Percival Puggina

29/06/2015

 

 "Ao bradarmos "BRASIL, PÁTRIA EDUCADORA" estamos dizendo que a educação será a prioridade das prioridades, mas também que devemos buscar, em todas as ações do governo, um sentido formador, uma prática cidadã, um compromisso de ética e um sentimento republicano". (Presidente Dilma, discurso de posse, 01/01/2015)

 

 Como é inconsistente e distante da realidade o compromisso do governo de Sua Excelência com a ética! E vale o mesmo para o "sentimento republicano" e para a tal "prática cidadã", seja lá isso o que for. Treze anos de governo petista só serviram para desnortear moralmente a sociedade e semear descrédito nas instituições mediante exemplos, palavras e atos. O governo mente, faz o que não deve, não faz o que deve, cerca-se de péssimas companhias, ele mesmo é muito má companhia, corrompe, se deixa corromper e acusa os demais daquilo que faz. Na inepta frase presidencial, contudo, há outro aspecto e é nele que quero me deter.

 A presidente disse que a educação será a prioridade das prioridades e que para essa tarefa convergirão as ações do governo. Aparentemente, ninguém a advertiu para o fato de que a sociedade não pediu ao Estado para ser por ele "educada". O que a sociedade espera do sistema público de ensino é que cumpra, dentro das salas de aula, nas escolas, o papel de transmitir à juventude brasileira ensinamentos úteis à vida na sociedade contemporânea e à realização das potencialidades de cada indivíduo. Para variar, é tudo ao contrário do que a presidente e seu partido fazem. Por isso seguimos dilapidando preciosos recursos humanos e perdendo tempo na imprópria tarefa de "construir sujeitos" e de preparar "agentes de transformação social"! Chega de construtivismo, de Paulo Freire e de Emilia Ferreiro (até os argentinos já perceberam o estrago que o método da conterrânea causou à alfabetização no seu país). "Chega de Piaget e de Vygotski!", me assopra num antigo texto o sociólogo e jornalista José Maria e Silva.

 Eu sei que o parágrafo acima escandalizará setores do meio acadêmico brasileiro, especialmente nos cursos voltados à formação de professores. Eu sei. Ali, multidão de mestres e doutores ensina os futuros professores dos nossos jovens que a transmissão de conhecimentos, de conteúdos, será apenas parte, e parte pouco relevante, de seus quefazeres profissionais. Por isso, em nosso país, não se ensina História, mas leituras ideologicamente convenientes de fatos históricos. Não se ensina geografia, mas geografia política em conformidade com a sociologia e com a política que convém ao uso revolucionário da rede escolar. Pouco e mal se ensina língua portuguesa porque o uso correto do idioma é instrumento de dominação e desrespeito à cultura do "sujeito educando". E não se ensina matemática, talvez por ser conteúdo exigente, que dispersa energias revolucionárias.

 Aferir resultados é uma imposição da razão a toda atividade humana. Não haveria de ser diferente no sistema de ensino. E o que esse sistema proporciona ao Brasil é tão ruim que chega ao absurdo de repelir o mérito e de manter um compromisso com a mediocridade, da base ao topo do sistema. Enquanto na minha infância, no piso da pirâmide, as crianças eram alfabetizadas em poucos meses, passadas seis décadas, esse objetivo não é alcançado por muitos sequer em três anos. Pesquisa do Instituto Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa revelou, em 2012, que 38% dos estudantes universitários não dominavam "habilidades básicas de leitura e escrita", qualificando-se como analfabetos funcionais. No topo da pirâmide, na produção acadêmica, o Brasil responde por apenas 1% da obra científica mundial de maior qualidade, segundo a revista Nature. O Chile, com 8% da população brasileira, produz mais artigos científicos do que o Brasil. No entanto, enquanto nós gastamos nisso US$ 30 bi, o Chile gastou US$ 2 bi. A ineficiência no uso dos recursos, entre 53 países analisados, nos coloca em 50º lugar.

