• Luis Rojas Marcos
  • 15 Março 2019


Há uma tragédia silenciosa que está se desenvolvendo hoje em nossas casas e diz respeito às nossas joias mais preciosas: nossos filhos. Nossos filhos estão em um estado emocional devastador! Nos últimos 15 anos, os pesquisadores nos deram estatísticas cada vez mais alarmantes sobre um aumento agudo e constante da doença mental da infância que agora está atingindo proporções epidêmicas: 

As estatísticas

• 1 em cada 5 crianças tem problemas de saúde mental;
• um aumento de 43% no TDAH foi observado;
• um aumento de 37% na depressão adolescente foi observado;
• um aumento de 200% na taxa de suicídio foi observado em crianças de 10 a 14 anos.


O que está acontecendo e o que estamos fazendo de errado?

As crianças de hoje estão sendo estimuladas e superdimensionadas com objetos materiais, mas são privadas dos conceitos básicos de uma infância saudável, tais como:

• pais emocionalmente disponíveis;
• limites claramente definidos;
• responsabilidades;
• nutrição equilibrada e sono adequado;
• movimento em geral, mas especialmente ao ar livre;
• jogo criativo, interação social, oportunidades de jogo não estruturadas e espaços para o tédio.

Em contraste, nos últimos anos as crianças foram preenchidas com:

• pais digitalmente distraídos;
• pais indulgentes e permissivos que deixam as crianças “governarem o mundo” e sem quem estabeleça as regras;
• um sentido de direito, de obter tudo sem merecê-lo ou ser responsável por obtê-lo;
• sono inadequado e nutrição desequilibrada;
• um estilo de vida sedentário;
• estimulação sem fim, armas tecnológicas, gratificação instantânea e ausência de momentos chatos.

O que fazer?

Se queremos que nossos filhos sejam indivíduos felizes e saudáveis, temos que acordar e voltar ao básico. Ainda é possível!

Muitas famílias veem melhorias imediatas após semanas de implementar as seguintes recomendações:

• Defina limites e lembre-se de que você é o capitão do navio. Seus filhos se sentirão mais seguros sabendo que você está no controle do leme.
• Oferecer às crianças um estilo de vida equilibrado, cheio do que elas PRECISAM, não apenas o que QUEREM. Não tenha medo de dizer “não” aos seus filhos se o que eles querem não é o que eles precisam.
• Fornecer alimentos nutritivos e limitar a comida lixo.
• Passe pelo menos uma hora por dia ao ar livre fazendo atividades como: ciclismo, caminhadas, pesca, observação de aves/insetos.
• Desfrute de um jantar familiar diário sem smartphones ou tecnologia para distraí-lo.
• Jogue jogos de tabuleiro como uma família ou, se as crianças são muito jovens para os jogos de tabuleiro, deixe-se guiar pelos seus interesses e permita que sejam eles que mandem no jogo.
• Envolva seus filhos em trabalhos de casa ou tarefas de acordo com sua idade (dobrar a roupa, arrumar brinquedos, dependurar roupas, colocar a mesa, alimentação do cachorro etc.)
• Implementar uma rotina de sono consistente para garantir que seu filho durma o suficiente. Os horários serão ainda mais importantes para crianças em idade escolar.
• Ensinar responsabilidade e independência. Não os proteja excessivamente contra qualquer frustração ou erro. Errar os ajudará a desenvolver a resiliência e a aprender a superar os desafios da vida.
• Não carregue a mochila dos seus filhos, não lhes leve a tarefa que esqueceram, não descasque as bananas ou descasque as laranjas se puderem fazê-lo por conta própria (4-5 anos). Em vez de dar-lhes o peixe, ensine-os a pescar.
• Ensine-os a esperar e atrasar a gratificação.
• Fornecer oportunidades para o “tédio”, uma vez que o tédio é o momento em que a criatividade desperta. Não se sinta responsável por sempre manter as crianças entretidas.
• Não use a tecnologia como uma cura para o tédio ou ofereça-a no primeiro segundo de inatividade.
• Evite usar tecnologia durante as refeições, em carros, restaurantes, shopping centers. Use esses momentos como oportunidades para socializar e treinar cérebros para saber como funcionar quando no modo “tédio”.
• Ajude-os a criar uma “garrafa de tédio” com ideias de atividade para quando estão entediadas.
• Estar emocionalmente disponível para se conectar com as crianças e ensinar-lhes autorregulação e habilidades sociais.
• Desligue os telefones à noite quando as crianças têm que ir para a cama para evitar a distração digital.
• Torne-se um regulador ou treinador emocional de seus filhos. Ensine-os a reconhecer e gerenciar suas próprias frustrações e raiva.
• Ensine-os a dizer “olá”, a se revezar, a compartilhar sem se esgotar de nada, a agradecer e agradecer, reconhecer o erro e pedir desculpas (não forçar), ser um modelo de todos esses valores.
• Conecte-se emocionalmente – sorria, abrace, beije, faça cócegas, leia, dance, pule, brinque ou rasteje com elas. E compartilhe se você percebeu a importância desse texto!

