Percival Puggina

23/04/2015

 Na encíclica Rerum Novarum, publicada em 1891, época em que o comunismo era apenas uma tese ainda distante um quarto de século de sua primeira experiência na Revolução Russa (1917), o Papa Leão XIII, referindo-se a esse modelo, escreveu: “Além da injustiça do seu sistema, vêem-se bem todas as suas funestas conseqüências, a perturbação em todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados dos seus estímulos, e, como conseqüência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria”. Foi profeta. A história veio lhe dar inteira razão.

 No entanto, se as previsões do sábio pontífice foram confirmadas e pouca gente esclarecida rejeita suas afirmações sobre a ineficácia do sistema comunista, tem passado meio despercebida a relação cuja existência ele identificou entre o comunismo e a inveja.

A inveja nasce da comparação e se afirma como um sentimento duplamente negativo: a alegria pelo mal alheio e a tristeza pelo bem alheio. Os moralistas (entendidos aqui como estudiosos das questões relativas à moral) afirmam que o invejoso é a principal vítima desse sentimento. De fato, a inveja mata. Ela é um canhão que dispara para frente e para trás. No entanto, quando força motriz de um modelo político, ela se torna genocida e pode se voltar para a extinção de uma raça, de uma classe social ou de uma nação inteira. Como só gera miséria, o comunismo é movido a inveja.

É a inveja que tem sido vista, por exemplo, nas ruas de Paris. Nas ações da Jihad islâmica. Foi a inveja que explodiu as Torres Gêmeas. É a inveja que não consegue esconder a alegria perante tais fatos. Foi a inveja que deu causa ao holocausto. É a inveja que faz com que todo esquerdista nutra ódio mortal pelos Estados Unidos. Eles não podem conviver com tamanha evidência dos equívocos em que se afundaram. O ódio que têm não guarda relação com humanismo e anseios de paz. Estiveram calados durante a Primavera de Praga, durante a invasão comunista do Tibet e assistiram desolados a queda do Muro de Berlim, apoiam a ditadura dos Castro, apoiaram Chávez e agora apoiam Maduro.

Uma emissora de TV exibiu, há aguns anos, reportagem feita com jovens da periferia de Paris protagonistas de arruaças. Um deles levou a repórter para ver onde vivia. Era um edifício popular, muito melhor do que as moradias de qualquer favela brasileira. Sem muito que dizer, a moça disparou: “Já se nota o contraste entre isto aqui e os palácios de Paris”. Acho que ela queria levar a rapaziada para Versailles. Enquanto isso, seu revolucionário guia apontava as más condições do prédio: paredes tomadas por pixações, a sinalizarem o caráter pouco civilizado dos moradores, e um balde, no meio da sala, marcando a existência de uma goteira, como se fosse dever do governo francês subir no telhado para reparar tão complexo problema. No fundo, é tudo inveja e a América Latina está sendo vítima de governos comunistas que chegam ao poder porque sabem, muito bem, promover esse terrível sentimento.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

21/04/2015

Impeachment é o preceito constitucional que faz saber ao governante quem tem as rédeas do poder.

 Exorcizar o impeachment, apresentando-o como tema dos inconformados, dos derrotados, dos opositores, dos que perderam eleições, como faz hoje (20/04), o principal colunista do jornal Correio do Povo, é prestar enorme desserviço à causa da democracia e do Estado de Direito. Não é uma posição original. Os defensores do atual governo reproduzem-na aos ventos e às nuvens. Todos, em situação ideológica inversa, estariam clamando por impeachment e bradando - "Fora já!" - a quem fosse ocupante do posto.

 O instituto do impeachment é uma arma posta nas mãos da sociedade, para ser usada através de suas instituições, como proteção ante o governo delinquente. É uma proteção necessária. Não é a única, mas é a mais poderosa e efetiva. Sua simples existência produz efeito superior ao da lei penal porque além de ser um instrumento jurídico, ele é, também, um instrumento político. Presente no mundo do Direito, opera como freio à potencial criminalidade dos governos.

