Percival Puggina

16/03/2015

 Queriam a prova? Pois ela veio assim que terminaram as manifestações do domingo, país afora. A entrevista dos ministros Miguel Rossetto e José Eduardo Cardozo fez prova provada do inverso da tese que pretenderam apresentar. O governo é incorrigível! O que tinham a dizer? Nada que suscitasse consideração ou respeito. Ao contrário, mostraram a mesma falsa autossuficiência e a conhecida arrogância. Pacote de combate à corrupção? Me poupem!

 Só o impeachment (palavra que em inglês significa acusação, impugnação) da presidente Dilma pode resolver a crise política instaurada no país. De que se acusa o governo? Por que impugná-lo como parte de um ato político devidamente constitucional e objeto de legislação específica? Eis por quê:

1. A presidente perdeu quase totalmente apoio popular. Sua permanência no cargo, em tais condições, nada tem a ver com democracia, mas com Estado de Direito. A democracia, a vontade popular, não mais a sustenta. Não mais a referenda. O povo perdeu-lhe o apreço e o respeito. É graças à Constituição que a presidente permanece até que o rito político nela previsto, impugne sua presença na chefia do governo e do Estado brasileiro.

2. Dilma se esconde do povo. Onde vai, leva vaia Quando aparece na televisão não tem o que dizer exceto repetir o discurso de sua inescrupulosa campanha eleitoral e anunciar pacotes que só convêm ao seu partido e ao seu projeto de poder. E leva panelaço.

3. Não é admissível, não é probo, não é honesto mentir aos eleitores! É fraudulento vencer uma eleição contando à Nação, até o dia 26, mentiras que caem por terra no dia 27.

4. Nem com a maior dose de boa vontade e tolerância se consegue aceitar a tese de que a suprema mandatária, comercializada ao público como "gerentona", não fosse informada nem percebesse o sumiço de bilhões das contas públicas e o mágico e inebriante retorno dessa dinheirama a seu partido e seus parceiros.

5. Não é probo, não é decente, usar recursos públicos para criar no Brasil uma nova classe de bilionários - os bilionários do BNDES - privilegiados com muito dinheiro, a juros subsidiados por nós. Eles enriquecem e a diferença entre o juro subsidiado e o que o Tesouro paga vai para nosso débito.

6. Não é moralmente admissível perdoarem-se dívidas de governos ditatoriais para viabilizar a concessão de novos financiamentos que beneficiam empreiteiras amigas da corte e intermediário de muita conversa. É inaceitável que tais operações sejam registradas como sigilosas.

7. É ímprobo um governo que escolhe para diretorias de empresas estatais pessoas não apenas desonestas, mas que agiam sob voraz pressão partidária. Não pode ser acaso, então, o fato de dois sucessivos tesoureiros do PT terem ido hospedar-se na cadeia.

8. O partido da presidente não se penitencia ante os acontecimentos e promove gritarias para calar a oposição na CPI da Petrobras. Ou seja, a nação está sob comando de um governo e de partidos que defendem criminosos, como faziam seus militantes pagos na última sexta-feira. Como haverão de corrigir-se?

9. A compra da refinaria de Pasadena, longe de ser o maior escândalo do governo, foi autorizada por um conselho do qual Dilma era presidente. Foi considerada, na Bélgica, como o "negócio do ano" entre as empresas daquele país. E virou processo criminal nos Estados Unidos.

10. A refinaria Abreu Lima teve seus custos de construção elevados de R$ 2 bilhões para R$ 18 bilhões e algo assim só acontece quando a gestão pública atinge indescritível tolerância com a apropriação ilícita dos recursos públicos. Ou dos acionistas.

11. Nenhuma empresa privada conviveria 11 dias sequer com uma roubalheira do porte praticado na Petrobras durante 11 anos sem que, ela mesma, providenciasse o processo criminal dos responsáveis.

12. No início do primeiro mandato da presidente Dilma estouraram escândalos em oito (!) ministérios, sinalizando ilicitudes que já corriam, com fluidez e liberdade, desde os mandatos de Lula.

13. Só não percebe o que estão fazendo com o país quem não se respeita nem se faz respeitar. O governo e a presidente não podem ser acusados de improbidade? Diga, então o contrário: diga que são probos...

