Foi nas redes sociais que a cidadania passou a participar ativamente da eleição presidencial.
Muito se tem falado das mudanças nas campanhas eleitorais antecipadas pela eleição de 2018. Na realidade, a tecnologia de campanha desde a eleição de 1989 e a campanha de Fernando Collor atingiu o ápice na eleição de Lula em 2002. A partir de então começou a perder eficiência. Nesse período o tempo de TV era considerado crítico e decisivo e tornou-se o fator dominante na composição de apoios e coalizões. Foi a época dos grandes publicitários, como Duda Mendonça e Nizan Guanaes, cuja qualidade profissional criou peças de propaganda que se tornaram clássicas.
Ao longo desse período os custos de campanha atingiram centenas de milhões de reais. Grandes publicitários precisavam de tempo de TV e eram caros. Com as revelações da Lava Jato, o financiamento público e o modelo de campanha baseado na TV e em profissionais de elevado custo não mais poderia continuar.
Outros fatores contribuíram para a exaustão desse tipo de campanha. Em 2018 pesquisa não faltou. Ao menos seis institutos divulgavam resultados praticamente de forma semanal e em torno das mesmas datas. Pesquisas com perguntas sem imaginação produziram respostas sem utilidade prática. Elas se limitavam a perguntar como o entrevistado ia votar, não exploravam as razões do voto.
A padronização e a falta de criatividade dos programas de TV consolidaram a convicção da sua inutilidade no formato vigente. A limitação temporal não instigou a criatividade para fazer “melhor em menos tempo”. A grande maioria dos candidatos também não percebeu as mudanças que estavam em curso e insistia nos mesmos tipos de programas, já fartamente conhecidos e desinteressantes.
Nossa legislação eleitoral é minudente, detalhista, meticulosa, comprometendo a espontaneidade tão necessária à dinâmica eleitoral e provocando o engessamento e burocratização da campanha. Evidência da irracionalidade da legislação, resultante do seu afã de regular tudo, é o paradoxo de que ao candidato que liderava as pesquisas e venceu a eleição apenas alguns segundos de TV foram atribuídos.
Debates são oportunidades únicas para o eleitor conhecer o seu candidato quando submetido a um teste exigente. Neles o candidato está desprotegido num confronto direto com os adversários, numa situação rara em que suas fragilidades e qualidades serão provocadas à vista dos eleitores. A regulamentação a que sujeitamos os debates, negociada entre os candidatos sob o olhar severo da legislação eleitoral, parece ser concebida para emascular aquela situação que deveria ser rara e única, como oportunidade para alcançar as regiões emocionais dos candidatos que permitem aos eleitores melhor conhecê-los.
Mais ainda, numa eleição democrática, que é inevitavelmente desigual em tudo o que respeita aos candidatos, eles são tratados com a ficção de serem iguais. Cria-se, então, um cenário insólito. A oportunidade do debate favorece mais os candidatos inexpressivos do que os principais; favorece mais as redes de TV cuja preocupação principal é mostrar neutralidade política.
Numa programação de campanha concebida para o confronto - sobretudo em 2018, a julgar pela temperatura elevada dos debates nas redes sociais -, leva-se o eleitor para o mundo da irrealidade, em que se mesclam candidatos competitivos e não competitivos. Como se não bastassem os artistas medíocres e um libreto sem talento, esse teatro de péssimo gosto patrocina um debate da mais absoluta irrealidade, perguntando a um candidato com 0,5% das intenções de voto o que ele fará para resolver o problema da saúde!
Em 2018 surgiu uma nova campanha eleitoral, numa eleição em que o resultado nada ou muito pouco teve que ver com o arsenal desenvolvido a partir de 1989. Que relação a nova campanha teve com pesquisas? Muito pequena. Pesquisa como vem sendo feita é um produto que atende aos interesses de quem a oferece no mercado. Seus “compradores” (mídia e políticos) desconhecem seu potencial e sua complexidade. Como tal, foi um produto que produziu informações superficiais e apenas sobre quem estaria na frente.
Que relação tinha com programas de TV? Nenhuma, a ponto de o candidato vencedor em 2018 nem ter usado seu tempo de TV de alguns segundos.
