Percival Puggina

10/05/2014
Doutor Honoris Causa significa doutor por causa da honra. Nosso ex-presidente Lula abiscoitou, em Salamanca, o 27º desses diplomas. Todos por causa da honra. De Salamanca foi a Lisboa, comemorou os 40 anos da Revolução dos Cravos e concedeu uma entrevista à RTP - Rádio e Televisão de Portugal que deve ter escandalizado seus companheiros na Papuda. Vão-se os amigos, mas se conservam os dedos, ora pois. Em trecho da matéria (basta procurar no YouTube por entrevista de Lula à RTP), a repórter o indaga sobre o fato de pessoas de sua confiança terem sido presas. E Lula buscou salvar a própria pele: Não se trata de gente de minha confiança. Acrescentou à fala um gesto como que afastando de si os condenados e tentou arredondar: Tem companheiros do PT presos. Ele estava falando de Dirceu, Genoino, Delúbio! E por aí foi desandando o grande ídolo do petismo nacional, acusando o STF de haver produzido um julgamento 80% político e concluindo com uma frase bem ao gosto do seu auditório caseiro: Essa história ainda vai ser recontada, para saber o que aconteceu na verdade. Pelo jeito vem aí outra comissão da verdade... No entanto, a melhor frase em toda a entrevista foi: O que eu acho é que não houve mensalão. Pronto! Com essa sacada no repertório das esquivas afastou de si a sombra do maior escândalo da história da República. Ele estava afirmando que não pode ser atingido por algo que acha que não houve. Entretanto, vejamos como ficam as coisas se o mensalão não aconteceu. Os muitos milhões que circularam por agências de publicidade e bancos durante quase dois anos não teriam chegado aos líderes de bancada que atualmente estão presos. Se o dinheiro não chegou a eles e, por meio deles, a parlamentares dos respectivos partidos, então o ervanário se desfez no ar porque, materialmente, existiu. Existiu, foi lavado, foram assinados cheques e recibos, foram transportados valores, e há banqueiros e empresários condenados a penas ainda maiores do que as que atribuídas aos réus políticos. Mais, se há no STF um ministro cuja lealdade ao governo ninguém põe em dúvida é o Dias Toffoli. Pois mesmo ele, com a parceria de Ricardo Lewandowski, ao apreciar o crime de corrupção passiva imputado a nove réus do mensalão, condenou sete dos acusados! E assim foram os dois ministros, em relação aos crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, peculato e evasão de divisas. Sempre condenaram a vários no processo do Mensalão. Por um crime que não aconteceu, doutor Lula? ZERO HORA, 11 de maio de 2014

Percival Puggina

07/05/2014
Tenho certeza de que você conhece alguém assim. Pessoa idealista. Cheia de boas intenções. Levava a maior fé no PT oposicionista do século passado. Empolgava-se com a severa vigilância moral que o partido exercia sobre os governos e governantes aos quais se opunha. Enfim, o partido de seus amores não roubava e não deixava roubar. Percebia maracutaias a quilômetros de distância. Essa pessoa votou no Lula, em vão, durante três eleições. Persistiu até que, finalmente, em 2002 - Aleluia! Lula se elegeu. A partir daí PT poderia investigar tudo e nada permaneceria oculto nas gavetas e nos armários. Com a posse de Lula em 1º de janeiro de 2003 passavam às diligentes e virtuosas mãos do partido todos os meios necessários para acabar com a colorida tucanagem. Até um novo procurador-geral o PT nomeou em junho de 2003 e ele recebeu as chaves das silenciosas e supostamente cúmplices gavetas de seu antecessor. Mas o novo procurador - surpresa! - nada desengavetou, que se saiba. Nem ele, nem a PF, nem o CADE, nem a Receita Federal, nem a ABIN, nem o BC, nem a CGU. Silêncios sepulcrais! Na miríade de ministérios, repartições federais e empresas estatais, nada apareceu, nem que fosse para comprovar minimamente o muito que antes se denunciava. Nem um grampeador sumido. E olha que depois de tanto estardalhaço, de tanta reputação assassinada, havia um quase dever moral de apontar pelo menos duas ou três falcatruas. Afinal, todos os contratos, concorrências, convênios que vinham dos nebulosos tempos pretéritos, estavam ali, para serem vasculhados, escrutinados. Mas nada foi feito e nada foi dito. O assunto se dispersou como uma nuvem que passa sem chover. Um ano e meio depois, o PT virou alvo do maior escândalo político da história republicana! E nem para se defender o partido decidiu fuxicar no governo tucano. Já os escândalos petistas e de seus associados, esses não mais pararam, numa sequência infindável. Não satisfeito, o PT se uniu aos maiores patifes da política nacional. Trouxe ao braço e abraço todos aqueles a quem combatera. Santo Deus! Sarney virou homem forte no Congresso. Renan Calheiros, Jader Barbalho, Fernando Collor (até ele!) prosperaram como fungos à sombra do novo governo. Maluf virou aliado, merecedor de afagos, com fotos para a mídia benevolente em meio às ninfas e tritões de seus jardins. Por mau caráter ninguém deixou de ser recrutado para a corte petista. E o outrora sensível faro do partido não percebe mais a sujeira nem na sola do próprio sapato. O infeliz eleitor sobre cujas agruras iniciei falando, ainda defensor ferrenho do petismo, ainda movido pela afinidade ideológica, tem que ir catar nos tenebrosos armários e gavetas dos governos anteriores (aqueles que o PT dizia conter assombrações) motivos para exalar, em derradeiro suspiro, alegações de que os outros eram ainda piores. Não é de causar compaixão? Deve doer como um nó de tripa na consciência. Logo ele, um cidadão do bem, um varão de Plutarco, precisa argumentar como aquele sujeito que defendia a namorada com alegações de que as outras eram ainda mais vadias. É um caso de mansidão submissa. Mas o amor é lindo. _____________ * Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

