Vestibular Vermelho?
Grupo aponta tentativa de impor id?s de esquerda em quest?de vestibular
por MARCIO ANTONIO CAMPOS
H?oucos meses, a m?de uma aluna de uma escola do interior paulista reclamou de uma tentativa de doutrina? esquerdista no material did?co que sua filha usava. A den?a iniciou uma discuss?sobre uma poss?l influ?ia de movimentos socialistas na escola. E, segundo uma organiza? que observa a educa? no Brasil, at? vestibular est?ficando “vermelho”. “H?ma contamina? pol?co-ideol?a do ambiente acad?co que afeta o vestibular, j?ue o professor militante tamb??xaminador militante”, aponta o advogado Miguel Nagib, coordenador do Escola Sem Partido, grupo criado em 2004. A organiza? prioriza o ensino fundamental e m?o, mas recentemente passou a observar tamb?os vestibulares. At? momento, o grupo n?encontrou nenhum caso de vi?ideol?o em provas no Paran?mas aponta problemas no Sudeste e no Nordeste.
Nagib resume as caracter?icas do que considera uma quest?com influ?ias ideol?as: “a realidade ?esumida ao lado bom de um lado, e o lado mau do outro; do lado bom est?sempre os trabalhadores, os ?ios, os pa?s do Terceiro Mundo, revolucion?os em geral, Che Guevara – ?lo absoluto –, a Revolu? Francesa, Cuba, o MST, o
socialismo, o humanismo, o Renascimento; do lado mau est?sempre a Idade M?a, a Igreja Cat?a, os Estados Unidos, o capitalismo, a burguesia, os militares”. No entanto, o advogado faz uma ressalva: “o problema n??alar mal – os erros devem ser sempre apontados. O problema ?gnorar e esconder qualquer coisa que os ‘vil? tenham
feito de bom, e que os ‘mocinhos’ tenham feito de ruim”, diz. A professora Geise Montrezoro, do Bom Jesus, completa: “inverte-se a ‘Hist? dos vencedores’: agora o ind?na ?om e o jesu? ?au. Mas uma Hist? que mostra os vencedores apenas como bandidos n??ist? de verdade.” Isso n?significa, diz Nagib, que todas as quest?tenham esse vi? ou distor? a verdade hist?a. “Uma quest?ideologizada pode muito bem partir de uma verdade. Mas os diagn?cos sobre as causas daquela realidade sempre batem com a vis?da esquerda”, diz.
Os professores ouvidos pelo Caderno do Estudante/Vestibular se dividem sobre a quest? “N?acredito que haja tentativas de fazer a cabe?do vestibulando”, aponta Osvaldo Siqueira, do Unificado. Para ele, a prova exige conhecimento, e n?vers?de interpreta?. “Se o vestibular usa um texto de um escritor marxista como base de uma quest? n?quer dizer que o examinador seja marxista”, aponta. “Uma pessoa de direita pode ver doutrina? em uma quest?que apenas denuncie problemas reais”, afirma Arno B?, professor de Geografia no Expoente, que no
entanto n?exclui a hip?e de tentativas de ideologiza?.
E como ficam as escolas e cursinhos diante de um vestibular tendencioso? “A prova militante aponta o caminho ?escolas que querem bons ?ices de aprova?: ensinar os alunos a pensar como militantes. No pa?dos concursos, a verdade ? que est?o gabarito”, diz Nagib. Mas Geise n?considera os professores ref? da ideologia. “Nesses casos, o professor com bom senso ensina o correto – mas avisa o aluno que, para passar no vestibular, ter?e escrever outra coisa”, diz.
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Teoria da infiltra?
Socialista italiano defendia presen?nas escolas para influenciar cultura
por MARCIO ANTONIO CAMPOS
Se ?ue realmente existe tentativa de doutrina? de esquerda nas escolas e vestibulares, a fonte ?provavelmente, a faculdade, gra? a um pensador italiano que pode n?estar presente em muitas bibliografias, mas cuja doutrina est?endo muito aplicada: Antonio Gramsci. O cientista pol?co e professor da Universidade de Bras?a (UnB) Br?io Matos explica que Gramsci via a escola como um grande meio de difundir o socialismo. “O ensino, em sua vis? era uma disputa pela hegemonia das id?s”, diz.