* O autor é médico psiquiatra.
 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 15 Março 2019

 

O deputado -sindicalista- Paulinho da Força afirmou, ontem, sem causar a mínima surpresa, que votará CONTRA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA. Tudo porque, segundo ele, o governo pretende tirar todas as regras previdenciárias da Constituição.

CÉREBRO BLINDADO
Ora, nas cabeças dos sindicalistas, o que não cabe, em hipótese alguma, é a capacidade para desenvolver o raciocínio lógico. Ou seja, só consegue ser -sindicalista- quem possui o atestado de BLINDAGEM CEREBRAL.

CASO FORD
A rigor, o desempenho dos -sindicalistas- é medido através da TAXA DE DESEMPREGO e não o contrário. Quanto maior o número de desempregados, mais notoriedade lhes é conferida. Vide, por exemplo, o caso da Ford: a montadora quer cair fora do Brasil porque não aguenta mais carregar o espetacular números de ações trabalhistas.

PÉSSIMA EMPRESA
O curioso é que, a julgar pelo fantástico passivo trabalhista, que supera DOIS MIL processos, os -sindicalistas- deveriam festejar, e muito, a decisão da Ford querer fechar a sua fábrica de São Bernardo do Campo, em SP. Nada mais lógico, até porque empresa que ostenta um número tão elevado, deve ser uma péssima empresa, não?

CAMPANHA
Pois, ao invés de exigirem a saída e/ou o encerramento imediato das atividades da montadora, os -sindicalistas- resolveram fazer uma forte campanha, inclusive judicial, com o firme propósito de impedir o fechamento da unidade paulista da Ford. Pode?

SÍNTESE
Cabeça de -sindicalista-, portanto, é bem isso: primeiro, não tem apreço algum por quem se dispõe a investir e/ou ofertar postos de trabalho; segundo, pouco ou nada importa quem está desempregado e, sim, quem ainda está no emprego; e, terceiro, quem está empregado tem o dever de fazer o máximo que puder para engrossar a fila dos que procuram emprego.
 

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  • José Henrique Westphalen
  • 12 Março 2019

 


Para fazer uma analise séria, sem histerismo e click bait dos primeiros 60 dias de governo Bolsonaro, é preciso separar o que é governo (administração pública) e o que é a visão construída. Em resumo, o que é identidade e o que é imagem.

Para isso, vou usar uma metáfora que considero bem apropriada, quem assistiu a série do NetFlix, Strangers Things, vai compreender ainda melhor.

Na série, existe o mundo real e o "up side down", que é o mundo invertido. O mundo invertido é sombrio e habitado por monstros, nele, a realidade é totalmente alterada.

Pois bem, o governo Bolsonaro nesses primeiros dois meses vive dois mundos: o real, e o mundo invertido.

No mundo real, o governo apresentou um plano para os 100 primeiros dias de governo, apresentou um pacote anti-crime, um projeto para a nova previdência, eliminou ministérios, cortou 21 mil CC's, cancelou licitações e contratos abusivos e está promovendo mecanismos de desburocratização, conceções e privatizações.