01/05/2014
Ouvi pelo rádio o pronunciamento da presidente. Sem dúvida, ela percebe a República como artigo de consumo e a nação como um bando de idiotas. Valendo-se da oportunidade proporcionada pelo Dia do Trabalho, os marqueteiros que servem à candidata procuraram afastar as inquietações da sociedade com relação ao futuro próximo e dissipar, com esquivos circunlóquios, as pesadas acusações que pairam sobre a patroa e sobre seu governo. O tom do discurso se torna indesculpável porque foi inteiramente concebido, parágrafo por parágrafo, à luz da queda de prestígio da candidata do continuísmo. A pesquisa eleitoral divulgada na véspera apontava um tombo espetacular nos índices da presidente. Reduzira-se em 10 pontos a distância que a separa do segundo colocado. Subira para 43% seu índice de rejeição, que é a mais importante informação quando a campanha sequer iniciou, superando as intenções de voto, que desceram aos 37%. Para quem sonhava com vitória no primeiro turno, haver mais eleitores dizendo que não votariam nela em hipótese alguma do que votantes dispostos a fazê-lo gera uma situação alarmante. É exatamente esse o fundo de cena em que se deve apreciar a lamentável fala presidencial do dia 30 de abril. Tomemos, por exemplo, o caso dos bilionários escândalos envolvendo a Petrobras. Como se resume o que disse a presidente em relação ao tema? Que tudo será rigorosamente investigado (embora ela tenha procurado impedir e, depois, tentado bagunçar a CPI proposta para essa investigação). Afirmou, também, que não admitia o uso político do assunto para depreciar e prejudicar a empresa. Pura retórica de militante petista. Quem vem fazendo, há 11 anos, uso político da Petrobras são os governos petistas, que dela se servem para arregimentar apoio parlamentar, fatiando-a entre as siglas da base e malbaratando os incertos recursos do pré-sal como se fossem um ativo político do PT e não uma futura riqueza do país. Como consequência, derrubaram a Petrobras do 12º lugar entre as grandes empresas mundiais para a 120ª posição. Prejudicar a empresa é o que o governo vem fazendo e não quem cumpre o incontornável dever de defendê-la de maus tratos e malfeitos. O discurso presidencial estaria perfeito num comício de campanha. Usou à exaustão expressões que apontam para um horizonte posterior: continuar na luta, continuar fazendo, continuar as mudanças, seguir adiante, mudar mais rápido, recomeçar mais fortes, continuar a política de valorização, meu governo será sempre, coroando com um happy end: Quem está do lado do povo pode até perder algumas batalhas, mas sabe que no final colherá a vitória. Assistiu-se a um conjunto de piruetas retóricas, habilmente construídas por marqueteiros. Houve uso do horário nobre de televisão para falar sem contraditório a 80% dos brasileiros, posto que as oposições não dispõem de igual recurso. Alguém pode achar que foi simples deselegância, falta de fair play, ou algo assim. Mas não é. Tem todo o jeito de crime eleitoral. Alguns partidos, aliás, já anunciaram que vão recorrer à Justiça denunciando o fato como um formidável abuso de poder contra o princípio de isonomia que deve reger uma correta disputa política. Age contra a democracia e contra os mais comezinhos princípios quem se vale do poder em benefício próprio e usa recursos que são de todos para obter votos para si. A presidente, ao ensejo do dia 1º de Maio, valendo-se das comemorações do Dia do Trabalho, promoveu consistente e inequívoca demonstração daquilo que pretendeu negar: os negligentes padrões morais que caracterizam seu governo e seus associados. Com a palavra o TSE. _____________ * Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

