• Irineu Berestinas
  • 15 Outubro 2019



O mundo está bipolarizado entre dois sistemas de vida. No meio deles, a atravessá-los, a social democracia, distinguida por financiar o estado de bem-estar social, sob os auspícios de elevadíssima carga tributária (Dinamarca, Noruega, Suécia, etc).

  Muito se tem falado nos últimos tempos sobre esquerda e direita. Na maior parte das vezes, os termos são inelegíveis do ponto de vista da cognição. Na verdade, são dois sistemas de vida que estão em aberto confronto. Vamos conhecê-los em linhas gerais nestes comentários. Em um dos lados, está a esquerda, que representa o socialismo (eufemismo) e o comunismo. A origem teórica mais densa desse significado advém dos pensadores prussianos Karl Marx e Friedrich Engels. O arcabouço filosófico desse sistema (filosófico, sim, apesar de os seus autores pretenderem-no científico), é resumido do seguinte modo: a História é movida pela luta de classes: de um lado, os detentores dos meios de produção, de outro, os trabalhadores, expressando, assim, dois polos inseparáveis do caminhar histórico, sintetizados numa unidade dialética (dialética: a realidade se constitui de forças contrárias em constante movimento, guiadas por antagonismo e contradição), cujos períodos históricos são descortinados, degrau a degrau, por sociedades assim desenhadas: comunismo primitivo, escravocrata, feudal, mercantilista, capitalista, socialista (fase transitória) e comunista. Essa é a camisa de força com que Marx e Engels vestiram a História, em verdadeiros Tirésias (personagem da Mitologia Grega) redivivos . Assim, seria descortinada a hegemonia da classe trabalhadora diante do devenir histórico, e a produção seria organizada segundo as necessidades de cada um. A partir da revolução, por ambos os pensadores vislumbrada, o Estado seria transitório e desapareceria, afinal de contas, julgavam-no mesmo o "comitê da burguesia". Tudo isso sob o manto do "determinismo histórico", o que significa dizer: o que ocorreria fatalmente, independente da vontade dos homens.

Nada disso, entretanto, ocorreu em países que levaram adiante a Revolução armada, por meio de ações voluntaristas e em países eminentemente agrários, e não com elevado nível de industrialização, como previra Marx e Engels: Rússia, China, Vietnã, Cuba, Vietnã, são claros exemplos. Nesses países o que ocorreu de fato é que uma elite revolucionária enfeixou o poder em suas mãos, requisitando partidários para levar o processo adiante, a chamada "nomenclatura". O poder nas mãos do proletariado, historicamente, foi Um Sonho de Uma Noite de Verão... como diria Shakespeare.

Sobre o Capitalismo, cujas origens remontam a priscas eras, com o aparecimento do chamado mercado (compradores e vendedores de bens e mercadorias, hoje incluída nessa lista a prestação de serviços, com os preços determinados pela lei da oferta e procura), foi-se consolidando gradativamente: a Carta Magna do Reino Inglês, de 1215, que estabeleceu freios ao absolutismo monárquico, contribuiu para o avanço dos postulados liberais, firmando-se, ainda mais, a partir da célebre e antológica Revolução Gloriosa, ali ocorrida.

É devido dizer que capitalismo não surgiu como consequência de formulações teóricas, malgrado os os sábios escritos de Adam Smith, um escocês nascido no séc. XVIII, autor da clássica obra A Riqueza das Nações. Por seu turno, A Revolução Industrial, ocorrida na Europa e, particularmente, na Inglaterra, nos séculos XVIII e XIX, com a instalação do sistema fabril, em face do surgimento das máquinas de fiação e tecelagem e pela invenção da máquina a vapor, por James Watt, outro escocês iluminado, deu forte dinamismo ao Capitalismo. A par desses fatos, é de ser registrado que a Revolução das 13 Colônias Britânicas na América, ao libertar-se do jugo britânico, impôs o surgimento dos Estados Unidos da América, contribuiu para institucionalizar ainda mais esse sistema de ideias, embasado no liberalismo, nos livres mercados, na imprensa livre, na liberdade de credo, no reconhecido direito de ir e vir, na propriedade privada dos meios de produção e na democracia representativa.