Com programas de governo detalhados, objetivos e prioritários? Mínima, inexpressiva. Apenas o programa de Geraldo Alckmin se dedicou a apresentar os projetos de sua candidatura no formato conhecido. Com partidos políticos que recentemente haviam ocupado a Presidência, PT, PSDB e PMDB? Muito pequena. Só o PT conseguiu, coadjuvado pela reação de rejeição a Bolsonaro, chegar ao segundo turno. Inversamente, Jair Bolsonaro venceu com um partido quase inexistente, o PSL.
Com debates? Nenhuma. O candidato vencedor em 2018 não participou dos debates no primeiro nem no segundo turno. Com o apoio de nomes expressivos nacionais e estrangeiros do mundo da arte, cultura, espetáculo, jornalismo, esportes, política? Muito reduzida. Reforçou quem já estava decidido.
Como se podia esperar, o momento da mudança chegou.
A razão básica para a mudança se verificar em 2018 se deve ao fato de o eleitor não ter encontrado na campanha convencional nenhuma de que estivesse interessado em participar. Foi encontrá-la nas redes sociais, continuando a pré-campanha que havia meses já se fazia nelas.
Essa peculiaridade tornou a campanha mais longa, livre dos prazos formais e sem igualdade compulsória entre desiguais. A rigidez, o engessamento e a burocratização da legislação eleitoral foram superados pelo exercício da liberdade viabilizada pelas redes sociais.
Quem não entendeu que a legislação eleitoral foi “derrogada” pela cidadania nas redes sociais não entendeu a mais importante e mais eloquente mudança de campanha que se impôs em 2018. O eleitor passou a participar ativamente da eleição presidencial em todas as suas fases, ao contrário do modelo burocrático que só admitia sua participação na hora de votar.
*PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA E EX-REITOR DA UFRGS, FRANCISCO FERRAZ É CRIADOR E DIRETOR DO SITE POLÍTICA PARA POLÍTICOS
**Publicado originalmente no Estadão 01/03/2019 e enviado pelo autor.
Era noite e chovia em Brasília quando o “sucatão”, o Boeing presidencial, aterrissou.
Voltando da Bolívia, Lula já se entregava ao cansaço quando o avisaram que o tempo na Base Aérea seria curto porque decolaria num jato menor, porém mais seguro, para Manaus.
Balançou o restinho do destilado num restinho de gelo parecendo explodir. Porra, Celso Amorim, o Chavez de novo? Eu não aguento mais o Chavez!
Não que a proximidade física de Hugo Chavez provocasse em Lula irritantes coceiras daquelas que se transmudam em alergias incuráveis. O tempo mostrou o quanto se alinhavam.
Depois, no quase dezembro de 2007, na Cumbre Ibero-Americana, em Santiago do Chile, quem não aguentou mais foi o Rei da Espanha, Juan Carlos.
Chavez excedia em muito o tempo que ouvidos lúcidos poderiam tolerar. Por qué no te callas?. Bronqueou o Rei. E só então Chavez calou.
Os populistas em geral fazem suas escaladas para a ditadura ensaiando discursos autoritários. Discursos intermináveis. Intragáveis à racionalidade dos ouvintes.
Na armação dos seus domínios, os ditadores sempre escolhem, entre os subservientes, os imbecis, senão os mais medíocres, para o seu derredor.
Quem diria que o corpulento e espaçoso maquinista do metrô de Caracas chamado Nicolás Maduro, sindicalista arredio a livros e à didática das escolas, autodidata em nada, só em autoritarismo, alcançaria o topo entre os mais confiáveis ao Comandante da Revolução Bolivariana, o coronel Hugo Chavez?
Agora, enquanto a grande maioria dos venezuelanos, morrendo de fome, assaltando carros de lixo nas ruas em busca de comida, sem trabalho, e pior, sem direito algum à própria liberdade, Maduro discursa para si mesmo por horas seguidas, apoiado por sua trupe de militares corruptos e aplaudido por suas hordas de camisas e bonés vermelhos.
Reprovado por 75% da população, sem concorrentes nas urnas, ainda assim, Maduro fraudou os resultados para se dizer eleito. Ah, mas ele ainda tem muitos apoiadores! Tem os generais corruptos, narcotraficantes ou peculatários.