Sei bem que contra estas e muitas outras razões podem ser interpostos vários argumentos. Isso é da natureza do debate político e jurídico. No entanto, esse governo é incorrigível. Ele nada tem a oferecer daquilo que o Brasil precisa. Em defesa do interesse nacional, me posiciono entre os que consideram o impeachment viável, necessário e imposição da consciência nacional.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

15/03/2015

 

Nada seria mais danoso às carreiras ligadas ao Direito e à Justiça do que a unanimidade das opiniões jurídicas. Vale o mesmo para a imprensa. Nas sociedades livres, a divergência integra o ser social. Não existe ponto sem contraponto. E é por aí que muitos trabalham. As sociedades submetidas ao totalitarismo funcionam ao contrário: dissentir, pensar diferente do rebanho ou de seus pastores, gera consequências que vão dos adjetivos pejorativos às sentenças de morte. Por isso, a afirmação de que o impeachment da presidente Dilma constitui demanda ridícula, golpista, sem fundamento jurídico, não é uma sentença final, irrefutável. É apenas uma das posições possíveis perante o assunto.

Com apenas 7% da opinião pública a seu favor, a permanência de Dilma no poder nada tem a ver com democracia, mas com Estado de Direito. É este que a sustenta contra aquela. Para resolver tais casos, a Constituição disponibiliza o processo de impeachment. Que tem lei própria. Que é um instituto de natureza eminentemente política, nem surdo nem mudo, com motivações éticas e regras claras. Golpe, só não percebe quem não quer, foi dado ao país antes, durante e depois da eleição. Antes, com governança irresponsável, com franquias à corrupção, com esbanjamento dos recursos públicos para fins eleitorais, com negligência no controle dos gastos, com a ruína da aritmética. Durante, com repetição de despudoradas mistificações, com ocultação da realidade nacional, com a estratégia serial killer de reputações e a imputação aos adversários das maldades que o governo viria a cometer. Depois, no agir como se o dia 27 de outubro nada tivesse a ver com o dia 26. E transcorresse noutro país, sob outra realidade, perante outro povo. Mas o que é isso, companheira?

A presidente, por tudo que fez e deixou de fazer, precipitou a nação no descrédito e nos afundou numa crise em que não deveríamos estar. A improbidade se instalou no governo como quem reclina a poltrona e põe os pés sobre a mesa. É um seriado de infinitos episódios. Milhões de brasileiros que não perceberam isso antes compreenderam agora, em dois meses. Emendar-se, o governo não vai! Então, a mobilização em favor do impeachment é ato de respeito próprio. É questão de decoro nacional. Expiação ante o mundo civilizado. Contrapor que isso causaria faniquitos em Stédile e outros como ele, não é argumento. É afofar a cama dos brutamontes! Para isentar-se de qualquer culpa por toda improbidade praticada em sua gestão, seria necessário que a presidente estivesse muito longe daqui, comandando, quem sabe, outro país e outro governo. No Brasil, não vejo como.


ZERO HORA, 15/03/2015
 

Percival Puggina

12/03/2015

 

 São muitas as formas de corrupção moral. Todas são graves, embora tendamos a considerar piores aquelas que envolvem valores financeiros. No entanto, meter a mão no bolso alheio ou em recursos públicos é apenas uma das muitas maneiras em que a deformação moral pode se expressar. Quando falamos delas, principalmente no espaço da política, não estamos diante de compartimentos isolados, como se a cada momento histórico apenas uma gaveta pudesse ser aberta.

 As coisas não funcionam assim. Um governo corrupto será, também, um governo mentiroso. O governo mentiroso forjará dossiês contra seus adversários. O que forja dossiês, assassinará reputações de pessoas de bem. Quem o faça, andará com as piores companhias. O que ande em más companhias investirá contra os valores morais da sociedade. O que precisa destruir valores, desejará dominar o vocabulário através do "politicamente correto". Quem quer controlar as palavras e a comunicação não é verdadeiramente democrático. Governo que não seja democrático buscará transferir o poder, do povo e de seus representantes, para conselhos formados por seus companheiros. Quem coloque aí a efetiva fonte de seu poder precisará organizar, remunerar e manter a seu serviço multidões de militantes cuja causa real seja ele próprio e a sua preservação. Quem faça tudo e qualquer coisa para si mesmo, será, necessariamente, corrupto. E o círculo se fecha. É a ruptura desse círculo que nos leva à rua no dia 15 de março.

