“Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário.”, George Orwell (1903 – 1950).
Antes que algum marxista-socialista-comunista reclame que esta exposição está incompleta, gostaria de lembrar que se trata de um artigo, não de um livro ou mesmo um ensaio. Logo, não poderá tratar de todos os pontos minuciosamente e sim da visão geral.
A grande mentira a que me refiro é a mentira histórica que coloca no ringue o capitalismo contra o socialismo, como se estivéssemos falando de coisas com a mesma natureza. Não são. Que você acharia de ver no tatame um lutador de judô sendo desafiado por um cabrito? A disputa entre um rinoceronte e uma abóbora? Seria muito estranho, pois a natureza diferente dos rivais não tornaria a disputa coerente.
Quando falamos de capitalismo, estamos falando de um sistema econômico. Iniciativa privada, acúmulo de capitais, propriedade privada dos meios de produção. O capitalismo tem haver somente em como os homens produzem. Se perguntássemos ao capitalismo algo sobre a natureza do homem, sua origem, seu destino, enfim, sobre as grandes questões filosóficas da humanidade ele diria para procurar uma religião ou sistema filosófico. O capitalismo nada sabe das “leis que regem a história” ou do estado futuro da humanidade. Ele é limitado em suas proposições.
Já as ideias de Marx vão muito além da economia. Claro que essas ideias assumiram diversas correntes e formas, mas desde o seu princípio o marxismo-socialismo-comunismo proclamou seu caráter messiânico. Viera para redimir a humanidade e livrá-la dos inimigos que impediam sua felicidade. Em seu seio se abriga o ateísmo, o evolucionismo, a dialética, o materialismo histórico. Não era uma resposta para a economia, era uma resposta aos enigmas do universo e do homem. Mais do que um sistema econômico, nasceu como uma cosmovisão. Proclamou seu inimigo a burguesia com todos os seus valores e entre eles o cristianismo.
Exagero? Veja o que Marx escreveu com respeito ao comunismo:
“O comunismo é a abolição positiva da propriedade privada e por conseguinte da auto-alienação humana e, portanto, a reapropriação real da essência humana pelo e para o homem… É a solução genuína do antagonismo entre homem e natureza e entre homem e homem. Ele é a solução verdadeira da luta entre existência e essência, entre objetivação e auto-afirmação, entre liberdade e necessidade, entre indivíduo e espécie. É a solução do enigma da história e sabe que há de ser esta solução” (Karl Marx, Vida e Pensamento, David MacLellan, Vozes, p. 133).
Seu socialismo “científico” sem dúvida era mais utópico do que os socialismos utópicos que ele combateu.
Foi e é um grande engano histórico e mesmo filosófico contrapor capitalismo e socialismo como se referindo à coisas com natureza semelhante. Capitalismo é economia, socialismo é ideologia, é messianismo, é religião. Como dizia Sun Tzu, não conhecer o inimigo em uma guerra é uma deficiência.
Entretanto a desproporção não termina por aí. Há outra disparidade nesse conflito.
O capitalismo é uma realidade histórica. O socialismo apenas uma realidade teórica. Sei que muitos dirão que ele existiu em boa parte do mundo e que ainda subsiste em Cuba e Coréia do Norte. Se você, porém, conversar com seus defensores eles dirão que o que existiu até hoje foi um “capitalismo de Estado”. O socialismo real, puro, como tem que ser e como foi idealizado por Marx ainda não chegou, apenas está a caminho e eles estão lutando por isso.
Em outras palavras, o capitalismo deve ser destruído e substituído por e em nome de um sistema idealizado e não por um sistema concreto. O presente real deve morrer pelas armas de um futuro hipotético. Esse futuro, depois de quase dois séculos de mortes, prisões e torturas em seu nome, ainda não chegou. Apesar de dominar o pensamento acadêmico ele ainda não teve uma existência concreta que alguém pudesse dizer: “Olha aqui o socialismo funcionando”. Mesmo assim temos que acabar com qualquer coisa ligada ao capitalismo, temos de sacrificá-lo no altar de uma teoria que nunca conseguiu provar que funciona. Perigoso.