Não vejo como se possa mudar essa realidade quando ela decorre do projeto político, ideológico e pedagógico há muito em curso no Brasil. Esse projeto, anterior ao PT, levou-o ao poder. Por isso, em relação ao Plano Nacional de Educação, o próprio Lula reconheceu (leia aqui) que ele é "a chance de começar uma revolução no país". A presidente sabe disso tão bem quanto eu e você.

* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

27/06/2015

Nota oficial do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, braço freudiano do PT, informa que se a ideologia de gênero não for incluída nos planos decenais de educação, Joãozinho e Maria estarão sob forte possibilidade de se tornarem agentes ou vítimas de "discriminações, exclusões e iniquidades decorrentes das relações de gênero e sexualidade". Leia a íntegra aqui: www.crprs.org.br/noticias_internas.php?idNoticia=2971.

Estou à espera de que alguém me indique o motivo pelo qual, numa sala de aula onde o bullying faz sofrer o aluno mais gordo, o mais baixo, o gago, o de óculos, o que tem maiores dificuldades de aprendizagem, a única forma de discriminação que causa rebuliço nos legislativos e suas galerias é a discriminação por motivo de conduta sexual. Pergunto: o respeito não é devido a todos, sempre? Por que eleger o sexo como essência do convívio respeitoso, num espaço onde há tanto desrespeito, inclusive ao professor? E note-se: o preconceito e muitos outros males se instalaram nas escolas precisamente quando elas se assumiram como lugares de "construção da cidadania" ou de revolução social.

A partir do momento em que o Congresso Nacional suprimiu do Plano Nacional de Educação as referências a gênero, adotando preceito corretíssimo "(...) erradicação de toda forma de discriminação", certas organizações foram à loucura. Através do Ministério de Educação, manietaram a lei e criaram um hospício legislativo, obrigando estados e municípios a deliberar novamente sobre o assunto.

O que não dizem, e só é conhecido por quem acompanha os debates nacionais e internacionais sobre as ditas questões de gênero, é que essa ideologia pretende ensinar crianças e adolescentes que não existe aquilo que existe - a homossexualidade masculina e feminina, e o sexo com o qual se nasce. Não satisfeitos, afirmam, lisamente, que o gênero é uma construção e que convencer as crianças disso faz parte indispensável da "desnaturalização dos papeis de gênero e sexualidade" (leia a nota, está tudo lá).

Ora, incutir tal disparate na cabeça das crianças da mais tenra idade, mediante imposição legislativa, usando a sala de aula e a autoridade do professor, é uma fraude à biologia e à experiência humana. Introduzir esse conteúdo em cartilhas e figurinhas com o intuito de formatar mentes infantis, afronta sua inocência e invade os direitos educativos dos pais. É perversa manipulação e agressão ao ECA. Combata-se o bullying, ensine-se a igual dignidade de todas as pessoas independentemente de suas diferenças naturais, mas não se obrigue crianças e adolescentes, como parte da atividade escolar, a aprender errado sobre sua própria natureza.

Diferentemente do que pretende o Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, retirar esses conteúdos dos planos estaduais e municipais de Educação não é "excluir o respeito à diversidade sexual". Ao contrário, colocar foco exclusivamente nessa pauta é discriminar o universo dos desrespeitados. Quem merece respeito é a pessoa humana, sempre. A escola deve ensinar a não discriminação em quaisquer circunstâncias. E ponto. O resto é, deliberadamente, criar grave desorientação e ensinar errado, por ideologia ou perversa intenção.

* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

23/06/2015

Toda a existência do PT, do nascimento à glória, e da glória ao atual fundo do poço (ou ao volume morto, na expressão usada pelo próprio Lula) se fez sob incondicional apoio da CNBB e de suas pastorais. A exceção, se houver, que se identifique.