“Gramsci concluiu que, em pa?s com sociedade civil muito organizada, seria mais dif?l para os comunistas tomar o poder com um golpe; ent? o caminho seria uma infiltra? permanente na escola, na imprensa e na Igreja, para desmoralizar as tradi?s burguesas e implodir essas institui?s por dentro”, resume Matos. Enquanto o capitalismo
consolidaria seu poder sutilmente, reproduzindo seu modo de pensar por meio do ensino, a contesta? deveria ser mais agressiva, mas dentro da escola, criando assim uma contra-hegemonia de inspira? socialista. No Brasil, as id?s de Gramsci inspiraram Paulo Freire e a Teologia da Liberta?.
“Na nossa ?ca de estudantes, o marxismo era bem forte na universidade. Ainda hoje h?istoriadores que se pautam por esse modo de pensar”, conta Osvaldo Siqueira, professor do Unificado e da Tuiuti. Seus colegas confirmam essa constata?. “Nunca presenciei, mas j?uvi coment?os sobre alunos mais ricos que acabam pichados pelos pr?os colegas”, diz Arno B?, do Expoente, ressaltando que os socialistas perderam for?ap? fim dos regimes comunistas do Leste Europeu.
No entanto, hoje o cen?o j?eria diferente. “Surgiram novas escolas de estudo na Hist? que ganharam terreno e enfraqueceram o vi?marxista”, descreve Osvaldo. Geise Montrezoro, do Bom Jesus, explica o fasc?o dos intelectuais por uma doutrina que exalta o prolet?o. “Por algumas d?das, ser de esquerda era contestar o regime militar”, diz.
Osvaldo concorda: “o intelectual tende a ser cr?co, e como o governo era de direita, o intelectual buscava se colocar do lado oposto”, completa.
Milit?ia
S?io Vicentin, que leciona Hist? no Col?o Marista Paranaense e tamb?d?ulas na Tuiuti, acredita que a milit?ia ?ital para o professor – mas tem uma defini? diferente da palavra: “o professor militante, para mim, ?quele que assume posi?s, mas permite o debate. ?o oposto do professor ap?co, que sequer l?ornal e se contenta em apenas cumprir o programa da mat?a”, diz. Para S?io, assumir posi?s ?iferente de tentar fazer a cabe?do aluno. “Infelizmente ainda existe muito professor tapado, para quem s?lem as pr?as id?s. Dependendo da idade do aluno, o professor pode ser uma refer?ia mais importante que os pais, e um mestre que queira impor sua
ideologia faz estrago”, afirma. E a liga? com partidos? “Eu sou totalmente contra a milit?ia partid?a por parte do professor. Ele deve ser pol?co, mas n?partid?o. Levar o partido para a educa? ?m crime”, finaliza.
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As quest?“de esquerda”
Confira aqui algumas quest?de vestibular consideradas “esquerdistas” pela equipe do Escola Sem Partido, com coment?os dos colaboradores do site:
Vestibular de inverno Mackenzie (S?Paulo) (2007)
59. “O que ?eridianamente claro ?ue a ditadura deixa uma heran?arrasadora. Desorganiza?, mis?a, cinismo pol?co, corrup? institucional, infla? de tr?d?tos e recess? uma d?da interna e externa calamitosa e combinada ao controle imperialista, programado por dentro da nossa economia e da nossa pol?ca econ?a, uma burguesia
desmoralizada pela aventura contra-revolucion?a, um Estado minado por doutrinas e pr?cas autocr?cas, um regime de partidos montado para pulverizar as for? sociais ativas na sociedade civil e, especialmente, para fortalecer o sistema como n?o de militariza? do poder pol?co estatal.” (Florestan Fernandes – Elei?s diretas e democracia).
O texto acima, do eminente soci?o brasileiro, aponta tra? de uma “heran?arrasadora” legada
a) pelos longos anos do Estado olig?uico, dominado pelos cafeicultores de S?Paulo e Minas Gerais, entre 1890 e 1930.
b) pela d?da e meia do governo conduzido autoritariamente por Get? Vargas, ap? triunfo do movimento pol?co de 1930.
c) pelos governos populistas de Juscelino Kubitschek e Jo?Goulart, entre 1946 e 1964.
d) pelo regime militar, durante o qual se sucederam cinco presidentes generais, entre 1964 e 1985.
e) pelos desastrosos anos dos governos de Fernando Collor e Itamar Franco, de 1990 a 1995.