 Imagine, leitor, se, como pretendeu o colunista mencionado acima, governantes fossem inamovíveis por quatro anos. A vitória eleitoral abriria porta a toda permissividade, a todo abuso do poder. Regrediríamos a um absolutismo monárquico operado, sem restrições, nos conciliábulos partidários.

Felizmente, no Brasil, quem põe no peito a faixa presidencial veste, também, o cabresto e a embocadura da sempre possível sujeição a um processo de impeachment. A nação, efetiva titular do poder, o mantém com rédea frouxa, até o momento em que precisa acioná-lo para retomar o comando e trocar de montaria.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

19/04/2015

A palavra "golpe" tanto serve para definir a tentativa de afastar o governo do poder quanto a de manter o governo no poder por meios extra-constitucionais. Portanto, na atual situação brasileira, golpista é quem quer impedir, mediante constrangimento moral, sofismas e outros mecanismos ainda mais repulsivos, que se faça uso do processo de impeachment, instrumento que a Constituição disponibiliza para situações como esta em que se encontra a República.

Os que fizeram ninho nos poderes de Estado e converteram suas convicções em receitas para ascensão funcional estão em estado de choque. Fazem companhia aos parceiros da mídia e do mundo acadêmico que se acostumaram a falar sozinhos para auditórios subjugados por uma hegemonia que tritura neurônios como uma usina de brita quebra rochas. Em pedacinhos. Nas últimas décadas, uns e outros jamais se depararam com algo semelhante. Povo na rua bradando contra seus amados ícones. Panelaços contra sua idolatrada "presidenta". Lula vaiado e se escondendo entre guarda-costas e companheiros. Rechaço popular a bandeiras vermelhas. Multidões pedindo impeachment.

Como agir diante de algo assim? Proclamar, com insistência, a elevada estatura moral do partido? Ajustar o elmo, esporear o cavalo e brandir espadas em defesa das virtudes do governo Dilma, como zelavam pela pureza feminina os cavaleiros medievais? Investir recursos na modorrenta militância de sanduba, refri e R$ 35? Apelar para a velha estratégia de desqualificar indivíduos e multidões, raças, classes sociais, pigmentação da íris? Incrível como o velho Karl Marx fez vistas grossas à importância da cor dos olhos na luta de classes, não é mesmo?

A desqualificação encontrou na acusação de golpismo o mais entoado de seus refrões. "Impeachment é golpe!". E por aí vão. Unem-se em coro colunistas, comentaristas, parlamentares e dirigentes petistas. Quem pede o impeachment da sua amada "presidenta" é golpista. E pronto. O interessante é que nenhum deles tem coragem de, em público, proclamar a elevada dignidade moral do governo, sua honra e probidade. Nenhum jornalista ou líder político escreve, fala ou mostra a cara na tevê para sustentar o insustentável. Todos sabem que a sociedade tem motivos de sobra para estar enojada do governo e de suas práticas. É muito mais fácil, então, evadir-se da encrenca pelo lado oposto, desqualificando os 63% da população brasileira que clamam pela solução racional e constitucional: o impeachment da presidente.

Não pode ser "golpe" o apelo a um instrumento constitucional, com lei própria, que só terá o efeito desejado se seguido o rito determinado pela Constituição e pela lei federal que trata especificamente do assunto. Golpista, portanto, é quem tenta impedir isso.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

17/04/2015

Você está preocupado com a indicação do advogado e professor Luiz Edson Fachin para o STF? Provavelmente sim, afinal é mais um nome cuja vida está ligada ao Partido dos Trabalhadores e às suas extensões no MST e na CUT. Nada mais é necessário ser dito para se conhecer inclinações, gratidões e reconhecimentos do novo ministro.

