• Percival Puggina
  • 08/03/2015
  • Compartilhe:

À MULHER, ESSE PARAÍSO

 Imagine uma flor. Não, não assim. Imagine uma flor excepcional, dessas que com sorte se encontra uma vez na vida. Uma flor tão bela que, ao vê-la, se tenha a impressão de que a natureza não tinha coisa mais importante para fazer e que por isso se desdobrou em zelos, concentrando ali o mais harmonioso matiz de cores, a mais delicada textura e o mais caprichoso arranjo de formas. Imagine, por fim, que não havendo mais com que adorná-la, ainda foi buscar, a natureza, o artifício de projetar seus pistilos como uma explosão de fogos de artifício. Imaginou? É, mas não adianta.

 Imagine, um vulcão. A rocha transformada em fogo líquido e se derramando em êxtases de criação e morte. O big bang em porção individual. Lindo, não? Agora, coloque isso em cenário andino. O instantâneo fogo e a eterna neve contra o céu azul. Bleu, blanc, rouge. Imaginou? É, mas não adianta.

 Imagine uma praia de água borbulhante e cristalina como se fosse mineral. Uma praia daquelas que Adão tinha no paraíso e muitos pensam que ele trocou por um pedaço de maçã (e ainda por cima com casca). Imagine uma pequena enseada de inadmissíveis areias brancas, vindas não se sabe de onde e que o mar veste e desveste com variada renda branca. Imaginou? É, mas não adianta.

Pense, meu amigo leitor, no que quiser pensar, pense no mais esplêndido pôr- do-sol derramando cores no regaço das águas, imagine tudo que seu engenho lhe permita conceber. Você jamais criará algo tão sedutor quanto a mulher e por isso eu não queria estar na pele de Adão quando ela lhe ofereceu a maçã já mordida. Era o Paraíso sem a mulher ou a mulher sem o Paraíso. Dureza. Para quem esqueceu, hoje é o Dia Internacional da Mulher, esse paraíso.

________________________________
* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 


FERNANDO LUIZ BRAUNER -   14/03/2015 14:39:14

...Ë, Pecisa?.. Prudência me socorreu , ante definição perfeitas... dos ilustres à cima. "Mulher, como a minha... Casados de papel passado, como em tempos idos... "Só vendo-a durante todos estes anos... Com meus olhos lacrimejantes ! FERNANDO LUIZ

Odilon Rocha -   09/03/2015 21:36:04

Valeu, professor Puggina, pela bela inspiração, além da justa homenagem.

paulo de carvalho filho -   08/03/2015 22:10:58

Tenho certeza que essa magnífica descrição acima não foi inspirada nas pessoas de Dilma e Graça Foster, quando eu terminei de ler o artigo logo me veio à mente a imagem da atleta russa Denisa Roslova, e só para amenizar um pouco os nossos pensamentos depois de tudo que está acontecendo em nosso país, vejam essa bela espécime em: https://www.youtube.com/watch?v=S44-Ls7mC7Y

Genaro Faria -   08/03/2015 21:35:35

Texto muito poético, Puggina. Parabéns! Mas não se avexe. Se alguém se esqueceu de que hoje é o Dia da Mulher, logo, logo a governanta vai lhe refrescar a memória. Em mais uma aparição na televisão, ela vai lembrar que o PT inventou o paraíso e que ela, Dilma, saiu de uma costela de Lula, segundo a leitura que a Teologia da Libertação revolucionou. Ou talvez não tenha sido da costela, mas da mão esquerda, aquela que ficou sem o dedo mindinho. O dedinho que virou Dilma URSSeff.

Zaqueu -   08/03/2015 19:06:41

Empresto as palavras de Carlos Drummond de Andrade para meu comentário. " ESSAS MULHERES MARAVILHOSAS A mãe e o pai estavam assistindo televisão, quando a mãe disse: - Estou cansada e já é tarde, vou me deitar. Foi para a cozinha fazer sanduíches para o lanche o dia seguinte na escola, passou uma água nas taças das pipocas, tirou carne do freezer para o jantar do dia seguinte, confirmou se as caixas dos cereais não estavam vazias, encheu o açucareiro, colocou os talheres na mesa e preparou a cafeteira do café para estar pronta para ligar no dia seguinte. Colocou ainda roupas na máquina de lavar, passou uma camisa e pregou um botão que estava caindo. Guardou umas peças do jogo que ficaram em cima da mesa e pôs a agenda do telefone no lugar. Regou as plantas, despejou o lixo e pendurou uma toalha para secar. Bocejou, espreguiçou-se e foi para o quarto. Parou ainda no escritório e escreveu uma nota para o professor do filho, colocou num envelope junto com o dinheiro para pagamento de uma aula e apanhou um caderno que estava caído debaixo da cadeira. Assinou um cartão de aniversário para uma amiga, selou o envelope e fez uma pequena lista para o supermercado. Colocou ambos perto da carteira. Nessa altura o pai disse lá da sala: - Pensei que você tinha ido se deitar. - Estou a caminho, respondeu ela. Colocou água na tigela do cão e o chamou para dentro de casa. Certificou-se de que as portas estavam fechadas. Olhou o quarto de cada um dos filhos, apagou a luz do corredor, pendurou uma camisa, atirou umas meias para o cesto da roupa suja e conversou um bocadinho com o mais velho que ainda estava estudando. Já no quarto, acertou o despertador, preparou a roupa para o dia seguinte e arrumou os sapatos. Depois lavou o rosto, passou creme, escovou os dentes e acertou uma unha quebrada. A essa altura, o pai desligou a televisão e disse: - Vou me deitar. E foi... sem mais nada. Notou aqui alguma coisa de extraordinário? Ainda perguntam por que é que as mulheres vivem mais e são tão MARAVILHOSAS? Porque são mais fortes e feitas para resistir. Carlos Drummond de Andrade

Ismael de Oliveira Façanha -   08/03/2015 16:12:52

Eva foi rebelde desobedecendo o Senhor, e ainda foi uma má influencia para o seu marido Adão, levando-o junto à perdição; prefiro o Céu de Maria, a mãe de Jesus.

Susana -   08/03/2015 16:02:46

Provocativo, mas não ofensivo. " O Paraíso sem a mulher ou a mulher sem o Paraíso". Nos parágrafos acima, a confissão da rendição. Que muher é essa? A gerada da expectativa, do desejo, da idealização. Do mútuo pacto de papéis que se invertem, sempre que conveniente for. Ainda bem que é o Dia Internacional da Mulher ( brasil sem identidade não conta, bravo, bravíssimo). Com as bandeiras que vimos levantadas, posso tranquilamente ficar fora dessa. Não preciso comemorar nada nem reinvidicar coisa alguma. Convicta de que qualquer mudança vem da postura, da construção íntima, do ser em oposição ao parecer. Não atirem flores nem pedras. Nada há de excepcional que faça por merecer umas ou outras. Deixem ser, obrigada.