“O socialismo acabou”. É o que muitos vão dizer. Ele teria sido sepultado sob os escombros do Muro de Berlim. Então por que tantos “Partidos Socialistas”? Então porque os estudantes são bombardeados por marxismo e tantos professores interpretam a história e o mundo segundo a cosmovisão marxista? Por que as razões reais do fracasso socialista não são estudas a fundo e apresentadas à nova geração? Por que o Foro de São Paulo, o “socialismo ou morte” de Chávez (nosso vizinho) e o gramscismo nas escolas? Uma ideologia não morre tão fácil assim, muito menos uma ideologia tão destruidora como essa. Ela fica impregnada na humanidade e embora possa metamorfosear-se sempre que necessário, não se torna por isso mais fraca ou menos perigosa.
Para terminar, temos que pensar no que disse o próprio Marx:
“Por causa desta divergência devemos levar as obras teóricas o mais possível a sério. Estamos firmemente convencidos de que não é o esforço prático, mas antes a explicação teórica das ideias comunistas que é o perigo real. Tentativas práticas perigosas, mesmo aquelas em larga escala, podem ser respondidas com canhão. Mas as ideias conseguidas por nossa inteligência, incorporadas ao nosso modo de ver, e forjadas em nossa consciência, são correntes que nós mesmos não podemos romper sem partir nossos corações; elas são demônios que não podemos vencer sem nos submetermos a eles”. (David MacLellan, op. Cit.)
*Extraído de http://www.culturateca.com.br/a-grande-mentira-socialista/, onde foi publicado em 19/04/2016.
Ao olhar para a manjedoura,
Entenda o quão vergonhosa é a soberba,
O quão venenosa é uma aspiração sem medida,
O quão ridícula é aw vaidade,
O quão calhorda pode ser sua atitude,
Quando pautada na falsidade.
Ao olhar para a manjedoura,
Não desvie o rosto da bofetada que ela representa.
Não tema ver-se no espelho.
Enfrente seu reflexo turvo,
Como o sedento que aceita uma água impura e, logo após, segue em frente,
Ciente de sua pequenez.
Ao contempla-lá, não creia na bonança duradoura.
Nem idolatre os duros ouros
Como se fossem eles os fins de sua existência.
Não.
Não alimente a vida pela importância de um níquel sequer.
Ele não vale qualquer coisa.
Se valesse, estaria no estábulo.
Ornaria a manjedoura.
Ao olhar para a manjedoura,
Chore, e reconheça seu tamanho.
Conheça a si mesmo.
Entenda que lá é um lugar nobre,
Como nobres são as moradas pobres.
A beleza não está no perfume agradável,
Nem se encontra nos fios de seda trançados em tapetes cuidadosamente ornados,
A fim de que sejam pisados por pés aveludados de um raro afortunado.
A riqueza não está no brilho do diamante.
Não se assemelha ao banquete farto.
Não se aproxima de narizes eretos,
Apontados ao céu de maneira tão repugnante quanto insegura.
Não se afasta da realidade crua.
Da madeira do estábulo.
Da palha que até pode não ser pluma,
Mas acolhe o repouso do menino Deus.
Por alguma razão, não havia ali um berço de marfim,
Por alguma razão, as testemunhas da chegada do Rei eram poucas.
Quase todos quadrúpedes que carregam em seus lombos o peso da vida dos outros.
Por alguma razão, aquilo que para muitos seria um fim, representou o início de nossa redenção.
Então, cuidado!
Muito cuidado ao olhar para a manjedoura e suas palhas.
As palhas trarão consigo aquilo que nos falta.
Aquilo que nos traz o pranto e, muitas vezes, é tomado por infortúnio.
E a manjedoura?
Bem...
Essa será mais implacável ao desvendar a verdade.