Gabarito: d)
Coment?os: O vi?ideol?o se manifesta j?a escolha do autor: Florestan Fernandes, socialista not?, ?ne da esquerda, ex-membro do PT. O texto menciona aspectos negativos do Brasil no fim da ditadura militar, como se antes desta existisse um pa?de maravilhas que os militares destru?m. Falar de mis?a como caracter?ica espec?ca do
governo militar ?also, pois a mis?a existe h??los em nosso pa?e foi justamente o milagre econ?o da ditadura militar que mais tirou brasileiros da mis?a. Culpar os militares pela dissemina? da corrup? ?ato que n?encontra lastro hist?o. Basta lembrar que J?o Quadros ganhou as elei?s presidenciais de 1960 prometendo combater a corrup?. ?bom lembrar tamb?que a d?da interna n?era um grande problema ao fim dos governos militares e que a d?da externa s? tornou gigantesca em raz?das duas crises do petr? ocorridas nos anos 1970. A ditadura pode e deve ser criticada; mas com objetividade e isen?.
60.
• Desregulamenta? do mercado nacional
• Ampla pol?ca de privatiza? das empresas estatais
• Manuten? de altas taxas de juros para atra? do capital estrangeiro
• Corte de gastos governamentais destinados a servi? e programas sociais
• Flexibiliza? da legisla? trabalhista
As medidas relacionadas acima se destacaram entre as mais importantes da pol?ca econ?a posta em pr?ca ao longo dos oito anos do governo FHC (1995-2002). H?erto consenso segundo o qual elas permitem caracterizar essa pol?ca como sendo
a) nacional-desenvolvimentista.
b) comunista.
c) neoliberal.
d) keynesiana.
e) socialista.
Gabarito: c)
Coment?os: O candidato que assistiu a pelo menos uma aula de Hist? ou Geografia nos tr?anos do ensino m?o ou no cursinho aprendeu, para nunca mais esquecer, que “o governo FHC foi neoliberal”. Mas no governo FHC n?houve “desregulamenta? do mercado nacional” – ao contr?o, foram criadas as ag?ias reguladoras; n?houve corte de gastos destinados a programas sociais – ao contr?o, os gastos foram ampliados; n?houve eleva? de taxas de juros para “atrair capital estrangeiro”, mas para conter a infla? e financiar o d?cit p?co; e n?houve qualquer flexibiliza? da legisla? trabalhista. Exceto pelas privatiza?s, o governo FHC jamais poderia ser considerado
neoliberal.
Universidade Federal de Pernambuco (2007) – Ingresso Extravestibular para o curso de Filosofia
22. Aponte os exemplos de homens ?cos com vis?filos?a engajada (para al?da hipocrisia):
a) Bush, Olavo de Carvalho, Editora Abril, Inoc?io de Oliveira e Roberto Marinho.
b) Dalai Lama, Gandhi, Marina da Silva, Frei Beto e Dom Helder.
c) FHC, Marco Maciel, ACM, Ratinho e Reginaldo Rossi.
d) Leonardo Boff, Irm?ulce, Ariano Suassuna, Betinho e Zilda Arns.
e) Dalai Lama, Gandhi, ACM, Frei Beto e Leonardo Boff.
Gabarito: n?foi informado pela universidade
Coment?os: Nessa quest?o examinador perdeu completamente o pudor e sequer tentou maquiar o vi?ideol?o da prova. O intuito ??descarado que uma das alternativas cont?uma empresa, a Editora Abril. Para o examinador, quem n??e esquerda n?pode ser ?co. Note-se, tamb? a m??m tentar nivelar pessoas que n?t?praticamente nada em comum, como Olavo de Carvalho e Inoc?io de Oliveira.
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O QUE DIZEM AS UNIVERSIDADES
A Comiss?do Processo Seletivo da Universidade Mackenzie enviou a seguinte nota: “A banca esclareceu que as referidas quest?foram formuladas com base em v?as fontes, e em todas elas, o conte??ondizente com as quest?citadas. Lembra ainda que n?houve nenhum questionamento por parte das bancas dos principais cursinhos, o que endossa as informa?s contidas nas mesmas”.
A pr?itora de Assuntos Acad?cos da UFPE, professora L?a Maia, diz que ?oss?l analisar eventuais equ?cos nas quest? “Embora neste caso houvesse conceitos subentendidos que poderiam ter sido melhor explicitados, n?recebemos nenhum recurso contra essa quest? enquanto nesta mesma prova tivemos outras quest?anuladas”, afirma.
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