29/04/2014
DESCONSTRUTIVISMO DA ESPERANÇA Percival Puggina A triste notícia política do dia: a direção do Cpers-Sindicato, o órgão de classe que congrega os professores estaduais do RS, está sendo disputada por chapas de três diferentes correntes internas do PT. Nos últimos pleitos da categoria ainda havia candidatura não alinhada com a esquerda. Perdia sempre. Mas subsistia. Agora, acabou. Chegou-se a hegemonia no formato do totalitarismo stalinista. Só se discute quem vai fazer. O que fazer e o como fazer não está mais na pauta. É coisa sabida. Os professores gaúchos devem estar satisfeitos com os resultados de décadas sucessivas de comandos petistas. Devem estar felizes da vida com seus salários. Devem considerar satisfatórios os resultados obtidos na Educação de nossa juventude. E devem achar Paulo Freire o máximo. Essa segurança ideológica, partidária - e por que não pedagógica? - do sindicato deve corresponder fielmente aos mais elevados anseios dos nossos educadores da rede pública estadual. Parabéns pelo desconstrutivismo da nossa esperança.

Percival Puggina

26/04/2014
Nas mais remotas lembranças de minha infância, estou sentado no chão olhando as páginas abertas de um exemplar do velho Correio do Povo. Fascinavam-me as letras grandes das manchetes e eu pedia a minha mãe que as ensinasse para mim. Foi assim que aprendi a ler, bem antes da idade usual. Aos cinco anos eu sabia muito bem quem era e o que fazia o general Douglas MacArthur na Guerra da Coreia. Tive a graça de pertencer a uma geração cujos brinquedos eram muito pouco interessantes em comparação com o que está disponível no mundo multimídia da gurizada de hoje. Naquele tempo, quem não fosse dado a jogos de bola divertia-se puxando um carrinho de madeira (pelo cordão), ou corria pelo quintal montado num sarrafo, brincando de caubói. Com entretenimentos assim, era natural que os livros da biblioteca da família fossem muito recrutados para as horas de lazer. A falta de alternativas levava-nos a todos, crianças e adolescentes, para as matinês dominicais do cinema de Rivera onde assistíamos quatro filmes seguidos, numa sequência que durava toda a tarde. Felizmente, a leitura era um hábito de meus pais, o sempre curioso e estudioso Adolpho (por isso mesmo aclamado como uma espécie de google familiar) e de Eloah, poetisa de mão leve e espírito elevado, cujos versos eram lidos em casa e, não raro, declamados em eventos culturais da Santana do Livramento, onde nasci em 1944 como segundo de uma família de sete irmãos. Menciono estas recordações porque, nos últimos dias, elas me acudiram insistentemente à memória como que estabelecendo um elo entre este ato e aquela infância passada em meio aos livros. Quando nos mudamos para Porto Alegre, tive a graça de ser aprovado para ingresso no Colégio Júlio de Castilhos. Iniciavam-se os anos 60. E o querido Julinho da minha adolescência era um colégio como não se vê mais. Intensa atividade escolar. Muita atividade cultural. Concursos organizados pelos alunos, através do Grêmio Estudantil. Sim, pelos alunos! Concursos de poesia, de declamação, de oratória. E ainda mais dinâmica atividade política. Dali saíram homens públicos, argutos jornalistas, polemistas e escritores. Eminentes profissionais nas mais variadas atividades. Um pecado o que foi feito com a Educação pública em nosso Estado! Alguns anos mais tarde, como arquiteto que fui durante quase duas décadas em uma das três maiores empresas de projeto do país naquele tempo, meus primeiros diretores logo descobriram que eu sabia juntar palavras, que me dava bem com as concordâncias e que conhecia regência verbal. Como resultado, além das atividades de prancheta, cabia-me, em todos os projetos nos quais trabalhei, cuidar, também, da apresentação textual. Com isso, o desenho nunca me afastou da palavra escrita. E a forma arquitetônica, logo descobri, é irmã gêmea da forma verbal. Mas se julguei necessário falar um pouco sobre minha relação com o mundo das palavras, da ideia impressa, foi apenas para me trazer onde quero chegar, valendo-me da oportunidade proporcionada por este ato. O ano de 1985 foi um divisor de águas em meu destino. Foi o da redemocratização e, por isso mesmo, aquele em que voltei a me interessar pela política. Foi, também por isso, o ano de minha primeira filiação partidária. E foi, ainda, quando comecei a escrever para ser lido por pessoas que eu não sabia quem eram. Escrever para ser lido por indefinido público foi uma experiência nova, que iniciei como colaborador nas colunas de opinião do Jornal do Comércio e do Correio do Povo, em cuja página 4 permaneci, semanalmente, por 21 anos. Gracejando comigo mesmo, en aquel entonces, como diriam nossos vizinhos castelhanos, escrevi este brevíssimo poema: Por que escrevo? Que pergunta, seu moço! Não é para garantir o almoço. Nem a janta. Pois de graça escrevo, supostos tesouros de papel apetitosos... às traças. Descobri, malgrado esse gracejo, que ao prazer de escrever também correspondia o prazer de ser lido. Posteriormente, em 2006, fui convidado para ser colunista de Zero Hora. Já então eu havia publicado dois livros, minhas crônicas eram enviadas para mais de duas centenas de jornais, sites, blogs e revistas, e me embrenhara em meio às muitas dificuldades do mundo editorial. Entre as mudanças ocorridas naquele ano de 1985, marcadas, ademais, pela morte de Tancredo