Percival Puggina
Mergulhado em sufocante acúmulo de atribuições e demandas, o STF escolheu a próxima sexta-feira (15/11), mesmo dia da semana em que Jesus foi crucificado, para início do plenário virtual que colherá votos dos ministros sobre se o crucifixo exaltado em nicho próprio na sala de sessões permanecerá ou será removido. O período de votação se encerra no dia 26. Barrabás, salvo engano, foi “inocentado”; o que acontecerá, agora, com a memória do Crucificado? A decisão que o Supremo adotar terá repercussão geral, ou seja, valerá para todos os crucifixos em paredes públicas do país.
O politicamente correto é uma estratégia de congelamento da divergência com duas consequências totalitárias. Na mais visível, constrange quem tenha outras ideias a meter a viola no saco. Na menos visível, alinha-se com o igualitarismo coletivista, transformando toda expressão de diferença em preconceito. Se você tirar o suco ou fizer um destilado do “politicamente correto”, o que vai gotejar é o cancelamento do cristianismo e suas referências, transformados em alvos preferenciais.
A pergunta que me faço é: por que parar no crucifixo e não ir em frente, acabando com feriados religiosos, procissões, romarias, missas campais, toque de sinos? Pelas mesmas elevadas razões, por que não renomear todos os estados, municípios, ruas e acidentes geográficos que mencionam santos ou objetos de devoção? Meu Deus, como isso fica parecido com as revoluções francesa e russa! Sim, sim, aqueles fanáticos, com iguais motivos, fizeram coisas desse tipo.
Pergunto: locais públicos, mesmo num país em que 90% da população é cristã, devem ser pagãos como banheiro de aeroporto? Alega-se que se o Estado é laico, o crucifixo em local público é inconstitucional e o dedo da Constituição estaria apontando para ele, mandando arrancá-lo dali. Esquece-se que desde a Constituição de 1891 os preceitos constitucionais sobre a separação entre Igreja e Estado foram deliberados pelos redatores de nossas sete Cartas, majoritariamente cristãos! Ela é concepção da maioria e não é conquista de alguém. Podem sossegar o facho. O país nada deve ao iluminismo temporão!
De cada cem pessoas que veem crucifixos em tribunais e parlamentos, quantas ficam dispneicas, taquicardíacas ou entram em sudorese se veem um crucifixo? Nenhuma? Pois é. E quantas – na real, sem exageros – se sentirão pessoalmente injuriadas por aquele símbolo? Pois é, de novo. Perante símbolos religiosos – quaisquer símbolos, de qualquer religião! –, pessoas normais reagem com respeito ou com indiferença. Indignação, revolta, alergia escapam à normalidade.
Os adversários dos crucifixos referem-no, mas focam, lá na frente, os princípios, valores e tradições que lhe são implícitos. Muitos, como os relacionados à defesa da vida, à dignidade e aos direitos humanos, às liberdades, à família, compõem convicções constitucionalizadas no Brasil e se refletem em deliberações legislativas. É contra esse alvo que a militância “progressista” está declarando guerra e rufando tambores.
