Percival Puggina
17/04/2015Você está preocupado com a indicação do advogado e professor Luiz Edson Fachin para o STF? Provavelmente sim, afinal é mais um nome cuja vida está ligada ao Partido dos Trabalhadores e às suas extensões no MST e na CUT. Nada mais é necessário ser dito para se conhecer inclinações, gratidões e reconhecimentos do novo ministro.
Seu futuro colega e também petista Luís Roberto Barroso, durante a sabatina simbólica a que o Senado submete os indicados para a Corte, afirmou que o julgamento do Mensalão fora "um ponto fora da curva". Tão logo sentou-se entre seus pares, cuidou de dar votos necessários para que o julgamento caísse dentro curva. Graças a isso, os réus que agiram na esfera política já estão, todos, desfrutando dos ares da liberdade. Agora, se desenha no Supremo uma nova curva, com outros pontos, que passam por ele, Barroso, pelo novato Fachin, e mais os veteranos Lewandowski, Toffoli, Teori e Weber.
Em breve você verá que tudo que é sólido e encardido se desmancha no ar das dúvidas sem sequer deixar marcas na toalha branca das formalidades. Pergunto: o ministro Toffoli não manifestou "interesse" (foi a palavra usada por ele) em integrar a 2ª Turma, ou seja, o grupo de ministros. Interessante Sua Excelência.
Mas não creia, leitor, que o dito acima seja o mais alarmante no horizonte do STF. Nossos constituintes de 1988, ao definirem o modo de provimento das vagas naquela corte, não imaginavam o que estava por vir, ou seja, a ascensão ao poder de um partido com o perfil do PT, que chegou para ficar, sem planos para sair, e disposto a se tornar permanentemente hegemônico. Numa situação realmente democrática, com rodízio dos partidos no poder, com eleições limpas e confiáveis, sem compra explícita de votos pelo governo, os membros do STF seriam, teoricamente, indicados por presidentes da República de distintas tendências, estabelecendo-se, assim, um justo pluralismo na composição do poder.
Na situação atual, caso a presidente venha, para desgraça nacional, cumprir todo o presente mandato, ela indicará mais quatro ministros para nossa Suprema Corte. Já há muito advogado petista, por aí, colhendo apoio entre a companheirada. As consequências dessa distorção excedem, em muito, a mais óbvia: os réus da Lava Jato serão julgados, dentro de alguns anos, por um grupo de amigos, parceiros de ideais, compreensivos à necessidade de que os meios sirvam aos "elevados fins" da causa petista e aos sagrados ideais de hegemonia do Foro de São Paulo. Não, o mal se prolonga muito além de uma mera ação penal. Sua repercussão é bem mais ampla.
Suponha, leitor, que, como é meu desejo, em 2018, na mais remota das hipóteses, o Brasil tome juízo e eleja um governo e um parlamento de maioria liberal e/ou conservadora. Esse governo e esse Congresso serão eficazmente confrontados, não pela oposição política parlamentar minoritária, mas pela unanimidade do STF, transformado em corte judicial petista! Um Supremo 100% assim, valendo-se da elasticidade com que já vêm sendo interpretados os princípios constitucionais, poderá esterilizar toda e qualquer iniciativa governamental ou legislativa que desagrade ideologicamente os companheiros instalados nas suas 11 cadeiras. Que necessidade tem de assentos no parlamento, para fazer oposição, quem compôs, dentro de casa, como que em reunião de diretório, um STF a que pode chamar de seu?
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
15/04/2015Parece que nos habituamos a esse tipo de abuso. Nós, brasileiros, não éramos assim, inquilinos discretos de uma casa de tolerância, que não se envolvem com o que se passa nos salões.
Gradualmente, porém, graças ao trabalho que já leva uma década do movimento Escola sem Partido, o país começa a perceber que nossas salas de aula se converteram em espaço privilegiado para "fazer a cabeça" dos alunos pelos moldes da cabeça dos professores. Qualquer estudo cuidadoso dos livros didáticos, qualquer conversa de cinco minutos com aluno de qualquer escola, permite perceber o problema e ouvir relato desses abusos praticados por centenas de milhares de professores, país afora. É um escândalo nacional que já leva mais de 40 anos! E não distingue escola pública de escola privada.
