Percival Puggina
25/02/2015As duas entidades lançam na manhã desta quarta-feira um Manifesto em Defesa da Democracia. Por que? Porque segundo ambas, a democracia está em perigo devido às "graves dificuldades político-sociais" enfrentadas pelo país. A nota em que divulgam o evento reafirma a importância da ordem constitucional e da normalidade democrática. A saída para a crise passa pelo que denominam uma urgente "Reforma Política Democrática para corrigir tais distorções que ameaçam a democracia e cerceiam a participação efetiva do povo nas decisões importantes para o futuro do país". Sempre que esse pessoal fala em povo, reitero, estão falando apenas de si mesmos.
Blá-blá-blá. O que a CNBB e a OAB pretendem é socorrer o governo petista que meteu pés e mãos no lodaçal da corrupção. Vêm em auxílio de quem levou o país do nanismo diplomático para o nanismo econômico. Propõem-se a ajudar a presidente, a mesma senhora que, falando em tom irônico, como se tivesse descoberto a senha que abre os portões da Papuda, atribuiu os escândalos da Petrobras a supostas omissões de FHC em 1996. Feito! Não é bela e pura, a Brasília oficial, estrelada, togada, prelada ou engravatada? Tudo se passa como se de 2003 a 2015, o governo petista, inspirado no regime de partilha e nos contratos de exploração do pré-sal, não houvesse instituído um regime paralelo de partilha e abonado contratos de exploração dos recursos da empresa entre os partidos da base e seus prepostos.
Nesta quarta-feira, CNBB e OAB procurarão tirar a corrupção dos ombros dos corruptos e jogá-la em quem não pode ser algemado: o modelo político adotado no país. A primeira entidade absolverá os pecados? A segunda fará prova da inexigibilidade de outra conduta? Ou seja, a mensagem resultante é a de que os malfeitos ocorrem pela falta de uma reforma política e em nome da governabilidade (andaram lendo o Luis Nassif). Ora, senhores, sobre isso eu já escrevi tantas vezes! Com uma diferença essencial: ao afirmar que nosso modelo institucional é corrupto e corruptor, ficha suja, eu jamais me vali disso para lavar e enxaguar a ficha individual de quem quer que seja. Uma coisa é uma coisa e outra coisa, etc. e tal.
E tem mais. A CNBB, ao opinar sobre Reforma Política, fala do que não entende nem tem o dever de entender. Mas a OAB tem obrigação de saber que não será alterando as regrinhas sobre financiamento de campanha e mudando o modo de eleição parlamentar que vamos remover os principais vícios de um modelo político que mistura Estado, governo e administração, transformando as funções públicas em capital político, para render juros e correção monetária aos partidos do poder.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
21/02/2015
Fernando Henrique, me desculpe, mas você pediu por isso. Você pediu que Dilma olhe para si mesma, para a decepção e o descrédito a que levou o país, e afirme que a culpa é sua. Que é lá de 1996. Você criou facilidades para que uma pessoa incompetente, incongruente e estabanada como ela o escolha para bode expiatório de seu encalacrado governo. Você, por infinita omissão, permitiu que a imprensa nacional trate algo tão sem cabimento com chamada para o noticiário da noite e foto de capa nos jornais.
Há muitos anos o PT o designou para a função de renegado. Você, Fernando Henrique, atravessou muita avenida de braços dados com Lula. Você era ponta esquerda do "campo democrático e popular". Você integrava a ala do PMDB que desembarcou do governo Sarney porque este estaria muito à direita, para fundar o PSDB como partido de esquerda. Você, Fernando Henrique, nunca se afastou da esquerda como deveria. Ela é que o renegou. E você continuou sorrindo para Lula.