 Aliás, Lula e o PT sabem: os tenebrosos dias que se avizinham serão enfrentados ao abandono de muitos dos seus antigos seguidores. Há um grupo, porém, que não o abandonará. Esse grupo é formado por religiosos, padres e bispos que foram buscar água benta na Teologia da Libertação e chegaram ao poder da entidade em 1971, com D Aloísio Lorscheider. A partir de então, foi um Deus nos acuda. São João Paulo II, que conheceu o comunismo desde as entranhas, condenou a Teologia da Libertação (TL) em documento da Congregação para a Doutrina da Fé. Esse texto, de 1984, deixa claro ser a TL uma teologia marxista, de classe, "que confunde o pobre da escritura com o proletário de Marx". 

 Nada melhor do que ler Frei Betto para saber o quanto essa confusão é real. Em "O paraíso perdido" ele relata dezenas de viagens que fez para levar a TL a Cuba e aos países do Leste Europeu onde o marxismo-leninismo já estava instalado. Com a TL ele conseguiu tornar comunistas milhares de cristãos do nosso continente, mas não conseguiu converter ao cristianismo um único líder comunista. Falando ao site Opera Mundi, em junho do ano passado, o frei confessou a estreita ligação da TL com aquela doutrina: "João Paulo II era um homem conservador que, quando foi bispo do Concílio Vaticano II sempre votou com os conservadores. Anticomunista visceral, jamais entendeu ou assimilou a Teologia da Libertação". É essa TL, rejeitada por anticomunistas (exatamente por ser o que é) que inspira parte significativa do clero católico brasileiro e continua incrustada como ácaro nas paredes e estruturas da CNBB e de suas pastorais. Ora, quem mistura religião com comunismo transforma uma coisa na outra. Daí essa obstinação que nada aprende da experiência, da evidência e do absoluto fracasso da doutrina abraçada.

 Foi o que, às vésperas das manifestações de março, levou o alto comando da CNBB até Dilma, para dizer-lhe, entre excelências e eminências, que não viam motivos para o impeachment. E foi o que agora, dia 20, levou D. Pedro Stringhini e dirigentes de pastorais sociais ao investigado e mal afamado Instituto Lula. Nesse encontro, coube a Luís Inácio a tarefa de desancar o próprio partido e o governo Dilma. E coube ao bispo dar a absolvição, explicando o que os motivava neste momento de crise: "É importante reconhecer o senhor e os avanços em seus oito anos de governo. Mas, diante da crise atual, esse esforço tem de ser continuado". Em outras palavras, nada mais importante do que o PT e seu governo. Dane-se tudo mais. 

 Mesmo que a Polícia Federal rastreie as digitais de Lula. Mesmo que, tantos petistas estejam na cadeia. Mesmo que o "protetor dos pobres" seja um patrocinador de bilionários, inclusive em causa própria e de seus familiares. Mesmo que tantos petistas ataquem frontalmente os valores cristãos. Mesmo que, nestes dias, os companheiros do ex-presidente estejam, em todo país, forçando Câmaras de Vereadores e Assembleias Legislativas a incluir a ideologia de gênero nas tarefas "educacionais" de suas redes de ensino. Mesmo que a casa caia e que a mula manque e que com tais manifestações de autoridades eclesiásticas a Igreja esteja sendo arrastada junto para o volume morto, dane-se tudo mais porque o ultrajante apoio persiste.

* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 
 

Percival Puggina

21/06/2015


Está em curso, no Ocidente, um enorme projeto de reengenharia da sexualidade humana. É a Ideologia de Gênero, ou da ausência de sexo. O igualitarismo é seu objetivo, e a diferença, o inimigo a ser atacado mediante desconstrução. Para tanto pasme leitor! , sem nenhuma evidência científica, contra o que a observação da natureza revela, seus difusores sustentam que ninguém nasce homem ou mulher, macho ou fêmea.

Afirmam que a sexualidade é uma construção social, sujeita a mudanças, definida e redefinida de inúmeros meios e modos, desde quando o bebê é vestido de tal ou qual cor. Assim, o sexo deixa de ter significado para a definição do masculino e do feminino.