Por outro lado, os regimes comunistas, inspirados nos engenhos de Marx e Engels e, agora, sob aorientação do marxismo cultural da Escola de Frankfurt, de Antonio Gramsci e de György Lukács, cujo objetivo é o de apagar os valores da civilização ocidental, funcionam do seguinte modo: a propriedade privada dos meios de produção é banida; não existem eleições pluripartidárias; o Estado exerce todos os controles sobre os meios de produção (máquinas, terras, indústrias, bens de capital e, por aí afora...); os credos religiosos estão proibidos, em consonância com o diagnóstico de Karl Marx: "a religião é o ópio do povo"; a educação e o sistema médico são estatais; neles, não existe a liberdade de opinião e de expressão. Na verdade, tudo converge para o sistema único. A dissidência, quando existente, é punida severamente, pois o sistema é holístico e não admite contestações que possam colocar em risco a sua sobrevivência. Vide o que está a ocorrer na Venezuela e na Nicarágua, cujos governantes chegaram ao poder pela via eleitoral, com a velada intenção de destruir as instituições democráticas e, em seu lugar, instalar a ditadura do partido único, tudo sob os olhares complacentes e autorizativos do Foro de São Paulo, o projeto das esquerdas do Continente, incluída as do nosso País, para reviver a trajetória da União Soviética, agora nas plagas latino-americanas (reunião de países sob o manto do regime comunista). No Chile, por exemplo, os protestos violentos, a destruição de bens públicos, o total desrespeito à ordem constitucional têm que ser analisados dentro desse contexto, em que a luta de classes está no porão dos acontecimentos. bem como tantos outros que são produzidos em seu laboratório...


 

Continue lendo
  • Gustavo Corção
  • 15 Outubro 2019


Hoje, para variar e para descansar o leitor, vamos falar da lagartixa. Antes disso, devo dizer que, nas meias horas de descanso depois das refeições receitadas pelo Dr. Stans Murad, costumo esticar-me num sofá, perdão, num sofanete, para ser mais exato, e então, sem saber como e quando começou, costumo deixar correr a lembrança dos dias idos e vividos ou das pessoas idas e mortas. Entrego a memória a seus caprichos e ponho-me de camarote a assistir às avessas, e de surpresa, às cenas desse teatro de amadores mal ensaiados que se chama vida. É o meu luxo, é o último regalo que os ferozes deveres de estado me concedem. Desta maneira, misturando à água da memória o vinho da ficção, invento a vida que não tive, viajo, vejo terras e mares que não vi, revivo amores que não vivi

Many and many years ago,
In a kingdom by the sea...


Nem sempre é ameno este exercício. Às vezes, como cobra escondida na moita, salta-me diante dos olhos um quadro vivíssimo que supunha morto ou dormido, ou vara-me o ouvido do coração uma palavra, um timbre, um grito, que me quebra o repouso com uma descarga elétrica de dor. Mas também muitas vezes logro repassar momentos de tão intensa doçura — ora no gosto fresco de um alvorecer, ora na suavidade silenciosa de um entardecer — que me dão esquecimento de todos os azedumes provados... Outras vezes, simplesmente cochilo até que toque um dos sete despertadores dos sete deveres de estado.

Ora, ontem, quando me punha no decúbito dorsal aconselhado pela sábia e amiga solicitude do Dr. Stans Murad, que é meu amigo pessoal, e declarado inimigo pessoal da morte, especialmente da morte súbita (A subitanea et improvisa morte libera nos, Domine), no momento em que me preparava para desatar as amarras da fantasia, vi no teto uma lagartixa a andar desembaraçadamente no seus afazeres de lagartixa, movendo-se ao arrepio das leis da gravitação, mas certamente ao saber de outras leis que desconheço, mas respeito.