Durante os oito anos em que você governou o Brasil, o PT assassinou sua reputação e você a deixou ficar ali, gelada, numa gaveta de necrotério. Durante oito anos você levou cuidadosamente para casa ofensas que em Santana do Livramento se resolvem com um soco no nariz. Você, Fernando Henrique, se deixou desrespeitar. Você não mexeu um dedo para processar Lula e seus sequazes por injúria, calúnia e difamação nem mesmo quando chegaram ao poder e de nada o acusaram, apesar de terem assumido o comando de todos os órgãos governamentais de investigação, recebido as chaves de todas as gavetas, as senhas de todos os arquivos e tido livre acesso a todos os contratos.
Como resultado, a mídia petralha continuou a fustigá-lo. Você virou uma síndrome do petismo. Ele julga redimir-se de todos os pecados apenas com se afirmar, à exaustão, melhor do que FHC e PSDB. Sou testemunha ocular desse delírio. Em muito microfone já denunciei tal prática como vigarice intelectual. Há mais de uma década, boa parte dos âncoras e entrevistadores da imprensa brasileira cobra pedágio de quem risca o chão demarcando o atoleiro petista. Eu não pago! Mas qualquer um que critique os governos do PT é incitado a fazer o mesmo com os governos tucanos. E se o entrevistado não o faz, o entrevistador assume a tarefa por conta própria. Compromisso com a justiça? Não! Orientação partidária, da empresa de comunicação, ou intimidação causada pelo cotidiano patrulhamento petista em síndrome de triunfalismo, mesmo quando afundado na própria infâmia.
Portanto, Fernando Henrique, quando Dilma destravou a língua para culpá-lo pela sinecura organizada pelo PT e quadrilheiros da base, ela reproduziu o que os estrelados de seu partido se acostumaram a fazer por falta de quem desse um murro na mesa e um basta a esse desrespeito.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
20/02/2015Existem partidos políticos que se especializam em xingamentos. Chutam adversários sem dó nem piedade da canela para cima e da canela para baixo. São indulgentes apenas consigo mesmos. Afagam seus malfeitores e não há culpas que os leve a pedir desculpas. Na maioria, são pequenos partidos radicais, com militantes e dirigentes mal educados, rancorosos, socialmente desajustados. Há, no entanto, um grande partido que corresponde perfeitamente a essa descrição. Com tais métodos, chegou ao poder e governa o país há 12 anos (isso se não contarmos os últimos quatro de FHC durante os quais o PT influenciou fortemente decisões do governo).
Pois bem, observe as pautas petistas, suas reivindicações e as postulações dos grupos sociais que o partido comanda no estalar dos dedos e ao megafone. Examine a essência da ideologia da legenda nos textos que produz, no conteúdo de seus sites e nas resoluções de seus congressos. Procure identificar o rumo perseguido pelas proposições legislativas dos parlamentares do partido. Vejam com que tipo de governos e regimes se relacionam. Siga por essas trilhas e perceberá que o PT mantém com a Igreja Católica (que não se confunde com a CNBB) e com sua doutrina religiosa e moral uma relação de irredutível divergência e animosidade. A distância que separa o petismo da Igreja é intransponível.
No entanto... no entanto..., o Partido dos Trabalhadores e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, há 35 anos, vivem em união estável, garantidora não apenas de direitos, mas de afetos, regalias e privilégios. Todas as pastorais ditas sociais da CNBB trabalham ombro a ombro com o partido, de modo militante e diligente. Ao longo dos anos, quando o PT era oposição, os documentos da Conferência que tratavam de questões políticas e sociais atacavam os governos reproduzindo fielmente o discurso petista. O idioma era e prossegue sendo petista. Estridentes sutilezas que muitas vezes denunciei! Nas reuniões de pastoral a que compareci, regional e nacionalmente nos anos 80, falava-se muito mais de Lula e PT do que de Jesus Cristo e Igreja. Quando o PT chegou ao governo, esse mesmo Lula que os amigos leitores conhecem tão bem quanto eu, era apreciado pelos operadores da CNBB como um anjo do Senhor caído em Garanhuns por descuido dos principados celestes.
