Alex Pipkin, PhD
Os tempos são virulentos, mas não há doença que não seja debelada, e as vacinas estão aí.
Porém, há uma paralisia cognitiva e uma pujança dos instintos sobre a lógica que não aparenta ter cura. Estamos na era da pós-verdade, em que os fatos são desconsiderados em prol de determinadas crenças e desejos de verdades que encobrem falsidades aberrantes, essas solicitadas e pressionadas por vários grupos sociais e identitários.
Não se quer enxergar o ululante: os fatos existem independentemente de nossas afirmações e crenças.
É mesmo surreal, somos simultaneamente atores e espectadores de um filme de ficção científica ou de uma comédia política de Woody Allen.
Pseudointelectuais e filósofos da justiça social - em especial, claro, os franceses - com suas falas e escritas rebuscadas, mas vazias, arrotam mentiras científicas e reais fórmulas para a destruição, ganhando aplausos da massa incauta e, ironicamente, da grande mídia e de seus “especialistas”. O nefasto politicamente correto é a regra neste imenso mar de ignorância e de inverdades, não a exceção.
Os guerreiros da justiça social não só derrubam estátuas, rasgam clássicos da literatura e se negam a cantar hinos; eles também rejeitam a ciência e a biologia; homem não nasce mais homem, tampouco a mulher nasce mulher!
A ideologização passa por cima de todos e destrói tudo o que vê pela frente.
Porém, a mentira terminal para a vida dos comuns, é aquela que decorre da omissão dos genuínos fundamentos econômicos condutores da prosperidade, fruto do viés ideológico coletivista e da respectiva ignorância econômica.
Meu Deus! Políticas econômicas sabidamente destrutivas são cada vez mais pressionadas pelos defensores do fim das desigualdades sociais e, surpreendentemente, essas têm ganhado mais apoio das instituições e do público em geral.
Um misto de populismo - já que alguns sabem que tais políticas governamentais especificamente coletivistas resultarão em consequências desastrosas - e de burrice econômica. Nesse mundo da pós-verdade, essas ideias equivocadas e perigosas não andam, elas correm!
Quem com um mínimo de discernimento não enxerga que a benevolência de políticos despreparados, indolentes quanto a gestão dos recursos públicos, tem sistematicamente acumulado dívidas que se tornarão impagáveis?
Sem dúvida, precisamos de governo, mas de um governo limitado; o necessário. O governo deve garantir a defesa nacional, assegurar a justiça e a proteção da propriedade e das liberdades individuais. É ele quem fornece os serviços públicos, coletivos, e que cria a estrutura para que os mercados livres possam operar eficientemente.
Entretanto, a democracia disfuncional brasileira, capturada pelo estamento burocrático, tem acentuado os apelos e os pleitos por mais politicas redistributivas de renda. Aparenta que a nossa Constituição de 1988 aprofundou o caos redistributivo do Estado, deixando este de se limitar às suas funções essenciais, como preconizado pelo liberalismo clássico.
Os mercados não são perfeitos, assim como o governo também não o é.
O governo deve zelar pelos excessos indesejados do mercado, podendo intervir pontualmente a fim de corrigi-los.
Porém, normalmente, a intervenção estatal piora os problemas cujos quais a ação do governo tem a intenção de resolver.
O grande Adam Smith já apontava a importância dos incentivos, como forma de estimular o comportamento virtuoso das pessoas.
E como os incentivos importam! Basta analisar como as pessoas se saem diferentemente, em função de incentivos diferentes, embutidos em diferentes políticas nacionais.
Análise, por exemplo, o desempenho econômico e a prosperidade na antiga Alemanha Ocidental versus a Oriental. Ou então nas atuais Coréia do Sul e do Norte.
Nesta ilha da fantasia da pós-verdade, os justiceiros sociais intolerantes, auxiliados pela mídia e pela ignorância econômica geral, alardeiam o fim do capitalismo opressor e aludido criador das desigualdades sociais. Puro ilusionismo motivado pelos sentimentos e pelas emoções puras.
Os verdadeiros problemas são exatamente a falta de disciplina dos legisladores contra as pressões de grupos econômicos, que desejam privilégios especiais, como já prescrevia Smith, e a pobreza criada justamente pelas benesses concedidas aos empresários (com “e” minúsculo) e aos agentes estatais, que drenam os recursos por meio de políticas extrativistas.
Adam Smith era cético em relação ao governo em função dos fenômenos do patrimonialismo e do compadrio.
Neste mundo das falácias, não se atenta para o comprovado fato de que, ainda que não seja perfeita, a economia de mercado é o meio mais eficiente e moralmente defensável de alocar recursos econômicos escassos.