O professor é a autoridade no seu pedaço. Presumivelmente sabe das coisas. Ele é maior, mais idoso, olha os alunos de cima, aplica provas, dá notas e decide sobre quem será aprovado ou reprovado. Partindo desse poder, muitos, muitíssimos, multidões deles, se veem no direito de invadir os cérebros infantis e juvenis com uma das mais perversas ideologias concebidas pela mente humana. Passam a trabalhar como a aranha que capturou suas presas numa teia, envolvendo-as com a baba de uma conversa fiada cujo principal efeito é paralisar neurônios. Quantas crianças ou adolescentes brasileiros chegam às escolas trazendo na mochila explicações marxistas sobre história, economia e sociedade? Nenhuma!
Tais conteúdos, porém, lhes são solertemente ministrados nos livros didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação e reproduzidos por uma legião de militantes, abusadores, pedófilos da política, que se aproveitam da própria autoridade, muitas vezes para ridicularizar (eles dizem "problematizar") conceitos que as crianças e jovens aprenderam no espaço legítimo da própria família. Essa praga não distingue escolas públicas e privadas. As mais fracassadas utopias, as mais equivocadas explicações dos fenômenos sociais e os mais mal sucedidos métodos pedagógicos são vendidos como emanações do cume do saber (ou como calda de chocolate no sorvete do conhecimento).
Lá em Santana do Livramento, quando criança, a gente chamava "provalecido", ou, corretamente, prevalecido, o sujeito grandalhão que se valia do tamanho para maltratar os menores. Os alunos mutilados intelectualmente por esses abusadores, tornam-se, depois, com suas muito prováveis frustrações, presas fáceis de partidos que, na vida política, explicam sua situação com o discurso que aprenderam em sala de aula. Pois essa multidão de "provalecidos" intelectuais, de pedófilos da política, de abusadores, estão com dias contados. Vem aí, como produto do meritório trabalho do movimento Escola sem Partido, uma lei para proibi-los de fazer o que fazem. Pode ser que superado esse obstáculo, que vem formando multidões de analfabetos funcionais, tolhidos, dentro das salas de aula, em sua capacidade de promover a auto-realização, o Brasil acerte passo com o progresso social.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
13/04/2015Domingo, quando entrei no carro, no final da passeata, chorei convulsivamente, como há muito tempo não fazia. Sim, eu estava sensibilizado pelas muitas e generosas manifestações de carinho que recebi ao longo da tarde, traduzidas em gestos, abraços e fotos com amigos. Mas, principalmente, chorei de felicidade por ver, pela segunda vez, em menos de trinta dias, o meu Brasil diferente. Vi o meu país como sempre quis que ele fosse. Democrático, alegre, mas intransigente com a criminalidade instalada no poder. Antes aos meus 70 anos do que nunca!
Agora, já posso dizer que vi. Vi nossa gente clamando por um país decente. Vi, Brasil afora, milhões saírem de casa para dizer basta! Chega! Já foram longe de mais! Ponham-se no olho da rua, malfeitores!
Os que se acreditavam senhores da Nação, jamais conseguiram mobilizações semelhantes, mesmo que a peso de ouro, mesmo contratando celebridades e promovendo shows, pagando diária, transporte e alimentação.
Por duas vezes, neste mesmo período, tentaram se contrapor e não tiveram eco. Pagaram mico, deram vexame. É difícil reunir fiéis à infidelidade.
O Brasil está atravessando o mar vermelho. O PT está acossado, o petismo acuado pelos próprios pecados, pelos próprios fantasmas.
O PT fez o diabo? Ou foi o diabo que fez o PT?
O que sim sei, e com isso respondo uma pergunta que circulava entre os manifestantes de domingo: essa casa vai cair? Vai, pela irresistível força da gravidade, quando as estruturas de sustentação entram em colapso. E a base do governo está em franca decomposição.
Esse governo não tem como chegar ao fim. Além disso, que Constituição seria essa nossa se servisse para proteger uma quadrilha no poder e não para proteger o povo dessa quadrilha?