Livre pensar é só pensar, ensinava insistentemente Millôr Fernandes. É livre o direito de teorizar, de ideologizar, de expor teses. O problema é quando se transforma um disparate qualquer em objeto de ação do Estado. Foi o que aconteceu há alguns anos com a produção de material didático sobre sexualidade infantil para distribuição nas escolas. O conteúdo era tão abusivo e tão absurdo, que foi rejeitado pela própria presidente Dilma. Pois aquilo já era produto da Ideologia de Gênero, que pretendeu, posteriormente, se tornar conteúdo obrigatório no Plano Nacional de Educação, o PNE. Quando o projeto do governo foi submetido ao Congresso Nacional, as duas Casas suprimiram todos os dispositivos relativos a esse assunto, mantendo uma regra simples e correta: “erradicação de todas as formas de discriminação”. No entanto, como costumam fazer quando contrariados, os promotores da desconstrução das diferenças buscaram outros caminhos para chegar onde pretendiam. Optaram pelo mais comum. Reuniram-se consigo mesmos noutro fórum e decidiram segundo queriam. Foi o que aconteceu na Conferência Nacional de Educação, quando os mesmos conteúdos suprimidos da lei federal retornaram oficialmente como orientação para os programas estaduais e municipais.

Agora, deputados estaduais e vereadores em todo o país deliberam sobre o tema nos respectivos planos, desatentos à lei federal e em obediência à ideologia hegemônica da burocracia educacional.

O Estado, os governos, seus funcionários, jamais receberam da sociedade, e tampouco das famílias, poderes para orientar a sexualidade e o comportamento sexual das crianças e dos adolescentes. Esse é um papel da natureza e dos pais. O Estado não é nem pode ser educador sexual. Além de ensinar os conteúdos curriculares, nos quais falha clamorosamente, que ensine a não discriminação, o respeito mútuo e a responsabilidade. E, no mais, que não se meta!

Zero Hora, 21/06/2015
 

Percival Puggina

19/06/2015

 

 Como brasileiro, sinto-me constrangido. Cheguei da Inglaterra na semana passada. Sem exceção, todas as perguntas que me fizeram sobre o Brasil, em estações de trem, no metrô e no comércio, se referiam aos escândalos e à perda de credibilidade do governo. Algo assim é incompreensível no Reino Unido porque lá o regime proporciona condições para que maus governos caiam naturalmente, dentro da norma constitucional.

 Após as manobras restritivas e antidemocráticas em que o governo de Nicolas Maduro envolveu o grupo de senadores brasileiros que visitavam o país, a presidente Dilma avaliou que a iniciativa da oposição colocou seu governo numa "armadilha", criando "constrangimento" para o Brasil. O Planalto sustenta que a viagem foi uma intromissão em assuntos internos da Venezuela.

Ah! Então não é o governo venezuelano que deve ficar constrangido com o fato de manter oposicionistas presos, há mais de ano, sob a acusação de estimular manifestações contra o regime bolivariano? Não é o governo de Maduro que deve corar diante da percepção internacional de que implantou uma ditadura sobre seu povo, fechando jornais, impedindo a livre manifestação das ideias, executando manifestantes durante gigantescas manifestações de rua? Não é a senhora, presidente, que deve ficar constrangida por sua atitude ao sequer receber as esposas de Daniel Ceballos e Leopoldo Lopez? Não a constrange a distância entre o nada convincente discurso local pela democracia e pelos direitos humanos e a afetuosa relação que mantém com as duas mais perversas e desastrosas ditaduras da América Ibérica?

Lembre-se bem do que seu governo fez quando as instituições paraguaias - em procedimento lisa e transparentemente constitucional - destituíram o presidente Lugo. Seu governo enviou observadores. Esses observadores deram palpite sobre os acontecimentos. A intromissão de seu governo culminou com a expulsão do Paraguai do Mercosul. Essa manobra escusa visou, na verdade, a atender o pedido de ingresso, no bloco, da "democrática" Venezuela, que vinha sendo vetado pelo Senado paraguaio. Em 2009, fora a vez de Lula proporcionar um tremendo escarcéu quando da destituição do hondurenho Manuel Zelaya, após sucessivas afrontas à Constituição do país.

