Gostaria de analisar dois assuntos seguidos de um desses Cadernos do Professor, direcionado especificamente para a disciplina de Filosofia para a 2a S?e do Ensino M?o do 3o Bimestre de 2008, que a Secretaria da Educa? tem implementado como Proposta Curricular, onde pode-se constatar uma postura brutalmente ideologizante e pouco filos?a. Tr?aulas s?propostas, a saber: Filosofia e Humilha? e Filosofia e Racismo. Isso pra ficar apenas nesse caderno e nesses assuntos, fora os outros. Chamo aqui ideologia qualquer distor? do real fundamentada numa vis?de mundo ou em alguma doutrina filos?a fortemente ligada ?end?ia pol?ca, a ponto de torna-se propriamente doutrina? ideol?a.
Podemos chamar de doutrina? ideol?a: a) tudo aquilo que sai do foco da disciplina (no nosso caso a filosofia) para ficar tratando de assuntos relacionados a temas do notici?o pol?co ou internacional. b) que adota publica?s e autores, sem cr?ca espec?ca, identificados com determinada corrente ideol?a, pol?ca e filos?a; imp? leitura de textos que mostram apenas um dos lados de quest?que s?polemicamente controversas; c) submete os alunos ?iscuss?pol?cas em sala de aula sem fornecer os instrumentos necess?os ?n?se de mensagens veiculadas a certa postura ou inclina? filos?a, sem dar tempo ao aluno para refletir sobre o fundamento do conte? d) encaminha o debate de qualquer assunto controvertido para conclus?que necessariamente favore? pontos de vista de determinada corrente de pensamento. e) n?admite a mera possibilidade de que o outro lado possa ter alguma raz? f) utiliza-se da fun? para propagar id?s e ju?s de valor incompat?is com os sentimentos morais e religiosos dos alunos. H?ma s?e de outras posturas que compromete ideologicamente um tema, creio que para analise dos temas do CP essas j?astam.
Se eu adotasse uma postura filos?a baseada em Plat? Arist?es, Plotino, Santo Agostinho, S?Boaventura, Santo Tomas de Aquino, Descartes, Pascal, Hume, Kant, Schelling, Kierkegaard, Husserl, Voegelin, s?a ficar em alguns nomes, eu jamais ensinaria aos meus alunos que a filosofia serve para pensar novas formas de rela?s sociais ou inserir os jovens numa pr?ca pol?ca, a partir de problemas de imediata configura? ?ca, cujo mote ?isar levar os estudantes a uma reflex?sobre injusti? e viol?ias cotidianas pelo vi?do enfrentamento a partir do compromisso pol?co cujo enfoque seja o da exclus?social. Honestamente, isso n?faz parte do programa filos?o proposto por esses fil?os, muito pelo contr?o, causaria muita estranheza; claro que qualquer um pode objetar dizendo que os nossos problemas sociais, conseq?emente os filos?os e pedag?os, n?s?os mesmos que os deles e que, exatamente por isso, devemos construir uma educa? voltada apenas para os nossos problemas, nesse sentido, esquecer ou abandonar a filosofia desses caras por serem ultrapassadas. Ou ainda objetar que a filosofia de Plat?toda ela formatada para constru? de uma Rep?ca e, nesse caso, sua preocupa? desde o in?o era a de relacionar Filosofia-Educa?-Pol?ca, n?obstante, isso seja feito nos moldes do pensamento grego cuja complica? hist?a ?em genu? daquele momento. Arist?es a mesma coisa. Plotino a mesma. Santo Agostinho etc. E todos esses n?tem nada a ver com o modo como associamos Educa? com Pol?ca, precisamente hoje. Ou seja, ?reciso escolher um fil?o que fala mais dos nossos problemas, um que esteja mais pr?o de n?como Hegel, Heidegger, Sartre, Foucault, Marx, Gramsci, Adorno, Jos?omes Filho, Jair Batista da Silva, Judith Butler etc. Por que esses e n?os outros? Por que esses justificam os nossos problemas? Ou porque n?pensar que nossas mentiras s?justificadas por eles? Qual o crit?o que me faz escolher a Dial?ca do Esclarecimento de Adorno-Horkheimer e n?a Cidade de Deus de Santo Agostinho? Por que escolho Marx e n?Le?XIII? Quando os crit?os dessas escolhas n?s?claros, precisamos suspeitar de ideologia ou doutrina?. Se eu sou crist?cat?o conservador ou anarquista libertino, ou ainda, marxista stalinista ou do tipo gramsciano, isso certamente influenciar? muito na elabora? do meu programa de ensino. Como nossa escola ??ca, n?posso evidentemente basear nas minhas prefer?ias ou inclina?s intelectuais; ?ais do que uma exig?ia que os crit?os que definem a escolha dos temas e, principalmente, dos textos e autores sejam bem determinados, ?ma obriga? do autor! E a Verdade a obriga? do Fil?o.