 Há quem goste de como as coisas estão no Brasil. E há quem diga que não gosta, mas, com falso pudor, afirme que devemos nos conformar porque a alternativa é pior. E tendo dito que a alternativa é pior, dá por irretocável a assertiva e pleiteia, sem constrangimento algum, que tudo fique como está.

Observe o que estão fazendo, a partir de anteontem, 10 de março, com FHC (que se presta para isso). O velho ex-presidente, desde 1998, era insubstituível ocupante do último pau do galinheiro petista. Até o depoimento de Pedro Barusco à CPI da Petrobras, Fernando Henrique, designado por Dilma, era candidato a fundador emérito da corrupção na empresa, o cara da "privataria". Pois até ele - pasmem! - ganha lâmpada nova como farol da História e vira sábio conselheiro da Pátria simplesmente porque saiu em defesa do mandato da presidente.

Dá para entender como o uso que fazem de FHC se enquadra no circuito fechado que desenhei acima? É o mesmo quadro de corrupção moral que só recebe impulsos de uma ideologia malsã e de um projeto de poder.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

10/03/2015

Virou moda. Lula falou e a bem remunerada elite chapa-branca do jornalismo nacional passou a repetir: a zelite não quer que os pobres prosperem.

Qual o motivo de essa frase estar sendo reproduzida por tantos membros da mídia, como porta-vozes do alto comando petista? Nada que o PT repete à exaustão deixa de ter objetivo bem determinado. É o caso. Os petistas, naufragados na indecência de seu governo, numa sucessão de escândalos que envergonham o país e ruborizam a espécie humana em todas as latitudes, altitudes e longitudes, precisam atribuir motivação maldosa a seus adversários. E qual pode ser pior do que o sujeito ter raiva de quem alegadamente faz bem aos pobres? Poucos, muito poucos sentimentos humanos colocariam alguém tão às portas de uma condenação eterna do que desejar o mal do pobre, sentir-se incomodado quando ele prospera e ter raiva de quem supostamente o faça prosperar. Isso é tão inominável, tão fora da normalidade, que deixa de ser um impulso humano para ser o que de fato é: uma acusação maligna, concepção de mente enferma, que faz da política campo de provas de sua sordidez.

Essa injúria, proferida por Lula no ato da ABI, e repetida pelos papagaios do eldorado petista, não tem pé nem cabeça. É fruto de perversão moral. Está na linha de tudo mais que vêm fazendo. Como conceito, só pode ser produto de uma aula de sociologia do professor Eremildo, o idiota (personagem criado pelo jornalista Élio Gaspari). Repito o que escrevi há poucos dias: os países com melhor qualidade de vida são aqueles em que praticamente não existem pobres e a totalidade da população consegue viver com dignidade. A fome era endêmica na Europa Ocidental até meados do século passado. No entanto, com trabalho e uso judicioso dos recursos públicos, hoje, você atravessa o continente, entra e sai das cidades europeias e raramente se depara com habitações miseráveis. Nelas você se percebe infinitamente mais seguro do que no Brasil.

Só os alunos do professor Eremildo, o idiota, são capazes de crer em tamanha estupidez, contraditória com o racional interesse de todos os seres humanos, porque convém a todos, sem exceção, que todos tenham um padrão de vida melhor. Eremildo, o idiota, ensinaria essa besteira que Lula diz, por crença. Os jornalistas, os políticos, os marqueteiros e os militantes que repetem tamanho disparate, precisam dele como folhas de parreira para esconder as próprias vergonhas.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

08/03/2015

 Imagine uma flor. Não, não assim. Imagine uma flor excepcional, dessas que com sorte se encontra uma vez na vida. Uma flor tão bela que, ao vê-la, se tenha a impressão de que a natureza não tinha coisa mais importante para fazer e que por isso se desdobrou em zelos, concentrando ali o mais harmonioso matiz de cores, a mais delicada textura e o mais caprichoso arranjo de formas. Imagine, por fim, que não havendo mais com que adorná-la, ainda foi buscar, a natureza, o artifício de projetar seus pistilos como uma explosão de fogos de artifício. Imaginou? É, mas não adianta.