Maduro tem ainda, e especialmente, ao seu lado, os mesmos que aparecem de vermelho nos seus comícios e que em troca da impunidade e de comida, portando armas modernas, promovem arruaças, agridem, matam e dão sumiço nos opositores. Toda ditadura tem os seus temíveis e bem treinados milicianos.
O Povo da Venezuela já não aguenta mais Maduro e sua ditadura, sua entourage violenta e corrupta. A voz do Povo da Venezuela já lhe repete seguidamente a bronca do Rei da Espanha – Por qué no te callas?. Acrescentando – Por que no te vás?
O chavismo ocupou com os seus apaixonados dependentes, idiotizados pelas benesses do poder, as universidades, o legislativo, os tribunais, as forças armadas, e ao mesmo tempo em que quebrou empresas e empresários não alinhados ao regime impôs a censura e fechou jornais, canais de rádio e de televisão descompromissados com a mentira.
Quando Maduro, na sequência do seu projeto de poder absoluto, fez lei dificultando aquisição de armas pelas pessoas do Povo poucos se deram conta de que, desarmando a população, ele queria apenas, e conseguiu, criar e armar a sua própria milícia, os terríveis esquadrões que intimidam, agridem, matam e dão sumiços às pessoas.
Hoje, mais de 50 entre os grandes países, dentre eles o Brasil, o Canadá e o Japão, não reconhecem Nicolás Maduro como Presidente da Venezuela.
Mais de 50 entre os grandes países, dentre eles a Espanha e a França, Reino Unido, Alemanha, Dinamarca e Austria, reconhecem Juan Guaidó, o Presidente da Assembleia Nacional, que nessa condição tornou-se Presidente da República encarregado para a transição do País para a democracia.
O Brasil, que seguia se aparelhando com a corrupção e seus abusos nas empresas estatais e em muitas das grandes empresas privadas, e em outros patamares estratégicos da República, serviu de prova de que Deus é brasileiro. Segue escapando. Por pouco, mas segue escapando.
*Edson Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
** Publicado originalmente no Diário do Poder
A Folha de São Paulo publicou uma matéria em 23-2-2019 intitulada “Favela com PCC tem menos crimes violentos, segundo estudo”, sugerindo, já no título, que a presença do crime organizado nas comunidades é sinônimo de segurança para as pessoas. Impressionante como alguns setores da imprensa adoram flertar com bandidos e servir à causa da marginalidade. Depois, são esses mesmos jornalistas que escrevem notícias sobre o aumento da violência realçadas com uma fingida indignação.
De acordo com a reportagem, o estudo aponta que as favelas dominadas pela facção criminosa PCC tiveram 12% menos crimes violentos em relação às favelas onde a bandidagem não está presente. Não se trata de nenhuma novidade. Dizer que as áreas dominadas por organizações criminosas possuem menos crimes violentos é chover no molhado. A novidade está em distorcer as causas da diminuição dessa violência. Ainda segundo a matéria, o estudo considera que a redução da violência se deve a um “modelo de negócios muito aberto e profissional” desenvolvido pelo PCC, no qual impera o que os autores chamaram de “pax monopolista”. Ora, vejam, o jornalista destaca o tráfico de drogas não como um crime hediondo, mas como um “modelo de negócio muito profissional”, e os traficantes como “empresários racionais” filiados a um “grupo”, e não bandidos integrantes de facção criminosa. Só faltou obrigar a Associação Comercial de São Paulo a admitir em seus quadros os traficantes de drogas.
É certo que a presença policial atrapalha o comércio de drogas, como aponta o estudo. Por isso, os traficantes buscam manter a violência sob controle nos seus domínios. Sem crimes violentos, a polícia não precisa entrar na favela. Chega a ser infantil apontar essa constatação óbvia como uma grande descoberta. O que o jornalista ignora ou oculta é que a tal “pax monopolista” é imposta por meio do terror contra a população. Até um chimpanzé sabe que as organizações criminosas possuem um código penal próprio que é imposto para a população sob o seu jugo. Qualquer pessoa que transgrida esse código é punido sumariamente com torturas, mutilações ou morte. É assim que as organizações criminosas agem para garantir que todo mundo ande na linha sob os seus domínios, afinal quem vai querer perder uma mão por furtar uma bicicleta? Percebam que o modo de agir das facções criminosas, no sentido de punir severamente qualquer transgressor do código de conduta da organização, confirma a tese de que a certeza de uma punição rígida é um componente fundamental para inibir a prática de crimes. Ocorre que o tipo de jornalista que defende o “modelo de negócios” das organizações criminosas é o primeiro a se insurgir contra qualquer política que vise recrudescer o combate a esses criminosos por meio do aumento das penas e estabelecimento de regras mais rígidas para o seu cumprimento.