Feliz animal! Lá no teto, com a maior naturalidade do mundo, a lagartixa vê tudo de pernas para o ar, vê pesados móveis grudados num teto sem nenhuma lei a favor de tal postura, e vê em decúbito dorsal uma grande pobre lagartixa humana, estendida no sofanete, imóvel, vivendo só pelo ardor dos olhos e pela angústia do semblante. Lacerta agilis, se tivesses nas tuas frias veias uma centelha daquilo que nos faz entender, e principalmente desentender, saberias lá no teu teto que o mundo cá embaixo anda ainda muito mais de pernas para o ar do que te parece. Tua tranqüilidade, ó Lacerta agilis, vem do fato de não seres absurda. És o que és, e moves-te em conformidade com o que és. Nós, não. Nós não sabemos exatamente o que somos, e quando o sabemos é para logo observarmos que certamente, certíssimamente, não vivemos segundo o que verdadeiramente somos.

Vou contar-te um segredo de homem, lagartixa, um segredo pesado. Um segredo triste. Muitos de nós, ó Lacerta, sem tua translúcida inocência, andam no teto deste século, nos seus ires e vires, sem se aperceberem que vivem num mundo de pernas para o ar. Sem sofrerem. Sem quererem trabalhar para viverem segundo o que principalmente são. Não desenvolvo esta parte de minhas meditações porque prometi hoje ao leitor um dia de descanso. E suponho que o leitor me permitiu que hoje só lhe falasse de lagartixa.

Feliz devorador de insetos, não invejo tua tranqüilidade nem tua dieta; mas devo dizer-te, ó animal inocentemente subversivo, que muito menos invejo os meus iguais que andam no teto do século, na cúpula da atualidade, alegres de viverem num mundo de pernas para o ar, e de se nutrirem de insetos. Aqui onde me vês, deitado por obediência, já que hoje nem a fantasia me deixaste, prefiro esta postura, esta consciência afrontada, esta dor: é o nosso quinhão, ó lagartixa.

O mesmo compassivo amigo que me receitou os descansos depois das refeições, por um dos muitos paradoxos da ciência, manda-me andar 2 a 3 quilômetros por dia. O remédio é barato e agradável, só tendo a desvantagem humilhante de estar na moda. Como porém não me apraz andar pelas ruas duma cidade invadida por misteriosos inimigos que vieram não sei de onde, e vão não sei aonde (parece-me que a lugar nenhum) com uma incompreensível velocidade, inventei um estratagema simples que me permite andar os três quilômetros sem o inconveniente de afastar-me demais de meu pequeno mundo. La bête blessée cherche son trou. Tenho ao lado de minha casa uma nesga de terreno com trinta metros de fundo. Indo e vindo cem vezes tenho meus três quilômetros percorridos sem sair de casa. O método parecerá insípido às pessoas que gostem de ver coisas novas, ilhas, cidades, vulcões, ruínas e gostam de correr mundo. Tenho a impressão que este é o parecer de meu cão, um quarto ou dezesseis avos de sangue de perdigueiro. Escolhi a hora matinal, antes da missa, para meu exercício. E o fiel pseudoperdigueiro, quando me vê abrir a porta dos fundos às seis da manhã, com um bengala que para seus cromossomos seria uma espingarda, deve latir consigo mesmo: — Vamos à caça! E põe-se alegremente a andar a meu lado, o que atravanca às vezes os passos mas não deixa de alegrar o exercício.

O que o pobre falso perdigueiro não pode compreender é a minha insólita atitude diante do portão. Em vez de abri-lo, e ganharmos a floresta próxima, eu volto à garagem, marco um ponto, e volto ao portão, para voltar à garagem, e assim por diante até cem. o pobre animal vai e vem, com entusiasmo decrescente. Mantém a fidelidade, uma fidelidade sem alegria, sem sonhos de tiros e perdizes caídas, e já lhe surpreendi mais de um olhar triste que parece falar: — Meu amo enlouqueceu.

E agora, amado leitor, cumprido o descanso sob os olhos da lagartixa, e completada a marcha na companhia do cão, voltemos aos homens, às conferências episcopais, à atividade da Editora Vozes, inimiga de Deus e do homem. Voltemos aos sete deveres de estado que o bom Dr. Stans Murad não vê como um bom regime para um velho baleado.

*Publicado em http://permanencia.org.br/drupal/node/529 e dali gentil e agradecidamente recolhido.
 