 Seu futuro colega e também petista Luís Roberto Barroso, durante a sabatina simbólica a que o Senado submete os indicados para a Corte, afirmou que o julgamento do Mensalão fora "um ponto fora da curva". Tão logo sentou-se entre seus pares, cuidou de dar votos necessários para que o julgamento caísse dentro curva. Graças a isso, os réus que agiram na esfera política já estão, todos, desfrutando dos ares da liberdade. Agora, se desenha no Supremo uma nova curva, com outros pontos, que passam por ele, Barroso, pelo novato Fachin, e mais os veteranos Lewandowski, Toffoli, Teori e Weber.

Em breve você verá que tudo que é sólido e encardido se desmancha no ar das dúvidas sem sequer deixar marcas na toalha branca das formalidades. Pergunto: o ministro Toffoli não manifestou "interesse" (foi a palavra usada por ele) em integrar a 2ª Turma, ou seja, o grupo de ministros. Interessante Sua Excelência.

Mas não creia, leitor, que o dito acima seja o mais alarmante no horizonte do STF. Nossos constituintes de 1988, ao definirem o modo de provimento das vagas naquela corte, não imaginavam o que estava por vir, ou seja, a ascensão ao poder de um partido com o perfil do PT, que chegou para ficar, sem planos para sair, e disposto a se tornar permanentemente hegemônico. Numa situação realmente democrática, com rodízio dos partidos no poder, com eleições limpas e confiáveis, sem compra explícita de votos pelo governo, os membros do STF seriam, teoricamente, indicados por presidentes da República de distintas tendências, estabelecendo-se, assim, um justo pluralismo na composição do poder.

Na situação atual, caso a presidente venha, para desgraça nacional, cumprir todo o presente mandato, ela indicará mais quatro ministros para nossa Suprema Corte. Já há muito advogado petista, por aí, colhendo apoio entre a companheirada. As consequências dessa distorção excedem, em muito, a mais óbvia: os réus da Lava Jato serão julgados, dentro de alguns anos, por um grupo de amigos, parceiros de ideais, compreensivos à necessidade de que os meios sirvam aos "elevados fins" da causa petista e aos sagrados ideais de hegemonia do Foro de São Paulo. Não, o mal se prolonga muito além de uma mera ação penal. Sua repercussão é bem mais ampla.

Suponha, leitor, que, como é meu desejo, em 2018, na mais remota das hipóteses, o Brasil tome juízo e eleja um governo e um parlamento de maioria liberal e/ou conservadora. Esse governo e esse Congresso serão eficazmente confrontados, não pela oposição política parlamentar minoritária, mas pela unanimidade do STF, transformado em corte judicial petista! Um Supremo 100% assim, valendo-se da elasticidade com que já vêm sendo interpretados os princípios constitucionais, poderá esterilizar toda e qualquer iniciativa governamental ou legislativa que desagrade ideologicamente os companheiros instalados nas suas 11 cadeiras. Que necessidade tem de assentos no parlamento, para fazer oposição, quem compôs, dentro de casa, como que em reunião de diretório, um STF a que pode chamar de seu?

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

15/04/2015

Parece que nos habituamos a esse tipo de abuso. Nós, brasileiros, não éramos assim, inquilinos discretos de uma casa de tolerância, que não se envolvem com o que se passa nos salões.

Gradualmente, porém, graças ao trabalho que já leva uma década do movimento Escola sem Partido, o país começa a perceber que nossas salas de aula se converteram em espaço privilegiado para "fazer a cabeça" dos alunos pelos moldes da cabeça dos professores. Qualquer estudo cuidadoso dos livros didáticos, qualquer conversa de cinco minutos com aluno de qualquer escola, permite perceber o problema e ouvir relato desses abusos praticados por centenas de milhares de professores, país afora. É um escândalo nacional que já leva mais de 40 anos! E não distingue escola pública de escola privada.