As prisões cubanas ainda mantêm presos alguns dos dissidentes que foram recolhidos na onda repressiva de 2003. Passaram-se 12 anos! Sucessivas visitas de dirigentes e governantes petistas enfrentaram com silêncio conivente e sem qualquer constrangimento, os apelos dos familiares dos presos por uma atitude solidária do Brasil. Nada! Agora, a presidente não se constrangeu com as manobras para bloquear o tráfego dos senadores em direção ao presídio, nem com a emboscada armada pelos camisas vermelhas de Maduro. Ela se considera vítima de uma armadilha e constrangida pela viagem de solidariedade que promoveram.

* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar.
 

Percival Puggina

17/06/2015

 Os autores do projeto que concedia de uma a três passagem de ônibus gratuitas por mês para apenados em regime fechado, em regime semi-aberto e aos parentes de uns e outros, tiveram a delicadeza de retirá-lo. Aliás, ao ler, na manhã desta terça feira, a notícia da apresentação do projeto na Comissão de Direitos Humanos do legislativo gaúcho, lembrei-me dos versos de Chico e os parodiei: "Você que apresentou esse projeto, ora faça a fineza de desapresentar". Foi o que acabou acontecendo, felizmente.

 Sabe-se que a sugestão partiu de um setor da Defensoria Pública, sendo adotada pelos deputados Catarina Paladino, Manuela D'Avila, Pedro Ruas, Miriam Marroni e Jefferson Fernandes. A repercussão pública foi tão negativa quanto deveria ser. O presidente da Comissão, diante disso, jogou a responsabilidade para cima da Defensoria, alegando que a sugestão viera de lá. Esta, por sua vez, rejeitou a maternidade da ideia e mandou de volta para a Comissão. Coisa tipo: "Abraça aí que o filho é teu".

No momento em que escrevo, temos uma decisão acertada em cima de um projeto mal pensado. Na Assembléia Legislativa e na Defensoria Pública há gente sonhando com um anonimato provisório e com o total esquecimento do assunto. Ainda assim, o tema merece reflexão porque a malsinada proposta andou sobre esteira bem conhecida. É a esteira por onde passam leis que protegem a criminalidade, que concedem aos presos regalias negadas às suas vítimas, que anseiam pelo total desarmamento das pessoas de bem, que consideram a concessão de vantagens e gratuidades uma solução magnífica exatamente porque a conta, aparentemente, vai para ninguém. E é nessa esteira que atuam os opositores à redução da maioridade penal (os menores que, recentemente, sequestraram, estupraram e mataram uma menina no Piauí cometeram "ato infracional", mais ou menos como se estivessem dirigindo e falando no celular).

É preciso denunciar sempre essa esteira política e filosófica de más ideias e péssimos resultados práticos.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar.

 

Percival Puggina

15/06/2015

 

 A gritaria da deputada Maria do Rosário, que pode ser assistida neste vídeo, impõe alguns comentários. Os adjetivos selecionados pela oradora visam a criar uma dicotomia, onde a perversidade está nos deputados favoráveis à redução da maioridade penal e a bondade nas "organizações sociais" que a ela se opõem. De onde saiu a ideia de que a defesa da sociedade, mediante a privação da liberdade dos criminosos, é um ato mau? A deputada acusa a comissão, também, de estar assumindo uma ideologia de classe que é, por definição, a ideologia dela mesma, como petista e ex-PCdoB. Por isso, fala como se a redução da maioridade penal visasse seleção por classe social. Foi Sua Excelência e não a comissão ou o projeto que quis pautar o assunto como conflito de classe.