Continue lendo
  • Ubiratan Jorge Iorio
  • 15 Outubro 2019



As universidades públicas brasileiras são o caminho certo para transformar o filho que você criou com tanto amor e carinho em um robô, programado para repetir incessantemente, na boca e na prática, todo o repertório socialista-comunista, de que fazem parte a luta de classes, o controle do Estado sobre a vida dele e a sua, o desestímulo ao trabalho e ao mérito, a insuflação ao ódio entre brancos e negros, mulheres e homens e heterossexuais e homossexuais, o horror à iniciativa privada, ao lucro e ao capitalismo, a aversão à religião (especialmente ao Cristianismo), a contestação da instituição da família, o relativismo moral, o descuido com a própria higiene, a imposição de maluquices e depravações como se fossem manifestações realmente artísticas, a tolerância às drogas e aos bandidos e outras coisas do gênero, que são ensinadas como sendo necessárias para a “libertação”, como verdades absolutas e inoculadas em suas cabeças.

Esse triste quadro não acontece por acaso. É, como sabemos, fruto de décadas de um trabalho consistente e rigoroso de aplicação dos métodos frankfurtianos e gramscianos de ocupação de espaços em toda a estrutura do sistema cultural, para fazer a “revolução”. E também não se limita ao ensino superior, porque desde a mais tenra idade as crianças são submetidas à pedagogia freireana dos oprimidos, que não passa de uma forma rebuscada de incutir a praga do comunismo em suas cabeças,de um eufemismo para o mote ‘educar para a revolução’.

Quando pisei pela primeira vez na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), nos idos de 1991, para me informar sobre aquele concurso para docente da Faculdade de Ciências Econômicas por meio do qual, três meses depois, ingressei no Departamento de Análise Econômica, fiquei espantado com a quantidade de barraquinhas de partidos políticos, todos de esquerda, localizadas no “queijo”, como é chamado na intimidade dos que conhecem o campus do Maracanã, um pequeno bloco de concreto circular que existe no térreo, perto do acesso aos elevadores. Ali vendiam de tudo, pins, bottons, chaveiros, bonés, bandeiras, camisetas, folhetos, jornais em que se lia fora Collor e outras bugigangas, mas, sobretudo, vendiam as mercadorias ilegais – que não podem ser toleradas, especialmente em uma universidade - da ilusão do paraíso socialista, da quimera da utopia igualitária e da fábula da justiça social, que costumam ser atraentes para muitos jovens bem intencionados.

* Doutor em economia

**Publicado originalmente em https://www.ubirataniorio.org/ (Out.2019)
 

Continue lendo
  • Fabio Reginaldo
  • 13 Outubro 2019

 

Essa frase é de Paul MacCready, considerado um dos melhores engenheiros mecânicos aeronáuticos do século XX. Interessante, não é? Quantas vezes estamos tão envolvidos na solução dos problemas de maneira rápida que nem ao menos paramos por algum tempo para verificar se realmente entendemos o problema.

Em 1959, o magnata britânico Henry Kremer lançou um desafio ao mundo: um avião pode voar movido apenas pela força do corpo do piloto? Como ele acreditava que era possível, ofereceu 50 mil libras para quem construísse um aparelho que pudesse voar um número oito em torno de dois marcadores a meia milha de distância. Além disso, ofereceu 100 mil libras para a primeira pessoa a voar pelo canal. Em dólares americanos modernos, digamos que isso equivaleria hoje a US$ 1,3 milhão e US$ 2,5 milhões.

Dezoito anos depois, Paul MacCready decidiu tentar. Ele decidiu partir seu projeto da análise do porquê as outras soluções haviam falhado e não buscar solucionar a resolução para a questão fim: um avião pode voar movido apenas pela força do corpo do piloto? Quando analisou o problema, verificou como as soluções anteriores falharam e como as pessoas repetiram os projetos.

Na minha visão, o que Paul realmente fez, àquela época, foi aplicar os conceitos de Design Thinking: Empatia, Definição, Ideia, Prototipação e Teste. O engenheiro chegou à conclusão de que as pessoas estavam resolvendo o problema errado. "O problema é", disse ele, "que não entendemos o problema".