No mundo paralelo, há uma crise de governo por dia, a partir de declarações e pequenos atos de agentes do governo, que são transformados em "crises", gerando uma histeria na extrema-imprensa e redes sociai. Uma frase do Mourão: crise de pensamento entre Bolsonaro e Mourão. Moro é mal interpretado ou comete um ato administrativo condenável (nomeação da Ilona Szabó), crise no Ministério da Justiça causa mal estar, e por ai vai.

Que crises são estas? Crise que não interfere uma vírgula no andamento do governo e da administração não é crise, é histeria disfarçada de crise. É o "up side down" da extrema-imprensa.

Chegamos ao limite do ex-presidente FHC afirmar que nunca viu um governo tão desastrado e um início tão desequilibrado sendo levado a sério.

Posto minha visão dos dois mundos que envolvem o governo, quero pontuar duas questões essenciais que ancoram esses 60 dias e são pontos críticos na análise.

Sucessão presidencial: até hoje, desde a redemocratização, praticamente não houve sucessão presidencial, pois: o ministro FHC passou para o presidente FHC 1, que foi suscedido por FHC 2. Lula 1, recebeu de portas abertas do seu grande amigo FHC e, posteriormente entregou para Lula 2 e Dilma 1, que passou para Dilma 2 e teve continuidade com seu vice, Michel Temer. Ou seja, o atual governo Bolsonaro é o único que realmente é um novo governo, que vai totalmente de encontro aos governos passados.

Além disso, é uma equipe praticamente sem experiência no Planalto, pouquíssimos Ministros tiveram experiência em ministérios e apenas alguns em Secretarias estaduais (são apenas 6 ministros com voto).

Então, dentro de um quadro técnico, construído sem influência partidária ou de caciques, é normal que haja um período de adaptação, tanto administrativa quanto de conduta. O que justifica alguns exageros ou omissões.

Composições ministerial e maioria parlamentar: o ministério levou em consideração critérios técnicos e experiência nas áreas de atuação, prova disto, é ter 16 ministros que não possuem um voto sequer.

É importante frisar sobre a "falta de articulação política" do governo. Primeiro dizer que é uma bobagem afirmar que não existe articulação política, existe sim, e existe um novo entendimento de como fazer essa articulação. Deixe-me exemplificar brevemente:

No livro, Diários da Presidência, FHC desenha como foi composto seu ministério, levando em consideração: partidos, poder estadual de cada legenda, magnitude estadual, caciques locais grupos políticos, ou seja, uma sofisticada engenharia de arranjo e acomodação de peças para compor ministérios e maioria na Câmara e Senado, ao preço de espaços políticos, cargos e poder.

O governo Bolsonaro está propondo uma articulação em cima de ideias, temas e pautas, não vinculando as aprovações à cargos, emendas e estatais. Ou seja, se antes você comprava deputados e senadores e a partir dai fazia seu cálculo de votos, hoje o governo precisa trabalhar no varejo e no convencimento.

Resumindo, está em curso uma construção política completamente nova e diferente de tudo que foi visto até agora.

Um governo que toca em uma frequência diferente, com ministros preparados, que não aceitam o jogo da imprensa, invertem as armadilhas e desfilam conhecimento e números. Uma visão de gestão na administração pública, com a digitalização do governo, criação de uma central de compras (somente na saúde, se estima 14 bilhões em economia), redução dos níveis hierárquicos e diminuições de cargos comissionados (na era petista chegou próximo a 120 mil).

Dentro do Plano dos 100 dias, questões como:

Combate à fraudes no INSS com pagamento de bônus (meritocracia), podendo recuperar 10 bilhões.
Isolamento de líderes das facções criminosas nos presídios.
Reação imediata e eficiente no caso Brumadinho.
Revisão da Lei Rouanet e contratos publicitários.
Concessões e privatizações.
13º do Bolsa Família.
Decreto das armas.
Projeto piloto de dessanilização no nordeste entre outras.

Citei apenas alguns exemplos, envolvendo diferentes áreas do governo, para comprovar que no mundo real, no mundo administrativo, o governo vai muito bem, obrigado.

Outra questão posta nestes 60 dias, é o resultado da pesquisa de avalição do governo, amplamente divulgada como ruim para o Planalto. Contudo, observe a diferença entre o mundo invertido e o mundo real nesta narrativa.