 Tomada pela ira, sem pedir licença ao bom senso, afirma que "eles estão tentando aqui é colocar na prisão não os que matam, não os que cometem crimes bárbaros". Enorme esforço retórico para sair da sinuca de um discurso sem pé nem cabeça. Em sua exaltação cotidiana, sempre preocupada com os criminosos e desinteressada de suas vítimas, afirma, também, que o Código Penal não resolve o problema da criminalidade. Mas o Código Penal, deputada, não existe para isso. Ele existe para punir culpados, para reduzir a sedução da vida criminosa e para que o condenado, no dizer deles mesmos, "pague sua conta com a sociedade". O que a senhora deseja, a retificação da vida do criminoso, é uma das tarefa do sistema penitenciário e não do Código Penal. Aliás, para que o sistema (bem preparado para isso) faça o que a senhora pretende é necessário, primeiro, que o bandido seja preso. Precisarei desenhar?

 "Cinquenta mil presos a mais" não reduziram a insegurança social? E graças a qual estranho para-efeito isso virou motivo para que se desista de prender bandidos? Entende-se, assim, o motivo pelo qual o governo da deputada jogou a sociedade no atual nível de insegurança, sem vagas nos presídios, sem controle de fronteiras, desarmando os cidadãos de bem e se opondo à redução da maioridade penal, numa sequência de condutas que ofendem o bom senso. Quantos marmanjos de 16 anos merecem, de fato, ser tratados como inimputáveis, irresponsáveis e incapazes? A legislação penal já prevê a inimputabilidade dos que o forem, independentemente da idade! Chega a ser desrespeitoso tratar um marmanjo de 16 anos como se fosse criança, e criança pequena mal educada, incapaz de distinguir o certo do errado. A distorção da atual legislação está, visivelmente, ampliando aquilo que pretende evitar e desprotegendo aqueles que pretende resguardar. Por isso aumenta a criminalidade entre os jovens. E, não por acaso, são eles mesmos, as primeiras e principais vítimas da regra cega que a deputada se esforça em preservar.
  

Percival Puggina

13/06/2015

Atendendo solicitação de leitores, republico aqui um artigo que postei em outubro de 2014. Sugerem os leitores que o texto permaneça aberto a receber novas sugestões para posterior inclusão, ampliando a lista. Aguardarei as sugestões. Este site, assim como minhas páginas no Facebook são frequentados por pessoas de alto nível e boa educação, de modo que quaisquer agressões e grosserias serão eliminadas. Com pequenas correções e adaptações ao momento atual, o texto era como segue.

Lembro, inicialmente, que o PT foi fundado em 1980 e atuou na oposição nacional durante 22 anos, até alcançar o poder com Lula, em 2003. Durante esse período, quem houver observado atentamente os fatos políticos, terá percebido que o PT atrapalhou sucessivos governos. Só para recordar:
1. votou contra a Constituição Federal;
2. foi contra o Plano Real;
3. criou organizações para promover a luta de classes, conflitos raciais, conflitos de gênero, invasões de terra, violência sindical;
4. foi contra todas as privatizações;
5. foi contra a lei de responsabilidade fiscal;
6. foi contra o cumprimento de nossas obrigações com credores externos;
7. foi contra a geração de superávit fiscal;
8. foi contra o agronegócio e a agricultura empresarial que o PT queria (e ainda quer) substituir por assentamentos do MST;
9. foi um partido golpista, tentando derrubar quem se antepusesse a seu projeto de poder;
10. se é verdade que apontou à nação alguns corruptos, firmando um conceito de partido diferente, formado por gente de bem, gente honesta, também é verdade que assassinou reputações, e, quando chegou ao poder, juntou-se aos maiores canalhas da República.