O professor é a autoridade no seu pedaço. Presumivelmente sabe das coisas. Ele é maior, mais idoso, olha os alunos de cima, aplica provas, dá notas e decide sobre quem será aprovado ou reprovado. Partindo desse poder, muitos, muitíssimos, multidões deles, se veem no direito de invadir os cérebros infantis e juvenis com uma das mais perversas ideologias concebidas pela mente humana. Passam a trabalhar como a aranha que capturou suas presas numa teia, envolvendo-as com a baba de uma conversa fiada cujo principal efeito é paralisar neurônios. Quantas crianças ou adolescentes brasileiros chegam às escolas trazendo na mochila explicações marxistas sobre história, economia e sociedade? Nenhuma!

Tais conteúdos, porém, lhes são solertemente ministrados nos livros didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação e reproduzidos por uma legião de militantes, abusadores, pedófilos da política, que se aproveitam da própria autoridade, muitas vezes para ridicularizar (eles dizem "problematizar") conceitos que as crianças e jovens aprenderam no espaço legítimo da própria família. Essa praga não distingue escolas públicas e privadas. As mais fracassadas utopias, as mais equivocadas explicações dos fenômenos sociais e os mais mal sucedidos métodos pedagógicos são vendidos como emanações do cume do saber (ou como calda de chocolate no sorvete do conhecimento).

Lá em Santana do Livramento, quando criança, a gente chamava "provalecido", ou, corretamente, prevalecido, o sujeito grandalhão que se valia do tamanho para maltratar os menores. Os alunos mutilados intelectualmente por esses abusadores, tornam-se, depois, com suas muito prováveis frustrações, presas fáceis de partidos que, na vida política, explicam sua situação com o discurso que aprenderam em sala de aula. Pois essa multidão de "provalecidos" intelectuais, de pedófilos da política, de abusadores, estão com dias contados. Vem aí, como produto do meritório trabalho do movimento Escola sem Partido, uma lei para proibi-los de fazer o que fazem. Pode ser que superado esse obstáculo, que vem formando multidões de analfabetos funcionais, tolhidos, dentro das salas de aula, em sua capacidade de promover a auto-realização, o Brasil acerte passo com o progresso social.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

13/04/2015

 Domingo, quando entrei no carro, no final da passeata, chorei convulsivamente, como há muito tempo não fazia. Sim, eu estava sensibilizado pelas muitas e generosas manifestações de carinho que recebi ao longo da tarde, traduzidas em gestos, abraços e fotos com amigos. Mas, principalmente, chorei de felicidade por ver, pela segunda vez, em menos de trinta dias, o meu Brasil diferente. Vi o meu país como sempre quis que ele fosse. Democrático, alegre, mas intransigente com a criminalidade instalada no poder. Antes aos meus 70 anos do que nunca!

Agora, já posso dizer que vi. Vi nossa gente clamando por um país decente. Vi, Brasil afora, milhões saírem de casa para dizer basta! Chega! Já foram longe de mais! Ponham-se no olho da rua, malfeitores!

Os que se acreditavam senhores da Nação, jamais conseguiram mobilizações semelhantes, mesmo que a peso de ouro, mesmo contratando celebridades e promovendo shows, pagando diária, transporte e alimentação.

Por duas vezes, neste mesmo período, tentaram se contrapor e não tiveram eco. Pagaram mico, deram vexame. É difícil reunir fiéis à infidelidade.

O Brasil está atravessando o mar vermelho. O PT está acossado, o petismo acuado pelos próprios pecados, pelos próprios fantasmas.

O PT fez o diabo? Ou foi o diabo que fez o PT?

O que sim sei, e com isso respondo uma pergunta que circulava entre os manifestantes de domingo: essa casa vai cair? Vai, pela irresistível força da gravidade, quando as estruturas de sustentação entram em colapso. E a base do governo está em franca decomposição.

Esse governo não tem como chegar ao fim. Além disso, que Constituição seria essa nossa se servisse para proteger uma quadrilha no poder e não para proteger o povo dessa quadrilha?