Neves, descobri o caminho que deveria seguir no mundo das letras. A redemocratização do país foi o motor de arranque de muitas das minhas iniciativas pessoais. Era absolutamente inevitável: o país que saía dos governos militares entraria em turbulência. O Brasil de 1964 era um país rural, com 77 milhões de habitantes. O Brasil que 21 anos mais tarde emergia para a normalidade institucional era um país urbanizado, uma sociedade de massa, com 133 milhões de habitantes. Um país a exigir responsável comunicação de massa. Seguiu-se, então, um tempo de desajustes. A lei do pêndulo impôs sua força. Ao romper-se o tirante que estabelecia limitações em demasia, arremeteu-se a nação para o lado das liberalidades excessivas. Saímos da censura para a licenciosidade. Da democracia relativa para o democratismo destrambelhado. Dos direitos restritos para os privilégios descabidos. O país que emergiu de um longo programa de Estado autoritário, jogou-se nos braços de um projeto de Estado paternalista, provedor, vertente inexaurível de todos os direitos. Qualquer postulação virava direito. E, pela lei - direito adquirido. Articularam-se em torno dessa visão todas as corporações nacionais. Sem exceção, acorreram elas à Assembléia Nacional Constituinte, sôfregas, em busca de seu quinhão e, em pouco tempo, ficou evidente que a soma das fatias sobejava o bolo. A carga tributária disparou, a corrupção cresceu, o poder centralizou-se contra a Federação. E perseveramos nos pecados mortais do nosso modelo institucional. Entregamos Estado, governo e administração às mãos de uma só pessoa e seu partido. Não tinha como dar certo. E continua não dando certo. Com incontornável relação de causa e efeito, o Estado, que não pára de crescer, gerando mais e mais cargos e postos de mando, estimula a surgimento de novos partidos que já ao nascer, vão em busca do seu quinhão. E por aí me embrenho eu, lendo e escrevendo. Suscito animosidades, sei. Mas vejam só: eu apenas leio e escrevo. *** Nossa capital, em 1844, era pouco mais que uma vila. Com cerca de vinte mil habitantes, para conter as investidas dos farroupilhas fora murada nos limites urbanos que terminavam ali na Praça do Portão. Foi nessa longínqua realidade de 1844 que nasceu Carlos Augusto Ferreira o patrono da Cadeira nº 7 na qual me está sendo dado o privilégio de hospedar-me. Provisoriamente. Mas aquela Porto Alegre, estremecida por nove anos de guerra e atrasada na urbanização, já antecipava a fertilidade que viria a ter nas coisas da cultura, como berço dos contemporâneos Caldre e Fião, Luciana de Abreu, Hilário Ribeiro, entre muitos outros. Por isso, quando D. Pedro II passou pela sede da província, em 1865, indo para a frente de batalha da Guerra do Paraguai, foi saudado com versos de um jovenzinho de 21 anos que causou tão boa impressão ao imperador (ele mesmo um versejador de poucos dotes) que este o mandou estudar em São Paulo. Lá, porém, Carlos Ferreira empolgou-se pelo jornalismo e pela causa republicana, afastando-se da proteção da Coroa. Talvez por ter vivido a maior parte de seu tempo longe de Porto Alegre, Carlos Ferreira ficou pouco conhecido entre nós. Morou em São Paulo, onde trabalhou como redator do Correio Paulistano, no Rio de Janeiro onde foi redator do Correio do Brasil. Com o advento da República, foi nomeado primeiro tabelião da cidade de Campinas, onde fundou a Gazeta de Campinas. Simultaneamente à atividade jornalística, Carlos Ferreira extravasava talento como comediógrafo, poeta, romancista e tradutor, em especial sintonia com a obra de Beaudelaire. Pelos seus muito dons sentou-se em duas Academias de Letras - na paulista e na rio-grandense. São suas obras poéticas, além das traduções de Beaudelaire: ? Cânticos Juvenis, 1867 ? Rosas loucas, 1868 ? Alcíones, 1870 ? Redivivas, 1881 ? Plumas ao vento, 1908 Eis um trecho, uma palhinha, de seu Rosas Loucas: Oh Rosas Loucas que o verão bafeja - Odaliscas gentis de sonhos grandes! Deixai que eu passe junto a vós cantando - Ave saudosa que rolou dos Andes. Sou moço e sonhador. Minh?alma é triste Sente o espinho cruel do amor mundano E no entanto em meu peito as crenças brincam, Garças brancas perdidas no oceano. Minha lira febril soluça e goza Amo Deus, a Mulher e a Liberdade. Os raios de luar bebem-me as lágrimas E eu bebo a luz do sol da imensidade! Escreveu comédias e dramas para o teatro: ? Lúcia, 1868 ? Madalena, 1868 ? Mártires do coração, 1869 ? A calúnia, 1871 ? Histórias Cambiantes, contos, 1872; ? Os pequenos e os grandes, 1872 ? O marido da doida, 1874 ? A esposa, 1880 ? A Primeira Culpa, romance de costumes e histórico, 1889 Também foi colaborador, junto com Apolinário Porto-Alegre, Damasceno Vieira, e Fontoura Xavier, do periódico Álbum de Domingo, no qual se desenvolveu debate realista, cientificista e moderno, na cidade de Porto Alegre. Uma nota sobre ele no Blog Maragato cita comentário do escritor português Fernandes Costa, para quem, na obra de meu distinto patrono, há inspiração, há verdade, há sentimento; há a expressão de crenças sinceras e boas na virtude, no amor, na honestidade, no Bem. Sinto-me confortável, então, nessa cadeira. Por quê? Porque se me falta o talento, não me faltam essas mesmas crenças e apreços. São eles que me animam sempre que escrevo. Estou mais convencido, a cada dia, que a nação brasileira precisa retomar o caminho dos valores perenes; precisa