Passaram-se 12 anos e as coisas estão como se sabe. A última eleição transcorreu como se viu. A presidente enganou o eleitorado tanto quanto se assistiu. O partido e seus associados afundaram lá onde o olfato acusa. E a CNBB, na obscura alvorada do segundo mandato de Dilma, inicia a Campanha da Fraternidade de 2015 falando em Igreja e Sociedade, com destaque para os temas da corrupção e Reforma Política.
Ótimo, mas, corrupção de quem, senhores bispos? Nem um pio. Corrupção com sujeitos ocultos, em instâncias não sabidas, a sotto voce como diria o maestro Ricardo Muti. Corrupção tão impessoal e neutra quanto a voz passiva. A mesma instituição, primeiro atribuía a corrupção à infidelidade partidária e se empenhou nisso como se fosse a salvação da moralidade pública. Em seguida, mobilizou céus e terras por uma lei da ficha limpa (tremendo sucesso, não?). Agora, sem culpados nem fatos a discernir, e sem credenciais que a qualifiquem para propor temas de Direito Constitucional, Teoria do Estado e Sistemas Eleitorais, joga sobre a falta de uma reforma política a causa essencial das venalidades nacionais. Para extingui-la, põe na mesa uma proposta de reforma política e um oneroso plebiscito que são muito parecidos, mas muito mesmo, com o que o PT tirou da manga em 2013. E, por isso, tem total apoio desse partido.
Resumo da mensagem para o mau entendedor: temos corrupção porque a reforma política, apesar dos esforços petistas, não sai do papel. Assim, os corruptos e suas legendas emergem das barras dos tribunais e das delações premiadas e vão comandar o pretendido plebiscito sobre reforma política, numa espécie de Teoria Geral da Corrupção. Certamente eu também quero uma reforma política. Mas ela nunca será como proponham a CNBB, a OAB e o PT, porque, no fundo, politicamente, é tudo a mesma coisa.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
19/02/2015
Acabei de postar em Artigos de Convidados um texto do Olavo de Carvalho com o título "Em busca da cultura". Recomendo-o enfaticamente. Nesse texto, o Olavo explicita muito bem um dos problemas fundamentais de nosso país. Nenhuma nação progride harmonicamente com uma elite do tipo que temos por aqui, fazendo a cabeça de nossos jovens em universidades que se arrastam nos patamares mais baixos do ranking mundial. A literatura técnica produzida pela nossa academia beira à indigência. É motivada pelo dever de cumprir metas mínimas e não pelo mínimo cumprimento responsável do dever acadêmico. Uma universidade que coloca nas posições de liderança do país graduados que não têm gosto pela leitura produz acadêmicos que falam muito. E leem muito pouco. Portanto, sabem menos do que os mestres de seus mestres, jogam o conhecimento para trás e discorrem sobre o que mal entendem. Foi também assim que chegamos ao BBB.
Certa feita, um amigo questionou seu professor - padre católico - sobre os motivos de sua permanente recorrência ao pensamento marxista como chave interpretação para quaisquer fatos. O dito professor, surpreso, retornou com outra pergunta: "E a quem mais, haveria de recorrer, meu rapaz?". Esse amigo, leigo fiel, não deixou por menos: "O senhor percebe, padre, que acabou de aplicar a Marx as palavras de Pedro a Jesus, quando os apóstolos foram perguntados, por este, se também O queriam abandonar - 'Mestre, a quem iríamos nós?'".
Nelson Rodrigues, recém saído de grave enfermidade, consultado sobre a frase que selecionaria para seu epitáfio, afirmou: "Esse Marx foi uma besta". E é essa besta que, com o discípulo italiano Antonio Gramsci, continua, através das décadas, fazendo a cabeça da suposta intelectualidade nacional.