 Imagine, um vulcão. A rocha transformada em fogo líquido e se derramando em êxtases de criação e morte. O big bang em porção individual. Lindo, não? Agora, coloque isso em cenário andino. O instantâneo fogo e a eterna neve contra o céu azul. Bleu, blanc, rouge. Imaginou? É, mas não adianta.

 Imagine uma praia de água borbulhante e cristalina como se fosse mineral. Uma praia daquelas que Adão tinha no paraíso e muitos pensam que ele trocou por um pedaço de maçã (e ainda por cima com casca). Imagine uma pequena enseada de inadmissíveis areias brancas, vindas não se sabe de onde e que o mar veste e desveste com variada renda branca. Imaginou? É, mas não adianta.

Pense, meu amigo leitor, no que quiser pensar, pense no mais esplêndido pôr- do-sol derramando cores no regaço das águas, imagine tudo que seu engenho lhe permita conceber. Você jamais criará algo tão sedutor quanto a mulher e por isso eu não queria estar na pele de Adão quando ela lhe ofereceu a maçã já mordida. Era o Paraíso sem a mulher ou a mulher sem o Paraíso. Dureza. Para quem esqueceu, hoje é o Dia Internacional da Mulher, esse paraíso.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

06/03/2015


 Desde os tempos de Getúlio Vargas nada produz melhor dividendo político do que rotular-se defensor dos pobres. É um discurso que agrada pobres e ricos. Tanto isso é verdade que o PT, em seus anos de credibilidade, enquanto distante das decisões administrativas e dos recursos públicos, era o partido campeão de votos nos bairros mais aristocráticos de Porto Alegre.

Lula, no entanto, precisa dizer o contrário. Ele e seu partido, não se contentam com propagandear o zelo pelos mais necessitados. Eles precisam, também, repetir à exaustão que os ricos ficam contrariados com isso. Falam, Lula e os seus, como se rico fosse idiota e não soubesse, na experiência própria e na internacional, que nada ajuda mais a prosperidade dos ricos do que a prosperidade de todos. É mais riqueza gerada, mais PIB, mais mercado, mais consumo, maior competitividade. Pobreza é atraso e culto à pobreza deveria ser catalogado como conduta antissocial.

A sedução produzida pelo discurso em favor dos pobres se abastece das próprias palavras. Fala-se no Brasil de uma estranha ascensão social em que o número de dependentes do socorro direto do governo aumenta indefinidamente através das décadas. O bolsa-família é um campo de concentração de ingresso voluntário, onde quem entra não sai nem que a vaca tussa. E o seguro-desemprego tornou-se o amigo número um da rotatividade no emprego, desestimulando a permanência no trabalho remunerado. Enquanto isso, o sistema educacional das classes favorecidas no discurso e desfavorecidas nas ações de governo continua reproduzindo a miséria nas salas de aula que o Brasil destina às suas populações carentes.

Enquanto isso, em dez anos de governo dos que supostamente privilegiam a pobreza, o número de bilionários brasileiros pulou de seis para 63, regredindo para 54 com as marolinhas do ano passado. Nenhum crescimento semelhante ocorreu, no mundo, durante esse período. E aí, amigos, dêem-se vivas não a um desenvolvimento harmônico da sociedade, mas ao BNDES e seus juros de pai para filho, subsidiados com o suor do nosso rosto. De 2009 para cá, o banco passou a esguichar dinheiro grosso para a zelite das empresas nacionais. Só do Tesouro Nacional, R$ 360 bilhões foram repassados ao banco para acelerar o desenvolvimento de empresas amigas do governo, muitas das quais com credibilidade semelhante à do próprio governo. Não vou falar dos financiamentos negociados através do itinerante ex-presidente Lula em suas agendas comerciais com ditadores latino-americanos e africanos, porque essa é uma outra história.

Bilhões foram pelo ralo das análises mal feitas e dos negócios mal explicados. Há um clamor nacional pela CPI do BNDES. O governo que diz zelar pelos pobres (mas que precisa deles em sua pobreza) destinou muito mais recursos aos bilionários (porque precisa deles em sua riqueza). Afinal, ninguém tira centenas de milhões de reais do próprio bolso para custear campanhas eleitorais. Esse é o tipo de coisa que só se faz com o dinheiro alheio, vale dizer, com o nosso próprio dinheiro, devidamente levado pelo fisco e, depois, lavado pelo governo nas lavanderias dos negócios públicos.