Fecham-se os olhos e os ouvidos para o fato de que o comércio livre tem o propósito de enriquecer as pessoas como consumidores, e não o de garantir a renda dos produtores existentes. Produtores diariamente travam uma batalha para ganharem a preferência dos consumidores.
Os lucros são justamente a recompensa dos empresários por satisfazer com sucesso os desejos dos consumidores. O que não se vê, é que alguns empresários, nesta dinâmica competitiva, perdem dinheiro.
Portanto, os lucros não são nem roubados dos consumidores, tampouco extraídos dos trabalhadores. Esses dependem da satisfação - independentemente da classe social, cor, gênero - dos consumidores!
Neste mundo estilizado de Woody Allen, não se quer aceitar a realidade. Dinheiro não nasce em árvore; não existe maná, é preciso criar riqueza.
Toda vez que o governo taxa a sociedade, verdadeiramente, a empobrece.
Impostos mais altos sobre atividades geradoras de renda reduzem as atividades geradoras de renda, diminuindo empregos, renda, e o que é mais grave, penalizando a classe mais pobre.
Com o repasse dos impostos para os preços, aliado ao fechamento de negócios, o resultado efetivo é o aumento daquilo que realmente importa: a pobreza.
A razão, a ciência e as comprovadas práticas bem-sucedidas, daquilo que até aqui representa a verdade verdadeira, estão em coma.
Neste mundo pós-moderno da pós-verdade, valem mais as crenças, as falácias e os berros.
Enfim, o Estado ilimitado e a acirrada luta redistributiva nos encaminham para o terreno “igualitário” da pobreza da maioria, e as benesses para as elites extrativistas verde-amarelas.
Harley Wanzeller
Oh Zé,
Desce desse muro. Pula!
Para direita ou esquerda, tanto faz.
Só não me apraz ver-te aí,
Sentado onde jaz um ignorante
Ruminando idiotice própria de quem não se conhece.
De quem não sabe a que veio,
Nem mesmo onde está.
Oh Zé,
Desce desse muro!
Escolhe o caminho duro, e ele te dará algo.
Te fará homem, Zé...
Dará sentido a essa vida medíocre e ignóbil que escolheste levar.
Esses passos trarão ciência de tudo.
Te apresentarão o mundo que existe fora do bar.
Talvez, até mesmo retornes ao lar, Zé,
Quem sabe?
Quem sabe um dia te tornes alguém além do ninguém que és.
Sabe-se lá...
Mas torço por ti.
Para que desças desse muro,
E saindo do escuro,
Escolhas tuas convicções.
Escolhe Zé,
Aceita logo o lado.
Para esquerda ou direita, não importa.
Me importa, sim, teu voto,
Pois padeço em tuas pífias reflexões.
E minhas decisões vão ao esgoto quando confrontadas com as tuas visões.
Por sermos iguais, Zé,
Acabo pagando a conta que fizeste.
Antes pagasse a conta do bar, quando alguns níqueis resolvem.
Sofreria menos...
Pára, Zé!
Que queres com isso?
Maltratar?
Apunhalar?
Tua incúria me fere a alma, e me torna cara a segunda-feira.
Meu corpo padece no cansaço do trabalho,
E o país sendo entregue a ti e aos teus,
Que nada querem além de um trago a mais,
Uma cachaça a mais,
Uma noite a mais,
Uma ilusão a mais...
Toma tento Zé!
Escolhe o teu lado e pula.
Para direita ou esquerda,
Tanto faz.
Urge que saias do muro,
E busques a paz que só a cultura pode guarnecer.
Me encantaria ver-te crescer e não mais vender teu voto por um pedaço de corrupção.
Te perdoo todo prejuízo que sofro.
Até mesmo o atentado contra a nação.
Mas te peço, como irmão.
Desce logo Zé,
Vira homem,
Larga de ser Mané!
Wanzeller,Harley. Janelas da Alma: Os Escritos de Um Poeta Politicamente Incorreto. 1a edição - Rio de Janeiro, RJ. p. 22-24.
O ESCLARECEDOR TEXTO DE LUDWIG VON MISES
O texto aí abaixo, extraído da obra de Ludwig Von Mises - Liberty & Property.-, serve como uma luva para esclarecer o quanto o CAPITALISMO foi importante para libertar as massas trabalhadoras. Leiam, entendam e comprovem através dos acontecimentos históricos descritos pelo autor.