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
10/04/2015
“Quando mentimos para o governo, é um crime. Quando o governo nos mente... é constitucional?” Harvey Gilmore
A presidente Dilma, que alguns ainda defendem como “a proba”, fez todo o circuito da improbidade. Partilhou seu governo entre pessoas cuja reputação não deixava dúvida sobre a que vinham. Fez da mentira estratégia a ser cumprida rigorosamente. Nunca tivemos o país sob uma chefia tão dedicada à refinada arte de mentir. Ela continua mentindo, contra todas as evidências, em cadeia nacional. Mentiu sobre o próprio passado, mente sobre o presente e, agora, mente sobre o futuro. No circuito da improbidade não teve o menor constrangimento em causar dano irreparável à Petrobras e ao setor elétrico para desfilar ante as câmaras dos seus publicitários como a presidente que barateou o custo de vida e conteve a inflação. Mente quando atribui a desgraceira em que jogou a economia nacional a uma circunstância externa (a culpa é sempre dos outros), ou seja, a uma suposta crise internacional que só ela e seus diletos parceiros da Argentina, Venezuela e Cuba experimentam. Mentiu sempre, sem o menor constrangimento para assassinar a reputação de seus adversários imputando-lhes a intenção de adotar medidas impopulares que ela mesma está pondo em prática.
Os governos petistas são exemplo clássico, para constar em livros didáticos, de governos ímprobos. É patético o esforço da mídia amiga em defender a pessoa da presidente. Sustentam a sacralidade de um mandato que ela mesma não respeita. Não o respeita quando mente e quando anuncia que a gente faz o diabo em época de eleição. Se ela não o respeita, por que o respeitaríamos nós?
A estas alturas do segundo mandato, obtido nas trevas de uma inédita apuração secreta de votos (secreto é o voto, jamais sua apuração) nem mesmo os companheiros da presidente, nem mesmo os partidos da base, conseguem arregimentar forças em seu benefício. As extensões petistas nos ditos movimentos sociais perderam prumo e rumo. Já sabem em quem não confiam. Quando os institutos de pesquisa procuram conhecer os motivos do precipício pelo qual despencou o prestígio pessoal e a aprovação do governo Dilma ali estão, bem nítidas, as marcas da perda de credibilidade. Somos prisioneiros desse governo? Cativos por determinação constitucional? Quatro anos disso é pena superior à efetivamente cumprida por todos os políticos réus do mensalão.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
08/04/2015Assumo o ônus da afirmação. Vivemos sob a primazia da burrice. Considero-me diante de inegável sinal de burrice, tão perceptível, tão audível quanto um zurro, quando a mais simples sugestão da racionalidade sobre contas públicas ou definição de funções do Estado é recusada assim: "Essa é a lógica neoliberal!". Não importa se o autor da expressão se julga tão sábio quanto Nicolas Maduro ou tão cartesiano quanto Lula ou Dilma. A expressão é tola. Ideias se enfrentam com ideias e não com adjetivos. As coisas se complicam ainda mais para todos quando quem se vale de adjetivos para afastar a racionalidade do debate político ocupa relevante função de Estado.
O resultado disso é uma conta devedora, com efeitos tão devastadores sobre a nação quanto o provocado por um rombo de caixa na vida familiar de qualquer cidadão. Habitualmente, governos gastam mal e gastam mais do que arrecadam. Eis por que todo ano - quase ninguém sabe disso - 42 % do nosso dinheiro em mãos do governo vai para o pagamento de compromissos da dívida pública, formada pelo excessivo gasto ao longo dos anos!
Como parte dessa tragédia, quando as pessoas dela tomam conhecimento, em vez de mudarem de atitude em relação ao Estado seus usos e costumes, seus abusos e maus costumes, imediatamente começam a falar em calote, em não pagar a conta, em não nos sujeitarmos aos sanguessugas do sistema financeiro, à lógica neoliberal, aos interesses do grande capital e por aí afora (até parece que estou lendo algum documento da CNBB não é mesmo?).
Primeiro, assistimos o desperdício dos impostos que pagamos em cada caderno escolar que compramos para nossos filhos. Depois, aceitamos, inertes, as regalias, os abusos, os privilégios auto-concedidos, ou arrancados sob pressão das galerias nos parlamentos. Em seguida, convivemos com a ideia de que há, em tudo que é "estatal", um poço sem fundo, aberto à generosidade e ao interesse público. Logo, colocamos o "privado" sob suspeita do mais perverso egoísmo, avesso à conveniência social. Por fim, assumimos como elevada exigência moral que o sistema financeiro banque eternamente a gastança do governo. E o faça a fundo perdido.