É interessante a matéria destacar a expressão “pax”, que remete claramente à conhecida “pax romana”, período histórico do Império Romano durante o qual os romanos garantiam o controle das regiões conquistadas por meio da imposição da cultura e dos valores de Roma e, fundamentalmente, pelo uso da força para conter rebeliões. Em outras palavras, a “pax romana” não foi conquistada como decorrência natural de um “modelo de negócios”, mas sim pelo uso da força bruta das legiões de exércitos romanos. Ou seja, os romanos ameaçavam empregar a força e a violência para assegurar a paz e, assim, viabilizar os negócios e a prosperidade do império. Exatamente como fazem as organizações criminosas, que empregam o terror contra a população para manter a “paz” e, assim, garantir a prosperidade dos seus negócios escusos. Simples assim.
Eis a razão porque a violência é maior nas áreas controladas pelo Estado do que naquelas controladas por facções criminosas. Ora, qualquer um que pudesse reinar absoluto no seu bairro, instituir um código próprio de conduta e montar um esquadrão da morte com fuzis e metralhadoras para o fim de estabelecer um tribunal de exceção para julgar e guilhotinar sumariamente os suspeitos de qualquer transgressão, com certeza também conseguiria estabelecer uma “pax” local. Mas o Estado tem que agir pautado pelas garantias e liberdades individuais, em especial o devido processo legal, e não pelo terror.
Combater a violência num estado democrático de direito é mais difícil mesmo. Conferir ao crime organizado contornos de uma empresa lícita que age de modo mais eficiente do que a polícia para garantir a paz e a segurança nas favelas é uma distorção tão obscena que só pode ser explicada por uma paixão cega pelo criminoso, um tipo de amor bandido alimentado por uma doença mental incorrigível do seu autor, quem sabe até um desejo perverso de fazer parte do mundo da criminalidade. Quem acha mais seguro viver nas favelas dominadas pelo PCC deveria se mudar para uma dessas comunidades. Assim pode ficar mais próximo dos seus amores.
*O autor é Promotor de Justiça no MP/SC
**Publicado originalmente no blog do autor, em https://leandrogovinda.blogspot.com/2019/02/imprensa--e-amor-bandido.crime-organizadohtml
A dor de José, dói.
A dor de Maria, dói.
A dor de Maria José, também dói.
E a dor de José Maria?
Dói...
Como dói.
A dor de José, que se diz Maria...
Dói.
A dor de Maria, que se diz José...
Dói.
Quanta dor!
Nesse mar de dores de "Josés" e de "Marias",
Tudo é dor.
Dor que machuca a alma de cada um.
E quanto a minha dor?
Eu, que não sou José...
Não sou Maria...
Tampouco, sou minoria.
Sou o dito "privilegiado",
Excluído do tal mar e sua gritaria.
O que faço, então, com minha dor?
Simples. A engulo...
Engasgo, mas engulo.
Em honra à plena obediência,
Transformo meu dissabor em conivência,
Contentando-me com as sobras de Maria José,
Ou com o espólio de José Maria.
Aprendo do jeito duro.
Inerte, assumo o quinhão social que me resta...
A indolência.
* O autor (parabéns a ele) é magistrado.
NOTA PÚBLICA
Está sendo discutida no STF a possibilidade de ser criado crime pelo Tribunal, usurpando o poder legislativo. Em primeiro lugar, queremos deixar claro que esta nota não pretende analisar se uma situação de preconceito deve ser crime e como isso seria redigido. Ela visa apenas a mostrar o perigo de um Poder usurpar as funções do outro. Visa a mostrar aonde pode chegar o ativismo judicial que vem se impondo gradativamente no Brasil e que se torna radical e mais perigoso a partir desse episódio.