VEJAMOS, AGORA, COMO SÃO AS COISAS COM O PT NO GOVERNO

11. O PT, no governo, mostrou ser um partido capaz. Capaz de qualquer coisa.
12. Há 12 anos, tenta reimplantar a censura através do marco regulatório da imprensa que pretende criar uma arbitragem sobre conteúdos;
13. através da criação do Conselho Federal de Jornalismo para punir jornalistas considerados incômodos;
14. através do PNDH-3;
15. através do marco civil da internet, que inicia censura virtual;
16. através do PLC 122 (da "homofobia") e seus disparates;
17. através da imposição do "politicamente correto" e da novilíngua e das confabulações do Foro de São Paulo.
18. Dá apoio e refúgio a terroristas (Cesar Battisti é apenas um dos casos).
19. Captura e devolução a Fidel os boxeadores cubanos.
20. Apoia politicamente e financia os governos comunistas de Cuba, Venezuela e demais países do Foro de São Paulo;
21. Faz o mesmo, incondicionalmente, com qualquer governo ou movimento adversário do Ocidente.
22. Seus legisladores municipais se dedicam a homenagear com líderes comunistas e guerrilheiros com nomes de ruas.
23. Criou um memorial para Luiz Carlos Prestes em Porto Alegre.
24. Concede apoio explícito a companheiros condenados pela justiça por graves crimes.
25. Revela verdadeira fobia pela construção de presídios e órgãos de segurança, resultando em gravíssima insegurança social.
26. Manifesta incondicional dedicação aos direitos humanos dos bandidos e total desconsideração pelos direitos das vítimas.
27. Empenha-se em inibir a ação armada das instituições policiais;
28. Dedica-se à causa do desarmamento dos cidadãos.
29. Rejeita a redução da maioridade penal.
30. Criou o MST o movimentos sociais semelhantes apoiando suas truculentas invasões às propriedades públicas e privadas.
31. Empenhou-se intensamente em ampliar as restrições ao direito de propriedade através do Código Florestal.
32. Apoia a expansão das reservas indígenas sobre áreas de lavoura.
33. Pretende retirar símbolos religiosos dos locais públicos;
34. Dedica-se a destruir os valores morais e familiares "conservadores" nas escolas e nos materiais didáticos.
35. Inventou a "Lei da palmada".
36. Apoia a legalização do aborto;
37. Dedica-se a implantação das políticas de gênero e à respectiva ideologia.
38. Concebeu kit gay e pretendia distribuí-los nas escolas;
39. Apoia e/ou financia com recursos públicos a parada gay;
40. a marcha das vadias e
41. a marcha pela maconha.
42. Criou as cotas raciais que reintroduzem no país a discriminação racial.
43. Faz uso intenso do material didático, especialmente de livros didáticos para doutrinação ideológica.
44. Criou com Fidel Castro o “Foro de São Paulo” onde ditadores e simpatizantes entram em conluio para produzir a hegemonia marxista na América Latina.
45. Tentou acabar com a lei de anistia e manipula a História para transformar guerrilheiros e terroristas comunistas em paladinos da democracia.
46. Promove gigantesco aparelhamento da administração pública, dos órgãos de Estado e dos tribunais superiores pelos partidos do governo.
47. Criou uma infinidade de ONGs, financiadas pelo governo, para servir a seus objetivos políticos com dinheiro da nação.
48. Fez do programa Bolsa Família um instrumento de dominação política das classes sociais mais desprotegidas, cristalizando nelas uma situação de dependência do governo.
49. Faz uso sistemático da mentira como forma de comunicação com a sociedade.
50. Corrompeu o Congresso Nacional com o mensalão.
51. Perdoa dívidas de ditadores africanos e tiranetes sul-americanos para favorecer contratação de obras suspeitíssimas, financiadas com recursos do BNDES enquanto cobra, centavo por centavo, as dívidas dos estados e municípios brasileiros.
52. No caso do porto cubano de Mariel, o PT investiu ali nos últimos anos dez vezes mais do que nos portos brasileiros.
53. Usa o programa mais médicos para financiar a ditadura cubana.
54. Tentou implantar o decreto 8423 que instituiria os conselhos bolivarianos no Brasil, em afronta à Constituição e ao Congresso Nacional.
55. Toma decisões irresponsáveis, como as campanhas para atrair a Copa de 2014, os jogos Olímpicos de 2016.
56. A gestão pública é um desastre que se expressa em irresponsabilidade fiscal, corrupção e ausência de prioridades.
57. Seus 40 ministérios viraram fatias de um bolo para a festa dos governantes onde cada ministro faz a própria política e serve aos interesses de seu partido.
58. Leva o "pragmatismo" ao nível do mais puro cinismo, como aconteceu foi abraçar-se com Paulo Maluf no exato momento em que isso foi conveniente à eleição de Haddad à prefeitura de São Paulo.
59. Como se viu no início desta exposição, o PT, na oposição, é um partido que não deixa governar.
60. E como se viu agora, o PT é um partido que não sabe governar.