Louvado seja, portanto, o trabalho desenvolvido por Olavo de Carvalho desde seu retiro na Virgínia. Assim, à distância, com seus cursos, acolhendo milhares de alunos, está fazendo muito mais que o conjunto de nossas universidades pela cultura brasileira e para a formação de uma elite digna desse nome.
Falou-me recentemente outro amigo diante das invectivas de Lula, por razões erradas, às "zelite" brasileiras : "Que mal existe, Percival, na existência de uma elite? Que mal há na atividade dessa elite a que o Lula dedica palavras tão ásperas? Esse mesmo senhor quer ver seu Coríntians na elite do futebol brasileiro. Doente, procura a elite médica do país. Com o prestígio em declínio, procura a elite dos publicitários. Aduzi eu: e para negócios, procura a elite dos vigaristas nacionais. Mas eu sou mesmo, assim, sarcástico.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
18/02/2015Imagine a situação. Uma multidão de degenerados, bandidos, terroristas, assaltantes, homicidas, estupradores, sem freio nem lei, resolve tomar para si uma porção de território no sudoeste do cotinente asiático. A região escolhida inclui parte da Síria e do Iraque (donde as siglas ISIS ou ISIL, designando o Islamic State of Iraq and Syria ou Iraq and the Levant). Não preciso falar aos leitores sobre a antiguidade desses dois países. Refiro apenas que Damasco, capital da Síria é a terceira cidade mais antiga, de ocupação contínua, de que se tem registro na história e que o Iraque foi o berço da civilização suméria, a mais remota de que se tem notícia.
Pois a instabilidade política proporcionou que a região fosse tomada por uma multidão de anormais. São impelidos por mistura explosiva de fanatismo religioso e degeneração de valores humanos. Formaram, assim dizem, um califado sob o comando do sicário Abu Bakr al-Baghdadi.
Não preciso descrever os requintes de perversidade a que chegam, pois são exibidos com orgulho pelos próprios autores dos crimes. Para constranger o mundo civilizado a dar-lhes o que merecem bastaria uma fração do que já fizeram. Tal ação militar não seria de motivação política, nem econômica, mas simples ato de humanidade. Pura exigência moral. O mal que se abateu sobre a região é incurável, insanável e demandará, com efeito, uma guerra de extermínio.
No entanto, enquanto o mundo parece não haver encontrado, ainda, as motivações necessárias para fazer o que deve ser feito, a imprensa ocidental precisa, pelo menos, advertiu-me um amigo atento, parar com essa impropriedade de chamar aquele antro de criminosos de "Estado Islâmico". E meu amigo tem razão. Tal designação presume um reconhecimento inadmissível, que afronta o Iraque e a Síria, e serve para consolidar a situação. Se a coisa pega, logo nossa presidente estará trocando embaixadores com o senhor Abu Bakr al-Baghdadi e Lula acompanhará alguma empreiteira brasileira em promissoras negociações para construir fortificações e bunkers no interior do território ocupado pelos terroristas.
Não existe Estado Islâmico! Islâmico, sim, porque até agora, que eu saiba, nenhum muçulmano lhes negou essa condição. Mas "Estado", não! A mídia deveria se referir a um "Território ocupado por terroristas islâmicos no Iraque e na Síria", ou mais sinteticamente, a um "Pseudo Estado Islâmico". Denominar aquilo de Estado e aquele demônio de califa é total impropriedade. Os terroristas ocupam área de contornos instáveis e não há algo que se possa chamar povo quando minorias étnicas são massacradas no interior de suas supostas fronteiras. Sem essas duas características não existe Estado.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
15/02/2015Não mesmo! Impeachment não é golpe. Golpe é o que foi aplicado no eleitorado e no patrimônio público. Golpista será toda tentativa de impedir manifestações populares ordeiras em favor do trâmite de um processo de impeachment. Golpes ocorrem fora do ordenamento jurídico. Impeachment, ao contrário, é um procedimento constitucional, demorado e ponderado, regulamentado em lei específica. É um instrumento previsto porque necessário ao presidencialismo.