A Constituição Brasileira tem no artigo destinado aos Direitos e garantias, o seguinte mandamento:
Art. 5º.
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
Em linguagem menos técnica, significa que apenas a LEI – aquela feita pelo Congresso Nacional seguindo o processo legislativo— pode prever que uma conduta seja considerada crime. Significa também que isso só se aplica depois que a LEI entrar em vigor. E significa, ainda, que, além do crime, a pena tem que estar prevista na LEI e atender essas mesmas condições, antes de alguém praticar uma conduta: para que só então ele possa ser punido.
Essa garantia, escrita ou não, é praticamente uma unanimidade aplicada nos países democráticos. Nunca devemos esquecer, no entanto, como registram alguns autores, que legislações como a da União Soviética e a da Alemanha Nazista permitiram que ocorresse o contrário: e isso, por si só, já é um grande alerta.
E mais, essa previsão é cláusula pétrea da Constituição. Sabe o que quer dizer isso? Quer dizer que ninguém pode modificar isso enquanto essa Constituição estiver em vigor! Quer dizer que isso não pode ser mudado por emenda votada por 3/5 do Congresso: quer dizer que SÓ UMA NOVA CONSTITUIÇÃO PODERIA MUDAR ISSO E ISSO SÓ OCORRE COM UM GRAVE ROMPIMENTO INSTITUCIONAL que nos leve à necessidade de reconstituir o Estado. Não existe tal rompimento e não estamos fazendo uma nova Constituição. Ninguém pode estar acima do Poder Constituinte originário: que é esse que permite fazer uma nova Constituição e pertence apenas ao povo!
Mas, cuidemos: quebrar uma cláusula pétrea não é algo que só ocorre mudando as palavras da Constituição. Se o intérprete disser que uma palavra que significa uma coisa significa outra, a garantia está sendo violada. Se o intérprete disser que embora pareça criar um crime em lugar do legislador na verdade está apenas fazendo o que o legislador já deveria ter feito, também está violando essa cláusula pétrea. Se o intérprete disser que o poder que emana do povo deve ser substituído pela pretensa sabedoria de alguns considerados notáveis e iluminados, “os melhores”, então estaremos substituindo a Democracia pela aristocracia e, diante da falta de previsão Constitucional e da própria incompatibilidade da aristocracia com a Democracia, estaremos destruindo nossa Democracia e, caindo, em verdade, na autoritária oligarquia.
Preocupa-nos o momento em que ocorrer que um Poder cuja função é a de julgar (apenas APLICAR A LEI E A CONSTITUIÇÃO) possa definitivamente LEGISLAR passando por cima de cláusula expressa da CONSTITUIÇÃO – Sim, passando por cima, pois jogos de palavras não mudam a essência, como bem lembrou Shakespeare: “ Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume.”. Mudar o nome das coisas não muda sua essência e o nome disso é usurpar a função legislativa, O PODER LEGISLATIVO, seja chamando isso de interpretação conforme, seja alegando argumentos filosóficos e fraternais, seja invocando uma função iluminista até então oculta na repartição dos poderes. Preocupa em especial a questão do Iluminismo, pois seu estudo mostra que ele foi a base do Despotismo Esclarecido que foi apenas uma variação do Absolutismo mais autoritário, mas sob a alegação de que visava ao progresso, à reforma, à fraternidade...
Assim sendo, é muito perigoso permitir que um dos poderes do Estado atropele os outros dois e usurpe suas funções. Nem o Poder Executivo QUE TAMBÉM É ELEITO PELO POVO pode criar leis por medida provisória, diante desse Princípio da Legalidade, quanto mais quem não foi eleito pelo povo. Aliás, isso permitiria justamente que, o que foi reprovado pelo voto prossiga sendo feito vez que as eleições só mudam Executivo e Legislativo.
Importante ressaltar que a mesma usurpação que permite que se “legisle” sem o Congresso para uma boa e justa causa permitiria, por exemplo, no futuro e em outra composição dos tribunais:
1)que se considerasse crime criticar os políticos;
2) que se tornasse crime criticar os tribunais ou
3) que fossem suprimidas as eleições diretas...