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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

10/04/2015

 

 “Quando mentimos para o governo, é um crime. Quando o governo nos mente... é constitucional?” Harvey Gilmore

 A presidente Dilma, que alguns ainda defendem como “a proba”, fez todo o circuito da improbidade. Partilhou seu governo entre pessoas cuja reputação não deixava dúvida sobre a que vinham. Fez da mentira estratégia a ser cumprida rigorosamente. Nunca tivemos o país sob uma chefia tão dedicada à refinada arte de mentir. Ela continua mentindo, contra todas as evidências, em cadeia nacional. Mentiu sobre o próprio passado, mente sobre o presente e, agora, mente sobre o futuro. No circuito da improbidade não teve o menor constrangimento em causar dano irreparável à Petrobras e ao setor elétrico para desfilar ante as câmaras dos seus publicitários como a presidente que barateou o custo de vida e conteve a inflação. Mente quando atribui a desgraceira em que jogou a economia nacional a uma circunstância externa (a culpa é sempre dos outros), ou seja, a uma suposta crise internacional que só ela e seus diletos parceiros da Argentina, Venezuela e Cuba experimentam. Mentiu sempre, sem o menor constrangimento para assassinar a reputação de seus adversários imputando-lhes a intenção de adotar medidas impopulares que ela mesma está pondo em prática.

Os governos petistas são exemplo clássico, para constar em livros didáticos, de governos ímprobos. É patético o esforço da mídia amiga em defender a pessoa da presidente. Sustentam a sacralidade de um mandato que ela mesma não respeita. Não o respeita quando mente e quando anuncia que a gente faz o diabo em época de eleição. Se ela não o respeita, por que o respeitaríamos nós?

A estas alturas do segundo mandato, obtido nas trevas de uma inédita apuração secreta de votos (secreto é o voto, jamais sua apuração) nem mesmo os companheiros da presidente, nem mesmo os partidos da base, conseguem arregimentar forças em seu benefício. As extensões petistas nos ditos movimentos sociais perderam prumo e rumo. Já sabem em quem não confiam. Quando os institutos de pesquisa procuram conhecer os motivos do precipício pelo qual despencou o prestígio pessoal e a aprovação do governo Dilma ali estão, bem nítidas, as marcas da perda de credibilidade. Somos prisioneiros desse governo? Cativos por determinação constitucional? Quatro anos disso é pena superior à efetivamente cumprida por todos os políticos réus do mensalão.


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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

  

Percival Puggina

08/04/2015

Assumo o ônus da afirmação. Vivemos sob a primazia da burrice. Considero-me diante de inegável sinal de burrice, tão perceptível, tão audível quanto um zurro, quando a mais simples sugestão da racionalidade sobre contas públicas ou definição de funções do Estado é recusada assim: "Essa é a lógica neoliberal!". Não importa se o autor da expressão se julga tão sábio quanto Nicolas Maduro ou tão cartesiano quanto Lula ou Dilma. A expressão é tola. Ideias se enfrentam com ideias e não com adjetivos. As coisas se complicam ainda mais para todos quando quem se vale de adjetivos para afastar a racionalidade do debate político ocupa relevante função de Estado.

 O resultado disso é uma conta devedora, com efeitos tão devastadores sobre a nação quanto o provocado por um rombo de caixa na vida familiar de qualquer cidadão. Habitualmente, governos gastam mal e gastam mais do que arrecadam. Eis por que todo ano - quase ninguém sabe disso - 42 % do nosso dinheiro em mãos do governo vai para o pagamento de compromissos da dívida pública, formada pelo excessivo gasto ao longo dos anos!

Como parte dessa tragédia, quando as pessoas dela tomam conhecimento, em vez de mudarem de atitude em relação ao Estado seus usos e costumes, seus abusos e maus costumes, imediatamente começam a falar em calote, em não pagar a conta, em não nos sujeitarmos aos sanguessugas do sistema financeiro, à lógica neoliberal, aos interesses do grande capital e por aí afora (até parece que estou lendo algum documento da CNBB não é mesmo?).