buscar a verdade independentemente de quantas vezes a mentira é repetida; precisa exaltar as virtudes e não os vícios. E precisa retirar esse sentimento e dom esplêndido que é o amor da calabouço onde o jogaram em nome de uma falsa liberdade e de um ainda mais falso progresso social. Amor de aventura, egoísta, que causa frêmitos mas não resiste ao sacrifício, não é amor. E quando com amor é confundido, pouca coisa escapa à sua capacidade de destruição. Amigos, o grande Padre Vieira, em um de seus sermões, parece falar ao mundo contemporâneo: Príncipes, Reis, Imperadores, Monarcas do Mundo: vedes a ruína dos vossos Reinos, vedes as aflições e misérias dos vossos vassalos, vedes as violências, vedes as opressões, vedes os tributos, vedes as pobrezas, vedes as fomes, vedes as guerras, vedes as mortes, vedes os cativeiros, vedes a assolação de tudo? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. E cegos (digo eu) emitem sinais de estar - governantes e governados! Uns pelo poder. Outros pelo sofrer. Outros pelo descrer. Outros pelo refulgir do ouro no bezerro de sua idolatria. Sou católico, de berço e terço. Então, sigo com Vieira, falando à sua própria Igreja: Príncipes, Eclesiásticos, grandes, maiores, supremos, e vós, ó Prelados, que estais em seu lugar: vedes as calamidades universais e particulares da Igreja, vedes os destroços da Fé, vedes o descaimento da Religião, vedes o desprezo das Leis Divinas, vedes o abuso dos costumes, vedes os pecados públicos, vedes os escândalos, vedes as simonias, vedes os sacrilégios, vedes a falta da doutrina sã, vedes a condenação e perda de tantas almas, dentro e fora da Cristandade? Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Se vejo, não calo. E por tudo isso escrevo sobre inexplicáveis parcerias que vejo instaladas entre as representações dos poderes temporal e espiritual. Mas Vieira vai além, desafiando-me. Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que carrega sobre vossas consciências, vedes as desatenções do governo, vedes as injustiças, vedes os roubos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes as potências dos grandes e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos pobres, os clamores e gemidos de todos? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes, como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Não tenho qualquer poder terreno, exceto aquele que aprendi ao perceber que as letras formavam palavras e que as palavras significavam algo. É delas que me sirvo. E é com elas que me proponho a prosseguir servindo meu país. E, doravante, enquanto me restar alento e juízo, a esta nobre Academia, onde entro como aprendiz. Se meu patrono Carlos Augusto Ferreira começou a vida como aprendiz de ourives e passou a produzir joias do idioma, não me faltará o que aproveitar como aprendiz de meus confrades. Quero agradecer. Aos meus pais, Adolpho e Eloah, verdadeiras dádivas do Senhor nas vidas de seus sete filhos. A minha mulher, Mariza. Ela é a primeira leitora de cada linha que escrevo. Pelo sempre bom conselho e pela inesgotável paciência. A meus filhos, Cristian e Mariana e ao meu neto Lucas. Vocês são permanente inspiração e motivação. São a vida que prossegue. Vocês caminham e caminharão pelos rumos que a minha geração tiver desenhado e com muitos dos meios que pudermos proporcionar. Contanto que, é claro, não nos mantenhamos como os cegos do Padre Vieira. Aos meus amigos do Movimento de Cursilhos, a quem homenageio na pessoa do inesquecível Padre Florindo Ciman, que muito me fez estudar enquanto me mostrava em centenas de conversas, através dos anos, que a Fé não é rival mas fraterna amiga da Razão. E que é muito melhor andar nas doçuras e agruras da vida com Deus do que sem Deus. Aos meus amigos da ADCE, pelos exemplos de vida que me proporcionam. Ao meu grupo de Reflexão, aos amigos do grupo Pensar+, e, naturalmente, aos meus leitores pelas palavras de estímulo com que, Deo Gratia, nunca me faltaram. Senhores, senhoras, amigos. As letras que até aqui me trouxeram não desfrutam do incerto privilégio da unanimidade. Estou num momento da jornada em que tenho muito mais passado do que futuro. Não sei se já fiz muito ou pouco. Mas sei que certamente fiz menos do que deveria. Afortunadamente, há um bom tempo joguei fora as irresoluções. Numa sociedade de massa ? onde tantos foram gradualmente perdendo referências e deixando tombar Valores pelo caminho; ? onde a História se perde num emaranhado de versões disformes; ? onde tantos e tantos sabem mais sobre seu clube de futebol do que sobre a pátria comum; ? numa nação que oscila entre amor e ódio, entre orgulho e vergonha de suas raízes; ? numa sociedade que aclama o relativismo como expressão de sabedoria, e que, como consequência, não apenas hesita entre o agir certo e o agir errado, o que é da natureza humana, mas não mais distingue uma coisa da outra; numa sociedade, enfim, na qual tantos se atolam em incertezas e dúvidas, e morrem sem saber o que deveriam ter sido, eu tenho a terrível audácia de publicar minhas crenças. Eu creio em Deus, creio na família, creio que há um bem e um mal, creio que há verdades e sei que há mentiras. Procuro as primeiras enquanto fujo das outras. Não consigo deixar de ver, nessa faina, uma tarefa indeclinável a quem vive e se comunica, com senso de responsabilidade, numa sociedade de massa. Muito obrigado!