SISTEMA PRÉ-CAPITALISTA
O sistema pré-capitalista de produção era restritivo. Sua base histórica era a conquista militar. Os reis vitoriosos cediam a terra conquistada aos seus paladinos. Esses aristocratas eram lordes no sentido literal da palavra, uma vez que eles não dependiam de satisfazer consumidores; seu êxito não dependia de consumidores consumindo ou se abstendo de consumir seus produtos no mercado.
CRESCIMENTO DOS DESAMPARADOS
Por outro lado, eles próprios eram os PRINCIPAIS CLIENTES das indústrias de processamento, as quais, sob o sistema de guildas, eram organizadas em um esquema corporativista (as corporações de ofício). Tal esquema se opunha fervorosamente a qualquer tipo de inovação. Ele proibia qualquer variação e divergência dos métodos tradicionais de produção. Era extremamente limitado o número de pessoas para quem havia empregos até mesmo na agricultura ou nas artes e trabalhos manuais. Sob essas condições, vários homens, para utilizar as palavras de Malthus, descobriram que "não há vagas para eles no lauto banquete da natureza", e que ela, a natureza, "o ordena a dar o fora". Porém, alguns destes proscritos ainda assim conseguiram sobreviver e ter filhos. Com isso, fizeram com que o número de desamparados crescesse desesperadoramente.
SURGIMENTO DO CAPITALISMO
Mas então surgiu o CAPITALISMO. É costume ver as inovações radicais que o capitalismo produziu ao substituir os mais primitivos e menos eficientes métodos dos artesãos pelas fábricas mecanizadas. No entanto, esta é uma visão bastante superficial. A feição característica do capitalismo que o distinguiu dos métodos pré-capitalistas de produção era o seu novo princípio de distribuição e comercialização de mercadorias.
SATISFAZER AS NECESSIDADES DAS MASSAS
O capitalismo não é simplesmente produção em massa, mas sim PRODUÇÃO EM MASSA PARA SATISFAZAER AS NECESSIDADES DAS MASSAS. As artes e os trabalhos manuais dos velhos tempos eram voltados quase que exclusivamente para os desejos dos abastados. E então surgiram as fábricas e começou-se a produzir bens baratos para a multidão. Todas as fábricas primitivas foram concebidas para servir às massas, a mesma camada social que trabalhava nas fábricas. Elas serviam às massas tanto de forma direta quanto indireta: de forma direta quando lhes supriam produtos diretamente, e de forma indireta quando exportavam seus produtos, o que possibilitava que bens e matérias-primas estrangeiros pudessem ser importados. Este princípio de distribuição e comercialização de mercadorias foi a característica inconfundível do capitalismo primitivo, assim como é do capitalismo moderno.
OS EMPREGADOS SÃO CONSUMIDORES
Os empregados são eles próprios os consumidores da maior parte de todos os bens produzidos em uma economia. Eles são os consumidores soberanos que "sempre têm razão". Sua decisão de consumir ou de se abster de consumir determina o que deve ser produzido, em qual quantidade, e com que qualidade. Ao consumirem aquilo que mais lhe convém, eles determinam quais empresas obtêm lucros e quais sofrem prejuízos. Aquelas que lucram expandem suas atividades e aquelas que sofrem prejuízos contraem suas atividades. Desta forma, as massas, na condição de consumidores no mercado, estão continuamente retirando o controle dos fatores de produção das mãos dos empreendedores menos capazes e transferindo-o para as mãos daqueles empreendedores que são mais bem sucedidos em satisfazer seus desejos.
Sob o capitalismo, a propriedade privada dos fatores de produção por si só representa uma função social. Os empreendedores, os capitalistas e os proprietários de terras são os mandatários, por assim dizer, dos consumidores, e seus mandatos são plenamente revogáveis. Em um mercado livre e desimpedido, no qual não há regulamentações, subsídios ou protecionismos estatais, para um indivíduo ser rico, não basta ele ter poupado e acumulado capital. É necessário que ele invista, contínua e repetidamente, naquelas linhas de produção que melhor atendam aos desejos dos consumidores. O processo de mercado torna-se um plebiscito que é repetido diariamente, e que inevitavelmente expulsa da categoria dos eficazes e rentáveis aquelas pessoas que não empregam sua propriedade de acordo com as ordens dadas pelo público. Consequentemente, em um mercado livre de protecionismos e privilégios concedidos pelo governo, as grandes empresas — sempre o alvo do ódio fanático de todos os governantes e de pretensos intelectuais — adquirem e mantêm seu tamanho unicamente pelo fato de elas atenderem aos desejos das massas. As indústrias voltadas para satisfazer os luxos de poucos jamais adquirem um tamanho significativo.