Tampouco é coisa "da direita", como alguns com mais preconceitos do que conceitos têm sugerido. Essa afirmação, aliás, é tiro no pé. É acusação maldosa à própria esquerda pois significaria que perdeu o senso moral. O processo de impeachment de que hoje tanto se fala no Brasil tem a ver com crime de responsabilidade, com ações e omissões que lesam o país. Por outro lado, o único processo de impeachment que produziu efeitos no Brasil, embora a renúncia de Collor tenha interrompido sua tramitação, resultou de mobilização promovida pela esquerda, notadamente através da UNE e da CUT. Prefiro crer que ainda exista boa intenção e reta conduta em certos setores da esquerda brasileira. As pessoas conscientes, independentemente de alinhamentos ideológicos, estão estarrecidas com a liberdade de ação concedida aos que transformaram a administração federal direta e indireta em butim dos vencedores.
Não estou exagerando. No período de 2005 a 2014, enquanto a Ação Penal 470 (Mensalão) tramitava e as penas eram impostas aos réus, a pilhagem da Petrobras se mantinha em livre curso, como se nada estivesse acontecendo. E tudo se dava em benefício dos mesmos partidos da base do governo! Descobriu-se, assim, que em muita gente a cobiça supera o medo, seja ela engravatada ou descamisada. Tal é o móvel de boa parte dos crimes cotidianos.
O Dr. Ives Gandra, em recente parecer, mostrou que as condições jurídicas para um processo de impeachment estão dadas. Não é necessário que haja dolo. Basta a culpa. E desta, a dose fornecida é abundante. Ora, se já houve culpa em alta dose, poucas coisas importarão mais ao bem nacional e à probidade dos atos de governo do que a viabilização das condições políticas que decorrem da pressão social, como bem reconheceu o novo presidente da Câmara dos Deputados. Não imagino que afeição partidária possa se sobrepor, nas consciências bem formadas, à boa imagem do país, ao bem nacional e à retidão das condutas. Uma nação que, com justa razão, queixa-se da impunidade geral, não pode endossar o que está acontecendo no Brasil.
ZH, 15/02/2015
Percival Puggina
12/02/2015A estratégia, agora, é apresentar o PT que vemos como deturpação do PT de outrora, honrado defensor dos mais elevados valores morais.
Que papo mais furado (desculpem a vulgaridade da expressão)! Trata-se de pura mistificação, para transmitir a ideia de que esse partido, no convívio de 35 anos com os demais alinhamentos políticos, descuidou-se e absorveu os maus exemplos que estes lhe transmitiram. Quem comprar a tese, fica convencido de que o PT, ao contrário das outras siglas, teve um passado límpido, com cheirinho de talco Johnson para bebês, podendo voltar às suas boas raízes, como novo filho pródigo. Os outros estão eternamente condenados. A salvação para o Brasil, portanto, só poderia vir de um PT repaginado, saído do Photoshop. Dá-me forças para viver!
Mais uma vez, erro e falsidade. O PT sempre foi assim, como venho registrando desde 1988, quando comecei a escrever para as páginas grandes do velho Correio do Povo. Desde o início, o partido foi movido por um projeto de poder inspirado nas piores e mais fracassadas teses políticas que a humanidade experimentou no século passado. Na origem de suas concepções e condutas está, também, a essência da perversão política: a regra de que os fins justificam os meios. Muitos de seus principais dirigentes, antes mesmo de o partido existir, sequestravam aviões, exigiam resgate, recebiam recursos de potências comunistas, viveram décadas às custas do produto de assaltos que praticaram em dezenas de empresas, joalherias e em mais de uma centena de agências bancárias.