?justamente o que n?acontece quando ?roposto aos nossos alunos sobre Filosofia e Humilha?, Racismo e Filosofia ou Feminismo e Filosofia. Vejamos o quanto ?roblem?co o conceito de Humilha? social, baseado no psicanalista de vi?marxista, Jos?omes Filhos: A humilha? social consiste em uma modalidade de ang?a disparada pelo impacto traum?co da desigualdade de classe, isto ?a ang?a que se sofre quando algu?se depara com um abismo chamado desigualdade, ou ainda, a desigualdade experimentada do lado de fora ?nternalizada como sofrimento, ao qual muitas pessoas j?st?habituadas (p, 9). Existe em nossa sociedade uma hierarquia constante que leva o humilhado a sentimentos que o agridem, Na sociedade, todos s? em alguma medida, humilhados, mas no caso das pessoas mais pobre isso ?onstante e vai da inf?ia ?elhice, Ang?a que os pobres conhecem bem e que, entre eles, inscreve-se no n?o de sua submiss?(p,10). A humilha? ?ma modalidade de ang?a que se dispara a partir do enigma da desigualdade de classes. Os pobres sofrem freq?emente o impacto dos maus-tratos. Psicologicamente, sofrem o impacto de uma mensagem estranha, misteriosa: voc?s?inferiores. S?ltou o autor deduzir disso que ?reciso eliminar, a for?ou n? a sociedade de classe. Agora eu pergunto, por que esse autor? Por que n?outro que negue a id? de Igualdade como paradigma de uma sociedade? Por que n?analisar com nossos alunos que por tr?do conceito de humilha? social vive uma filosofia marxista extremamente controversa. N?d?assivamente pra aceitar esse conceito. Poderia ser sugerida, justamente, uma s?e de outros autores que questionam essa no?. Por exemplo, o pr?o Plat?ou Nietzsche, ou Santo Agostinho, Aristoteles ou Tomas de Aquino, Alasdir MacIntayre ou Charles Taylor. N?rofessores de filosofia sabemos bem que o conceito de igualdade/desigualdade social ?m problem?filos?o!
Vamos supor uma situa? muito simples, baseada justamente nessa concep? de humilha? social. Certa aluna leva um notebook na escola cuja condi? pecuni?a da maioria ?aixa. Senta na hora do recreio com uns amigos para mostrar umas fotos de um trabalho de ci?ia. Cinco garotos arrebentam a menina na sa? da escola e ainda roubam o notebook. Por que? Porque internalizaram um abismo enigm?co chamado desigualdade?, sentiram-se angustiados, internalizaram misteriosamente sua inferioriza? e agredidos por serem pobres, resolveram roubar e espancar menina?. Claro que qualquer cartilha socialista (seja qual for o vi? diria: esses problemas se resolvem quando eliminarmos as classes. Gramsci n?quis fazer isso ?or?e escolheu o funcion?o ou intelectual org?co que atuar?sobretudo, na educa? – vide Paulo Freire no Brasil– para realizar seu projeto socialista. Atuando como uma hegemonia cultural, manipula a mentalidade vi?educa? e engajamento dos trabalhadores que atuar?como intelectuais representantes dessa classe outror?umilhada socialmente. Mas n??podemos nos furtar a isso e ainda que isso seja o esperado precisamos analisar criteriosamente todos os possiveis mecanismos dessa articula? pol?ca-filos?a. Mas ser?ue isso resolve o problema da menina que foi espancada e roubada porque levou o nootbook na escola? ?eticamente vi?l legitimar determinadas atitudes de comportamente s?rque fulano ?u n?pobre? Como ?ue vou ler um texto desses para os meus alunos que tem interiorizada magicamente a heroica no? de paz, justi?e liberdade? Se o problema dos alunos ?eitura e humilha? social, por que n?distribuir o Quatrocentos contra um do magistrado professor Willam da Silva Lima.