A principal falha dos historiadores e políticos do século XIX foi terem se mostrado incapazes de perceber que os trabalhadores eram os principais consumidores dos produtos das indústrias. Na visão deles, o assalariado era um homem trabalhando árdua e exaustivamente para beneficiar unicamente uma classe ociosa e parasítica. Tais pessoas estavam sob a ilusão de que as fábricas haviam prejudicado todos os trabalhadores manuais. Tivessem eles prestado um pouco mais de atenção nas estatísticas, teriam facilmente descoberto a falácia desta sua opinião. A mortalidade infantil foi reduzida, a expectativa média de vida aumentou, a população se multiplicou e o cidadão comum passou a usufruir confortos que os mais abastados das épocas mais antigas sequer sonhavam existir.
No entanto, este enriquecimento sem precedentes das massas foi meramente um subproduto da Revolução Industrial. Sua principal façanha foi retirar a supremacia econômica das mãos dos proprietários de terra e transferi-la para a totalidade da população. O cidadão comum não mais era um servo que tinha de se satisfazer com as migalhas que caíam das mesas dos ricos. As três castas párias que caracterizaram as épocas pré-capitalistas — os escravos, os servos, e aquelas pessoas a quem os autores patrísticos e escolásticos, bem como a legislação britânica dos séculos XVI ao XIX, se referiam como 'os pobres' — desapareceram. Seus descendentes se tornaram, neste novo arranjo econômico, não apenas trabalhadores livres, mas também consumidores.
Esta mudança radical se refletiu na ênfase que as empresas passaram a dar aos mercados. O que uma empresa necessita acima de tudo é de mercados e mais mercados. 'Atender ao mercado' passou a ser o lema das empresas capitalistas. Mercados — isto significa clientes, compradores, consumidores. Sob um capitalismo genuíno, livre de privilégios estatais, há apenas uma forma de enriquecer: servir aos consumidores de uma maneira melhor e mais barata do que fazem as outras pessoas, os concorrentes.
Dentro das empresas e indústrias, o proprietário — ou, nas grandes corporações, o representante dos acionistas, o presidente — é o chefe. Porém, este controle é apenas aparente e condicional. Ele está sujeito à supremacia dos consumidores. O consumidor é o rei, é o verdadeiro chefe, e o produtor estará acabado caso ele não supere seus concorrentes na disputa de melhor servir aos consumidores.
Foi esta grande transformação econômica que mudou a face do mundo. Ela rapidamente transferiu o poder político das mãos de uma minoria privilegiada para as mãos do povo. À emancipação industrial seguiu-se o direito ao voto para os adultos. O cidadão comum, para quem o processo de mercado havia dado o poder de escolher os empreendedores e os capitalistas, adquiriu o poder análogo no campo governamental. Ele se tornou um eleitor.
Já foi observado por eminentes economistas, creio que primeiramente por Frank A. Fetter, que O MERCADO É UMA DEMOCRACIA NA QUAL CADA CENTAVO DÁ DIREITO A VOTAR. Seria mais correto dizer que um governo representativo escolhido pelas pessoas é uma tentativa de se arranjar as questões constitucionais de acordo com o modelo do mercado. Porém, tal intento jamais pode ser completamente realizado. No campo político, será sempre a vontade da maioria que irá prevalecer, de modo que as minorias devem se limitar apenas a aquiescer. Já no mercado, as minorias também são servidas, desde que elas não sejam tão insignificantes em número a ponto de se tornarem negligenciáveis. A indústria de vestuário produz roupas não somente para pessoas normais, mas também para os obesos, e as editoras não publicam somente romances policiais para as massas, mas também livros para leitores específicos e exigentes.
Há uma segunda e importante diferença. Na esfera política, não há como um indivíduo ou um pequeno grupo de indivíduos desobedecerem à vontade da maioria. Porém, no campo intelectual, a propriedade privada faz com que rebeliões sejam possíveis. O rebelde tem um preço a pagar por sua independência; não há prêmios neste universo que possam ser conquistados sem sacrifícios. Porém, se um homem estiver disposto a pagar o preço, ele é livre para divergir e se afastar da ortodoxia ou da neo-ortodoxia dominante.
Quais teriam sido as condições, nas comunidades socialistas, para heréticos como Kierkegaard, Schopenhauer, Veblen ou Freud? Para Monet, Courbet, Walt Whitman, Rilke ou Kafka? Em todas as épocas, os pioneiros e desbravadores das novas formas de pensamento e atitude só puderam atuar porque a propriedade privada tornou possível que indivíduos pudessem expressar seu descontentamento para com a maioria e, consequentemente, pudessem praticar sua desobediência. Apenas alguns poucos destes separatistas eram economicamente independentes o suficiente para desafiar o governo perante as opiniões da maioria. Os outros tiveram de procurar (e encontraram) na livre economia pessoas preparadas para ajudá-los e lhes fornecer suporte. O que teria sido de Marx sem seu patrono, o industrial Friedrich Engels?
