• Samuel Farber
  • 06/01/2009
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ENTRE A REVOLU?O E OS INTERESSES

Para uma grande parte da esquerda latino-americana, o governo cubano tem representado uma for?anti-imperialista e um baluarte dos movimentos progressistas. Mas um exame aprofundado da pol?ca externa cubana revela que, embora Cuba tenha seguido uma trajet? de oposi? ao imperialismo dos EUA, n?aconteceu o mesmo com rela? ?gress?imperial de outros pa?s. De fato, em v?as ocasi?Cuba se posicionou do lado dos Estados opressores. Fidel Castro apoiou a invas?sovi?ca da Tchecoslov?ia em 1968. Seu apoio a essa invas?foi muito revelador: al?da d?da pol?ca com a URSS em fun? da ajuda econ?a indispens?l desta a Cuba, o l?r cubano exp?ua oposi? ?reformas do governo de Alexander Dubcek, que caracterizou como f? liberal. Castro tamb?apoiou a supress?et?e do movimento nacional eritreu e a invas?sovi?ca do Afeganist?nos anos 1970 e 1980. Como se explicam as pol?cas contradit?s de Cuba com rela? ao direito das na?s ?utodetermina?? Em primeiro lugar, ?reciso assinalar a longa alian?que Cuba manteve com a URSS. No final dos anos 1960, a URSS, sob press?dos EUA, teve que aceitar a id? de que o hemisf?o ocidental era parte indiscut?l da esfera de influ?ia americana. Como resultado, Moscou pressionou Havana para que deixasse de dar apoio declarado ?guerrilhas latino-americanas. O governo cubano cedeu ?exig?ias sovi?cas, embora n?completamente, j?ue continuou apoiando os movimentos insurgentes da Am?ca Latina de maneira mais discreta e limitada. Periferia africana Isso contribuiu para que Cuba se voltasse cada vez mais ?frica, uma regi?na periferia da geopol?ca americana, onde as iniciativas cubanas eram mais compat?is com a pol?ca externa sovi?ca. A presen?pol?ca e militar cubana na frica (e em outras partes do mundo) tamb?afetou significativamente as rela?s de poder entre Cuba e URSS, proporcionando aos l?res cubanos uma margem de negocia? maior com os sovi?cos. A estrat?a cubana na frica era orientada ?orma? de alian? com o nacionalismo africano. No decorrer de sua implementa?, Cuba tomou iniciativas independentes sem consulta pr?a com o Kremlin - foi o caso em Angola, por exemplo -, mas, de modo geral, suas iniciativas foram compat?is com a pol?ca sovi?ca. No caso de Angola, a estrat?a cubana permitiu a Cuba exercer um papel muito importante na defesa desse pa?contra o imperialismo ocidental e seus agentes direitistas da Unita, desferindo um golpe militar e pol?co ao apartheid sul-africano, que apoiava a Unita. Mas a pol?ca de Cuba no conflito entre Eritreia e Eti? seguiu uma trajet? diferente. Inicialmente, Cuba apoiou a luta dos eritreus para se tornarem independentes do regime et?e, encabe?o pelo imperador Haile Selassie, mas ela mudou sua atitude quando Selassie foi derrotado pelo Dergue, um grupo nacionalista de esquerda favor?l ?RSS. Fidel decidiu ent?unir-se aos nacionalistas et?es contra os nacionalistas eritreus, argumentando que a luta eritreia poderia destruir a integridade territorial da Eti?, passando por cima do fato de que a Eritreia havia sido um pa??arte, que tinha sido colonizado e depois anexado ?or?pela Grande Eti?. ?importante acrescentar que, al?dos efeitos sobre o conflito eritreu, a alian?indiscriminada que Cuba forjou com o nacionalismo africano derivou em apoios aos regimes sangrentos de Idi Amin em Uganda e Nguema Mac? na Guin?quatorial. Embora tivesse sido obrigada pelos sovi?cos a voltar atr?em seu apoio ?guerrilhas latino-americanas, Cuba continuou a ajudar os movimentos anti-imperialistas no continente. Sem d?a, desempenhou papel importante, por exemplo, na derrocada de Anastasio Somoza, na Nicar?a. Mas ?reciso compreender que seu apoio aos movimentos anti-imperialistas ficou subordinado aos interesses do Estado cubano, conforme as pautas tra?as por seus l?res. Pragmatismo Baseado na descri? feita por Jorge I. Dom?uez das formas em que o Estado cubano ajustou sua pol?ca externa para alcan? seus pr?os objetivos, vale assinalar, em primeiro lugar, que em suas rela?s de Estado a Estado o governo cubano subordinou seu apoio aos movimentos de oposi? ao c?ulo dos benef?os que podia obter de sua rela? com os governos desses pa?s. Cuba nunca apoiou um movimento revolucion?o contra um governo que tivesse boas rela?s com Havana e que rejeitasse a pol?ca dos EUA em rela? ?lha, independentemente de suas cores ideol?as. Os casos mais paradigm?cos foram as rela?s com o M?co do Partido Revolucion?o Institucional (PRI) e com a Espanha franquista. Da mesma maneira, Cuba suspendeu a ajuda a movimentos revolucion?os ou progressistas nos pa?s que se dispuseram a suspender hostilidades com ela. Talvez o exemplo mais extremo seja a manuten? de rela?s diplom?cas e comerciais com a Argentina ap? golpe militar de 1976. Nas d?das de 1970 e 1980, Cuba adotou uma pol?ca pragm?ca de estabelecer la? estreitos com qualquer pa?latino-americano e caribenho disposto a manter rela?s com Havana. Essa pol?ca se tornou mais vi?l com a decis?tomada pela OEA, em 1975, de suspender suas san?s unilaterais e permitir que cada um de seus Estados integrantes decidisse por conta pr?a as rela?s que teria com a ilha. Depois de 1989, da queda da URSS e da grave crise econ?a que esta provocou em Cuba, Havana acentuou a tal ponto essa pol?ca que chegou a fechar o Departamento das Am?cas, que tinha dirigido as atividades clandestinas no continente. Desde ent? o governo cubano vem enfatizando sua oposi? ao imperialismo americano e ao neoliberalismo mais que ao pr?o capitalismo, se bem que, no caso do neoliberalismo de Lula, e apesar das cr?cas recentes de Fidel Castro ao etanol, ele e Ra?enham continuado a apoiar o presidente brasileiro. O apoio cubano aos movimentos de liberta? tem sido baseado nos interesses do Estado cubano definidos por seus l?res, e n?um compromisso firme com qualquer doutrina revolucion?a. * Professor em?to de Ci?ias Pol?cas da City University of New York. Este artigo foi escrito para a edi? boliviana do Monde Diplomatique