Perdidos ficamos, mesmo, quando a burrice começa a influenciar as opiniões desde as salas de aula do ensino fundamental, com explicações ideologizadas sobre os acontecimentos de cada dia. Ao fim e ao cabo, a burrice acaba sendo a forma de pensar e de governar a nação. Ou, então, o burro sou eu e o Brasil vai muito bem, obrigado.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
06/04/2015Provavelmente você já observou o mesmo que eu. Ao longo dos anos, identificou a posição política dos formadores de opinião atuantes nos veículos a que acessa. Você reconhece, acima de qualquer dúvida, aqueles que emprestaram sua capacidade de influência para ajudar na construção da hegemonia petista. Você pode não saber o clube de futebol pelo qual cada um torce, mas percebe a que projeto político servem.
Da mesma forma você deve estar percebendo mudanças. De repente, jornalistas que sempre ajudaram o PT com os quatro pés passam a criticar o partido, a apontar nele, como se fossem deformações recentes, defeitos congênitos de conduta moral e posição política que o acompanham desde sua fundação em 1980.
Essas figuras me trazem à lembrança o falecido escritor José Saramago. Comunista, apoiou todas as violências, todas as execuções e todas as formas de repressão impostas pelo regime cubano sobre o povo da ilha entre 1959 e 2003. Nesse ano, após a execução dos três jovens negros que sequestraram uma embarcação e tentaram fugir para a Flórida, o velho rompeu com ele em um artigo publicado no jornal espanhol "El País" com o título "Hasta aquí he llegado". Ou seja, Saramago assistiu passivamente 27 mil mortes, mas 27003 eram demais para seu humanismo e para seus princípios.
Os jornalistas a que me refiro reproduzem essa hipocrisia. Os governos petistas nunca foram diferentes. Seus principais líderes nacionais sempre usaram o Estado em benefício próprio. Nunca tiveram líderes melhores. Nunca andaram em boas companhias. Nunca foram amantes da verdade. Nunca deram aos fatos importância maior do que às versões. Nunca admitiram os próprios erros. A "causa" sempre foi o critério determinante para a justificação de meios escusos. Por isso, processados, condenados e presos, seus líderes viraram, ato contínuo, guerreiros heróis do povo brasileiro.
Enfim, esses jornalistas estiveram com o PT até o dia 26 de outubro de 2014. Mas no dia 27 a casa caiu. Caiu? Eu os assisto agora, eu os leio agora, eu os ouço agora, batendo em cachorro morto. Mudaram de lado? Não! Fazem o mais fácil. Enquanto criticam o PT, escrutinam os milhões de manifestantes segundo suas classes sociais e "raças", identificam-nos como conservadores, como direitistas, como golpistas. Embora os cidadãos das ruas e dos panelaços digam as mesmas coisas sobre o governo, não merecem palavras de estímulo à oposição que fazem. Afinal, isso beneficiaria a intolerável direita, não é mesmo? Continuarão, portanto, disseminando o mal por outros meios. Estão, simplesmente, trocando de montaria. Prefiro os irredutíveis porque são bem identificáveis.
Percival Puggina
05/04/2015
O evangelista Lucas, em 22,8-13, relata a forma como foi preparada a ceia pascal que antecedeu a Paixão. Pedro e João foram incumbidos por Jesus das providências necessárias e perguntaram-Lhe onde ela deveria acontecer. A resposta foi assim: "Logo que entrardes na cidade, encontrareis um homem levando uma bilha d'água. Segui-o até a casa onde ele entrar. Direis ao dono da casa: O Mestre te pergunta: onde comerei a Páscoa com meus discípulos? E ele vos mostrará no andar superior uma grande sala provida de almofadas. Preparai ali".
Não é instigante? Quem era aquele personagem que entra visto de costas na história da humanidade? Personagem anônimo estava, na hora certa, no lugar certo, cumprindo sua missão. Usando uma expressão que ganhou popularidade nestes dias, aquele homem me representa. Nos representa. Como ele, temos que palmilhar o caminho para a casa do Pai, e devemos fazê-lo de tal modo que outros, livremente nos sigam.
O homem com a bilha d’água, de certo modo e do modo certo, serviu a Cristo como a Igreja O deve servir, sem perguntar qual seria seu lugar na mesa, sem posar para a fotografia. O que teve lugar dentro daquela casa, transformada no mais importante templo material da história humana, seria mais do que suficiente para produzir no evangelista uma identificação mais precisa. Mas não. Não é assim que as coisas acontecem na história da Salvação.