Nota do Editor: O autor deste artigo é presidente do Instituto Pessoas Melhores, um objetivo que deveria ser comum a todos nós.
Edésio Reichert
Imagino ser quase impossível encontrar uma pessoa, sobretudo que tenha uma boa condição financeira, que assuma não se importar se algum trabalhador próximo ou uma pessoa próxima, tiver por hábito mentir, roubar qualquer coisa, seja em atitude isolada ou regularmente.
Será fácil encontrar alguém que, após comer e beber num bar, percebe na hora de pagar a conta que estão cobrando cervejas a mais, que não foram tomadas, e, mesmo assim paga com gosto, com satisfação, e não vê problema algum em ser “roubado” dessa maneira?
Em outra situação, será que encontramos alguém que paga com gosto e satisfação um calçado barato, 30 reais por exemplo, que está com costuras tortas, restos de cola nas laterais, pedaços de courvin sobrando, etc.? Provavelmente não.
As simulações acima remetem a aspectos da vida que estão por demais presentes em tudo o que fazemos, nas relações, nos produtos e/ou serviço que compramos, porém nem sempre refletimos sobre eles:
HONESTIDADE/COMPETÊNCIA/QUALIDADE
.E não importa a situação financeira: todos nós gostamos e pagamos, produtos e serviços, feitos - pelos outros - de forma competente e honesta.
Se todos temos isto presente em nossa vida, deveria ser uma relação automática a reflexão, mas sabemos que não é: o que eu faço, nas minhas relações humanas, no meu trabalho, que rigor tem, que nível de exigência tenho comigo mesmo, em se tratando de honestidade e competência?
Desde um simples bom dia, um elogio, uma crítica feita por outros, até grandes decisões, grandes ações de trabalho, é possível ver ali estas palavrinhas, ou a ausência delas.
Convém lembrar aqui que honestidade vem pelo esforço e pela educação; já competência vem pelo esforço e instrução.
Por várias evidências, é fácil perceber, os sinais da falta daqueles valores em escolas, em empresas, em associações, em viagens, em casas, etc. indicando claramente que algo está indo muito mal. E o início de tudo é na família.
Famílias com boa situação financeira, onde pais dedicam muito, mas muito mais tempo ao trabalho, ao lazer, ao conforto de uma casa e dão pouca ou nenhuma atenção à educação moral dos filhos; ensinar honestidade dentro de casa não está no radar das maiores ocupações.
Há tempos falei com uma coordenadora de uma escola particular onde só estudavam filhos de classe média e alta e ouvi dela o seguinte: “passo metade do meu tempo “educando” alunos mal- educados”. Difícil imaginar que entre as questões abordadas pela coordenadora sobre a “educação dos filhos dos outros” não estaria a questão da honestidade. E não há porque imaginar que nas escolas públicas seria melhor a situação.
Theodore Dalrymple, no seu livro “A Vida na Sarjeta”, páginas 228/229 revela como aprendeu sobre honestidade com sua mãe, aos 8 anos de idade, lição aquela nunca mais esquecida. Roubou um chocolate na loja da esquina, saboreou e confessou a bravura ao irmão mais velho. Por conta de uma discussão com o irmão, este contou para mãe o roubo do chocolate. Foi obrigado a voltar na loja, pedir desculpas e pagar em dobro (com dinheiro da mesada).
Se não aceitamos conviver com quem nos rouba, com quem mente, com quem nos trapaceia, deveria ser o primeiro e maior de todos os compromissos: ensinar aos filhos a honestidade, a verdade, o que é o certo e o que é errado, pois será isto que dará o rumo na vida deles, que norteará as ações futuras, justamente para que eles – filhos – não se tornem no futuro, aquilo que não aceitamos no presente: pessoas que nos roubam, que mentem.
Sem esta firmeza de pais na educação moral dos filhos, qualquer simples influência externa – na escola, de colegas de grupos, da internet, etc – facilmente poderão se deixar levar pela direção que outros poderão dar, e que nem sempre é boa.
“A mente, assim como a natureza, abomina o vácuo, e se nenhum interesse cativante foi desenvolvido na infância e na adolescência, tal interesse é imediatamente criado com os materiais que tem à disposição”. Theodore Dalrymple, pg 177/178.