Percival Puggina

26/04/2014
Há bem poucos dias, o IPEA e o IBGE qualificaram-se para a linha de tiro da oposição. As duas instituições encarregadas de fornecer números aos analistas nacionais e às políticas dos setores público e privado foram acusadas de sujeição às conveniências eleitorais do governo e de seu partido. Quando isso ocorre em qualquer instituição permanente do Estado ou da administração pública, tem-se um verdadeiro sequestro, com severo dano ao interesse nacional. Aliás, reiteradamente, as redes sociais estampam imagens de policiais federais também manifestando contrariedade com a intrusão do partido do governo nas atividades da corporação. Embora as denúncias envolvendo a Petrobras sejam, agora, a face mais visível do fenômeno que descrevo, tais fatos se reproduzem e multiplicam na imensa estrutura dos poderes públicos. É para proporcionar isso que o Estado não pára de crescer. E de encarecer. É por isso que os partidos se multiplicam como coelhos e o tamanho do Estado avança na mesma cadência. Cada peça dessa imensa máquina, pequena ou grande, responde a algum partido em primeiríssimo lugar. O bem nacional vem depois. Ou, simplesmente não vem. Recordo os meses que antecederam à eleição de 2010. Cumpriu-se um cronograma de notícias oficiais, boas para o governo, divulgadas nos momentos propícios, e propagadas pela mídia sem a devida análise crítica. Tudo para nos convencer de que o Brasil era uma ilha de prosperidade e que nosso PIB cresceria segundo aqueles números sempre superiores a 4%. Números que o ministro Mantega traz na cabeça, todo Ano Novo, quando acorda do revellion. E passa o ano inteiro corrigindo para baixo. Por incrível que pareça, não entra no campo das análises políticas o motivo pelo qual se estabelece no Brasil esse assalto partidário a tudo que é público. Atribui-se ao velho patrimonialismo algo que tem causa institucional. Para bem entendermos o que acontece é preciso distinguir o que é Estado, o que é governo e o que é administração pública. Estado é um ente político de existência permanente, geograficamente delimitado, com poder soberano em relação a um povo que ali habita, zelando pelo bem comum num sentido amplo. O governo desempenha apenas uma das várias funções do Estado; cabe-lhe cumprir as leis e definir políticas, programas e ações para atender o bem comum nas circunstâncias dadas e por um período de tempo limitado. A administração, por seu turno, é o aparelho funcional através do qual tais políticas, programas e ações são executadas, atendendo de modo continuado os sucessivos governos. Nas democracias, como se pode presumir, o Estado, por ser de todos, não deve ter partido. A administração, por servir a todos, tampouco. Assim sendo, o governo e só o governo pode ser provido pelos partidos com seus partidários. Por isso mesmo ele é escolhido numa eleição entre as legendas e tem prazo de validade limitado. Deveria saltar dos enunciados acima o absurdo em que incorre nosso modelo institucional quando, além do governo, atribui a uma única pessoa e a seu partido também Estado e o aparelho da administração pública. É a raposa cuidando do galinheiro. É a festa do poder. É também por isso que quando a luz se acende sobre a festa de ontem, o salão está repleto de sinais da orgia. E como só ao povo, pagador da conta, interessa moralizar as instituições, nada muda para que tudo fique como está. Assim prossegue nossa democracia, por intolerável que pareça. ZERO HORA, 27 de abril de 2013