Avaliação do governo, 38%.
Avaliação do presidente 57%.

Como pode o presidente ser bem avaliado e o governo não? Uma coisa é indissociável da outra.

Simples. Como a extrema-imprensa bate diariamente, 24 horas por dia no governo, gera na opinião pública uma sensação de que o governo não alinhou, mas que o presidente possui capacidade para ajustar.

Dessa forma, se a população tivesse acesso aos dados que trago neste texto, tivesse sido informada sem viés, ao longo desses dois meses, certamente a avaliação estaria acima dos 60, 70%.

Infelizmente, conviveremos 4 anos entre dois mundos. O mundo invertido da extrema imprensa e o mundo real do governo e dos brasileiros.

*Publicado originalmente em http://www.zewestphalen.com.br/?m=1
 

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  • Leandro Govinda
  • 11 Março 2019

 

O carnaval do Rio de Janeiro foi marcado por uma tragédia familiar decorrente da morte de uma criança de três anos abandonada pelos pais em casa junto com duas irmãs também crianças. Os pais saíram para curtir o bloco de carnaval do bairro e deixaram os três filhos dormindo. Um curto-circuito no ventilador do quarto teria provocado um incêndio rapidamente. Quando resgatado por vizinhos, o garoto estava com 90% do corpo queimado, razão pela qual não resistiu aos ferimentos e faleceu no hospital. Tragédias como essas só acontecem porque, no Brasil, as crianças recebem menos proteção do que um animal.

As pessoas precisam saber que, de modo geral, os crimes contra as crianças em terras tupiniquins são punidos com penas muito brandas. Sem uma adequada punição, os adultos fazem das crianças gato e sapato. Por exemplo, o crime de abandono é punido com penas de seis meses a três anos, o que significa que o criminoso pode nem sequer ser processado, caso cumpra algumas condições, como assinar uma folhinha no Fórum periodicamente. Mesmo se for processado e condenado, o autor desse crime será punido com penas restritivas de direito, ou seja, vai apenas pagar as famigeradas cestas básicas ou prestar serviços comunitários. Se a criança abandonada for recém-nascido, a pena é inexplicavelmente menor: de seis meses a dois anos, o que enseja até transação penal, que nada mais é do que um acordo para pagar uma pena pecuniária ou prestar serviço. Pode um bandido abandonar um bebê na lata do lixo, como acontece com uma frequência chocante, e ser “punido” com um acordo? Outro crime muito comum praticado contra crianças é maus-tratos. Trata-se de um delito corriqueiro porque a pena é igualmente ridícula: dois meses a um ano ou multa. Sim, o vagabundo que judiar de uma criança indefesa pode ser punido só com uma mísera multa. Para se ter uma ideia do absurdo, se alguém maltratar um animal, a sua pena será maior, de três meses a um ano e mais a multa. Ou seja, se um infeliz descobrir que foi traído e quiser descontar a sua ira em alguém, melhor que seja em uma criança, já que chutar um bichano na rua pode lhe render uma pena mais severa. Que futuro esperar em uma sociedade que confere a um animal maior proteção do que a uma criança? A tendência é ser governada por macacos, como na ficção hollywoodiana.

Não é à toa que rotineiramente são denunciados casos de abandono e maus-tratos contra crianças. O impressionante é que o legislador não parece sensibilizado com o sofrimento dos infantes. Talvez seja assim porque criança não vota. Recorde-se que, desde 2006, a lei outorgou especial proteção para as mulheres vítimas de violência doméstica. Sem dúvida, as mulheres também sofrem esse tipo de violência e merecem tal proteção. Porém, as mulheres adultas, bem ou mal, podem se defender, pelo menos pedir socorro, ao contrário das crianças que não têm recurso algum para evitar as agressões covardes praticadas principalmente pelos próprios familiares. Aliás, enquanto as mulheres são vítimas apenas dos homens, as crianças, por vezes, são vítimas de ambos os sexos, o que aumenta a sua vulnerabilidade. São vítimas sem voz. Apanham e sofrem caladas, sozinhas. Apesar dessa constatação óbvia, até hoje as crianças não gozam de igual proteção e não há nem fumaça de leis que tornem mais severas as penas para as agressões cotidianas contra a infância. E não se está sugerindo lançar ao cárcere os pais que eventualmente corrigem os filhos com um tapa na bunda, como se pretendeu fazer por ocasião da discussão da Lei da Palmada (Lei n. 13.010/2014), afinal não se pode confundir um puxão de orelha com maus-tratos ou abandono. O que se reclama é punição rigorosa para o desprezo, a irresponsabilidade e a violência que atingem as crianças, como foi o caso dessa vítima abandonada em casa para morrer queimada, enquanto os pais estavam se divertindo na folia carnavalesca.