E certamente trará aos olhos aquilo que preenche o nosso coração.
Harley Wanzeller, em 24/12/2019
Essa gente da esquerda, com o notável QI de que são detentores, não se ajeita mesmo com a História, pois são duros de aprendizado. De todos os "companheiros", mundo afora, que puseram as mãos nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels, o mais cognitivo de todos, seguramente foi o camarada chinês Deng Xiaoping, que pôs os pés no Ocidente para morder informações e entregá-las de bandeja ao seu partido. Convenhamos que descobriu muita coisa boa aqui por estas bandas ocidentais, mais até do que imaginava. Mao Tsé Tung, o grande timoneiro da revolução comunista chinesa, porém, censurou as ideias trazidas do exterior por Deng e, ainda, como "prêmio", o fez morador do cárcere revolucionário, sem nenhuma cerimônia. E não parou por aí, ainda submeteu o companheiro de lutas passadas à execração pública, cravando um desdouro nele dos mais "qualificados": o de revisionista e traidor. Deng teve que que carregar essa mancha durante longo tempo... A partir da morte de Mao, entretanto, virou o jogo e provou quem era, de fato e com atos, o verdadeiro amigo do povo chinês, sob a ótica do regime de partido único.
É bom lembrar que Mao Tsé Tung é o mesmo que patrocinou o Grande Salto Adiante, um projeto de "desenvolvimento", que, pasmem, levou muitos chineses a conhecer mais cedo a paz dos cemitérios, por fome e inanição. Depois, ao enxergar inimigos do comunismo por todos os lados (embaixo das camas e dos sofás), deu início à Revolução Cultural, cujo objetivo era intensificar a luta de classes, eliminar as sequelas do pensamento burguês e exercitar à caça às bruxas dentro do partido, ou seja, expurgá-lo dos revisionistas. O radicalismo de Mao, entretanto, jamais se explicou por proteínas na mesa dos seus compatriotas.
Importante, nestes comentários, assuntar para o que pensava Karl Marx sobre a dinâmica da história. Para ele a instalação do regime comunista, somente seria possível a partir dos desdobramentos históricos, ou seja, da presença do capitalismo e do aprofundamento das suas contradições, quais sejam, a redução da taxa de lucros e da concorrência, a superprodução, o desemprego creescente. É devido registrar que nada disso aconteceu em nenhum lugar do mundo como preliminares da revolução, a qual passou a ser produto, apenas do voluntarismo dos seus agentes. Assim, aconteceu na Rússía, China e Cuba. Já na Coreia do Norte, Vietnã e países do Leste Europeu a imposição desse regime foi resultado dos desdobramentos de engrenagens de pós-guerras.
É pertinente dizer que Deng Xiaoping foi capaz de compreender que a Revolução Comunista em seu País havia sido precipitada, pois não existiam as condições históricas para tanto, segundo os dogmas marxistas. Daí, como exímio estrategista que era, haver concorrido para criar o que se chama de dois sistemas (o capitalista e o comunista) num mesmo país. Com o seu projeto, empresas foram atraídas, principalmente dos Estados Unidos, o berço do capitalismo mundial, para implantar os seus negócios em território chinês, primeiro nas áreas costeiras, depois avançaram por todo o continente. É assim que a China inundou o Ocidente de produtos de consumo. Como exigência-mor impuseram aos capitalistas de fora o repasse de informações e da tecnologia. Iniciaram pela produção de bens de consumo; depois, avançaram pela produção de bens de capital. Até aviões, pelo que se sabe, os chineses estão aprendendo a produzir nesse cenário. O Partido Comunista Chinês permanece senhor das terras, das finanças, do câmbio e dos setores que consideram estratégicos. Sobre o câmbio, manipulam de acordo com os seus interesses exportadores, ou seja, mantém a moeda local desvalorizada artificialmente para acumular reservas em dólares imensuráveis, a ponto de permitir que comprem terras e reservas minerais mundo afora, como está ocorrendo.