Percival Puggina

19/04/2014
Não consegui encontrar a obra, em meio ao indesculpável desarranjo da minha biblioteca. Mas li, faz bom tempo, texto muito interessante sobre certo anúncio feito publicar na imprensa por um personagem do escritor José-María Gironella. O anunciante era um cavalheiro que declarava haver perdido a mais preciosa de suas joias. Justamente aquela pela qual entregaria todos os seus outros bens. Estava consternado e conclamava quantos o lessem a um ato de solidariedade humana: que saíssem às calçadas, às ruas, às praças e procurassem por ela durante alguns minutos. Suplicava a quem a encontrasse que a restituísse ao legítimo dono, porque somente para ele, autor do anúncio, tal joia tinha valor precioso e utilidade infinita. O tão extraordinário bem, esclarecia ele por fim, era o tesouro imaterial da Esperança, sem a qual não estava conseguindo viver. O trágico personagem reflete muito bem, com seu apelo, a terrível situação de quem se percebe vivendo no desespero, aquela triste forma de se deixar morrer, no dizer do dominicano Bernard Bro. Não sei se o mais triste é a sensação de perda de um bem assim ou a situação de quem vive e morre sem saber do que estou falando aqui. De fato, leitor amigo, a maior parte das pessoas não chega a compreender o fenômeno da esperança e da desesperança. Lida-se com ele mais ou menos como se a vida fosse uma roleta, dentro da qual rodopiam bolinhas da sorte ou do azar. E chama-se de esperança o conjunto de expectativas pessoais condicionadas a prováveis ou improváveis prêmios. Não é essa, porém, a esperança que dá sentido à vida, nem é essa a esperança que se constitui em virtude cristã. Só pode dar sentido à vida terrena algo que se situe fora dela, que a ela preexista e que se projete para além dela. Nossa vida não pode ser um segmento de reta, com começo, meio e fim, atravessado na história. Nós não somos grãos de areia no deserto, despojados de qualquer significado pessoal. Se para o grão de areia tal situação não tem importância, para a vida humana, a ausência de finalidade gera angústia. Não são outras, in suma, as incertezas do existencialismo, as misérias do materialismo e as trágicas convicções do niilismo. E não era outra coisa que clamava o cavalheiro do anúncio mencionado acima. A esperança do cristão lhe vem da Ressurreição. São Paulo diz que se Cristo não tivesse ressuscitado, ?vã seria a nossa fé?. Ou seja, nossa fé estaria depositada em alguém vencido pela morte; ressurreto, Cristo é a esperança de nossa própria ressurreição - ainda com as palavras de São Paulo. O Evangelho de Lucas relata o conhecido anúncio do anjo aos pastores: ?Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor?. Pois não seria descabido um anúncio semelhante na sexta-feira da Paixão: ?Morreu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor?. No mistério da Redenção, que se completa na Páscoa da Ressurreição, cumpre-se o projeto de Deus para a nossa salvação. Seria uma insanidade trocarmos a Esperança que está envolvida nesse ambicioso projeto de Deus por algum projeto de nossa própria ambição, levado ao extremo de extraviar, nele, a única Esperança que efetivamente pode dar sentido à nossa vida. Feliz Páscoa! ZERO HORA, 20 de abril de 2014

