim ser chamado – do Prof. Maldonado. Deixemos de lado a afronta pessoal expressa na súbita explosão de vitupérios contra Bascos e Catalãos. Eu mesmo nasci em Bilbao; o bispo (Unamuno apontou para o prelado que tremia, sentado ao seu lado) queira ele ou não, é um Catalão de Barcelona.”

Millán-Astray - que odiava Unamuno - começou a gritar: «Posso falar? Posso falar?». E, em altos brados, reforçou: «A Catalunha e o País Basco são dois cânceres no corpo da nação! O fascismo, remédio da Espanha, vem para exterminá-los cortando na carne viva como um frio bisturi!». Alguém do público tornou a gritar «Viva a morte!»
Unamuno fez uma longa pausa. Caíra um silêncio apavorado. Ninguém ousara até então a fazer um discurso como este em pleno território da Espanha nacionalista.Menos ainda na presença de um general da fama de MillánAstray.
O que o reitor diria a seguir?

“Agora mesmo ouvi um grito necrófilo e insensato, ‘Viva a morte’. Eu devo dizer-lhes que considero este esdrúxulo paradoxo repelente. O General Astray é um aleijado, que isso seja dito sem nenhum sentido pejorativo. Ele é um inválido de guerra. Cervantes também era. Infelizmente há demasiados aleijados na Espanha agora. Entristece-me pensar que o general MillánAstray venha ditar o padrão da psicologia de massas. Um aleijado que não possui a grandeza espiritual de um Cervantes acostuma-se a buscar alívio produzindo mutilados em volta dele.”

Neste momento Millán era incapaz de conter-se por mais tempo: “Mueranlosintelectuales; Viva lamuerte” gritou para o aplauso dos falangistas. Unamuno continuou:
“Estamos no templo do intelecto. E nele eu sou o sumo sacerdote. São vocês que profanam esses espaços sagrados. Vocês vão vencer, por que têm mais que o necessário de força bruta. Mas vocês não convencerão. Pois para convencer é preciso persuadir. E para persuadir vocês necessitarão o que não têm: razão e justiça na luta. Eu considero fútil exortá-los para que pensem na Espanha. Eu o fiz.”

Unamuno é um símbolo do que se espera de um reitor desta sagrada instituição milenar – a Universidade. É lamentável que, não tendo meios para se defender, a Universidade dependa de suas autoridades internas para protegê-las, as quais, não poucas vezes as entregam aos poderosos de plantão.

O final da história faz justiça a Unamuno e sua visão de universidade. Terminado o discurso, os falangistas e franquistas se aproximaram da plataforma aos gritos e fazendo ameaças.

O segurança de MillánAstray apontou sua metralhadora para Unamuno. Dona Carmen de Polo Franco, esposa de Franco, aproximou-sede Unamuno e insistiu que o reitor lhe desse o braço. Ele o fez e os dois lentamentese afastaram.
Foi o último discurso de Unamuno. À noite foi jantar no clube de Salamanca de que era presidente. Os membros do clube ‘seus amigos’ começaram a gritar “Fora”, “traidor”. Um dos membros, falando supõe-se em nome dos demais lhe disse: “Você não devia ter vindo aqui Don Miguel. Nós lamentamos o que aconteceu hoje na Universidade, mas assim mesmo você não devia ter vindo.”

Unamuno afastou-se com seu filho. Passados alguns dias o Senado da Universidade ‘solicitou’ seu pedido de renúncia como reitor.
No último dia de 1936, dois meses depois do discurso, Miguel de Unamuno morre.

 

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  • Ruy Gessinger
  • 11 Abril 2016

Juiz, singular, ou em grupo, significa poder.

Poder de ordenar o afastamento de alguém do lar, anular um concurso, ordenar uma prisão, essas coisas. Nalguns lugares, são eleitos; noutros nomeados por notável saber jurídico e ilibada conduta, noutras por concurso.
Acontece que o juiz pensa. É um ser humano que tem sua ideologia.

Ele leva para sua sentença a marca de quem ele é: se veio de berço, se não teve berço, se é neurótico, se é liberal, se é conservador. Se está mal, se está bem.

Códigos milenares já dispuseram sobre condutas de juízes: o Código de Hamurabi, o Deuteronômio, as Ordenações, etc

Para se ver que, quando na época de Cristo, os romanos invadiram o que podemos chamar de Germânia; sabem quem os exércitos levavam junto? Os juizes. Para julgar os litígios entre invasores e invadidos. Juízes romanos.

Esse assunto espinhoso até permeou um filme: Lemon Tree. A história trata da luta de uma viúvapalestina na justiça de Israel para que sua plantação de limões não seja destruída pelo seu novo vizinho, o Ministro da Defesa de Israel. Vale a pena ver e chorar ante a sentença dada pelo Tribunal.Mas é assim.

Também vale lembrar, na Alemanha, a teoria do Direito Nulo, Direito Injusto. Ou, ainda, até entre nós, o Direito Alternativo.

No Brasil o sistema jurídico e judiciário já se comprovou não funcional. Processos demoram; é litigância exagerada. Tribunais levando a julgamento, por sessão , um quaquilhão de processos.