“Ah, mas isso é protegido pela Constituição, não pode ser feito!”. Tem certeza? Depois que se viola a Constituição para o Poder JUDICIÁRIO legislar e para criar crime sem que haja Lei, alguém pode ter certeza do que mais pode ser feito? O céu passa a ser o limite, ou pior: o inferno...
Reflita sobre isso e pense no perigo que pode estar próximo de acontecer. A Constituição deve ser guardada, sim, mas intacta segundo os seus termos. Os chamados freios e contrapesos equilibram os poderes para que nenhum se sobreponha aos demais: que sejam respeitados.
Quis custodiet ipsos custodes?
(Quem nos guardará dos guardiões)
Juvenal (Satire 6, .346–348)
MP (Ministério Público) Pró Sociedade.
CONDIÇÃO BÁSICA
A cada dia que passa aumenta o meu convencimento do quanto ainda se faz necessário seguir explicando e/ou esclarecendo que a condição básica para garantir um crescimento econômico razoavelmente sustentado depende de uma boa REFORMA desta INJUSTA E INDECENTE PREVIDÊNCIA SOCIAL que vigora no nosso empobrecido Brasil.
Este convencimento ganha força ainda maior quando leio, por exemplo, em vários jornais (os mesmos que lutam desesperadamente para que o Brasil permaneça na UTI, em estado terminal), que o presidente Jair Bolsonaro precisa da aprovação da REFORMA DA PREVIDÊNCIA.
IMPOSTOS DIRECIONADOS
Ora, antes que alguém acredite nesta grossa mentira se faz necessário um importante esclarecimento: quem precisa da REFORMA, com urgência urgentíssima, é a maioria do povo brasileiro, que vê a maior parte dos impostos que paga sendo mensalmente direcionados para conta dos privilegiados aposentados do setor público, integrantes da INJUSTA E INDECENTE PRIMEIRA CLASSE.
CONTRATAÇÃO DE RECESSÃO
Diante de tanta má vontade misturada com grossas e constantes mentiras, não resta outra alternativa além de alertar que a não aprovação do projeto de REFORMA DA PREVIDÊNCIA significa a CONTRATAÇÃO de uma admirável RECESSÃO ECONÔMICA, com entrega garantida, com pompa e circunstância, já no próximo ano de 2020.
TÍMIDO
Detalhe importante: o texto da REFORMA apresentada pela equipe econômica do governo é considerada TÍMIDA, diante do péssimo estado de saúde das Contas Públicas do nosso empobrecido Brasil. Quem se dispõe a ler o que revelam os pavorosos números oficiais que o governo disponibiliza verá que a situação financeira do País, dos Estados e dos Municípios exige um projeto muito mais OUSADO E CORAJOSO.
COVARDIA
O que me deixa mais triste é que a TIMIDEZ mostrada pelo governo, com o propósito de diminuir as resistências ao projeto, não está sendo melhorada por inúmeros parlamentares, que ao invés de mostrar CORAGEM estão querendo abrandar ainda mais a REFORMA, o que soa como um ato de COVARDIA.
ALMOÇO GRÁTIS?
O resultado, para quem ainda não entendeu, é que tudo aquilo que caminhar no sentido de diminuir a projetada economia de R$ 1,16 TRILHÃO, que consta na versão e apresentada pelo governo para a REFORMA DA PREVIDÊNCIA, será financiado pelos pobres pagadores de impostos. Tudo a ver, aliás, com o que já afirmou o economista Milton Friedmann: NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS!
PREVIDÊNCIA DOS MILITARES
Para quem não entendeu a razão dos militares terem ficado de fora do Projeto de Reforma da Previdência, eis aí a explicação que deu o secretário Especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho: - A decisão de não incluir os militares na PEC foi técnica. As regras para a aposentadoria de integrantes das Forças Armadas não constam na Constituição e sim em LEIS ORDINÁRIAS. Por isso, para mudá-las, basta envio de um projeto de lei ordinária, que tem tramitação mais simples que uma PEC.
"Eles [militares] não poderiam entrar na PEC. Essa é uma condição, inclusive, da própria legislação do país” afirmou Marinho a jornalistas na quarta-feira (20), após acompanhar o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, na entrega da proposta à Câmara.