Também os sacerdotes comparecem ao altar da Santa Ceia como o homem da bilha d’água. Orientadores do povo Deus, abrem as portas da grande sala e a confiam ao Mestre para que opere, ali, o imenso dom da Eucaristia, “como aquele que serve”. Na eternidade, assim como no tempo humano - eis que sempre, em algum lugar, ela está sendo celebrada, a Eucaristia faz permanente a Aliança e o sacrifício da Cruz. Feliz Páscoa!
Percival Puggina
04/04/2015
Acusam-me de ser:
• racista, porque sou branco;
• fascista, porque não voto no PT, no PCdoB nem no PSOL;
• homofóbico, por ser heterossexual;
• traidor da causa operária, por dizer que a CUT é um antro de petistas;
• machista, por ser contra o aborto;
• fundamentalista, por sustentar que estado laico não é o mesmo que estado ateu;
• falso católico, por mostrar os desvios políticos e pastorais da CNBB;
• reacionário, por divulgar os insucessos das experiências totalitárias;
• saudosista do DOI-CODI, por querer segurança pública e bandidos na cadeia;
• antissocial, por valorizar o mérito e ser contra cotas raciais, sociais e sexuais;
• prepotente, por apreciar a disciplina e querer a ordem;
• idiota, por afirmar que nas economias livres as sociedades são mais prósperas do que nas economias estatizadas;
• vendilhão da pátria, afirmar que o Estado não deve fazer o que a iniciativa privada também possa;
• golpista, por querer o impeachment da presidente Dilma;
• inimigo dos pobres, por ser contra o governo petista;
• criminalizador dos movimentos sociais, por apontar os crimes que cometem;
• neoliberal, por afirmar que pagamos impostos excessivos a um Estado larápio, grande demais e incompetente demais;
• ultra-direitista, por sustentar que o Foro de São Paulo é uma organização comunista, hoje mantida pelo governo do PT, com planos de poder para toda a Íbero-América.
Juro minha inocência perante todas as acusações. Penso que, bem ao contrário, elas provam a má índole dos meus acusadores.
(Em "prisão domiciliar", sem tornozeleiras, recuperando-me de pequena cirurgia, aproveitei o tempo para adaptar à minha experiência pessoal um texto que, segundo li, teria sido escrito, originalmente, em francês).
Percival Puggina
03/04/2015Quem poderia imaginar, há uns poucos anos, algo semelhante ao que está acontecendo no Brasil? Quem poderia antever tanta efervescência política fora dos parlamentos? Quem poderia conceber tantos Davis nas ruas, renegando o que os Golias proclamavam? Pergunto: não parecia irresistível a marcha para a construção de um Brasil socialista, economicamente próspero, socialmente justo, moralmente repaginado e irresistivelmente petista? Seus apoios eram gigantescos na mídia, na esmagadora maioria parlamentar, na CNBB, no movimento sindical. Contavam com a dedicada militância de artistas, celebridades, intelectuais. Funcionava para eles o conjunto das instituições de ensino. De catedráticos a alfabetizadores, quase todos trabalhavam pela mesma causa. Quem poderia imaginar, então, o que está acontecendo?
Mérito, muito mérito para os poucos que, com o poder da palavra e a força das ideias propagadas nas redes sociais, perceberam onde se travaria o confronto decisivo. E partiram para o confronto no campo da cultura. Nesse terreno, deu a lógica. Quem era Davi virou Golias. E quem era Golias virou Davi. Quero homenagear a esses bravos intelectuais da contra-corrente na pessoa do Olavo de Carvalho que de modo sistemático, desde seu retiro na Virgínia, ensinou e ensina milhares de jovens a pensar, qualificando líderes para o enfrentamento que agora se trava diante de nossos olhos. Os Golias de ontem, acuados pelos espectros das próprias mentiras, mistificações, bazófias e degradação moral, vivem um pesadelo antes mesmo de que a noite sobre eles caia.
Eu creio em Deus. E sei que é tempo de Pessach, de Páscoa. Nada melhor, para quem tem dedicações cívicas, do que fazer destes dias tão especiais do ano litúrgico tempo de oração pelo bem do Brasil. Feliz Páscoa! É tempo de libertação, Brasil!
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.