Firmeza na educação moral dos filhos, é muito mais importante que dar muitos presentes, que dar do “bom e do melhor”, pois será aquilo que dará boa direção na vida deles. Ou será que encontramos pais que desejam sinceramente que seus filhos sejam na vida adulta: preguiçosos, mentirosos, ladrões, prostitutas, traficantes?
Dezembro/2020
Érika Figueiredo
É preciso tempo, calma, dedicação e autoconhecimento
A palavra vocação é derivada do latim vocare, que significa chamar. Vocação é uma tendência, uma inclinação, uma habilidade que o indivíduo tem. Toda pessoa é talentosa em alguma coisa, tem um talento especial, que é só seu, e poderá se manifestar , em algum momento da vida.
Essa vocação, no mundo atual, no qual não mais estamos acostumados a prestar atenção aos sinais, à natureza ou a voz de Deus, é mais difícil de ser identificada, e seja ela profissional, social, religiosa ou familiar, muitas vezes é desperdiçada, por seu portador, que não conseguiu percebê-la.
O vazio existencial que se observa nas pessoas, hoje, advém, em grande parte, do não desenvolvimento de suas habilidades individuais. Muito embora um dom seja algo tão único e importante, que transforma toda a nossa existência, quando extravasado, o ser humano não é mais direcionado para identifica-lo, o que gera dor, frustração, e a falta de sentido para a vida.
Acredito que a essência da palavra vocação, que seria um chamado irrefutável, algo do que não se conseguia fugir, na realização de um dom, perdeu-se nos dias atuais. Não há, nos indivíduos, uma percepção acerca de suas vocações, e o respeito a esse chamado que vem da alma. Todos estão tão preocupados com a realização de propósitos absolutamente afastados da essência do ser, como enriquecer, ter um corpo sarado, parecer mais jovem, etc, que não param para escutar esse apelo...
Acontece que Deus nos deu a vida para a realização de missões individualizadas, pessoais e intransferíveis. Apenas de posse desse entendimento, o ser humano é capaz de desenvolver-se plenamente, e sentir-se gratificado, realizado e especial, ao longo de sua existência, por meio do desenvolvimento dos talentos que recebeu.
Percebo esse como um dos maiores problemas da modernidade, e algo sobre o que, infelizmente, as pessoas sequer param para refletir. Mas como descobrir seu dom, sua vocação? Primeiramente, é preciso saber que os dons nem sempre vêm como um chamamento claro.
Os gregos sabiam disso. E tratavam de treinar seus jovens, a partir dos onze anos de idade, no desenvolvimento de suas habilidades, para que daí aflorassem os talentos de cada um. Eles tinham, como base da formação do ser, a filosofia, para o aprimoramento individual moral e a identificação do propósito de vida.
Essa educação inicial, a qual formava o caráter e desenvolvia a personalidade dos jovens, era fundamental para permitir que o indivíduo expandisse seus horizontes e para que se conduzisse no mundo. Uns seriam artistas, outros, guerreiros, outros tantos, negociantes, alguns, líderes, sacerdotes. Mas a vocação estava ali, a nortear as escolhas, fazendo um chamado, que eles estavam para ouvir.
Entretanto, as facilidades da vida moderna, o afastamento do ser humano da natureza e da religião, da família e da educação integral, tal qual aplicada pelos gregos, fez com que a busca do propósito de vida fosse negligenciada, geração após geração, e a ordem interna do homem fosse inexoravelmente corrompida, por meio dos pequenos prazeres, da satisfação imediata das necessidades, o que leva a um distanciamento cada vez maior de sua essência.
Mas afinal, como alguém pode descobrir os próprios talentos, desenvolver seus dons e habilidades, buscar o sentido de sua existência, nos dias de hoje? Já que somente para algumas poucas pessoas, o chamamento vem em alto e bom som, como o homem médio pode identifica-lo?
Acredito que a única forma é por meio da educação e da auto-contenção. Somente por meio do conhecimento ( de si mesmo e do mundo ao seu redor), e do refreamento dos instintos (tão exacerbados hoje em dia), de prazer imediato e satisfação garantida, poderá o indivíduo identificar talentos e inclinações, e com paciência e dedicação, desenvolvê-los.
O imediatismo e a urgência dos dias atuais, a fuga da frustração e a vida voltada para o mundo exterior, não permitem que se busque, com calma e cuidado, o que nos fala mais alto ao coração. É preciso tempo, calma, dedicação e autoconhecimento. Menos ansiedade. Mais silêncio.