Em nome do laicismo estatal, num país onde mais de 90% dos cidadãos professam alguma religião cristã, pretendem retirar um símbolo que para esse mesmo povo representa o amor de Deus, o amor ao próximo, a Redenção e os mais elevados valores que deveriam iluminar as decisões e a justiça dos homens. Se o fizerem, deixem ao menos o nicho e o prego para memória do que foi feito.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
José Francisco - 20/11/2024 15:54:59
Pelo menos no que toca a sala do STF, acho correto tirar o crucifixo, visto que as deliberações da corte não tem sido nem cristãs, nem constitucionais e nem tem feito justiça~.MARIA DO CARMO HENRICH - 18/11/2024 14:25:39
Excelente texto. Minutos de sabedoria em lê-lo.Menelau Santos - 17/11/2024 23:39:47
Concordo totalmente com a retirada de crucifixos, principalmente no STF. É uma desonra para Nosso Senhor ter seu símbolo exposto naquela instituição com a atual composição.Walter Luís Lot Pontes - 16/11/2024 15:53:03
Caríssimo! É imensurável a satisfação em ler e, para além disso, a comunhão com os valores e pensamentos com os quais o ilustre nos agracia! Que NSJC - infelizmente tão desdenhado pela sociedade (dita pensante) atualmente, o continue a abençoar a você e sua brilhante escrita! Amém!!Helena Juraci Amisani - 16/11/2024 08:57:11
Puggina, fui tua contemporânea no Julinho, no tempo em que levamos para lá o Gabinete de Religião, com o então Padre Augusto Dalvit. .Estudava à noite. Quanta satisfação com teu artigo! Ver que contínuas lutando por nossos preceitos cristãos, enche meu já vivido coração 8.4, de amor a Cristo e mantém viva nossa Fé e Esperança de que nossos Superiores Magistrados respeitem o sentimento cristão de nosso povo. Um abraço!Patricia Lanzoni da Silva - 16/11/2024 08:47:41
Supondo que se pretendesse apagar todas as referências cristãs, qual seria o novo nome de São Paulo, da Baía de Todos os Santos, como ficaria o Rio de Janeiro sem o Cristo Redentor? Como se apagaria Aparecida do Norte e o Santuário da Mãe de Deus? Estado laico é uma doença mental e de alma!Teresa Camisão - 16/11/2024 07:16:18
Muito triste e revoltante. Mais um passo p/declarar abertamente o comunismo, justo no Brasil...Jandira Laini Brandão 10/01/1950 Feminino - 15/11/2024 20:27:14
Parabéns Puggina por teus artigos cheios de lucidez e esclarecimentos tão necessários ao nosso momento em que os lesa-Pátria se sentem donos do nosso País!Frederico Hagel - 15/11/2024 19:57:22
E o STF ainda não sabe porque o Brasil o odeia, não tem por ele nenhum respeito, estima, consideração. O pensamento global é que ele faz um enorme mal à nação e aos seus cidadãos. E não é apenas o Alexandre- o Grande-, são todos seus ministros, sem exceção, odiados pelo povo brasileiro.ALCEBIADES DA SILVA SANTOS FEITALX325FB - 15/11/2024 19:32:44
Isso é uma vergonhaRIVADAVIA ROSA - 15/11/2024 17:33:22
A POLÊMICA DOS CRUCIFIXOS foi instrumentalizado pelo totalitarismo comunista na Espanha pré e durante a Guerra Civil espanhola (“período republicano” – de 1931-39) com a retirada dos crucifixos nas Escolas – onde se fazia ouvir a voz contrária de MIGUEL DE UNAMUNO - com a pergunta – PORQUE as grandes Religiões, especialmente a Católica são atacadas com objetivo de aniquilamento pelos regimes de viés totalitário? MEMÓRIA: § 27 DE DICIEMBRE DE 1931 " Mensaje de solidaridad de los católicos belgas hacia los católicos españoles: «Dolorosamente conmovidos por los acontecimientos que ponen en peligro la libertad religiosa en España, especialmente en materia de enseñanza y del ejercicio del culto, y por la empresa pública de descristianización de todo un pueblo, los católicos belgas abajo firmantes creen responder al llamamiento del Romano Pontífice, así como a sus sentimientos de cordial amistad y de constante fidelidad hacia sus hermanos de la católica España, expresando a éstos su profunda simpatía en la prueba actual». «...de neutralidad es una engañifa» La legislación antirreligiosa de desarrollo de la Constitución y las medidas sectarias continuaron como en cascada tras la promulgación de la ley fundamental. A mediados de enero del 32, el director de