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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

05/03/2015

Os discursos habituais do ex-presidente Lula constituem expressões de boquirroto. Coisas de falastrão. Manifestações de incontinência verbal. Estou falando difícil para não escrever o que realmente sinto vontade... Então, vai lá, no "popular": ele diz muita besteira. O fato é que depois de ouvi-lo durante tantos anos, habituamo-nos a seus atropelos de forma e conteúdo. Não se poderia esperar nada mais aprimorado de alguém com o perfil de nosso ex-presidente. Não há como Lula ser melhor do que Lula, mesmo porque nunca lhe ocorreu fazer algo melhor de si mesmo. Portanto, ele pode passar a vida repetindo que é filho de uma mulher analfabeta, incapaz de fazer um "O" com um copo, pois sempre encontrará quem ria de tal grosseria, e mesmo quem reconhece o desrespeito contido na frase acaba aceitando-a como "coisas do Lula".

 No dia 23 de fevereiro, ele participou de um ato em defesa da Petrobras. Enquanto assistia o vídeo com a fala do ex-presidente fiquei pensando no velório do prefeito Celso Daniel e nas coisas que a alta nomenclatura petista dizia naqueles primeiros momentos, logo após o crime. Espero que a entendam a analogia: Petrobras, Celso Daniel, velório, lágrimas, culpa aos adversários. Pois é. Lula, no evento sobre a Petrobras, trovejava sua indignação com as zelites que não suportavam a prosperidade dos pobres. O motivo pelo qual as elites veriam com tão maus olhos uma suposta prosperidade dos mais humildes fica envolto na névoa do mais denso mistério. Havendo normalidade das funções mentais é muito fácil entender que a prosperidade de todos beneficia a todos e a todos faz felizes. O inverso, como Lula pretende sugerir, só pode ser aceito e aplaudido por imbecis de prontuário médico, com foto, diagnóstico e medicação.

 Pois bem, nesse discurso, lá pelas tantas, referindo-se às mobilizações da oposição contra o governo da presidente Dilma, que nem ele haverá de considerar probo e bem sucedido, Lula afirmou: "Também sabemos brigar. Sobretudo quando o João Pedro Stédile colocar o exército dele do nosso lado". Foi delirantemente aplaudido pelo público que se concentrava no pequeno auditório.

Desta feita, as coisas mudam de figura. Não se trata de fanfarronada. Não é besteira. Em uma dúzia de palavras, Lula reconheceu vários fatos: 1) o MST é um "exército"; 2) tem comandante; 3) tem regimento próprio e fora da lei; 4) obedece ordens do partido e serve a seus fins políticos. Ora, a Lei dos Partidos Políticos (Lei Nº 9.096 de 29 de setembro de 1995), em seu artigo 28, estabelece quatro motivos para o cancelamento do registro e do estatuto de uma organização partidária. Um deles é estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros (Foro de São Paulo, por exemplo) e o outro é "manter organização paramilitar".

O PT, senhores membros do Ministério Público Eleitoral, se enquadra em pelo menos duas das quatro situações previstas na lei! E quanto à última, a milícia petista do MST tem bandeira, boné, orientações para ação guerrilheira, centros de treinamento, e seus membros, quando atacam, brandem foices de cabo longo, luzidias como baioneta de desfile. E Lula concitou sua milícia ao estado de prontidão. Estão esperando o quê, senhores do Ministério Público Eleitoral?

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

27/02/2015

Dezenas de debates e de artigos, ao longo de mais de duas décadas, me permitem assegurar algo talvez surpreendente, mas comprovadamente verdadeiro: os defensores do aborto não têm um único argumento válido. Tudo de que dispõem são motivos e sofismas.

 Os abortistas alinham, por exemplo, situações que podem levar uma mulher a querer abortar (estupro, dificuldades financeiras, problemas familiares, traumas e por aí afora). No entanto, descrições de motivos não são argumentos. E estão muito longe de proporcionar fundamento à idéia de que o ato de abortar constitui direito natural da mulher. O fato de que praticamente todos os crimes sejam praticados com algum motivo mais ou menos grave não os descaracteriza como crimes em si mesmos. Os motivos servem, se tanto, como atenuantes do dolo ou da culpa.