Então, nesse ano de 2021, o que desejo aos meus leitores, é isso. Que descubram e desenvolvam seus dons, e assim concretizem a missão que Deus lhes destinou, aqui na Terra. Somente assim, é possível encontrar prazer, satisfação e realização na vida. Somente desse modo, pode-se servir a si, a Deus e aos outros, sem a sensação de inadequação, que hoje povoa as mentes e os corações aflitos das pessoas.
A paz advém da sensação de missão cumprida. Viver é melhor que sonhar. Decidir é melhor que se omitir. Realizar sua essência, sua vocação e seu propósito nessa vida é o que você deve almejar. E nada, absolutamente nada que seja feito, neste sentido, é desperdício de tempo.
Esteja certo de que muitos irão tentar te dissuadir! Mas a maior parte das pessoas que te critica, te boicota, te desencoraja e te aponta o dedo, não realizou, efetivamente, nada de que se orgulhe nessa vida. Siga seu dom, obedeça seus instintos, trabalhe duro e com afinco, para realizar seus talentos. Ouça a voz que grita para você, mas que o barulho do mundo silencia.
“Eu prefiro na chuva caminhar, do que nos dias tristes, de frio, em casa me esconder. Prefiro ser feliz, embora louco, do que em conformidade viver”. Martin Luther King
FELIZ ANO NOVO!
Publicado originalmente em Tribuna Diária (04/01/2021)
Gustavo Corção
O mundo frequentemente pretende nos insinuar como boa, até como excelente, a filosofia do fato consumado, pela qual, graças à ação dissolvente ou lubrificante do hábito e da repetição, passamos a considerar com naturalidade aquela mesma coisa que nos provocaria gritos de repulsa ou de susto se não fosse apresentada de repente, nua e crua. Vejam, por exemplo, o comunismo. Querem que o aceitemos, pela simples razão de estar aí, diante de nós, os cronistas e pensadores bem inseridos no artigo do dia que a História lhes inculca, uma ausência de sensibilidade, uma ausência de reação, sob pena de sermos apontados como reacionários. O Sr. Foster Dulles era um reacionário porque continuava a ver no comunismo um mal, e não um simples fato histórico.
Por outro lado, a mesma História que oficializa o comunismo e que apresenta como coisa natural a cortina de ferro, e outros fenômenos semelhantes, coloca no banco dos réus um conjunto de fatos que durante muitos anos foram considerados tão simples e naturais como o ato de beber água ou comer pão. Refiro-me ao colonialismo. Está em moda, ao mesmo tempo, ser benevolente, progressista em relação ao comunismo e intolerante em relação ao colonialismo. Um curioso exemplo desse manequim intelectual nos é dado pelo último volume de “Histoire Génerale des Civilisations” editada pelas Presses Universitaires de France, e dirigida por Maurice Crouzet, que neste último tomo, relativo à época contemporânea, é também o principal redator. No capítulo dedicado à revolta dos povos dominados pelas potências ocidentais, que ocorreu depois da guerra, o autor diz o seguinte: “A influência da URSS e, desde 1949, o exemplo chinês, não pode ser subestimada; a URSS, para o problema das relações entre os povos de desigual desenvolvimento econômico e cultural, achou uma solução fundada sobre a igualdade diante da lei, sobre a ausência de qualquer preconceito racial e de qualquer discriminação, e sobre uma política de rápida promoção econômica e intelectual que confia aos autóctones competentes as responsabilidades mais elevadas e visa a apagar todos os vestígios de relação de dominante a dominado; além disso, todas as vezes que surgiu diante da ONU um conflito entre as potências coloniais e as colonizadas, a URSS dá regularmente seu apoio aos povos de cor, enquanto as democracias ocidentais usam a coação e a força armada para manter os colonizados em obediência. Assim, para os povos dominados, a URSS e a China simbolizam a liberação, enquanto a democracia de tipo ocidental aparece como símbolo de dependência dos povos colonizados; as democracias liberais são as primeiras a confirmar esse juízo dos povos coloniais, porque os movimentos nacionalistas são sistematicamente denunciados como movimentos comunistas”.
Há nesta passagem um grosseiro erro filosófico para o qual chamo a atenção do leitor, por estar na moda e por já tê-lo encontrado em textos onde sua presença é menos justificável do que no grosso tomo redigido por um francês esquerdizante. Rata-se do emprego equívoco do termo e do conceito de liberdade. Para o autor daquela passagem, como para tantos cronistas de nossos dias, a noção de liberdade aplica-se primordialmente a nações, povos, raças, e secundariamente a pessoas. Ora, isto é um erro, e grosseiro. O conceito de liberdade, como o da inteligência, vontade, e tantos outros, se aplica propriamente e diretamente a indivíduos humanos, a pessoas; e é somente depois de bem firmada essa prioridade, que se poderá aplicar aos grupos raciais ou nacionais, o conceito analógico, derivado daquele que diz respeito aos valores realizados na pessoa humana. O que precisa ser liberado é o Homem e não o bloco árabe ou a raça amarela. Se a libertação de algum grupo, em dada conjuntura histórica, vem servir o ideal último de elevação humana e de mais ampla liberdade, entende-se que tal emancipação seja ardentemente desejada por quem tiver em alta estima os valores humanos e pessoais. Mas não se entende que um regime escravizador de seus próprios habitantes seja apontado como libertador de povos.