Primeiro, assistimos o desperdício dos impostos que pagamos em cada caderno escolar que compramos para nossos filhos. Depois, aceitamos, inertes, as regalias, os abusos, os privilégios auto-concedidos, ou arrancados sob pressão das galerias nos parlamentos. Em seguida, convivemos com a ideia de que há, em tudo que é "estatal", um poço sem fundo, aberto à generosidade e ao interesse público. Logo, colocamos o "privado" sob suspeita do mais perverso egoísmo, avesso à conveniência social. Por fim, assumimos como elevada exigência moral que o sistema financeiro banque eternamente a gastança do governo. E o faça a fundo perdido.

Perdidos ficamos, mesmo, quando a burrice começa a influenciar as opiniões desde as salas de aula do ensino fundamental, com explicações ideologizadas sobre os acontecimentos de cada dia. Ao fim e ao cabo, a burrice acaba sendo a forma de pensar e de governar a nação. Ou, então, o burro sou eu e o Brasil vai muito bem, obrigado.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

06/04/2015

Provavelmente você já observou o mesmo que eu. Ao longo dos anos, identificou a posição política dos formadores de opinião atuantes nos veículos a que acessa. Você reconhece, acima de qualquer dúvida, aqueles que emprestaram sua capacidade de influência para ajudar na construção da hegemonia petista. Você pode não saber o clube de futebol pelo qual cada um torce, mas percebe a que projeto político servem.

Da mesma forma você deve estar percebendo mudanças. De repente, jornalistas que sempre ajudaram o PT com os quatro pés passam a criticar o partido, a apontar nele, como se fossem deformações recentes, defeitos congênitos de conduta moral e posição política que o acompanham desde sua fundação em 1980.

Essas figuras me trazem à lembrança o falecido escritor José Saramago. Comunista, apoiou todas as violências, todas as execuções e todas as formas de repressão impostas pelo regime cubano sobre o povo da ilha entre 1959 e 2003. Nesse ano, após a execução dos três jovens negros que sequestraram uma embarcação e tentaram fugir para a Flórida, o velho rompeu com ele em um artigo publicado no jornal espanhol "El País" com o título "Hasta aquí he llegado". Ou seja, Saramago assistiu passivamente 27 mil mortes, mas 27003 eram demais para seu humanismo e para seus princípios.

Os jornalistas a que me refiro reproduzem essa hipocrisia. Os governos petistas nunca foram diferentes. Seus principais líderes nacionais sempre usaram o Estado em benefício próprio. Nunca tiveram líderes melhores. Nunca andaram em boas companhias. Nunca foram amantes da verdade. Nunca deram aos fatos importância maior do que às versões. Nunca admitiram os próprios erros. A "causa" sempre foi o critério determinante para a justificação de meios escusos. Por isso, processados, condenados e presos, seus líderes viraram, ato contínuo, guerreiros heróis do povo brasileiro.

Enfim, esses jornalistas estiveram com o PT até o dia 26 de outubro de 2014. Mas no dia 27 a casa caiu. Caiu? Eu os assisto agora, eu os leio agora, eu os ouço agora, batendo em cachorro morto. Mudaram de lado? Não! Fazem o mais fácil. Enquanto criticam o PT, escrutinam os milhões de manifestantes segundo suas classes sociais e "raças", identificam-nos como conservadores, como direitistas, como golpistas. Embora os cidadãos das ruas e dos panelaços digam as mesmas coisas sobre o governo, não merecem palavras de estímulo à oposição que fazem. Afinal, isso beneficiaria a intolerável direita, não é mesmo? Continuarão, portanto, disseminando o mal por outros meios. Estão, simplesmente, trocando de montaria. Prefiro os irredutíveis porque são bem identificáveis.