Também os sofismas dos abortistas são incontáveis. Vestem sistematicamente a roupagem ilusória do raciocínio correto, concebido e organizado para induzir ao erro. É o que ocorre, por exemplo, quando dizem que o Brasil é um estado laico, e que, portanto, a posição religiosa contrária ao aborto não pode ser aceita. A afirmação inicial está correta – o Brasil é um Estado laico – mas a conclusão é absurda porque, se válida fosse, tampouco a tortura deveria ser proibida pelas mesmas razões (a Igreja é contra a tortura). É o que fazem, também, quando alegam que as mulheres ricas praticam aborto em clínicas luxuosas ao passo que as mulheres pobres, etc. etc. etc. Isso é verdadeiro, mas o aborto é proibido para ricos e pobres. Vale o mesmo para a afirmação de que a mulher é dona do próprio corpo (o que já é meia verdade porque nenhum médico realizará procedimentos mutiladores), frase que não serve para justificar o desejo de dispor do corpo de outro ser humano, vivo e diferente do corpo da mãe. E vale, por fim, para o mantra de que nossa legislação “é hipócrita porque se praticam milhões de abortos no país”. Se tal argumento fosse aceitável, toda a legislação penal, os códigos de posturas e o código de trânsito deveriam ser revogados pela mesma razão.

A Constituição Federal está eivada de dispositivos que conferem ao Estado o dever de assegurar direitos individuais. No fundo, o que os abortistas pretendem é estabelecer que o aborto é direito da mulher e dever do Estado. E defendem essa tese sem o menor constrangimento! Não apenas apresentam motivos como se fossem razões, não apenas esgotam as artimanhas sofísticas, não apenas exibem como argumento a própria tese que pretendem demonstrar. Não, tudo isso é pouco perante a monstruosidade que realmente desejam como produto de todas essas mistificações: fazer com que os filhos das aventuras, das imprudências e dos desatinos sejam executados pelos carrascos do Estado. Ora, vão criar vergonha!

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

26/02/2015

Registre-se que a iniciativa não foi dos parlamentares. A demanda foi apresentada pelas esposas dos membros da Casa, durante a campanha para eleição de Eduardo Cunha. Elas pleitearam ao então candidato o retorno de seu suposto direito a obter passagens aéreas dentro da cota parlamentar dos maridos (benefício que fora anteriormente suspenso em decorrência de abusos como os caracterizados pelo uso de tais passagens para viagens de férias).

Eleito, Eduardo Cunha cumpriu o que prometera. Foi restabelecido o privilégio. Segundo o noticiário de hoje, a decisão foi tomada por maioria de votos na Mesa da Câmara e a Casa assumirá os ônus decorrentes. Ah! Agora entendi. Quem vai pagar essa conta é a Câmara dos Deputados. Eu pensei que a despesa fosse assumida por nós, pagadores de impostos. Ora que tolice a minha!

Sarcasmo à parte, é muita desfaçatez de quem declara isso e muita ignorância de quem o noticia sem esclarecer que a Câmara dos Deputados não gera um único centavo de receita. Tudo que ela consome, do grampo para papeis às passagens aéreas das esposas dos deputados é custeado com o dinheiro dos impostos que pagamos. A Casa não produz nada que tenha valor econômico. Atribuir à pagadoria da Câmara o dever de honrar um benefício descabido corresponde, em escala agigantada, à atitude do moleque que pleiteia o direito de "viajar de graça" no transporte coletivo. Não há passagem grátis. Todo bilhete que alguém deixa de custear por meios próprios será pago com meios alheios, seja no ônibus, no metrô, seja num voo nacional ou internacional.

A ignorância sobre noções tão elementares favorece a cultura do abuso e contribui para a deformação do caráter não apenas de quem se julga no direito de pleitear ou de conceder privilégios. Deforma, também, o caráter de quem fica sabendo e deduz que, quando tiver a oportunidade, deve fazer a mesma coisa. Isso para não falar nos que transformam o ingresso no círculo dos privilegiados em objetivo da própria vida. Quando enfermidades morais dessa natureza infectam os espaços de poder, eles se vão afastando, gradualmente, de sua finalidade essencial que é o serviço ao bem comum. E aí, acontecem coisas como um magistrado dar-se o direito de usar viaturas apreendidas de um réu.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.