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Passamos agora ?n?se do Filosofia e Racismo cujo objetivo ?segundo o CP, a discuss??ca e pol?ca a respeito do racismo. A chamada situa? de aprendizagemrecomenda que se inicie como a seguinte pergunta: existe racismo no brasil? e logo em seguida usa faz uso do texto A particularidade do racismo do Brasil do historiador e sociol?de vi?marxista Jair Batista da Silva. A segunda aula foi proposta com base no texto do psicanalista social Albert Memmi, que escreveu obra importante sobre o proplema das estruturas das rela?s sociais de coloniza? de vi? evidentemente, materialista. De qualquer maneira, essa Situa? de Aprendizagem ao inv?de discutir a pol?ca do racismo livre de qualquer perspectiva ideol?as, pelo contr?o, refor?ainda mais a id? de que todos n?omos racistas. T?co de an?ses ideol?as. Por que n?apresentou a proposta da aula como discuss?e pol?ca aberta: existe ou n?existe racismo no brasil? Somos ou n?somos um pa?racista? Quais os crit?os cient?cos e filos?os pra dizer que algu??u n?racista? Podeiria investigar autores que pensam completamente o contr?o. O texto for?tanto a id? de que somos racistas que chega ser constrangedor s?aginar um professor branco lecionar pra uma classe, ou at?esmo comuninidades, cuja maioria ?e negros. E o constrangimento para os amigos ou namoradas de negros? O assunto ??pol?co jamais poderia ter sido adotado essa postura: Para o racista, a identifica? do outro com um mal qualquer ?ecisiva e absoluta. At??udo bem, de fato, ser racista ?azer essa identifica?. O outro passa mesmo a ser visto como o Mal a ser eliminado. O problema ? que o autor deduz disso e como isso ?issiminado nas salas de aula e, consequentemente, na opini?p?ca: Para agir de forma racista ?ecess?o essa identifica? absoluta, mas tamb?deve haver outras que s?relativas. Entre haver e deve haver, ou seja, entre a realidade e a possibilidade dessa realidade h?m abismo epistemol?o que n?autoriza, em hipotese alguma, nenhum autor concluir isso: Ter amigos negros n?faz ningu?menos racista. Ser filho ou parente de negros tamb?n? Como assim ter amigos negros n?faz algu?menos racista?, ?na pr?a no? de amizade que est? reconhecimento absoluto do outro em absoluta dignidade. Como assim, ser filho ou parente de negros tamb?n?Est?dizendo que a pr?a fam?a ?acista, como? Se ?la justamente a realiza? fundamental de qualquer cultura. A dedu? disso s?de ser mesmo de racismo imagin?o como elaga o autor, pois imaginado na cabe?dele e de alguns outros autores que agora querem dissiminar a qualquer custo essa imagina?. Continua: O que faz uma pessoa menos racista ?ntender que o racismo ?m mal cruel e excludente, que relega as v?mas ?obreza material e destrui? de seus valores e de sua cultura. Claro, aqui est? base da ideologiza? que venho discutindo: duduzir o racismo a paritir da constata? e dados econ?as. T?ca ideologia reducionista! Como ele n?consegue provar a real presen?atuante do racismo, na medida em que ?apaz de produzir efetivamente o resultado pelo ac?o de exclus?propositais dos negros pelos brancos, o autor, evidententemente, preferiu antes desarticular a id? de amizade, fam?a, solidareidade, coleguismo etc, fundamentado em textos que s? a coisa por esse vi? Ainda n?terminou: A rela? do racismo contra a sua v?ma est?igada, diretamente, ao pensamento colonizador. A atitude racista ?ma atitude de colonizar. ?preciso ensinar o outro a ser gente, a salvar a sua alma, ensin?o a se vestir, falar, comer; enfim, a ser como eu. Sem nunca dar os meus privil?os, o outro sempre ser?nferior, por mais que pare?civilizado. Um bom negro ?quele que trabalha com humildade, reconhece o seu lugar – l?m baixo. N?d? sua opini? mas segue a opini?dominante. Aprende a verdadeira cultura, que s?de ser crist? europ?. Aprender a se comportar... (p. 19) Ent? por que estamos estudando filosofia na escola? Se ela ? legado da cultura Europ?, em ess?ia, Greca-Crist?Ler esses texto sinceramente me deixou constrangido. O que se pode deduzir dele n??ada mais al?do que uma verdadeira contradi? intelectual e moral. Se a escola deve valorizar atitudes anti-racistas esse texto cumpre exatamente o papel inverso: transforma o suposto racismo imagin?o (da cabe?de alguns autores) uma atitude real de segrega? racial, na escola, na fam?a, nos circulos de amizade. Os instrumentos apresentados pelo autor para se combater o susposto racismo s?eles, essencialmente, racistas.
Ichthys - vitam impendere vero
* Fil?o