Mesmo antes de o PT existir, esses mesmos dirigentes estavam comprometidos com uma visão perversa de Estado. Eram contra a democracia representativa, adversários da economia de mercado, organizavam movimentos fora da lei, que afrontavam a Justiça, a ordem pública e o direito de propriedade. Levaram à Constituinte de 1988 teses com o confessado e documentado objetivo de implantar no Brasil um Estado socialista com enorme ingerência nas atividades econômicas e na vida privada.
Em nenhum momento de sua história, seja como partido oposicionista dedicado a assassinar reputações, seja como condutor do governo, o Partido dos Trabalhadores mostrou qualquer apreço pelas nações democráticas, pelas economias livres, pelos países que prosperaram sob sólidas instituições liberais. Todo o apreço do PT fluiu, sempre, para regimes totalitários, arautos do atraso e do subdesenvolvimento. Durante o regime militar, os que deixavam o país buscavam refúgio no Chile comunista de Allende, na Argélia de Boumédiènne, em Cuba de Fidel, e atrás da Cortina de Ferro. Mantiveram e mantêm estreitas relações com os movimentos de guerrilha e terrorismo comunista da América Latina, os quais foram convocados por Lula e Fidel para integrar o Foro de São Paulo. No poder, a atração pelas más companhias se voltou, também, para os piores líderes africanos, corruptos, ditadores e genocidas. Faz e distribui sorrisos a governos fundamentalistas islâmicos e jamais repreendeu um terrorista sequer.
A corrupção que arrasou a Petrobras e fez jorrar dinheiro do Tesouro aos amigos do rei e da rainha através do BNDES reproduz, em escala bilionária, o que acontecia em muitas das primeiras prefeituras do partido nos negócios com coleta de lixo.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
11/02/2015"O Brasil democrático, o Brasil que preserva o amor próprio, o Brasil que não aceita ser um covil de ladrões, precisa ir às ruas e na forma da Constituição, desconstituir o petismo".
MÍDIA@MAIS - O país esperando uma resposta, digamos, "empresarial", à crise na Petrobras, e Dilma escolhe um executivo ligado ao PT para suceder Graça. Ato contínuo, as ações da estatal despencam. Não chega a ser estranha a maneira com que este governo reeleito tem administrado (na falta de melhor palavra) a Petrobras? Chega a parecer que o real objetivo é fazer as ações virarem pó...
Percival Puggina - Já li opiniões que, por via analógica, percebem o governo petista empenhado num ataque terrorista... É uma afirmação que retrata o resultado, ainda que não a intenção. Escrevi, recentemente, que para enfrentar o descrédito da Petrobras a presidente foi buscar o presidente de uma instituição de crédito. Esqueceu, porém, que o referido senhor não acredita nem em conta bancária e tem o hábito de pagar tudo em moeda sonante.
M@M - Quais as perspectivas políticas caso Dilma torne-se insustentável como presidente, em resultado do processo do Petrolão e novas denúncias que parecem surgir dia após dia? Tirar Dilma da presidência não serviria também para encaminhar uma nova eleição de Lula?
PP - O país caminha, inexoravelmente, para um processo de impeachment, a respeito do qual já se fala abertamente e para o qual já estão dadas as condições técnico-jurídicas, como muito bem demonstra o parecer do Dr. Ives Gandra. Faltam as condições políticas e sociais. Não podemos esquecer que a Câmara tem um plenário renovado e bem menos governista do que o anterior e que as redes sociais já começam a planejar as mobilizações de rua a partir do dia 15 de março. A imagem de Lula não resiste até 2018.
M@M - O senhor acha que, de uma forma até mesmo irônica, o PMDB pode ter um papel decisivo dentro das circunstâncias (Petrolão, Dilma em baixa, economia recessiva) - logo esse partido que jamais sai do governo, seja ele qual for?
PP - Sim, claro. O PMDB, malgrado sua natureza fisiológica, tem sido um moderador das leviandades petistas ao longo dos últimos anos. Esse partido, rachado, pode dar bons frutos. Eu acredito no impeachment porque acredito no pragmatismo peemedebista. É tudo que queremos? Não. Mas é o que se pode obter no curto prazo para a tarefa principal que consiste em manter o PT o mais longe possível do poder.