O insight de MacCready foi que todos os que trabalhavam na solução de voos movidos por humanos passavam mais de um ano construindo um avião em conjecturas e teorias sem o embasamento de testes empíricos. Com sucesso, eles completavam o projeto e o levavam para teste. Minutos depois, um ano de trabalho era esmagado no chão. Mesmo voos bem-sucedidos terminavam com o piloto exausto fisicamente. Depois do fracasso, a equipe trabalhava por mais um ano para reconstruir, testar novamente, reaprender. O progresso era lento por razões óbvias, mas isso era de se esperar na busca de uma solução tão difícil.

Paul então percebeu que o que precisava ser resolvido era o processo e a busca de um objetivo sem a compreensão de como enfrentar desafios difíceis. Ele apresentou um novo problema e se propôs a resolver: como construir um avião que poderia ser reconstruído em horas e não meses. E ele fez. Ele construiu um avião com uma espécie de plástico transparente, tubos de alumínio e arame.

Os primeiros aviões não funcionaram. Mas, como o problema era criar um avião que poderia ser consertado em horas, Paul conseguia resolver rapidamente. O ciclo de reconstrução, de testar novamente e de reaprendizagem passou de meses e anos para horas e dias. Aqui vejo novamente o conceito atual de Design Thinking: “Falhe com rapidez e frequência, depois volte para a prancheta e faça melhorias onde você falhou. Os protótipos passam por várias iterações nas quais o feedback dos usuários é incorporado e as alterações são feitas para chegar a uma solução final eficaz”.

Através de caso vemos que anos se passaram até que Paul MacCready mudasse o entendimento do problema a ser resolvido e conseguisse construir um avião movido apenas pela força do corpo do piloto. Meio ano depois, o Gossamer Condor da MacCready voou 2.172 metros para ganhar o prêmio. Pouco mais de um ano depois disso, o Gossamer Albatross voou pelo canal.

E a que conclusão chegamos? Quando estiver resolvendo um problema difícil, refaça a pergunta para que sua solução o ajude a aprender mais rapidamente. Encontre uma maneira rápida de falhar, recuperar e tentar novamente. Se o problema que você está tentando resolver envolve a criação de uma grande obra, você pode estar resolvendo o problema errado!

*Fabio Reginaldo é diretor de Serviços Latam da NICE
 

Continue lendo
  • CubaNet, editorial
  • 12 Outubro 2019

 

Em uma data tão significativa quanto 10 de outubro, 151 anos após o início das Guerras pela Independência do colonialismo espanhol, ocorreu uma nova farsa eleitoral em Cuba, liderada pela Assembleia Nacional do Poder Popular (ANPP). Sem a menor oposição, como é habitual há sessenta anos, foram confirmadas as principais posições políticas de um país que chegou ao fundo através do oportunismo, cegueira e imobilidade de seus líderes.

Tudo permanece o mesmo dentro de um sistema obsoleto e contraditório, que fala em votar em “candidatos”, no plural, quando na realidade há apenas um aspirante a ocupar cada posição que influencia diretamente o futuro da nação. Não houve surpresas, nem variações na fala. Segundo o presidente nomeado pela segunda vez, Miguel Díaz-Canel, a falha permanece no "imperialismo"; a "conjuntura" foi superada pelo menos em seu momento mais crítico; e todo o povo mostrou seu apoio absoluto às ações ditadas por um governo não eleito, que se orgulha e se identifica como “popular”.

O regime falou sobre garantias e transparência, apresentando a nova Magna Carta aprovada em 10 de abril como uma base legal que protege os direitos de cada cidadão cubano; exceto para aqueles que discordam.

Essa verdade não escrita permaneceu fora do desdobramento demagógico e, embora as palavras “pessoas”, “direitos” e “democracia” tenham sido repetidas, o aumento da repressão contra o jornalismo independente e a sociedade civil em Cuba continuou a acusar as vítimas de margem da Constituição supracitada, que reconhece no artigo 54 "liberdade de pensamento, consciência e expressão".

O advogado e jornalista da CubaNet, Roberto de Jesus Quiñones Haces, foi condenado a um ano de prisão; sentença arbitrária que foi imposta após um julgamento fraudulento e violação de seus direitos civis. Por denunciar as condições de insalubridade e má alimentação sofridas pelos presos, hoje ele está à mercê de um "conselho disciplinar" que poderia puni-lo da maneira que julgar apropriada, não havendo leis que regulem essas práticas de carrascos que cumprem ditaduras.