Há quase trinta anos aprovou-se um estatuto para a infância que deveria conferir efetiva proteção aos menores, mas que não passa de tinta no papel por não oferecer instrumentos capazes de punir com efetividade aqueles que não respeitam as garantias previstas nessa lei. Já passou muito da hora de se estabelecer rigorosas punições para os algozes das crianças, a fim de estancar as barbaridades que sofrem diuturnamente Brasil afora. Uma criança negligenciada e judiada ao longo da sua infância tende a se transformar num ser brutalizado que, na fase adulta, irá reproduzir essa mesma violência contra os seus próprios filhos, num ciclo vicioso e perverso que precisa ser interrompido com urgência. Uma sociedade que falha miseravelmente na proteção das crianças contra todas as formas de negligência e crueldade está fadada a continuar sendo uma horda de bárbaros. Pelo andar da carruagem, no futuro não será surpresa um chimpanzé reinar por estas bandas.

*Publicado originalmente no blog do autor, em https://leandrogovinda.blogspot.com/2019/03/o-planeta-dos-macacos-e-aqui.html?m=1
**O autor é Promotor de Justiça no MP/SC

 

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  • Jorge Hernández Fonseca
  • 11 Março 2019

 

Se respira na América Latina um ar de liberdade, misturado com um forte cheiro de derrota do socialismo em suas duas manifestações mais nocivas: o socialismo do século XXI de Hugo Chávez e o socialismo castrista do século XX. Sucessivas vitórias da direita na Argentina, no Chile, no Peru, na Colômbia, no Equador e no Brasil constituem o pano de fundo do colapso na Venezuela, a quase rendição da Nicarágua e o desastre socioeconômico cubano.

Sabe-se que o castrismo tem sido a origem da fracassada ofensiva socializadora, que ao mesmo tempo conseguiu se instalar nos governos de muitas nações latino-americanas, com variados graus de submissão ao castrismo, sempre apoiada pelo dinheiro de Chávez. Hoje há muito pouco daquela era, derrotada em cada país pela própria ineficiência socialista em alguns casos, corrupção desenfreada em outro e malandragem política de esquerda no resto.

Na Cuba de Castro existe apenas uma caricatura, onde o rei está cada vez mais nu. O sucessor da dinastia dos irmãos Castro, Miguel Díaz Canel, cada vez é mais visto como o agente funerário do cadáver socialista, e não como um sucessor efetivo. Em um recente encontro com o setor gastronômico do estado, ele pediu aos administradores do estado que "copiassem os métodos dos restaurantes privados", admitindo sumariamente o fracasso dos padrões socialistas do Estado castrista.

É difícil para mim imaginar um Fidel Castro pedindo aos administradores do INIT de sua época que copiem os métodos dos restaurantes privados, como forma de serem eficientes em conformidade com a economia socialista. A admissão de Díaz Canel é um reflexo da profunda convicção subliminar de que somente a iniciativa privada é capaz de funcionar eficientemente.

A queda iminente de Maduro na Venezuela e o consequente colapso político e econômico que produzirá em Cuba acelerará a deterioração interna. Junta-se a isso a derrota ideológica mental dos novos líderes cubanos - como Diaz Canel - e a pressão exercida pela atual administração dos Estados Unidos. Temos aí o enquadramento adequado para um ponto de viragem definitiva na política interna de Cuba, que não pode mais continuar como hoje, com os caprichos do Raul, a herança de seu irmão Fidel, ou o eterno mandato do partido Comunista.

