• Percival Puggina
  • 09/02/2016
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LULA E A LANTERNA DE DIÓGENES

A lista dos que chegaram a Brasília de ônibus e passaram aos jatinhos tem o tamanho do cordão dos puxa-sacos. Quem ainda é pobre nesse governo?

O PT seguiu, mais no instinto do que no texto, o script dos países comunistas, cujos dirigentes ocupavam os pavimentos privilegiados de um curioso edifício social em que os indigentes subsolos eram para o povão e as coberturas para a elite. Postão para a turba, Sírio Libanês para a nomenklatura. É isso que torna as revoluções sociais e o comunismo tão atraentes a certos indivíduos. Ninguém - ninguém mesmo! - milita em revolução para continuar trabalhando no chão da fábrica, se me faço entender. No mínimo, o sujeito mira a cadeira do diretor. Nesse esquema, não é o proletariado que sobe. O proletariado serve apenas para catapultar os revolucionários e sua visão generosa de mundo às cobiçadas coberturas, não é assim Lula?

Aliás, quando nosso ex-presidente diz que não tem pecado e risca o chão ao lado dos homens mais virtuosos do Brasil, está expressando o que, de fato, pensa de si mesmo. Os critérios morais segundo os quais nós o julgamos nada significam para quem se olha no espelho com incomparável orgulho do que conseguiu ser. Daí a angustiante inconformidade ante as nuvens carregadas que descem sobre seu destino. Lula sempre se sentiu credor do direito de ser patrocinado. Desde que engavetou sua Carteira do Trabalho, sempre houve alguém que lhe pagasse as contas, fosse como líder sindical, dirigente político, congressista, presidente do partido, presidente ou ex-presidente da República.

Hoje, enquanto um frio lhe corre pela espinha a cada imagem do japonês da Federal, ele deve estar lembrando de outro japonês do PT, amigo das horas certas e incertas, o compadre Okamoto, que passou parte da vida cuidando de suas despesas.

Esse hábito de não responder pelos próprios gastos deforma o caráter. Dispensa um treinamento pelo qual quase todos passamos, a partir da primeira mesada que nos toca administrar. Lula, se um dia aprendeu, a marcha para o poder o levou a desaprender. Há muitos anos instalou-se, para ficar, na rubrica dos custos de manutenção do PT.

Diante desse perfil psicológico, se entende o esforço do Instituto Lula, seus advogados e porta-vozes do petismo em afirmar que o triplex de Guarujá e o sítio de Atibaia não estão registrados em nome de Lula. E daí? Sob o ponto de vista moral, sob uma lanterna como a de Diógenes, pouca diferença há entre ser dono dos frutos ou dos usufrutos. Ser proprietário dos bens ou deles se servir como se fossem seus. Principalmente quando favores de tais proporções provêm de empresas que mantêm negócios vultosos e criminosos com o governo de seu partido. Recusar insolentemente a gravidade disso dá causa a muitos dos escândalos que chegam ao conhecimento público.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

 


Áureo Ramos de Souza -   14/02/2016 23:20:20

Podem dizer que não, mais o Lula tornou-se uma força política por causa dos favorecimentos feito as empreiteiras que por sua parte dava o troco com propinas e eu sempre disse que futucando o Lula apareceria na lista e o futucado meu esta dando certo. Quanto as caixas de bebidas que foram para o sítio foi para o Lula encher a cara e no outro dia não se lembrar de nda se o que sempre acontece com ele.

Odilon Rocha -   10/02/2016 18:06:13

Caro Professor O senhor sabe melhor do que nós, um projeto de poder não se faz da noite para o dia. Planejar ficar 30 anos ou mais de donos da casa, o que é tempo de sobra para implementar novas ideias , novos comportamentos , não é coisa de matuto. E contou com amigos da pesada, além de simpatizantes . Os caras não esperavam por uma Lava-Jato que está, aí sim, lambuzando o projeto deles. Que bom! Por isso os gemidos e gritarias de tudo quanto é jeito. Eu sempre desconfiei que na maioria dos casos só querem é se dar bem, trocando ressentimento e inveja por tutu. E do grosso! Para finalizar, tem gente (nem no assunto maconha fala mais) que insiste em escrever artigos tentando se mostrar isento disso tudo. Não me convence.

Joao Moreira -   10/02/2016 17:40:49

Gostei da maneira que escreve quanto a conduta moral do patriarca PTista, o Sr. Lula , esse que não aprendeu a diferença entre o patrimônio público ou privado, tudo pode quando se está no poder.

Ismael de Oliveira Façanha -   09/02/2016 23:21:04

Diógenes, o filósofo grego da escola Cínica, século IV a.C., certamente não iria garimpar algum varão honesto entre nossos políticos, ou não seria Cínico nem filósofo, seria um otário ou um lunático.

Genaro Faria -   09/02/2016 22:02:31

Quem nos dera, prezado Puggina, fôssemos tão fiéis a Cristo quanto os muçulmanos o são aos ensinamentos do Profeta. Ou os comunistas, ao seu guru materialista que, como Lula e luminares do PT e satélites que gravitam variações do mesmo tema. Como é sabido e consabido, Karl Marx sempre viveu nas costas de amigos, como Friedrich Engels e Robert Owen. Todos eles detestam trabalhar e têm alergia por estudo. Mas adoram o capital... sonante.