Em resumo, tudo indica que, quando os chineses tiverem aprendido as tecnologias que estão sendo repassadas, darão uma banana aos empresários ocidentais que lá estão... Certamente, pensam que, mesmo dispensando a ajuda deles, serão capazes de atender as necessidades de consumo de mais de um bilhão de habitantes (o que o regime obsoleto e ideológico de Mao Tsé-Tung jamais foi capaz de realizar) , sem a garantia, porém, da propriedade privada, do regime de preços livres e da liberdade criativa e inventiva das pessoas, será praticamente impossível rodar esse crescimento e desenvolvimento exuberantes. O impasse, não tenham dúvidas, será resolvido pela força das armas revolucionárias...
A esquerda latino-americana, representada pelo Foro de São Paulo e por seus agentes, fecha os olhos para essa realidade, ao apoiar os regimes de Nicolás Maduro e de Daniel Ortega, respectivamente, presidentes da Venezuela e da Nicarágua, verdadeiros representantes do atraso e do totalitarismo no Continente americano, e ainda aposta todas as fichas no regime cubano, apesar de o seu governo oferecer um padrão de vida deplorável para a sua população, a qual viveu, nestes anos todos, basicamente das proteínas dos intermináveis discursos escatológicos de Fidel Castro.
Karl Marx deve andar meio desgostoso com a sua gente interpretativa...
Para ser ou parecer ser um (pseudo)intelectual de esquerda, evidente que é muito singelo!
Traje-se despojadamente. De preferência use óculos “inovadores” (adoram aqueles de grifes comprados em viagens ao exterior!).
Gesticule e fale com tom de sabedoria e, convenientemente, mencione sua moral “superior” e humanista.
Cite sempre livros e faça menções às philosophies, francesas!
Utilize palavras “difíceis”, quem sabe até inventadas, ou troque seus reais significados e/ou a ordem das palavras, sempre argumentando contra o poder opressor!
No papo cabeça devem emergir palavras, tais como ação afirmativa, consciência, movimentos sociais, fascistas (com sc!), conquistas sociais, a elite, entreguistas, intolerância, minorias, empreendedorismo social, orgânicos, políticas públicas, reparações, ambientalismo e, claro, defenda sempre “às vítimas da sociedade injusta”.
Agora não parece um bom momento para continuar com aquela expressão cool “Lula Livre”, mas mantenha as camisas vermelhas, talvez com aquela tipografia do Che Guevara (seria interessante que homossexuais lessem minimamente sobre esse “libertário”!).
Pra fechar com chave de ouro, vá em grupos para bares e/ou restaurantes modernos e peça algo legal para beber. Talvez um bom vinho, uma cerveja artesanal ou um espumante...
Opa! Espumante não: Champagne, da histórica província francesa!
Trivial; não é preciso ter estudado quase nada, mas é fundamental tangenciar e citar quase tudo.
Ah, tente por um tempinho dissimular e esconder sua (in)tolerância caso haja alguém de visão centrista. Feito!
Pelo menos no Brasil, ao menos de forma tão explícita, ninguém ousou ir tão longe, ou melhor, descer tão baixo para chamar a atenção. Jamais alguém abusou de forma tão blasfema do espírito da tolerância cristã e da liberdade de expressão. Nem o Marquês de Sade chegou a tal baixeza. Uma coisa é debochar de cristãos ou seus líderes, seres humanos falíveis e dignos de repreensão. Outra coisa é zombar Daquele que é Rei dos Reis e Senhor dos Senhores.
Pelo visto, o politicamente correto só serve para fazer calar os profetas. Não tem poder algum contra os blasfemadores. Quando a liberdade de expressão se transforma em expressão de libertinagem, então a arte não está apenas decadente. Ela se tornou decadência. No lugar do belo, do bom e do verdadeiro está o horrível, o mal, o engano.