M@M - Se pensarmos de FHC para cá, o que temos visto em termos de política partidária no Brasil se resume a esta alternância monótona: petistas acelerando a revolução, digamos assim, e tucanos colocando um freio tímido. Em SP, por exemplo, Geraldo Alckmin é eleito seguidas vezes simplesmente porque a maior parte do eleitorado votaria em qualquer coisa exceto o PT, mas no poder ele se sai com medidas que se parecem com aquelas que um político petista tomaria (política de cotas no funcionalismo público, por exemplo). Afinal, existe diferença ideológica significativa entre tucanos e petistas, se deixarmos as diferenças de método em segundo plano?
PP - A diferença ideológica é muito pequena. O PSDB que conta era a ala esquerda do PMDB, que por sua vez, era a esquerda no período dos governos militares. Na vida real, o PT influenciou muito o governo FHC.
M@M - O senhor acredita que uma reforma política agressiva - com voto misto, distrital, facultativo e um autêntico federalismo - poderia de alguma forma melhorar o quadro político nacional? Há alguma possibilidade de tal reforma acontecer? Ou é possível imaginar que caminhamos para um quadro de anomalia institucional que acabe favorecendo ideias como o separatismo?
PP - Acredito na importância das instituições e nos efeitos benéficos de boas instituições. Mas todos sabemos que as mudanças significativas, como as referidas, costumam bater na trave. Existem sistemas eleitorais, por exemplo, que propiciam o surgimento de estadistas e há outros, como o nosso, que favorecem o corporativismo e a demagogia.
M@M - A crise do Petrolão comprova de forma definitiva que o Estado patrimonialista e a agenda socialista resultarão num eterno festival de fracassos, corrupção e atraso. Num quadro assim, a quebra do paradigma estatizante socialista e sua substituição por uma agenda liberal-conservadora poderia obter sucesso?
PP - Esse é o sonho de todo brasileiro bem formado, que conhece história, que tem apreço pelo Ocidente e sua cultura. Mas quanto à pergunta, a resposta é negativa. Não creio que se estabeleça uma relação de causa e efeito como a apontada na questão. O governo deve cair de podre, mas o trabalho gramsciano feito pela esquerda brasileira ainda persistirá produzindo efeitos nas decisões políticas.
M@M - Muito se fala em reforma política e tributária, mas o que o senhor pensa sobre a necessidade de uma "revolução" na formação cultural nacional, substituindo o forte viés esquerdista revolucionário que domina as escolas e impõe filtros ideológicos sobre a juventude? Sem o excessivo predomínio de posições esquerdistas na formação cultural, não seria possível o surgimento de uma geração de jovens que entendessem o verdadeiro valor da liberdade individual e com isso oxigenar a vida política e social nacional?
PP - É o que tantos defendem e o trabalho ao qual, em meu restrito campo de atuação, venho me dedicando. Trata-se de trocar componentes nas engrenagens culturais para produzir opções e condutas diferentes junto à sociedade brasileira. De momento, nossos mecanismos de ação e reação ainda estão sob fortíssima influência de uma leitura marxista da realidade e dos fatos. O trabalho de substituição é gradual e lento. Receio que não chegarei a ver os resultados disso que tantos intelectuais vêm procurando fazer.
M@M - Por favor, sinta-se à vontade para fazer outras considerações que achar necessárias.
PP - Deixo aqui a convocação a todos os leitores do MIDIA@MAIS para que se engajem nas mobilizações de 15 de março e nas que a elas se seguirem. O Brasil democrático, o Brasil que preserva o amor próprio, o Brasil que não aceita ser um covil de ladrões, precisa ir às ruas e na forma da Constituição, desconstituir o petismo.