Cuba acata a continuidade inútil de seu modelo de partido único na mesma data em que Carlos Manuel de Céspedes decidiu, em 1868, arriscar tudo para modificar o destino da nação. Assim, o regime totalitário vigente destrói o significado daquele estalo patriótico e o compara à farsa eleitoral cubana, que beira a loucura.

Em Cuba, continua imperando uma ditadura que brinca com a vontade popular enquanto se proclama como “governo democrático”. O regime não fez nada além de ajustar amarras para que todo o país se funda num abismo de total miséria, maquilado de epopeia revolucionária e aprovado por unanimidade.


Por CubaNet, 11/10

NOTA DO EDITOR: A propósito, quem tiver interesse num exemplar autografado de A tragédia da Utopia, recém-lançado em segunda edição aos 60 anos da revolução cubana, clique aqui: http://www.puggina.org/fale-com-ele/
 

Continue lendo
  • Alex Pipkin, PhD
  • 12 Outubro 2019

 


Etimologicamente, a palavra "procrastinar" se originou a partir do latim procrastinatus, significando, literalmente, "à frente de amanhã".

Sua noção remete para o adiamento de algo e, para o procrastinador, resulta numa sensação de perda de produtividade. Em determinadas situações, sensação de culpa! Todos nós procrastinamos, pessoas físicas e jurídicas.

Muito tem se falado e pesquisado sobre a procrastinação, envolvendo pessoas e organizações.

Uma mudança de hábitos indesejáveis pode ser alcançada por meio de pequenas mudanças, frequentes, com implicações no longo prazo. É preciso autocontrole. Mas necessidade de adaptação às alterações no ambiente se sobrepõe. O ser humano aprecia uma – falsa – sensação de controle das situações.

Muitos procrastinam por acreditar que aquilo que teria que ser executado "não é tão importante". "Depois" parece ser sempre a melhor decisão para – não - fazermos coisas que nos tiram da zona de conforto.

O pião da vida, nas economias de mercado, gira muito rápido. Tecnologias da informação inovadoras exacerbaram ânsia pelo instantâneo. Queremos, em tudo, a mesma agilidade do clicar dos dedos em celulares e laptops, a fim de dispormos de dados e informações.

No meio empresarial, a ordem é inovação, agilidade, flexibilidade e resposta rápida ao mercado. Crucial, dizem alguns, ser notado por primeiro. Afinal, na economia líquida, tudo se transforma rapidamente.

Porém, observa-se que organizações projetam e lançam produtos e serviços "inovadores – por serem novos", que fracassam nos mercados. Nem sempre novas tecnologias logram entregar utilidade real e melhores resultados práticos.

Neste cenário, é que entra em cena necessidade de uma certa dose – moderada – de procrastinação empresarial. Uma "grande ideia" não conduz necessariamente ao sucesso.

Provavelmente, a "grande ideia" já venha sendo incubada por muito tempo (deveria ser assim, ainda que não saibamos). Basicamente, consumidores precisam desta "solução"? Mais "racional" e prudente, poderia ser procrastinar no conceito de produto e serviços agregados, refletindo profundamente sobre necessidades dos consumidores, mal ou não atendidas.

Aparenta que sofremos de intrínseco otimismo irrealista, empurrado pela imposição de resultados e indicadores de curto prazo. Um pouco de conservadorismo, no sentido de analisar contexto e externalidades, abandonando a cegueira das paixões, poderia trazer melhores resultados.

Enquanto consumidores, também nosso piloto automático, por vezes, não ajuda! Quantas vezes já não nos arrependemos de ter comprado algo por impulso?
Interessante que no campo econômico, no Brasil, muitos ainda não querem inovar. Ou será comprometimento efetivo com os projetos importantes para a sociedade brasileira? Indivíduos geralmente preferem mais gratificações instantâneas do que futuras; no contexto político mais ainda, uma vez que reformas modernizantes não são populares.

Entretanto, por aqui, definitivamente, não há mais espaço para procrastinar. "O óbvio ululante"!

 *Alex Pipkin PhD

Continue lendo