Este momento tão deprimente da nossa moral, tão pérfido, tão horrendo e escuro de nossa nação, tem algo a dizer a nós, milhões de cristãos que aqui vivemos. Ou reagimos e condenamos por todos os meios lícitos essa afronta imensa, ou seremos submergidos, não nas águas de um dilúvio do juízo divino, mas na lama pútrida e fétida produzida por pessoas, que longe de serem humoristas inocentes querendo divertir seu público, são blasfemos arrogantes que não têm qualquer respeito pelo imenso número de cristãos do país em que vivem e no qual prosperam.
Se há cristãos de verdade nesta nação, esta ofensa não pode ficar impune. Artigos, críticas, boicotes, rejeição pública, processos e ostracismo são nossas armas de paz. Podem e devem ser usadas contra aqueles que como os anjos caídos ou os habitantes de Sodoma e Gomorra blasfemam contra as dignidades. Se o silêncio é uma prece, neste caso ele seria uma ofensa, pois quem se cala diante do mal, consente com ele.
Em resposta às tolas justificativas onde cabia retratação, a desigualdade social não pode servir de álibi para blasfêmias contra valores tão caros para a maioria da população do Brasil. Tenho certeza que nosso amigo irá se entender com Deus quando chegar sua hora. Disso não tenho dúvida. Mas primeiro deveria pedir desculpas àqueles que amam esse Deus e que se sentiram ofendidos com tanta baixeza, ao invés de tentar justificar o injustificável. Homens públicos devem se desculpar publicamente por suas ofensas públicas. Vitupério à religião ainda é crime nesta nação.
Não importa se na esfera secular onde eles se movem, a palavra “pecado” se tornou obsoleta e vazia. O que importa é que dentro da esfera cristã dentro da qual milhares de brasileiros se movem e vivem, o que fizeram se chama pecado de blasfêmia.
Só nos resta parafrasear de modo santo o terceiro mandamento: Não usarás a imagem do Filho de Deus em vão, pois Deus não terá por inocente aquele que usar a imagem do Seu Filho em vão.
Quando o nome dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) é conhecido pelo povo em todo o País; quando se consegue antecipar o voto dos ministros sem errar; quando ministros se agridem oralmente, usando linguagem vulgar nas sessões; quando não hesitam em atropelar competências, a comprometer a segurança jurídica; isso só pode significar que o STF está numa trajetória equivocada de afirmar a sua superioridade política sobre os demais Poderes e está irreversivelmente enredado na política... É um desastre anunciado que já se instalou na Corte: a política está expulsando o Direito do tribunal.
O fato inegável é que o STF tem competências que o diferenciam do Executivo e do Legislativo. O poder de decretar a inconstitucionalidade de um diploma legal é exclusivo dele, afeta os outros dois Poderes sem ser por eles afetado. O STF não é um órgão eleito pelo povo, não está sujeito a mandato fixo, salvo por idade, e tem seus ministros indicados pelo Executivo e aprovados pelo Legislativo. Os freios da escolha popular ou do mandato com prazo fixo não o atingem. Por fim, é a última instância não só do Judiciário, como do sistema político em matéria jurídica.
Se o Judiciário tem esse poder que pode levá-lo a considerar-se superior aos outros dois, este também é o seu calcanhar de Aquiles.
Tribunais superiores, em regra, acautelam-se no exercício desses poderes. Não pretendem ser populares, detestam as especulações jornalísticas, proíbem fotografia, gravação ou filmagem de suas atividades, não dão entrevistas e evitam a todo o custo envolver-se na política. Preservam religiosamente sua discrição e sua independência, o mistério e a magia da instituição. Sabem que o maior inimigo da legitimidade da Corte é o envolvimento político. São 11 ministros que sabem qual o custo de tão elevada função: evitar a política, manter sob reserva suas características pessoais e evitar a popularidade, que gera expectativas e pressões.
Nosso Supremo, guardadas as diferenças entre os sistemas políticos de outras nações, tem se mantido dentro desses parâmetros comportamentais a maior parte do tempo.