Percival Puggina
09/02/2015
"Em 2014 acompanhamos um intenso período eleitoral, onde a reeleição da Presidenta da República, Dilma Rousseff, foi conquistada com muita luta e ação da militância na rua. Agora é tempo de organizar a casa internamente, de compor quadros administrativos do governo e de seguir avançando com a conquista de direitos e de espaços para o povo. Nesse sentido, os movimentos sociais, organizações e conjuntos, protagonistas dessa corrida exitosa se colocam a disposição e manifestam o desejo de participação nas decisões do governo de coalizão que vem se desenhando, afim reafirmar suas lutas, bandeiras e anseios."
Se você pensou que esse texto fosse de alguma organização juvenil do PT ou do PCdoB, qualificando-se e se disponibilizando para ocupar cargos no governo Dilma, enganou-se. Esses maus tratos ao idioma são as palavras iniciais da Carta Aberta da Pastoral da Juventude da Igreja Católica, divulgada há poucos dias. Tem mais, se você pensou que isso acontece fora do alcance da CNBB, enganou-se novamente. O site da PJ afirma, a quem interessar possa, o vínculo e o apoio que tem da Conferência:
"Merece destaque aqui a presença efetiva da organização da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no Setor Juventude, seja através dos bispos acompanhantes das PJs ou dos assessores e assessoras. Junto a essa presença e apoio, figura-se com muita importância os centros e institutos de Juventude, que através da Formação, Assessoria e Pesquisa, sempre se colocaram como estrutura de apoio à organização das Pastorais da Juventude".
Se você pensou que a devoção filial a nossa senhora presidenta é uma peculiaridade dos jovens, com tolerância das autoridades episcopais que os acompanham e daqueles que desde o interior da CNBB os assessoram, errou de novo. A própria Conferência não deixa por menos. O texto a seguir foi extraído da "Análise de Conjuntura" apresentada pela assessoria da CNBB à 20ª Reunião do Conselho Permanente Ampliado, que se reuniu em agosto de 2014 (em plena campanha eleitoral). Tais análises são rotineiras, elaboradas por assessores da entidade e, não raro, contam com a colaboração de membros de governos petistas. Lá pelas tantas, examinando a conjuntura econômica do país, dizem assim os assessores (a íntegra está no site da CNBB, em Publicações):
"A sensação de um clima inflacionário espalhado pela mídia, baseando-se sobre os gastos ditos excessivos, sobretudo sociais, visa difundir um temor da volta da inflação, temor que é responsável por uma difusão da inflação. Entretanto, a taxa de inflação de agosto pode ficar mais baixa ou próxima daquela de julho (0.01%), contrariamente às previsões dos analistas do mercado financeiro. A aproximação das eleições acirra a disputa econômico-financeira entre governo e especuladores. A imprensa não está contribuindo para o debate político-econômico, substituindo a informação pela ideologia da crise permanente. A mídia, porta-voz das elites financeiras, informa que o Brasil está indo à falência. As manchetes dos jornais (impresso e TV) não param de denunciar erros na política governamental que teriam provocado ondas de desconfiança."
É visível o intuito falsamente profético do texto, bem como a absoluta conversão dos autores à boa nova petista e a seus apóstolos da Papuda. De resto, tem sido assim a história da CNBB e seus organismos há meio século. Só para que não pairem dúvidas sobre a semelhança entre essas falsas profecias e as da "quarta estrela de Jacó": a inflação nos meses seguintes a julho subiu constantemente de 0,25% a 0,78% e em janeiro pulou para 1,24%. Ah! antes que me esqueça: na conjuntura analisada pelos assessores da CNBB não há uma única palavra sobre corrupção, Petrobras, ou qualquer outro escândalo da pauta nacional.
Este é mais um que se soma às dezenas de artigos nos quais, há décadas e em vão, denuncio os mesmos problemas nas mesmas estruturas da minha Igreja em nosso país.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.