Enquanto isso, setores do Judiciário entenderam que, sem embargo de leis garantistas, de pletora de recursos, poder-se-ia dar mais efetividade às decisões.

Tudo, em termos ortodoxos e conservadores, "agredindo as garantias constitucionais e o "due process of law"".

É o que estamos assistindo no Brasil: um protagonismo judicial sem precedentes. Hoje quem administra a distribuição de remédios é o juiz. Quem administra tarifas de ônibus é o juiz.

Quem dita os rumos da política é um juiz e é o novo STF. Vamos ver no que dá.

*Desembargador aposentado.
 

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  • Guilherme Fiuza - Revista Época
  • 10 Abril 2016

Está em marcha um golpe de Estado no Brasil. A elite branca e reacionária quer cassar o legítimo direito de Dilma, Lula, PT e seus amigos continuarem desfalcando o país honestamente. Não passarão!

A resistência heroica já começou. Durante um espetáculo teatral em Belo Horizonte, o ator Claudio Botelho fez uma ironia com a lama que envolve presidente e ex-presidente – um “caco” no texto. O teatro desabou sobre o artista.

Boa parte da plateia passou a gritar o novo slogan das almas mais honestas do mundo (que por acaso vivem no Brasil): “Não vai ter golpe!”. No caso, nem golpe, nem peça. O elenco teve de sair de cena, expulso no grito. Claudio Botelho é um artista consagrado, produtor de alguns dos melhores musicais montados no país nas últimas décadas, e nunca tinha passado por isso.

Ato contínuo, o compositor Chico Buarque proibiu Botelho de usar suas músicas, neste e em qualquer outro trabalho futuro – isto é, se a resistência democrática permitir que haja futuro. A razão desse cataclismo foi simples: mexeu com Lula, mexeu com a patrulha do Lula. Aí os democratas prendem e arrebentam, como diria o general Figueiredo.

Perplexo, o herege Claudio Botelho declarou: “A gente conquistou a liberdade a duras penas. Já acabou?”.

Já, companheiro. A não ser que você seja bonzinho e não atrapalhe o conto de fadas do oprimido, que infla tantas reputações heroicas. Aí você pode falar o que quiser. Por que, em vez dessas citações subversivas, você não monta uma ópera sobre o maior palestrante do mundo? Que personagem épico da história universal já faturou quase R$ 30 milhões em palestras em pouco mais de três anos, estando os principais pagadores dessas palestras todos presos? O pagador de palestras – eis um bom título para a continuação de sua ópera.

Os democratas que estão defendendo com unhas e dentes o mandato limpo e exemplar de Dilma Rousseff são assim mesmo – gostam de ajudar o próximo a entender o que ele pode falar. Quando Cuba ainda não servia cafezinho para Obama, uma oposicionista do regime de Fidel esteve no Brasil para expor suas ideias. Mas precisou voltar à ditadura cubana para continuar a expô-las, porque no Brasil a democracia companheira não permitiu. Yoani Sánchez sabe bem o que Claudio Botelho passou, porque a claque democrata também a colocou no paredão – garantindo que ninguém pudesse ouvir sua voz, nem ela mesma.

Esse tipo de ação democrática é muito comum em regimes livres e humanitários como o Taleban e o Estado Islâmico. Botelho, por favor, mantenha a cabeça no lugar.

A democracia do cala a boca está lutando bravamente contra o golpe preparado pelo juiz Sergio Moro. Tudo estava funcionando muito bem, com as comissões sendo pagas em dia e ninguém roubando o pixuleco de ninguém, até que o juiz golpista apareceu. Os democratas não se conformam. O departamento de operações estruturadas da Odebrecht, em perfeita afinação com o filho do Brasil, distribuía renda farta aos brasileiros cadastrados. Como reagiu Renato Duque ao ser preso, “que país é este” onde a maior empresa nacional não pode encher de felicidade as almas mais honestas?

Moro é um invejoso. Provavelmente não se conforma por não ser dele a obra mais espetacular dos últimos 50 anos – a transformação do melhor ciclo econômico do país na mais grave recessão de sua história. Por isso esse juiz autoritário fica bisbilhotando as conversas de Lula: quer aprender como se monta uma ruína nacional.

Aí Sergio Moro suspende o sigilo das escutas que mostram “o Lula como ele é”, e todo um Brasil culto e republicano pula nos tamancos: não pode! Mas... Não pode por que, mesmo? Bem, pela lei, pode. O juiz criminal que identificar na difusão pública o meio de evitar uma manobra de obstrução de Justiça (Lula como ele é) pode, sim, suspender o sigilo das escutas por ele decretadas. Eis, então, o erro elementar desta interpretação: o que é a lei, diante dos direitos sagrados dos pobres milionários que mandam no Brasil?

Não é nada, de acordo com o primeiro mandamento da elite vermelha: quem não chora não mama. Aí é preciso concordar com os democratas de butique: se eles tiverem mesmo de parar de mamar, será um duro golpe. Deve ser desse golpe que eles andam reclamando por aí
 

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