Os casos desviantes sempre existiram, mas divisão por motivos políticos, com formação de blocos, controles de fidelidade e a ousadia de submeter a segurança jurídica a interesses políticos não faziam parte da história do STF.
Então, por que o STF cada vez mais se envolve em decisões políticas? Porque a política está expulsando o Direito do tribunal?
O próprio ex-presidente Lula respondeu a essa pergunta quando da divulgação dos telefonemas gravados pelo então juiz Sergio Moro. Neles o ex-presidente exigia de seus companheiros que “cobrassem” dos ministros o apoio de que estava necessitando, a revelar que a nomeação deles implicava a contrapartida em votos no plenário. Se a lógica do aparelhamento político precisava de confirmação, o ex-presidente encarregou-se de fornecê-la.
O ingresso da política no STF foi também coadjuvado pelo próprio tribunal quando liberou a transmissão das sessões pela TV. O público não acompanharia sessões técnicas, mas o faria nas sessões em que estavam em julgamento questões políticas.
Mas a TV no STF teve mais consequências. Ministros subitamente se tornaram figuras públicas. Seus acertos, como seus erros, passaram a ser vistos por todos, choveram convites para eventos, jornalistas estavam sempre em busca de entrevistas, sua presença nos noticiosos era frequente. Ministros, sendo 11, eram mais presentes na mídia do que as centenas de deputados e dezenas de senadores. Nem mesmo os presidentes das Casas Legislativas tinham cobertura de mídia tão intensa. Conflitos logo se tornaram públicos, o que exigia dos contendores coerência na continuidade da desarmonia.
A TV e a notoriedade pública envolveram os ministros do STF, atraindo-os para um protagonismo político para o qual não estavam preparados, mas cuja atração se revelou irresistível. Se a política entrou no STF, em boa parte foi porque a TV entrou na Corte.
Houve ainda um terceiro fator na politização da Corte. Como a ação da Lava Jato decorria numa comarca, sob a autoridade de um juiz singular, a investigação desembocava num processo e o processo conduzia ao julgamento, à sentença e, inevitavelmente, a recursos a instâncias superiores. A leitura dos que já estavam inoculados pela popularidade era de que um juiz de primeira instância havia aplicado uma capitis diminutio nos juízes do STF.
De início não se percebeu a desproporção que decorria da entrega do maior caso de corrupção da História do País a um jovem juiz singular. Não era uma ação de governo investigando suas entranhas, conduzida por autoridades de espectro nacional. Era uma ação em que o governo do País e suas autoridades surgiam como suspeitos e, como réus, ficaram sujeitos ao processo penal. Políticos, empresários e servidores da mais alta hierarquia acabaram submetidos à autoridade de um jovem juiz de subseção. Restaria ao STF, então, julgar recursos em matéria de Direito, porque em matéria de fato não havia mais o que fazer. E tudo o que surgia era resultado da ação de um juizado singular. Foi muito difícil para alguns ministros aceitar essa aparente humilhação.
Assim, Lava Jato e mensalão seguiram roteiros opostos quanto à sua origem: a Lava Jato deslocou-se de baixo para a cúpula do sistema político; o mensalão, ao contrário, nasceu e se extinguiu no STF.
Foi o mensalão televisionado, entretanto, que introduziu os ministros no mundo da política e do espetáculo, cujo ingresso ocorre com facilidade, até mesmo por descuido, mas cuja saída não se dá sem pagar um preço proibitivo na majestade institucional da Corte e naquele “terrível poder” dado ao homem para julgar o homem. Fácil é entrar no jogo político, difícil sair; impossível sair ileso e recuperar a pureza de outrora.
*PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA, PÓS-GRADUADO PELA UNIVERSIDADE PRINCETON, EX-REITOR DA UFRGS, É CRIADOR E DIRETOR DO SITE WWW.MUNDODAPOLITICA.COM
** Publicado originalmente em O Estado de São Paulo 17/12.