Além disso, cumpre notar um outro erro filosófico que também se insinua nas proposições do tipo daquela que estamos analisando, e que consiste em tomar um povo, uma nação, como uma forma substancial tão definida e tão bem arrematada como a forma de um gato ou de um homem. Fala-se hoje, nos meios nacionalistas, como se as nações fossem entidades orgânicas, monstros dotados de certa imanência vital, ou até como se fossem pessoas. E essa hipostasiação dos grupos nacionais chega frequentemente ao nível das conversas em que se ouvem em salão de barbeiro, e em que o comentarista de política internacional diz coisas assim: “Então a Inglaterra virou-se para a França e disse...”. Há um erro filosófico semelhante a esse primarismo em quase todas as proposições em que se encontra a famosa fórmula de autodeterminação dos povos. Mas onde é que começa e onde é que acaba o contorno de um povo? E onde é que começa o monstro terrível que é o OUTRO povo? Se respeitamos o critério histórico que aponta uma unidade nacional como um fato da conjuntura, se por exemplo Brasil é o que a história fez que o Brasil fosse, então não vejo porque não seguir o mesmo critério quietista que reconheceria o direito da Inglaterra sobre as Índias.
Também não podemos definir uma nação em termos de raça sem ficarmos obrigados a denunciar quase todas as unidades políticas do mundo presente. Uma nação não é uma natureza, do mesmo modo que é um animal ou um homem. É uma forma acidental. É uma unidade política criada por um consenso, por uma unidade interna, e portanto definida em última análise em termos de consciência pessoal e de dimensões humanas. A independência de uma nação só deve ser desejada ou definida por homens sensatos em termos da independência de seus habitantes e do estado de maturidade de um unânime desejo interno dessa independência nacional. Vê-se pois, que a famosa autodeterminação dos povos só forma sentido e só pode ser pronunciada por quem crê na autodeterminação do homem, por quem preza a vertical do espírito, por quem professa a essencial liberdade da alma humana. E por aí se percebe o ridículo daquela passagem do historiador francês que, com a maior seriedade do mundo, fala na ação libertadora da URSS.
Há naquela passagem citada, e nas congêneres, uma curiosa contradição, além dos erros filosóficos já apontados: a URSS é elogiada em termos de justiça, isto é, em termos que significam a mais categórica e formal reprovação de toda a sua doutrina. Eu, se fosse comunista, ficaria furioso com que viesse atribuir-me intenções de justiça ou aspiração de liberdade. O elogio tem suas regras sutis. Quem quer elogiar o salteador deve gabar a destreza de sua mão e sobretudo a ausência de qualquer escrúpulo. Quem deseja agradar o elegante deve escrever essas coisas que vêm nas colunas sociais e que teriam gosto de desaforo para quem não estiver bem instalado nas regras da boa vida. Os seguidores ou simpatizantes desse esquerdismo que pensam ser a regra de ouro do futuro não parecem perceber que o materialismo ateu deve ser acompanhado de certas consequências duras. Em um ensaio sobre o humanismo de seu existencialismo, Sartre queixava-se, e com muita razão, do ateísmo burguês que continua a usar as mesmas categorias verbais usadas no tempo em que ainda estava vivo o Criador de todas as coisas. É quase com piedade, quase graças a Deus, que esses ateus são ateus. Assim também são esses comentaristas que não gostavam de Foster Dulles, que não gostam de Adenauer e que certamente não gostaram das lágrimas de Eisenhower. A admiração deles está volta para o Oriente, de onde eles pensam que está vindo o mundo de amanhã. Olham enternecidamente para o casaco de Mao-Tse-Tung, que lá para eles deve ter força de símbolo, e símbolo de esperança.
E é nessa viscosidade intelectual que temos de viver e lutar se quisermos praticar a teimosia de resistir, de defender os valores fundamentais que dão sentido a todas as outras palavras e frases com que se enchem as colunas de jornais e as páginas de livros.
*Transcrito de https://permanencia.org.br/drupal/node/459