Primera Enseñanza, don Rodolfo Llopis, envía una circular a todos los maestros ordenando la retirada inmediata de los crucifijos de las aulas en cumplimiento del art. 43 de la Constitución. Entre las numerosas protestas de las familias, una voz apreciada deja oír su verdad, se trata de don Miguel de Unamuno: «La presencia del crucifijo en las escuelas no ofende a ningún sentido ni aun a los de los racionalistas y ateos, y el quitarlo ofende al sentimiento popular hasta de los que carecen de creencias confesionales. ¿Qué se va a poner donde estaba el tradicional Cristo agonizante? ¿Una hoz y un martillo? ¿Un compás y una escuadra? ¿O qué otro signo confesional? Porque hay que decirlo claro y de ello tendremos que ocuparnos: la campaña es de origen confesional y claro de confesión anticatólica y anticristiana. Porque de neutralidad es una engañifa». La hostilidad contra los crucifijos prefigura la que pocos años después desplegará el III Reich con una medida similar, aunque chocando frontalmente con la resistencia de la católica Baviera donde acabó por ceder. El 24 de enero se decreta la disolución de la Compañía de Jesús conforme al art. 26 de la Constitución y la incautación de todos su bienes, mientras la prensa anticlerical se lanza a una orgía de agresión inmisericorde que hoy parece inaudita. El dos de febrero se aprueba la ley del divorcio, el seis son secularizados los cementerios y el 11 de marzo se suprime la asignatura de religión en todo el sistema educativo. El 17 de mayo de 1933 es aprobada la terrible y obsesiva Ley de Confesiones y Congregaciones religiosas, que acabó condenando el propio Pío XI en su encíclica Dilectissima nobis. http://www.montfort.org.br:80/index.php?secao=cartas&subsecao=historia&artigo=20041119102246&lang=braJosé Vicente Lessa - 15/11/2024 17:02:50
Será que eles teriam coragem de demolir a capela anexa ao palácio da Alvorada? E que tal retirar a estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro?Monteiro - 15/11/2024 15:48:58
O crucifixo já deveria ter sido retirado do picadeiro judiciário a muito tempo. Afinal, onde criminosos por corrupção por assaltar o erário público, são condenadas, onde o processo seguiu a risca o rito legal, com ampla defesa e por duas ou três instâncias, mantidas as sentenças. Alguns até reconhecendo o crime devolvem o fruto do roubo. Mas por ato autoritarismo é tudo anulada. Com uma simples canetada. Cabe a figura anticristo, seria mais apropriado.Antonio Jorge Reis - 15/11/2024 15:45:22
Os inuteis mais caros do mundo...Paulo Villalpando - 15/11/2024 15:35:30
O primeiro sentimento maior provocado por este fato é o de tristeza, mas outros sentimentos se afloram após refletir. O medo pelo que de muito pior há de vir e o de raiva em constatar pessoas dos mais altos escalões da governança pública se ocupando em banir crucifixos em vez de se ocuparem em formar pessoas honestas, colaborativas e unidas para construir um país desenvolvido culturalmente, socialmente e tecnológico. Os outros dois sentimentos que completam o conjunto de sentimentos possíveis para o ser humano são o amor e a alegria. Estes, estão fora do plano destes magistrados e de seus pares que tomaram o poder no Brasil.HEITOR DE PAOLA - 15/11/2024 15:26:33
Bravo Puggina! Nem o prego vão deixar, seria um rastro do crime. Não se deixam provas desses atos abomináveis.Saulo Santos - 15/11/2024 15:20:30
Mais uma parte da desconstrução do país. Eles não vão parar de perseguir cristãos! Parabéns pela clareza de argumentos e raciocínio!Joâo Jesuino Demilio - 15/11/2024 09:24:16
O problema não é enterrar o cristianismo...é o que vão como NO LUGAR DO CRISTIANISMO!!!FERNANDO ANTONIO DE OLIVEIRA PRIETO - 15/11/2024 05:31:46
Dentro desta mesma "lógica (?)", qual a razão de não se remover, p. ex., a estátua da Têmis, que tem origem na mitologia grega? Também está associada a uma religião... E, também os nomes dos planetas (Vênus, Mercúrio, Saturno,...) - eram deuses gregos. Será que o restante do mundo concordará com os "iluminados" do Brasil, e com os revolucionáris franceses, mudando os nomes dos meses, alguns dos quais homenageiam deuses gregos?