Percival Puggina

17/04/2014
Recapitulemos. O MDB e a ARENA nasceram respectivamente em março e em abril de 1964, como consequência do bipartidarismo imposto pelo art. 18 do Ato Institucional nº 2. Mais tarde, na transição para os anos 80, com o início da abertura, novos partidos surgiram e os maiores, que vinham do período anterior, mudaram de nome. A ARENA virou PDS e o MDB virou PMDB. Durante quase duas décadas, portanto, os principais partidos brasileiros foram esses dois. Um pelo governo e o outro pela oposição. Um mais pela direita, o outro mais pela esquerda. É fato irrecusável, no entanto, que o esforço para levar o país à normalidade ocorreu no âmbito das instituições, dentro do jogo político, na conquista da opinião pública, e que a parte principal dessa tarefa coube ao partido oposicionista, o PMDB. Simultaneamente, no contrafluxo, algumas dezenas de organizações comunistas clandestinas cometiam desatinos. Promoviam atos terroristas e execuções sumárias, assaltavam, assassinavam, sequestravam pessoas e aeronaves. Recebiam orientação, treinamento e recursos de Cuba, URSS, China. Davam calor local à Guerra Fria (há quem diga que ela não existia aqui e que, embora EUA e URSS disputassem até a Lua e o espaço sideral, os soviéticos olhavam para o insignificante Brasil com desdém). Embora os panfletos que espalhavam entre os resíduos criminosos e mortais de suas ações falassem muito em povo, essas organizações não tinham qualquer apoio popular. Semearam dores e danos, e atrasaram a redemocratização. Descriam da democracia, zombavam dos que faziam oposição no plano das instituições. Entretanto, não há como negar a utilidade da atuação do PMDB. Foi seu trabalho na formação da opinião pública, apoiado por frações da base governista (parte da qual saiu do PDS e formou a Frente Liberal) que criou o ambiente favorável à abertura lenta, gradual e segura de Geisel. E é irrecusável, também, que guerrilheiros e terroristas, nessa longa história, não têm qualquer mérito. Foi a ideologia deles, recusada pelo povo nas ruas do país, que gerou a intervenção militar e foi a opção deles pela luta armada que retardou a normalização institucional. Pois bem, esse é o grupo que, hoje, hegemoniza nossa política com vários de seus membros promovendo expropriações do patrimônio público e agindo, agora como então, fora da lei. É esse mesmo grupo que, de tempos para cá, com inacreditável apoio midiático, enfeitando a própria história, se pavoneia como defensor da democracia e paladino histórico das liberdades públicas. Não preciso escrever mais nada para demonstrar que o PMDB está sendo roubado de seu principal patrimônio político. Líderes vindos da clandestinidade, da luta errada, por meios errados, para fins ainda mais errados, chegaram ao poder pelo voto. Instalam-se para ficar. E passam a buscar méritos que não têm. Posam como vítimas da ditadura (alguns foram mesmo) e ocultam os tenebrosos objetivos que os moviam. Põem o PMDB a tiracolo e, sem pedir licença a ninguém, dão de mão no trabalho de Ulysses, Tancredo, Fernando Henrique, Montoro, Covas, Simon, Teotônio. E o PMDB, submisso à ditadura do politicamente correto, submisso à hegemonia petista, a tudo tolera em troca de quinhões do poder. Alguém tem que ir à delegacia e preencher um B.O.. _____________ * Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

Percival Puggina

12/04/2014
COM LICENÇA, EU ACERTEI Percival Puggina Nos últimos 25 anos, escrevi mais de uma dúzia de artigos combatendo e, em muitos casos, mostrando que o livro Veias abertas na América Latina, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, é um amontoado de tolices estruturadas sobre raciocínios errados, prosa infantil, repleta de baboseiras. No entanto, desde sua primeira edição, em 1971, foi tomada como bíblia pela esquerda continental e catapultou o autor para os pontos mais nobres dos seus altares e reverências. Quantos professores de história, mestres de araque, envenenaram as mentes de seus alunos com base nesse livro! Pois eis que agora é o próprio Galeano que me dá razão. Homenageado em Brasília pela 2ª Bienal do Livro (e a homenagem, certamente, tem muito a ver com esse mesmo livro), o escritor declarou que a obra foi o resultado da tentativa de um jovem de 18 anos de escrever sobre economia política sem conhecer devidamente o tema. Eu não tinha a formação necessária. Não estou arrependido de tê-lo escrito, mas foi uma etapa que, para mim, está superada. * A matéria jornalística sobre essa declaração de Galeano está publicada na edição do dia 11 de abril do jornal Correio do Povo.