A posição da derrota virtual de Chavez-madurismo na Venezuela tem muitos componentes associados com a luta dos democratas venezuelanos no país, organizados em torno da oposição parlamentar democraticamente eleita, o que permitiu o apoio internacional, liderado pelos Estados Unidos. Dentro de Cuba não há nada semelhante; Não só nos falta um Parlamento eleito, como não há sequer uma única voz opositora a respaldar.

Não há dúvida de que a coalizão liderada pelos EUA que hoje rejeita Maduro, potencialmente também rejeita Diaz Canel. Além disso, sabe-se que o exército cubano sofreu uma grave deterioração em seu parque de armas, de modo que não representa um perigo militar para os EUA. No entanto, os americanos valorizam essa força para controlar os traficantes de drogas e não permitir uma séria desestabilização social dentro da ilha, o que os faz temer uma debandada de balseiros para a Flórida, medo permanente da administração americana. Tudo isto se articula para que, no caso de Cuba, os EUA venham a ter maior influência nas decisões internas com vista a uma transição para a democracia, mas é difícil prever qual o papel que irá desempenhar a oposição política cubana no potencial colapso do castrismo. Bem diferente do que se configura com clareza na Venezuela.
9 de março de 2019

*      Artigos deste autor podem ser encontrados em http://www.cubalibredigital.com

**   Original em espanhol, traduzido pelo editor do blog.

*** O autor é escritor e analista cubano exilado no Brasil.
 

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  • Antônio Augusto Mayer dos Santos
  • 09 Março 2019

 

  O ex-governador Sérgio Cabral e o engenheiro Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, estão presos. E condenados. O primeiro delinquente conquistou 197 anos de prisão decorrentes de oito sentenças criminais. O segundo, não menos desprezível, alcançou uma proeza: em uma semana, foi duas vezes condenado a penas que, somadas, totalizam 172 anos. É um bocado de cadeia.

  Cabral, com 56 anos, boa parte deles surrupiando o erário e aniquilando a dignidade e o orçamento dos cariocas, estaria negociando delações premiadas e fazendo confissões. Semana passada, na presença do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, pedindo desculpas por ter mentido nos seus depoimentos anteriores e se dizendo “aliviado”, admitiu amealhar propinas por apego ao poder e ao dinheiro. Definindo este comportamento como “um vício”, o criminoso contumaz aproveitou a audiência para incriminar antigos auxiliares, empresários e parlamentares. Entregou todos, sem gaguejar, sem piedade e com os percentuais que levavam.

  Preto, que se tornou septuagenário no dia seguinte à sua segunda condenação fixada em exemplares 145 anos de reclusão, estaria sendo pressionado por familiares para delatar o esquema de corrupção que envolveria figuras nacionais do PSDB, sobretudo porque uma de suas filhas foi condenada na mesma ação penal a mais de 24 anos de prisão.

  Certamente esses dois criminosos, mesmo das cadeias onde estão e de onde custarão a sair (se é que sairão), podem acrescentar novos capítulos na história desta República dizimada por cretinos que, em sua maioria, mal sabem conjugar um período verbal completo. Suas confissões ou delações seriam de extrema valia para fomentar novas investigações em torno daqueles que se apossaram dos poderes públicos. Tais narrativas, certamente repugnantes e letais, conduziriam à revelação de outros personagens envolvidos em esquemas de corrupção, tráfico de influência e formação de quadrilha.

Aliás, o ex-governador viciado em propinas aproveitou a sua audiência e mencionou um integrante do Superior Tribunal de Justiça por ele indicado a pedido de outro presidiário (nascido em Porto Alegre), cunhado deste ministro e que por pouco não foi senador.

De outra parte, uma soltura anterior de Preto, após ser rastreada a partir de extratos de ligações e mensagens eletrônicas, ensejou um pedido de suspeição ou impedimento firmado por 14 abnegados integrantes do Ministério Público Federal (Ofício nº 1691/2019 – PRPR) à Procuradora Geral da República relativamente a um douto togado do Supremo Tribunal Federal, o único pretório do país que não dispõe de uma Corregedoria.

Portanto, não nos resta outra coisa senão pedir:

- Cabral e Preto, falem!

 

*O autor é advogado e professor de Direito Eleitoral
 

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