Você pode estar se perguntando: Mas não existe gente boa no PT? Claro que há. Mas o problema está no partido. O partido dessa pessoa boa é um partido que faz mal ao Brasil e deve ser mantido longe do poder e a quilômetros de distância dos cargos públicos.
 

Percival Puggina

11/06/2015

Quando tudo vai bem, o que a gente menos quer falar é em mudança. Deixa como está! Não mexe!

Estou falando dos membros das instituições. Dos órgãos do Estado, do governo, do parlamento, da justiça. Para esse específico e decisivo conjunto de pessoas, de autoridades, tudo está muito bem. Não têm do que se queixar. Os vencimentos são bons, os subsídios idem, prerrogativas e privilégios também, o modelo lhes garantiu acesso aos postos que ocupam, as regras do jogo lhes foram convenientes. Em grande parte, conquistaram suas posições com méritos intelectuais nos postos ocupados por concurso, e por méritos políticos nos postos eletivos ou de indicação. Tudo está no seu lugar e todos estão onde querem. Deixa tudo como está!

Esse tem sido um clássico entre os problemas brasileiros. Muda-se apenas o mínimo necessário para que nada mude, como já disse alguém. Estamos em meio a uma crise cujos promotores são conhecidos e sobre cujas causas ninguém tem dúvidas. Tudo vai mal para quase todos. Mas tudo vai bem para quem decide sobre quaisquer mudanças e sobre os rumos a serem dados ao país. Provavelmente, os "honorable gentlemen", como diria Churchill a eles se referindo, ouviram dizer que a sociedade se inquieta. Escutaram panelaços. Souberam que o povo saiu às ruas. Perceberam que a eleição e a apuração dos votos de outubro de 2014 transcorreram numa caixa preta. Têm consciência de que quem venceu mentiu mais que o capeta e alcançou seus fins pelos piores meios. Não desconhecem que há um escândalo em cada esquina. Acham o juiz Sérgio Moro um chato de galocha. Mas a experiência lhes ensinou que o melhor remédio, para quem não quer marola, vem com um dia depois do outro.

Eis aí o motivo pelo qual nada está acontecendo, embora todos esperem que algo aconteça. Por mais que as circunstâncias favoreçam seu trabalho, nem mesmo a dita oposição se atreve a cumprir seu papel. No Congresso Nacional, ela, a oposição, é a turma do "deixa disso!". Quando o clima esquenta, os caciques botam fogo. No cachimbo da paz, quero dizer. E trocam apaziguadoras baforadas. Os "honorable gentlemen" vão muito bem, obrigado, e nada têm a reclamar. As eventuais dificuldades pessoais se decidem com alguma leizinha privada, em benefício próprio, de comum acordo, porque nada é mais sagrado do que o bem estar e o estar bem nas instituições da República.

A conivência e a conveniência, vêm sustentando a hegemonia de um projeto de poder que já não esconde a que veio. Quem acha que nada deve mudar, em breve verá tudo mudado. Saiba, portanto, o leitor: em tais condições, nada serve melhor à ruína do país que a modorra institucional, que o conformismo dos tíbios e o silêncio dos omissos. Espero que o Congresso do PT desperte as instituições para seus compromisso com o bem do país, que não pode ser boi de canga para um projeto totalitário de poder.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar.