MARXISMO E ASTROLOGIA - Enviado pelo autor
A incerteza deflagrada pela crise dos subprimes em setembro passado deixou a esquerda do mundo todo mais assanhada que Chapeuzinho Vermelho quando a m?manda visitar a av?e est?oente. Fil?os, historiadores, soci?os, economistas e demais usu?os do ? dos intelectuais conclu?m de imediato que, desta, o capitalismo n?passa. Para eles, o sistema est?efinitivamente com os dias contados, como, ali? j?avia previsto o onisciente Karl Marx.
Em mat?a de profecias estapaf?as, talvez mere?um Oscar a retumbante previs?do marxista norte-americano Immanuel Wallerstein que, aos 78 anos, do alto de sua c?dra em Yale, ainda n?se cansou de ser desmentido pelos fatos. Num artigo intitulado Aprendendo com o Brasil, onde assevera que o MST seria um bom exemplo para a esquerda norte-americana – insensatez que dispensa coment?os –, Wallerstein tem o desplante de prever “a extin? certa do capitalismo como sistema mundial nos pr?os 20 a 40 anos”.
Segundo a sumidade, “o que est?contecendo ?ma desintegra? do capitalismo como sistema mundial, n?porque ele n?pode garantir o bem-estar da grande maioria da popula? (isso ?lgo que o sistema nunca p?fazer), mas porque n?consegue mais garantir que os capitalistas ter?o ac?o intermin?l de capital que ?ua raz?de ser”. Vamos e venhamos, est?a cara que o acad?co, como os autores de Das Kapital, atrela mais uma vez a carro?adiante dos bois.
Karl Marx acreditava ter descoberto que a luta de classes determinava o curso da hist? no exato momento em que, de acordo com ele, Marx, era a hora e a vez da classe oper?a. Tanto o ilustre redator da Gazeta Renana, quanto seu patrocinador, Friedrich Engels, chegaram a acreditar que veriam e talvez at?judassem a revolu? do proletariado, embora a dupla tenha descido ao inferno – onde arde hoje em dia – sem sequer vislumbrar o imp?o que Lenin construiu sobre as ru?s do czarismo.
Ali? o pr?o Lenin, tamb? acreditava que a revolu? na R?a era somente o pren?o de uma revolu? mundial. Entre 1917 e 1924, o supremo guru dos bolcheviques acreditava piamente numa revolu? na Alemanha que, por sua vez, seria sucedida por v?as outras revolu?s em toda a Europa. Felizmente, o velho Vladimir Ulianov estava redondamente equivocado e foi se reunir aos seus mentores, no T?aro, sem ver a concretiza? de suas tenebrosas previs?
N?preciso, entretanto, ir t?longe na hist? para comprovar a miopia das pitonisas vermelhas. Basta recorrer a minha pr?a experi?ia pessoal. Em 1983, no Brasil do general Figueiredo, eu era um jovem idealista e idiota. Por isso, acabei cooptado para as fileiras da Organiza? Socialista Internacionalista, vulgarmente conhecida como Libelu, uma ins?a agremia? de estudantes e patifes que pretendia reconstruir a 4ª. Internacional Comunista.
Era o ocaso do regime militar e, al?do crescimento do PT e da CUT, diversos acontecimentos apontavam para uma inquestion?l transforma? pol?ca no Brasil de ent? Pois bem, semanalmente, em nossas reuni?de c?la, os camaradas da lideran?da Organiza?, munidos na nova edi? do jornal O Trabalho, faziam uma an?se da conjuntura e consideravam que a revolu? socialista brasileira havia de acontecer na semana seguinte, no mais tardar.
Passaram-se oito semanas dessa conversa mole e neca de revolu?. Eu, que n?costumava falar nas discuss? pedi ent?a palavra. Disse aos camaradas presentes que apregoar a revolu? para a pr?a semana podia ser uma ?a estrat?a em termos de propaganda, mas que era mais que evidente que isso n?aconteceria t?r?do assim, como, ali? j??havia acontecido nas precedentes hebd?as.
De imediato, todos os presentes me olharam com espanto e indigna? e, sem pestanejar, diagnosticaram que s?deria estar me faltando “discuss?pol?ca”. Era por isso que eu era incapaz de ultrapassar as ilus?pequeno-burguesas, para enxergar a j?reclara e insurgente realidade. Nada impedia que nossa pr?a reuni?de c?la acontecesse num gabinete do Pal?o do Planalto!
Os camaradas tinham tal ascend?ia intelectual sobre mim que acabei por lhes dar raz? at?ara n?me mostrar um rematado imbecil diante dos outros companheiros da c?la. Mas ?laro que a revolu? n?eclodiu na semana seguinte, nem na outra, nem na outra, eu deixei de ser idiota e dei baixa na Organiza?, e veio a Nova Rep?ca, e a queda do muro de Berlim, e o colapso da Uni?Sovi?ca e, gra? a Deus, a revolu? n?aconteceu at?gora.
Concluo da?ue ?m elemento intr?eco do marxismo a incapacidade de enxergar com clareza a realidade tal qual ela se apresenta a um observador atento. O sistema de Marx, longe de dissolver a p?na de ideologia que nos impede de ver os fatos, encobriu-os em uma densa e adiposa camada de ilus?m?icas, a tal ponto que n?hesito em afirmar que o marxismo n?passa de uma manifesta? esquizofr?ca da pol?ca e da... astrologia.
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